Serra do Itapeti

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Em razão de sua importância econômica e social para o município de Mogi das Cruzes e do alto grau de degradação que a Serra apresenta, vários profissionais ao longo dos últimos dez anos, trabalharam de forma sistemática para a produção de conhecimentos sobre a sua ocupação, seus aspectos sociais e biológicos. Assim, os capítulos contidos nesse livro representam a compilação de todas as informações com embasamento científico, de forma a levar o leitor a entender um pouco sobre o passado e o presente da Serra do Itapeti e o seu entorno.

Serra do

Itapeti

Serra do

MARIA SANTINA DE CASTRO MORINI

VITOR FERNANDES OLIVEIRA DE MIRANDA

Itapeti Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos MARIA SANTINA DE CASTRO MORINI VITOR FERNANDES OLIVEIRA DE MIRANDA



Serra do

Itapeti Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos Organizadores

MARIA SANTINA DE CASTRO MORINI VITOR FERNANDES OLIVEIRA DE MIRANDA

1ª Edição 2012


Rua Machado de Assis, 10-35 Vila América • CEP 17014-038 • Bauru, SP Fone (14) 3313-7968 • www.canal6editora.com.br S4871

Serra do Itapeti: Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos / Maria Santina de Castro Morini e Vitor Fernandes Oliveira de Miranda (organizadores). - - Bauru, SP: Canal 6, 2012. 400 p. ; 29 cm. ISBN 978-85-7917-174-1 1. Serra do Itapeti. 2. Mata Atlântica. I. Morini, Maria Santina de Castro. II. Miranda, Vitor Fernandes Oliveira de. III. Título. CDD: 577.34 Copyright© Canal6, 2012

Impressão e Acabamento:

Av. Dr. Pedro Camarinha, 31 - Santa Cruz do Rio Pardo-SP - T: (14) 3332.1155 - www.graficaviena.com.br

PRESERVE A NATUREZA

IMPRESSO EM PAPEL RECICLÁVEL


Este livro é dedicado ... ... àqueles que, direta ou indiretamente, convivem com a Serra do Itapeti, para que possam conhecer e respeitar cada vez mais este rico patrimônio natural; aos professores e às crianças da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, duas joias preciosas no processo de preservação do meio ambiente da região.



Especiais Agradecimentos

Instituto Embu de Sustentabilidade, Companhia Suzano de Papel e Celulose, Universidade de Mogi das Cruzes e a Fundação de Amparo ao Ensino e Pesquisa, pela confiança depositada e apoio financeiro. Fabio Luna Camargo Barros, da Pedreira Itapeti - Embu S/A Engenharia e Comércio; e Marco Antonio de Souza Martins, do Instituto Embu de Sustentabilidade, por terem apoiado a ideia da edição do livro e iniciado todo o processo para a sua viabilização.



Agradecimentos

Ao Prof. Dr. Paulo Christiano de Anchietta Garcia, pelas opiniões e ideias durante as primeiras discussões sobre o título, composição e autores dos capítulos deste livro. Aos revisores, pela leitura dos manuscritos e pelas valiosas sugestões apresentadas. Ana Eugênia de Carvalho Campos – Pesquisadora Científica VI do Instituto Biológico. Centro de Sanidade Vegetal, Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas. Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, Vila Mariana. CEP 04014-002 - São Paulo - SP, Caixa-Postal: 12898. André Victor Lucci Freitas – Professor da Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Animal. CEP 13083-970 – Barão Geraldo, Campinas - SP, Caixa-Postal: 6109. Alexandre Bragio Bonaldo – Pesquisador associado III do Museu Paraense Emílio Goeldi. Departamento de Zoologia, Setor de Invertebrados. Av. Perimetral, 1901. Campus de Pesquisa, Terra Firme. CEP 66040-170 – Belém - PA. Alex Abiko - Professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Escola Politécnica, Departamento de Engenharia de Construção Civil. Av. Prof. Almeida Prado, Ed. Eng. Civil, Butantan. CEP 05508-900 - São Paulo - SP. Carlos Roberto Ferreira Brandão - Professor da Universidade de São Paulo, Museu de Zoologia. Avenida Nazaré, 481, Ipiranga. CEP 04263-000 - São Paulo - SP. Cynthia P. A. Prado – Professora da Universidade Estadual Paulista. Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane km 05. CEP 14884-900 - Jaboticabal – SP. Delsio Natal - Professor da Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública, Departamento de Epidemiologia. Av. Dr. Arnaldo, 715, Cerqueira Cesar. CEP 01246-904 - São Paulo - SP. Eduardo Custódio Gasparino – Professor da Universidade Estadual Paulista. Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane km 05. CEP 14884-900 - Jaboticabal - SP. Fernando Dini Andreote – Engenheiro Agrônomo e Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Departamento de Ciência do Solo. Avenida Pádua Dias, 11, Setor de Agronomia. CEP 13418-900 - Piracicaba - SP. Fernando José Zara – Professor da Universidade Estadual Paulista. Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane km 05. CEP 14884-900 - Jaboticabal - SP. Flávio Aparecido Rodrigues - Professor Adjunto no curso de Química da Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - São Paulo - SP. Herbert Serafim de Freitas – Laboratório de Sistemática Vegetal do Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo. Rua do Matão, 277. Butantan, Cidade Universitária. CEP 05508-900 - São Paulo - SP. Jacques Hubert Charles Delabie - Pesquisador da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) e Professor Pleno da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Centro de Pesquisas do Cacau, Laboratório de Mirmecologia. Rod. Ilhéus/Itabuna - Km 22. CEP 45600-000 - Itabuna - BA, Caixa Postal: 7. 7


Serra do Itapeti: Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos

João Luiz de Moraes Hoefel – Coordenador do Núcleo de Estudos em Sustentabilidade - Faculdades de Atibaia. Estrada Municipal Juca Sanches 1050, Jd. Bogotá, Bairro Boa Vista. CEP 12954-970 - Atibaia - SP. José Ragusa Netto – Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campus Universitário de Três Lagoas, Departamento de Ciências Naturais. Av. Ranulpho Marques Leal, 3484, Distrito Industrial. CEP 79620-080 - Três Lagoas - MS, Caixa-Postal: 210. Josué Raizer – Professor da Universidade Federal da Grande Dourados. Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais. Rodovia Dourados-Itahum km 12. CEP 79804-970 – Dourados - MS, Caixa-Postal: 322. Kátia Cavalcanti Pôrto – Professora da Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Ciências Biológicas, Departamento de Botânica. Av. Prof. Moraes Rego s/n, Cidade Universitária. CEP 50670-901 – Recife - PE. Maria Rita Avanzi - Professora da Universidade de Brasília. Núcleo de Educação Científica do IB. Campus Universitário Darcy Ribeiro - prédio novo do IB - 2 andar, Asa Norte. CEP 70910-900 - Brasília - DF. Marcelo Trovó Lopes de Oliveira - Universidade de São Paulo. Instituto de Biociências. Laboratório de Sistemática Vegetal. Rua do Matão, 277. Butantã, Cidade Universitária. CEP 05508-900 - São Paulo - SP. Marcelo Duarte – Professor da Universidade de São Paulo, Museu de Zoologia da USP. Museu de Zoologia. Avenida Nazaré, 481, Ipiranga. CEP 04263-000 - São Paulo - SP. Odair Correa Bueno – Professor da Universidade Estadual Paulista. Instituto de Biociências de Rio Claro, Departamento de Biologia. Av. 24-A, 1515, Bela Vista. CEP 13506-900 - Rio Claro - SP, Caixa-Postal: 199. Pedro Ferreira Develey - Diretor de Conservação BirdLife/SAVE Brasil. Rua Fernão Dias, 219, conjunto 2, Pinheiros. CEP 05427-010 - São Paulo - SP. Sandra Regina Visnadi – Pesquisadora Científica do Instituto de Botânica. Núcleo de Pesquisa em Briologia, Centro de Pesquisa em Plantas Avasculares e Fungos. Av. Miguel Estéfano, 3687, Água Funda. CEP 04301902 - São Paulo - SP, Caixa-Postal: 3005. Rosely Ana Piccolo Grandi – Pesquisadora Científica VI do Instituto de Botânica. Centro de Pesquisa em Plantas Avasculares e Fungos. Núcleo de Pesquisa em Micologia, Instituto de Botânica. CEP 01031-970 São Paulo - SP, Caixa-Postal: 3005. Sandra Farto Botelho Trufem – Professora do Programa de Pós-graduação em Educação e Administração da Universidade São Marcos. Universidade São Marcos. R. Coelho Lisboa, 334, Tatuapé. CEP 09929-040 - São Paulo - SP. Wagner Wuo – Professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia - FCET. Rua Marquês de Paranaguá, 111, Consolação. CEP 01303-050 - São Paulo - SP. A Eliza Carneiro Batista, pela elaboração e fotos da capa. A Rafael Abram de Campos e Silvia S. Suguituru, pela ajuda técnica.

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Colaboradores

Aurélio Lourenço Cordeiro – mestre em Biotecnologia (área: Taxonomia Molecular). Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - Mogi das Cruzes, SP.

Clarice Loguercio-Leite - Professora Associada II da Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Botânica. Centro de Ciências Biológicas. Cidade Universitária. CEP 88040-900 - Florianópolis, SC.

Alexandre Salino - Professor Adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Botânica. Instituto de Ciências Biológicas. Av. Antonio Carlos, 6627. CEP 31270901 - Belo Horizonte, MG.

Clarissa N. Irie - graduada em Ciências Biológicas. Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - Mogi das Cruzes, SP.

André Fernando de Oliveira – Professor Adjunto da Universidade Federal de Viçosa. Rua Prof. Peter Henry Rolfs s/n. Campus Universitário. CEP 36570-000 - Viçosa, MG.

Danilo Bandini Ribeiro - doutor em Ecologia. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Animal da cidade Universitária Zeferino Vaz s/n. Distrito Barão Geraldo. CEP 13083-970 - Campinas, SP, Caixa-Postal: 6109

Aline Calixto Eduardo – doutora em Biotecnologia (área: Ciências Exatas). Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - Mogi das Cruzes, SP.

Débora Rodrigues de Souza - doutoranda em Biotecnologia. Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 Mogi das Cruzes, SP.

Almir José Ferreira – mestre em Biotecnologia, Universidade de São Paulo (USP). Programa de pós-graduação Interunidades em Biotecnologia. Av. Prof. Lineu Prestes, 1730, edifício ICB-IV, Ala Norte, sala 03, Cidade Universitária. CEP 05508-900 - São Paulo, SP.

Débora Clivati - doutoranda em Biotecnologia. Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - Mogi das Cruzes, SP.

Antonio Domingos Brescovit - Pesquisador Científico do Instituto Butantan, Laboratório de Artrópodes. Av. Vital Brasil, 1500, Butantan. CEP 05503-900 - São Paulo, SP.

Denílson Fernandes Peralta - Pesquisador Científico III. Núcleo de Pesquisa em Briologia. Instituto de Botânica. Av. Miguel Stefano 3678, Água Funda. CEP 04301-902 - São Paulo, SP, Caixa-Postal: 3005

Astréa F. de Souza Silva - Professora Adjunta da Universidade Federal de Viçosa. Rua Prof. Peter Henry Rolfs s/n. Campus Universitário. CEP 36570-000 - Viçosa, MG.

Douglas Mascara - Professor Adjunto no curso de Ciências Biológicas da Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - São Paulo, SP.

Bianca von Müller Berneck - doutoranda em Ciências Biológicas, Universidade Estadual Paulista, UNESP, Instituto de Biociências de Rio Claro, Departamento de Zoologia. Av. 24-A, 744, Bela Vista. CEP 13506-900 - Rio Claro, SP.

Eliane Batista - mestranda em Saúde Pública. Departamento de Epidemiologia na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP Av. Dr. Arnaldo, 715 - Cerqueira César. CEP 01246904 – São Paulo, SP.

Carmen Lidia Amorim Pires-Zottarelli - Pesquisadora Científica do Núcleo de Pesquisa em Micologia do Instituto de Botânica. Secretaria do Meio Ambiente. Caixa Postal 3005. CEP 01061-970 - São Paulo, SP.

Elisa Esposito - Pesquisadora de Desenvolvimento Científico Regional A da Universidade Estadual de Feira de Santana, Laboratório de Pesquisa em Microbiologia (LAPEM), Prédio do LABIO, Av Transnordestina S/N, Bairro Novo Horizonte, Km 3, Br 116 (norte), Campus Universitário. CEP 44031-460 - Feira de Santana, BA.

Carolina Ortiz Rocha da Costa - graduada em Ciências Biológicas. Universidade de Mogi das Cruzes Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780970 - Mogi das Cruzes, SP. Catarina de Bortoli Munhae - doutoranda em Ciências Biológicas. Universidade Estadual Paulista, UNESP. Instituto de Biociências de Rio Claro, Departamento de Biologia. Av. 24-A, n. 744, Bela Vista. CEP 13506-900 - Rio Claro, SP.

Eurípedes de Sousa Costa Filho - graduado em Ciências Biológicas. Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - Mogi das Cruzes, SP.

Cintia M. Kamura - mestre em Biotecnologia. Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - Mogi das Cruzes, SP.

Fábio de Barros - Pesquisador Científico, nível VI, do Instituto de Botânica. Secretaria do Meio Ambiente. Av. Miguel Stefano, 3678. CEP 01061-970 - Água Funda, São Paulo, SP.

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Serra do Itapeti: Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos

Fabíola Fernandes Michelin - graduada em Ciências Biológicas. Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780970 - Mogi das Cruzes, SP.

Luiz R. Nunes - pesquisador da Universidade de Mogi das Cruzes, Núcleo Integrado de Biotecnologia, Laboratório de Genômica Estrutural e Funcional. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 Mogi das Cruzes, SP.

Fernando Claret – mestre em Biotecnologia. Universidade de Mogi das Cruzes. Professor da Universidade de Mogi das Cruzes. Núcleo de Ciências Ambientais. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780970 - Mogi das Cruzes, SP.

Marcelo Raso Frizzera Borges - Biólogo, Diretor de Desenvolvimento Ambiental. Prefeitura Municipal de Bertioga. Rua Luis Pereira de Campos, 901, Vila Itapanhaú. CEP 11250-000 - Bertioga, SP.

Gilda Collet Bruna - Professora associada plena da Universidade Mackenzie. Universidade Presbiteriana Mackenzie. Rua da Consolação, 930, 60 andar, n. 66. Consolação. Universidade Presbiteriana Mackenzie. CEP 01302-907 - São Paulo, SP.

Marcia Akemi Nakano - mestre em Biotecnologia. Universidade de Mogi das Cruzes. Núcleo de Ciências Ambientais. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - Mogi das Cruzes, SP. Marcia M. Tachira - graduada em Ciências Biológicas. Universidade de Mogi das Cruzes. Núcleo de Ciências Ambientais. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - Mogi das Cruzes, SP.

Gracila Grecco Manfré - especialista em Ecoturismo/Educação Ambiental, especialista em Direito em Administração Pública, Consultora Educacional (Witter & Witter Assessoria e Consultoria Educacional). Rua Dr. Corrêa, 181, Centro. CEP 08710-040 - Mogi das Cruzes, SP.

Marcio Uehara-Prado - doutor em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas e consultor autônomo.

Giuseppe Puorto – Biólogo, Pesquisador Científico e Diretor do Museu Biológico. Instituto Butantan. Av. Vital Brazil, 1500. CEP 05503-900 - São Paulo, SP.

Marco Antonio Plácido de Almeida - doutor em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Marcus Vinicius Monteiro dos Santos - ex-Promotor de Justiça de Habitação e Urbanismo de Mogi das Cruzes; Promotor de Justiça Criminal da Capital.

Humberto Alves da Silva Júnior - graduado em Ciências Biológicas. Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - Mogi das Cruzes, SP.

Marcos Antonio Massamiti Yamamoto - licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade de Braz Cubas. Consultor autônomo. Estrada Beira-Rio 130, Freguesia da Escada. CEP 08900-000 - Guararema, SP.

Iris Martins Franco – graduada em Ciências Biológicas. Universidade Braz Cubas. Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233, Mogilar. CEP 08773-380 – Mogi das Cruzes, SP.

Margarida Davina Andreatta - doutora em Arqueologia pela FFLCH/USP e Arqueóloga do Museu Paulista da USP; atualmente coordena o Núcleo de Arqueologia da Universidade de Braz Cubas. Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233, Mogilar. CEP 08773380 - Mogi das Cruzes, SP, Caixa-Postal: 511

Janine Miriane dos Santos – graduada em Química. Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - Mogi das Cruzes, SP. João Lúcio de Azevedo - Professor titular aposentado da Universidade de São Paulo. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, ESALQ. Av. Pádua Dias, n.11. CEP 13400-970 - Piracicaba, SP, Caixa-Postal: 9

Maria Henriqueta Andrade Raymundo - mestre em Recursos Florestais. Especialista em Educação Ambiental. Diretora de Gestão e Saneamento Ambiental da Prefeitura Municipal de Suzano. Professora do Curso de Gestão Ambiental da Universidade Braz Cubas. Sócia Fundadora da Organização Bio-Bras. Rua Baruel, Edifício Nacional, 430 – Centro. CEP 08675-000 - Suzano, SP.

José Sebastião Witter - Professor titular aposentado na área de História FFLCH/USP e Professor Emérito pela Universidade de São Paulo (USP). Witter & Witter Assessoria e Consultoria Educacional. Rua Dr. Corrêa, 181, Centro. CEP 08710-040 - Mogi das Cruzes, SP.

Maria Inez Pagani - Professora Assistente do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista. UNESP. Instituto de Biociências de Rio Claro, Departamento de Ecologia. Av. 24-A, 1515, Bela Vista. CEP 13506-900 - Rio Claro, SP.

Luciana Francisco - mestre em Biotecnologia. Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - Mogi das Cruzes, SP. Lucila Manzatti - mestre em Ciências Florestais. Diretora de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes e Professora Adjunta do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Braz Cubas. Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233, Mogilar. CEP 08773-380 - Mogi das Cruzes, SP, Caixa-Postal: 511

Maria Santina de Castro Morini - Professora Adjunta do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Mogi das Cruzes. Núcleo de Ciências Ambientais. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780970 - Mogi das Cruzes, SP.

Luis Felipe Silveira - graduado em Ciências Biológicas. Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 Mogi das Cruzes, SP.

Moacir Wuo - Professor Adjunto do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780970 - Mogi das Cruzes, SP.

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Serra do Itapeti: Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos

Nair H. T. Tomiyama - mestre em Arqueologia pela FFLCH/ USP; professora e pesquisadora do Núcleo de Arqueologia da Universidade Braz Cubas. Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233, Mogilar. CEP 08773-380 - Mogi das Cruzes, SP, Caixa-Postal: 511

Rodnei Iartelli - graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Braz Cubas. Consultor ambiental autônomo. Rosana Martins - mestre em Ciências, Bióloga do Laboratório de Artrópodes. Instituto Butantan. Av. Vital Brasil, 1500, Butantan. CEP 05503-900 - São Paulo, SP.

Natacha Yuri Nagatani Dias - doutoranda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Programa de Pós Graduação do Museu Nacional - Setor de Herpetologia Departamento de Vertebrados Quinta da Boa Vista s/n. São Cristóvão. CEP 20940-040 - Rio de Janeiro, RJ.

Rogério Rosa Silva - pós-doutor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. Universidade de São Paulo, Museu de Zoologia, Seção de Entomologia. Av. Nazaré, 481, Ipiranga. CEP 04263-000 - São Paulo, SP, Caixa-Postal: 4249

Nilo Portero - graduado em Ciências Biológicas. Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 - Mogi das Cruzes, SP.

Silvana Pereira da Silva - graduada em Ciências Biológicas. Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 Mogi das Cruzes, SP.

Olga Yano - Pesquisadora Científica VI. Núcleo de Pesquisa em Briologia. Instituto de Botânica. Av. Miguel Stefano, 3678, Água Funda. CEP 04301-902 - São Paulo, SP, Caixa-Postal: 3005

Silvia Sayuris Suguituru - mestre em Biotecnologia pela Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 Mogi das Cruzes, SP.

Paulo André Margonari Goldoni - Biólogo do Laboratório de Artrópodes do Instituto Butantan. Instituto Butantan. Av. Vital Brasil, n. 1500, Butantan. CEP 05503-900 - São Paulo, SP.

Sofia Lie Yamamoto - arquiteta e urbanista, graduada pela Universidade de Mogi das Cruzes. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 Mogi das Cruzes, SP.

Paulo Christiano de Anchietta Garcia - Professor Adjunto do Departamento de Zoologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais. Av. Antônio Carlos, 6627, Pampulha. CEP 31270-901 - Belo Horizonte, MG.

Vinícius Antonio de Oliveira Dittrich - Professor Adjunto da Universidade Federal de Juiz de Fora. Herbário CESJ, ICB. Rua José Lourenço Kelmer, s/n, Campus Universitário, Bairro São Pedro. CEP 36036-900 - Juiz de Fora, MG.

Pedro Luis Batista Tomasulo - doutor em Geociências e Meio Ambiente, Professor e coordenador do curso de Ciências Biológicas da Universidade Braz Cubas. Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233, Mogilar. CEP 08773-380 - Mogi das Cruzes, SP, Caixa-Postal: 511

Vinícius Trettel Rodrigues - doutorando em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente - Instituto de Botânica. Av. Miguel Stefano, 3678, Água Funda. CEP 01061-970 - São Paulo, SP. Caixa-Postal: 4005 Vitor Fernandes Oliveira de Miranda - Professor Assistente da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus Jaboticabal, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária, Laboratório de Sistemática Vegetal. Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/n, Centro. CEP 14884-900 - Jaboticabal, SP.

Rafael Yuji Lemos - mestrando em Zoologia pela Universidade de São Paulo. Av. Prof. Lineu Prestes, 1730, Cidade Universitária. CEP 05508-900 - São Paulo, SP. Regina L. B. da Costa de Oliveira - Professora Adjunta do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Mogi das Cruzes. Núcleo Integrado de Biotecnologia, Laboratório de Genômica Estrutural e Funcional. Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza, 200, Centro Cívico. CEP 08780-970 Mogi das Cruzes, SP.

Vivian Cristiane Fernandes Yamashita - mestre em Arqueologia pela FFLCH/USP. Núcleo de Arqueologia da Universidade Braz Cubas. Av. Francisco Rodrigues Filho, 1233, Mogilar. CEP 08773380 - Mogi das Cruzes, SP, Caixa-Postal: 511

Renata Pacheco - doutora em Ecologia da Conservação. Universidade Federal de Uberlândia. Instituto de Ciências Biomédicas, Instituto de Biologia. Rua Ceará, s/n, Campus Umuarama, Bloco 2D, sala 18, Umuarama. CEP 38400902 - Uberlândia, MG.

Welington Luiz Araujo - Professor Adjunto do Departamento de Microbiologia ICB/USP. Av. Prof. Lineu Prestes, 1730, edifício ICB-IV, Ala Norte, sala 03, Cidade Universitária. CEP 05508-900 - São Paulo, SP.

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Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Um futuro para a Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Itapeti, a Serra: alma e coração de uma cidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Gracila Maria Grecco Manfré e José Sebastião Witter Relatos sobre as pesquisas arqueológicas na Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Margarida D. Andreatta, Vivian C. Fernandes Yamashita e Nair H. T. Tomiyama Preservação da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Maria Inez Pagani Degradação Ambiental da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Gilda Collet Bruna, Marco Antonio Placido de Almeida, Marcus Vinicius Monteiro dos Santos e Sofia Lie Yamamoto Reflexões e ações para a construção da Agenda 21 da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . 75 Maria Henriqueta Andrade Raymundo Briófitas da Serra do Itapeti. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 Denilson Fernandes Peralta e Olga Yano Pteridófitas da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Vinícius Antonio de Oliveira Dittrich e Alexandre Salino Flora fanerogâmica da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 Pedro Luis Batista Tomasulo A família Orchidaceae da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 Vinícius Trettel Rodrigues e Fábio de Barros Bactérias e fungos na Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 João Lúcio de Azevedo, Elisa Esposito e Clarice Loguercio-Leite Fungos Zoospóricos da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 Carmen Lidia Amorim Pires-Zottarelli e Fabíola Fernandes Michelin Borboletas em Floresta Atlântica: métodos de amostragem e inventário de espécies na Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167 Marcio Uehara-Prado e Danilo Bandini Ribeiro Aranhas de serapilheira da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187 Rafael Y. Lemos, Paulo A. M. Goldoni e Antonio D. Brescovit

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Serra do Itapeti: Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos

A fauna de formigas da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 M. Santina de C. Morini, Rogério R. Silva, Silvia S. Suguituru, Renata Pacheco e Marcia A. Nakano Culicídeos da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221 Douglas Mascara, Eurípedes de Sousa Costa Filho, Eliane Batista e Silvana Pereira da Silva Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231 Rosana Martins, Marcelo R. F. Borges, Rodnei Iartelli e Giuseppe Puorto Anfíbios anuros da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 259 Paulo Christiano de Anchietta Garcia, Bianca von Müller Berneck, Natacha Yuri Nagatani Dias, Carolina Ortiz Rocha da Costa, Luis Felipe Silveira e Marcos Yamamoto Avifauna da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 275 Rodnei Iartelli Mamíferos de médio e grande porte da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291 Lucila Manzatti e Iris Martins Franco Formigas em áreas urbanizadas da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 301 Débora R. de Souza, Catarina de B. Munhae, Cíntia M. Kamura, Nilo da Silva Portero e M. Santina de C. Morini Biodiversidade na Serra do Itapeti: pesquisa para o ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311 Moacir Wuo, Catarina de B. Munhae, M. Santina de C. Morini, Vitor Fernandes O. de Miranda, Débora Clivati, Luiz R. Nunes e Regina L. B. da Costa de Oliveira O Parque Municipal Nagib Najar: importante área para a preservação da Serra do Itapeti . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 329 Elisa Esposito Avaliação da contaminação por metais no solo do Parque Municipal Nagib Najar . . 333 André Fernando de Oliveira, Astrea F. de Souza Silva, Aline Calixto Eduardo e Janine Miriane dos Santos Diversidade da fauna de formigas no Parque Municipal Nagib Najar . . . . . . . . . . . . 345 Marcia M. Tachira, Débora R. de Souza, Silvia S. Suguituru, Catarina de B. Munhae e M. Santina de C. Morini Diversidade de bactérias endofíticas no Parque Municipal Nagib Najar . . . . . . . . . . 355 Almir José Ferreira, Luciana Francisco e Welington Luiz Araújo Angiospermas e metais pesados: estudos em um ecossistema contaminado . . . . . . 367 Humberto Alves da Silva Júnior, Aurélio Lourenço Cordeiro e Vitor Fernandes Oliveira de Miranda Avaliação de plantas metalófitas nativas da mata ciliar do Rio Tietê para recuperação de áreas degradadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 381 Fernando Claret, Clarissa N. Irie e Elisa Esposito

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Apresentação

A Mata Atlântica agrega diversos ecossistemas e apresenta uma das maiores biodiversidades do nosso planeta. Além de ter papel fundamental para a sobrevivência de animais, plantas, fungos e microrganismos, muitos deles ocorrem de forma endêmica (ou seja, ocorrem apenas naquela região geográfica), ela é também a responsável direta pela qualidade de vida de milhares ou até milhões de pessoas. A sua importância ímpar pode ser traduzida na proteção dos mananciais, regulação hídrica e fornecimento de água potável, na proteção e fertilidade dos solos, no controle do clima (aspecto que tem demandado preocupação ferrenha de cientistas e governantes) e, sem dúvida alguma, na sua crucial importância paisagística. Imaginar a Serra do Mar, ou a Serra da Bocaina, por exemplo, sem a exuberante cobertura da Mata Atlântica, assim desnuda, é tarefa, no mínimo, perturbadora. O Bioma já cobriu cerca de 1,3 milhões de quilômetros quadrados, o que corresponde a aproximadamente 15% do Brasil. É considerada um dos hotspots em biodiversidade mais ameaçados do planeta, com fauna e flora que apresentam níveis relativamente altos de endemismo, com muitas espécies ainda desconhecidas pela ciência. O Estado de São Paulo possui atualmente cerca de 3,5 milhões de hectares de cobertura vegetal natural, o que corresponde a aproximadamente 14% de sua superfície. Apesar da constante degradação, principalmente pelo aumento das fronteiras agrícolas e pressões urbanas, muitos animais e plantas podem ser encontrados nos fragmentos florestais paulistas. Todavia, apenas 25% das paisagens naturais estão protegidas em Unidades de Conservação (UCs) com a administração do poder público, estando a área restante sob o controle do setor privado. A Serra do Itapeti está inserida junto à borda do Planalto Paulistano, na subzona conhecida como Colinas de São Paulo, caracterizada por grandes extensões de morros com topos arredondados e vertentes às vezes abruptas, de perfil retilíneo, conhecidas como os “mares de morros” da Bacia do Paraíba, com altitude que varia entre 700 a 1.160m. É uma área de Proteção Ambiental (Lei Estadual Nº 4.529 de 18 de janeiro de 1985) e representa grande divisor de águas, de bacias hidrográficas de vital importância para o Estado, onde a vertente Norte drena para o Rio Paraíba do Sul e a vertente Sul para o Tietê. Está localizada entre os municípios de Mogi das Cruzes e Guararema, com extensão de 5,2 mil ha e até 5Km de largura, sobre base de rochas predominantes cristalinas pré-cambrianas, graníticas e gnáissicas, onde os espigões e colinas estão sustentados por sedimentos da Bacia de São Paulo e Taubaté. Deste total, apenas 442ha são legalmente protegidos na forma de Unidades de Conservação, sendo 89,7ha pertencentes à Estação Ecológica de Itapeti e 352,3ha ao Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, ambos localizados no município de Mogi das Cruzes. Em razão de sua importância econômica e social para o município de Mogi das Cruzes e do alto grau de degradação que a Serra apresenta, vários profissionais, ao longo dos últimos dez anos, vêm trabalhando de forma sistemática e independente para a produção de conhecimentos sobre a sua ocupação, seus aspectos sociais e biológicos. Assim, os capítulos contidos nesse livro representam a compilação de todas as informações com embasamento científico, de forma a levar o leitor a entender um pouco sobre o passado e o presente da Serra do Itapeti e o seu entorno e, consequentemente, sobre a história do município de Mogi das Cruzes. Apesar de toda a ação resultante da atuação humana – direta ou indireta – na Serra do Itapeti, o que pode ser verificado pela sistemática diminuição das áreas naturais de floresta e pela expansão da ocupação humana, a biodiversidade na Serra ainda persiste. Algumas espécies como Euterpe edulis (palmito-juçara), Dicksonia sellowiana (xaxim) e Callitrix aurita (sagui-da-serra-escuro), presentes tanto na Estação Ecológica

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Serra do Itapeti: Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos

de Itapeti como no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, estão citadas nas listas oficiais de flora e fauna ameaçadas de extinção. Em relação às duas Unidades de Conservação, o Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello possui o maior número de informações sobre a sua biodiversidade. Dentre os animais, esta Unidade de Conservação abriga 32 espécies de anfíbios; 185 de aves, 24 de mamíferos, 245 de borboletas; 165 de formigas, com uma espécie nova para a ciência, e 83 espécies de aranhas, das quais seis são espécies também desconhecidas até então pela ciência. Dentre as plantas, foram encontradas no Parque 122 espécies de plantas com flores e frutos, as angiospermas, sendo uma espécie nova, 67 de orquídeas (uma delas nunca encontrada no Estado de São Paulo), 87 de pteridófitas (samambaias, xaxins, licopódios e afins), além de 216 espécies de briófitas, sendo que 19 são novas ocorrências para o Estado de São Paulo. Novas ocorrências também foram verificadas para fungos zoospóricos, cuja riqueza está em torno de 38 espécies. Além disso, têm-se vários gêneros de microrganismos (alguns deles ainda desconhecidos) que habitam o interior de plantas e que possuem capacidade de produzir compostos de interesse para o ser humano. Mas, mesmo assim, esses dados representam uma minúscula parcela do conhecimento necessário sobre a biodiversidade da Serra do Itapeti, que, infelizmente, está sendo ameaçada pelo crescimento acelerado da malha urbana no entorno das únicas Unidades de Conservação que ela abriga. A presença do homem possibilita que espécies exóticas, já constatadas tanto da fauna como da flora, adentrem à mata, diminuindo ou até mesmo extinguindo muitas populações de espécies nativas, que ainda não conhecemos. Apesar de o Brasil ser megadiverso, a população brasileira possui grande desconhecimento da biodiversidade do seu país. Não vamos deixar que isso também aconteça com a Serra do Itapeti, afinal ela é um patrimônio natural que devemos proteger de forma consciente. O livro aqui apresentado é a reunião de informações conhecidas até o momento sobre a Serra do Itapeti. Trata-se de um trabalho modesto, mas de extrema importância para que possamos pensar em conservar a Mata Atlântica que ainda existe na Serra. Esperamos que as informações contidas neste livro possam incentivar novas pesquisas e também subsidiar estudos comparativos com outras áreas florestais. Da mesma forma, esperamos muito que esse trabalho possa servir de marco para propostas de estratégias de conservação e recuperação da biodiversidade da Serra do Itapeti.

Maria Santina de Castro Morini e Vitor Fernandes Oliveira de Miranda Organizadores

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Um futuro para a Serra do Itapeti

O livro SERRA DO ITAPETI foi escrito num misto de SAUDADE e de ESPERANÇA. SAUDADE da floresta primitiva e ESPERANÇA de uma futura recuperação de matas destruídas no passado, quando a mata tropical intocada dominava a SERRA DO ITAPETI. ESPERANÇA, bem fundamentada pelas pesquisas realizadas nos ecossistemas tropicais da Mata Atlântica, ainda existentes nela em vários lugares. Haverá certamente planos para defendê-los e ampliá-los. A esse respeito, o retorno aos ecossistemas regionais primitivos é um objetivo que aqui e ali já se realizou ou está se realizando, tanto no Parque Natural como na Estação Ecológica e nos lugares onde haverá futuras ARIES (Áreas de Relevante Interesse Ecológico). Aspecto esse muito diferente da situação dos cerrados aqui, no Estado de São Paulo, e em várias partes do BRASIL CENTRAL, onde uma recuperação do CERRADO é praticamente impossível. Ao fazer agricultura num CERRADO, o empreendedor modifica rapidamente o solo, adicionando enormes quantidades de calcários e fertilizantes com muito fósforo. Depois disso, é praticamente impossível recuperar o CERRADO, pois seu novo solo não aceita o retorno de plantas que somente prosperam em solos muito ácidos, com muito alumínio livre e pobres em fósforo. Assim, o retorno ecológico, nessas condições, é praticamente impossível para refazer uma vegetação de CERRADO. Contudo, no caso da SERRA DO ITAPETI, a situação felizmente é diferente. A rocha mãe permanece e vai aos poucos se transformando no solo utilizável pela vegetação da Mata Atlântica. Porém, deve ser ressaltado que não vale a pena adubar lá com produtos químicos, pois isso poderia poluir a água local destinada ao abastecimento público. Da visita que fiz ao Parque Natural Municipal e à Estação Ecológica Estadual, ambos na SERRA do ITAPETI, ficou claro para mim que ainda é necessária a implementação de programas de reintrodução de espécies animais e vegetais que faziam parte da flora e da fauna local, mas que hoje não estão mais presentes na SERRA DO ITAPETI. Assim, sugiro, por exemplo, o plantio de mudas das espécies de plantas que existiam na SERRA e o repovoamento de abelhas indígenas tais como a JATAI (Tetragonisca angustula) a MANDAGUARI (Scaptotrigona postica) e a MANDAÇAIA (Melipona quadrifasciata), que hoje, segundo fui informado, pouco existe nas áreas que visitei. Cumpre lembrar que essas abelhas indígenas e a flora indígena tiveram a coevolução que ainda hoje torna a sua copresença necessária. Quanto à parte vegetal, é imperiosa a plantação das CANELAS, produtoras de frutos necessários à fauna e de plantas como a Araucaria angustifolia, quase extinta hoje na SERRA DO ITAPETI, mas ainda plantada aqui e ali em propriedades privadas. Fernando Claret e Elisa Esposito realizaram o plantio de 17 espécies nativas em solos degradados com metais pesados. Surpreendentemente, o Inga sp. cresceu 50% mais em solos degradados. Por outro lado, Humberto A. da Silva Jr, Aurélio L. Cordeiro e Vitor F. Oliveira de Miranda verificaram não ter havido correlação significativa entre o número de espécies de plantas angiospermas de cada parcela de áreas e as concentrações ali de metais pesados. Conforme também o capítulo 22, escrito por Elisa Espósito, é necessário lembrar que a área do Parque Municipal Nagib Najar serviu de depósito de resíduos sólidos da Cia. Siderúrgica de Mogi das Cruzes. É necessária a continuação dessas pesquisas e também a realização de outras referentes à interface POLUIÇÃO COM METAIS PESADOS E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA. No que se refere a animais de porte médio, o capítulo sobre o Parque Municipal Francisco Affonso de Mello, escrito por Lucila Manzatti e Íris Martins Franco mostra haver uma grande pobreza hoje em relação a espécies que no passado certamente existiam lá, como o macaco BUGIO (Alovatta sp.) os MACACOS PREGOS (Cebus spp.) os CAITETUS (Tayassu cajacu). Por sua vez, as aves estão melhores representadas. O capítulo de Rodnei Iartelli tem um grande número de espécies, embora faltem outras, como por exemplo, os TUCANOS (Ramphastus). Já, Rosana

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Serra do Itapeti: Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos

Martins, Marcelo R. F. Borges, Rodnei Iartelli (novamente) e Giuseppe Puorto, em seu trabalho, encontraram relativamente poucas aves. O que a minha visita e também os trabalhos que fazem parte deste livro sugerem é, em primeiro lugar, um possível aproveitamento em caráter permanente, das equipes que fizeram importantes trabalhos constantes neste livro. Dessa forma, o melhor seguimento, digamos assim, que este livro apresenta é a oportunidade de prosseguir defendendo as aves e outros animais que devem ser protegidos, além das plantas que continuam existindo na SERRA DO ITAPETI e outras a serem reintroduzidas; outra atividade urgente é a de escolher novas áreas a serem protegidas, principalmente as vizinhas ou próximas ao Parque Natural Municipal, à Estação Ecológica e à Reserva Florestal particular da Pedreira Itapeti. A lei federal do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) tem uma modalidade de proteção à Natureza que é muito semelhante a um tombamento de uma casa de valor histórico. Esse tipo de Unidade de Conservação foi proposta por mim e está incluído no SNUC. Trata-se da declaração, pela União, ou pelos Estados ou pelos Municípios, de Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIE). A propriedade continua privada, mas seu uso é restrito a atividades que mantenham a Natureza. Não se trata de uma desapropriação. O custo, para o poder público, é quase zero. Contudo, por uma questão de bom senso e de Justiça, devem ser Áreas cujo uso já esteja limitado de modo geral pelo Código Florestal, como é o caso das APP (Áreas de Proteção Permanente). Assim, não haverá prejuízo real para o Proprietário. A “vantagem” é que o Decreto que instituir a ARIE pode oferecer assistência de guarda contra invasores, contra roubos etc. Além disso, ser uma ARIE ressalta o valor da propriedade, sob os aspectos culturais e ambientais. Quero ressaltar o trabalho dos organizadores em prol da publicação deste livro, bem como os esforços de Fabio Luna Camargo Barros, na elaboração do Projeto Pedreira SERRA DO ITAPETI, e também os trabalhos do administrador Marcos Francisco dos Santos, da Secretária do Meio Ambiente, Maria Inês Soares Costa Neves, de Mogi das Cruzes e do Marco Antonio de Souza Martins, a quem também agradeço as informações.

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Itapeti, a Serra: alma e coração de uma cidade Gracila Maria Grecco Manfré José Sebastião Witter

Resumo O capítulo relata a ocupação da Serra do Itapeti, desde os primórdios até os dias atuais, principalmente em relação à área onde atualmente se situa o Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. As passagens históricas contadas são entremeadas com descrições sobre o crescimento do município de Mogi das Cruzes, que possui o seu desenvolvimento intimamente relacionado ao descobrimento e usufruto dos inúmeros atributos naturais da Serra.

planeta, é que a Humanidade, em suas variadas formas de vida social, sempre estabeleceu uma linha divisória clara, uma demarcação nítida, entre ela mesma e o mundo natural. (...) A Humanidade sempre se viu como completamente distinta da flora e da fauna. Uma era a realidade da aldeia, onde os seres humanos trocavam signos e coisas; outra era a realidade que se desdobrava fora desse círculo, entre bichos e espíritos, entidades extra-humanas. Dito de outro modo, a distinção entre natureza e cultura, como espaços radicalmente distintos da existência, é muitas vezes milenar.” (Texto de Gilberto Gil in “Meio Ambiente do Século 21”, TRIGUEIRO, 2003).

Relatos históricos “As árvores cresciam como se não houvesse no mundo senão árvores crescendo. Até que o sol escureceu, gente se aproximou, poços se multiplicaram e os mosquitos saíram do coração das flores: estava-se crescendo.” (CLARICE LISPECTOR)

A epígrafe escolhida ilustra o despertar de um momento que, por vezes, não conseguimos definir com clareza, mas pressentimos que nos diz respeito. É bastante comum considerar o meio ambiente como sinônimo de fauna e flora. E, ainda que vivamos em tempos de excessiva informação, não raras vezes superficial por sua velocidade, a grande maioria dos brasileiros também não se vê como parte do “meio ambiente” e a paisagem acaba por se transformar em uma fonte meramente de contemplação. Mas este não é um ângulo de visão apenas do brasileiro:

As terras que constituem o Brasil de hoje foram descritas nos registros dos primeiros portugueses que aqui estiveram como “terras a perder de vista”, sendo constante o destaque para o encantamento das matas, com suas plantas e animais exóticos. Entretanto, sempre foram terras ocupadas de forma predatória:

“As indicações que temos, colhidas nos mais diversos povos, tempos e lugares do 19


Gracila Maria Grecco Manfré e José Sebastião Witter

“Os primeiros europeus fixaram-se por estas terras para retirar suas riquezas e obter ganhos rápidos. Depois, incorporaram técnicas indígenas no cultivo de alimentos, como a queimada, e plantaram o que estavam acostumados a comer em Portugal. (...) Nesse processo de ocupação, registrou-se uma intensa devastação das condições naturais.” (RIBEIRO, 2003).

ças); ao sul, havia a Serra do Mar, impondo o mesmo grau de isolamento que a São Paulo; e a leste, para atingir o Vale do Paraíba, tinha que se transpor a Serra do Tapeti (CAMPOS, 1978). As dificuldades com comunicação, translados e atividades sociais encontradas pelos moradores de Mogi das Cruzes foi descrita por Sérgio Buarque de Holanda, com base em documentação da época:

No Brasil do século 16, as primeiras vilas e cidades localizavam-se à beira-mar. Eram aglomerados urbanos marítimos. Fixavam-se no litoral “a fim de que pudessem manter permanente contato com as raras naus procedentes da metrópole lusa” (AZEVEDO, 1996). De Portugal procediam os tecidos para as vestes, munição e armas para a defesa, instrumentos para uso em lavoura, sementes, notícias do país e do continente. A Vila de São Paulo de Piratininga, fundada em 1554 e elevada à vila em 1558, era uma exceção:

“Associada à mesquinhez das estradas, a própria deficiência das técnicas de transporte ajudava a encarecer os gêneros, fazendo proibitivo o comércio a maior distância. (...). Tão dificultoso em certas ocasiões se tornava o trânsito pelas estradas que servia isso de desculpa para não se celebrarem atos civis dependentes de caminhadas maiores. Quando no ano de 1611 morreu em Mogi das Cruzes Francisca Cardoso, mulher de Gaspar Vaz, o fundador da vila, não ousaram os avaliadores do inventário percorrer as nove ou dez léguas que seria preciso vencer desde São Paulo, por serem “caminhos ásperos e de muitas águas”. O fato ainda podia ter escusa no escasso tempo havido para se melhorarem as comunicações, pois mal se havia levantado o pelourinho em Mogi. Contudo, passados nove anos, os avaliadores de outro inventário ficarão tolhidos de ir de São Paulo a examinar umas terras nessa localidade, por não haver ponte nem canoa que permitisse a viagem.” (HOLANDA, 1986).

“(...) embora também surgida no primeiro século de nossa colonização, foi plantada (a Vila de São Paulo de Piratininga) no Planalto, a mais de 700m de altitude sobre o nível do mar e deste separada não apenas por algumas dezenas de quilômetros, mas sobretudo pelas escarpas da Serra do Mar.” (AZEVEDO, 1996). (...) Os paulistas viviam isolados. Empoleirados no alto da serra, não tinham relações com o estrangeiro que vinha pelo oceano. (...) A serra abrupta caindo sobre terras alagadiças e de pouco valor, não permitia um desenvolvimento da ‘marinha’, já decadente quase ao nascer.” (MORAES, 1940).

Hoje, no entanto, esta “considerável distância” pode ser percorrida em menos de uma hora. Quando da “corrida do ouro” nas diferentes regiões geográficas de Minas Gerais do século 18, as barreiras começaram a ser transpostas primeiramente por homens que pretendiam “descobrir as minas” e na sequência pelos comerciantes que conduziam cavalares e moares para as regiões mineradoras. Mogi das Cruzes ficava na rota das grandes caravanas de transportadores de mulas e cavalos que abasteciam e serviam de força de trabalho, onde o ouro e as pedras preciosas surgiam:

A proximidade da cidade de Mogi das Cruzes com a capital do Estado de São Paulo, mormente nos tempos atuais, parece ter sido sempre um fator geográfico a favorecer seu crescimento. Aquilo, no entanto, que parece ser um elemento facilitador, visto de uma perspectiva recente, pensando-se no denominado “progresso”, há elementos da própria história a mostrar muitos dos empecilhos que a proximidade trouxe para a vila, a cidade e a região metropolitana, desde os tempos do Brasil Colonial. A instalação de Mogi das Cruzes como vila deu-se em 1611. Inicialmente denominada “Vila de Sant’Ana das Cruzes de Mogi Mirim”, manteve-se isolada justamente por sua geografia: a oeste, a comunicação com a Vila de São Paulo de Piratininga era extremamente difícil (regiões baixas e alagadi-

“Realmente por ela (vila de Santana das Cruzes de Mogi) passava o caminho que de São Paulo demandava para as Gerais e o Rio de Janeiro, e passava também outro que procedente de Santos se bifurcava em Mogi, ou seguindo para as Gerais ou tomando a direção de Goiás e Mato Grosso. Nessas condições ela usufruía comercialmente de sua posição privilegiada, fornecendo toda a sorte de manti20


Itapeti, a Serra: Alma e Coração de uma Cidade

mentos e suprindo as demais necessidades dos numerosos viandantes.” (CAMPOS, 1978).

agricultura do café, nem durante a transposição do produto do Vale do Paraíba para a região do médio Tietê. Aliás, o café “passou por Mogi” no século 19, como se a cidade atuasse como uma “região de passagem”. Relatos de alguns estudiosos da História Colonial do Brasil, dentre eles Sérgio Buarque de Holanda, tanto em “Monções”, “O Extremo Oeste” ou “Caminhos e Fronteiras”, registram este período (vide Referências Bibliográficas). Publicações de pesquisadores da história local confirmam esta posição de Mogi das Cruzes, como as de Jair Rocha Batalha vem confirmar:

Mais uma vez, Sérgio Buarque de Holanda fornece dados preciosos para a questão dessa “área de passagem”, que era Mogi das Cruzes. Diz ele: “A julgar pelos dados de um livro de registro de cartas de guia de animais, existente na Câmara Municipal de Mogi, e que só parcialmente supre a falta de cifras anuais regulares para as importações de gado do Sul, ao menos no período de 1757 a 1768, enquanto os muares conservam ainda o segundo lugar, passam os bovinos para o primeiro e os cavalares para o terceiro. Isso até certo ponto se deve, porém, ao largo consumo de rezes no Rio de Janeiro. Com efeito, do total de 32413 animais que em Mogi pagam a cota do Novo Imposto para a reedificação de Lisboa (...), devendo ir para o Rio 11420 dos vacuns, isto é, mais de 80%, ao passo que das bestas muares, quase 99% se destinam a Minas. Dos cavalos, vão 972 para Minas e 319 para o Rio.” (HOLANDA, 1986).

“As terras, em geral pobres, nunca possibilitaram um desenvolvimento franco e seguro para Mogi das Cruzes. Saint-Hilaire notou a pobreza dos habitantes e a pouca fertilidade do solo. O único produto de exportação nos meados do século 19 era o algodão, colhido em apoucada escala. Na maioria, os habitantes, paupérrimos, dedicavam-se à feitura de esteiras e cestas, famosas pela sua vivacidade de cores e pela facilidade com que desbotavam. Em 1870, quando ainda era intensa a lavoura cafeeira pelo vale do Paraíba, não se destacava o município como região produtora de café. Produzia algodão, cana e café, tudo em quantidade mais ou menos modesta. Vestígios de fazendas antigas e dignas de menção, encontram-se apenas além serra do Itapeti.” (BATALHA, 2002).

Mogi das Cruzes, nesse período, fazia parte do denominado “ciclo dos moares” que começava no Rio Grande do Sul, passava por Santa Catarina e Paraná e abastecia a grande feira de Sorocaba. A partir dos negócios realizados em Sorocaba, a destinação dos animais, era a cidade de Mogi das Cruzes, que possuia um “posto alfandegário”, um dos muitos “registros”, onde se pagava imposto para prosseguir a jornada. Era uma tentativa de evitar os “descaminhos” - como era denominado o contrabando de então. É claro que as péssimas estradas facilitavam o controle do denominado “caminho das boiadas” que vindo de Sorocaba, chegava a São Paulo (por onde hoje é a região do Bairro de Pinheiros), seguia a “Estrada das Boiadas” e depois de cruzar a capital seguia o caminho que, no século 20, acabou por se transformar na Estrada São Paulo - Rio de Janeiro. É sempre necessário lembrar que a própria capital, metrópole pujante e atraente por seu poder econômico, só passou a ser uma cidade populosa depois da década dos anos 1920. Isto é, depois de quase três décadas republicanas e da chegada dos imigrantes, de tantas origens, aos territórios paulistas. O grande avanço do plantio do café que, depois de esgotar a região do Vale do Paraíba, foi se aclimatar no Oeste paulista (oeste do século 19, cujo limite era a região de Campinas) e a partir de então se transformar no grande sustentáculo da Economia Brasileira. Mogi das Cruzes não viveu a

Até a primeira metade do século 19 pouco se sabia sobre a vasta área do Brasil no tocante à sua flora, fauna e geografia física e humana, muito embora houvesse registros cartográficos, resultados de demarcação de fronteiras. Rubens Borba de Moraes, na apresentação de “Viagem à Província de São Paulo” comenta que “a investigação científica, sem resultados práticos, não podia interessar uma nação de comerciantes (...)”. De fato, o Estado português não se preocupava em tomar iniciativas quanto a uma exploração metódica do território, como foi o caso do holandês. Ainda segundo Moraes (1940): “E assim foi este país explorado a esmo, povoado a torto e a direito (...). O imigrante aqui chegado, para se tornar proprietário, não precisava comprar ou conquistar a terra. Para obtê-la bastava pedir. Davam-na à vontade, às sesmarias, aonde a desejasse. (...) Governada tanto tempo de longe e com a displicência que inspirava uma terra sem a menor riqueza, não podia ser muito forte o vínculo 21


Gracila Maria Grecco Manfré e José Sebastião Witter

que prendia Piratininga a Portugal e ao resto da Colônia.”

Mogi das Cruzes, Nossa Senhora da Escada, Jacareí, Taubaté. Desta última localidade rumou em direção à capital brasileira, por Aparecida, Guaratinguetá, Areias, Bananal, São João Marcos, Itaguaí e Santa Cruz (Figuras 1 e 2). Dentre suas descrições da Serra do Itapeti, destacam-se as seguintes passagens:

Outrossim, com a vinda da família real, em 1808, e a transferência da Corte de Lisboa para o Rio de Janeiro, em 1815, a atenção da Europa voltou-se para o Brasil: “Começa o Brasil a ser visitado por toda sorte de viajantes. Pintores à procura de paisagens, botânicos, zoólogos, etnógrafos, geólogos, turistas dos dois sexos, ávidos de sensações novas, comerciantes, príncipes dados às ciências naturais.” (MORAES, 1940).

“(...) Desde que atravessamos o Paraíba, a região não é mais a mesma; tornou-se montanhosa, (...). Durante grande percurso da estrada, continua a região ainda montanhosa. A cerca de três léguas de Mogi, passa-se diante da fazenda Sabaúna, que pertence aos carmelitas. Quando se está a três quartos de légua de Mogi, começa-se a avistar a vila. Muda o aspecto da região inteiramente, atinge-se então um vale largo e pantanoso, cuja vestimenta é puramente herbácea, limitado à direita por montanhas cheias de mato e bem altas (a serra do Tapeti) e à esquerda por colinas. Mogi das Cruzes fica situada num vale largo e pantanoso, limitado de um lado por colinas e do outro pela serra do Tapeti, que não é provavelmente senão um contraforte da Mantiqueira. Esta vizinhança apresenta mais ou menos a forma de um paralelogramo. (...) Os habitantes de Mogi e redondezas são, em geral pobres, e suas terras, pouco férteis. (...) Esta vila é afamada pelas esteiras e cestos que se fazem em seus arredores.”

São Paulo e toda a região, hoje conhecida como Alto do Tietê, foi minuciosamente estudada por um jovem botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, que foi muito além de descrevê-la sob a ótica da Ciência Natural. Nada escapava aos olhos deste escrupuloso viajante. As viagens realizadas em nossa terra, entre 1816 e 1822, foram narradas de forma impressionante em “diários de viagem” e, em suas publicações, o que de fato chama a atenção dos leitores é a fidelidade de suas descrições, sempre tomando a cautela de gravar as palavras em português e justificar a origem tupi de determinados nomes. Não é por menos que Manuel Bandeira o trata de “nosso” Saint-Hilaire: “Embora a sua especialidade fosse a botânica, as suas pesquisas estenderam-se colateralmente a todos os domínios da cultura. (...) Por tantos trabalhos e privações, por tanta abnegação, tão lúcido afeto e simpatia e para diferenciá-lo do irmão, mais mundialmente glorioso, podemos chamar Auguste Saint-Hilaire o “nosso” Saint-Hilaire. Amou-nos com os nossos defeitos, deu-nos conselhos preciosos. A sua atividade entre nós e os seus escritos são duas lições das mais profundas e simples que já recebemos de estrangeiros.” (BANDEIRA, 2006).

Muito embora descrições como as apresentadas pouco interessassem à maioria dos pesquisadores daquela época, este admirável naturalista surpreendeu a comunidade acadêmico-científica com seu modo único de aproximar estudos de botânica e relatos minuciosos sobre o homem em seu contexto social. Mas, esta capacidade da qual Saint-Hilaire era possuidor, talvez seja justamente o que esteja em carência no homem do século 21. Um olhar sobre o micro e o macro... Saint-Hilaire tinha no mais alto grau a rara qualidade de “procurar explicar com simpatia o que parece esquisito e inexplicável a primeira vista” (MORAES, 1940). Descrevia meticulosamente com o mesmo encanto todo o universo socioambiental onde o homem deveria reconhecer-se nele, individual e coletivamente. O que, entretanto, observamos ao longo de uma história de devastação paulatina das condições naturais das terras brasileiras (pau-brasil, minérios, cultivo da cana-de-açúcar e do café) é, exatamente, uma separação entre o homem e o “meio ambiente”, como o enfoque apresentado no início do presente texto.

Na Introdução de Segunda Viagem a São Paulo, elucida o itinerário de Saint-Hilaire: na primeira viagem a São Paulo (1816), viera de Goiás, depois de atravessar o Triângulo Mineiro. Na segunda (1822), resolveu ir do Rio de Janeiro a Minas, passando pelo registro do Rio Preto, Barbacena, São João d’el-Rei, Aiuruoca, Baependi e Pouso Alto, para depois, descendo a Mantiqueira, chegar à Cachoeira e Guaratinguetá. Daí tomaria o rumo de Taubaté, Jacareí, Mogi das Cruzes e afinal, São Paulo. Na viagem de volta foi este o itinerário: 22


Itapeti, a Serra: Alma e Coração de uma Cidade

Ou seja, a “natureza” a serviço do homem. E com a Serra do Itapeti não foi diferente... (Figura 3A). Durante anos a cidade de Mogi das Cruzes foi abastecida pela água dos mananciais da Serra do Itapeti (Figuras 3B e 3C). Não havia tratamento com cloro, apenas a decantação natural da água era mais que suficiente para “filtrar” folhas e impurezas. Vejamos uma descrição deste momento no próprio “Plano de Manejo do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello – Chiquinho Verissimo”, e também a riqueza da vegetação do local (Figuras 3D e 3E):

Em 26 de novembro de 1970, o Prefeito Waldemar Costa Filho criou através da Lei Municipal o Parque Municipal Itapeti como Reserva e Horto Florestal, subordinado ao então Conselho Municipal de Turismo. Em seguida, a área recebeu, sem planejamento técnico adequado, infra-estrutura para recepção do público, sendo inaugurada para visitação a 1º de maio de 1971. Durante os anos seguintes o número de visitantes excedeu a capacidade de carga da área, levando o local a uma significativa degradação.”

A “significativa degradação” a que se refere o parágrafo anterior, entenda-se como: lagos “fabricados”, com direito a “pedalinhos”, teleférico cortando a mata nativa, brinquedos infantis, restaurante, lanchonete, ônibus, “trenzinho” e registros de cerca de 10 mil pessoas por final de semana! Desde a inauguração do Parque Municipal até meados dos anos 80 era esta a paisagem do local (Figuras 3G, 3H, 4A - F, 5A - D). Pela própria situação e por ordem judicial, a Administração Pública Municipal estava consciente da urgente necessidade de frear aquele quadro. Então,

“A origem das terras que formam hoje o Parque rende-se a medidas tomadas no início deste século pela Câmara Municipal de Mogi das Cruzes para resolver o crônico problema do abastecimento de água da cidade. Desde o início do século XIX a água para a população era fornecida através de chafarizes localizados nos mais importantes pontos da cidade (Figura 3F), vinda de um rego d’água, aberto por religiosos carmelitas no século XVIII para o abastecimento de seu convento. Ao final da primeira década do século XX esta água era insuficiente para o abastecimento da cidade em expansão. Desta forma, as autoridades municipais começaram a cogitar uma solução para o problema que lhes parecia definitiva, captar água dos ricos mananciais da Serra do Itapeti e canalizá-la até a cidade. Como isso envolvia elevados capitais, era mais prático esses serviços sem concorrência pública, a exemplo do que havia sido feito na cidade de São Paulo e em seguida contratar terceiros para a prestação destes serviços. Assim, em 7 de janeiro de l910 foi firmado o contrato entre a Câmara Municipal de Mogi das Cruzes.” (CEMASI, 1995).

“Em 17 de outubro de 1989 o Prefeito Waldemar Costa Filho vinculou o Parque a Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Meio Ambiente, Indústria e Comércio e firmou o autorizado convênio com a Universidade de Mogi das Cruzes e a Universidade Braz Cubas. Em 30 de outubro do mesmo ano (1989) estas universidades criaram uma instituição conjunta de pesquisa em conservação de ecossistemas de Mata Atlântica, o Centro de Monitoramento Ambiental da Serra do Itapeti – CEMASI, sediada no Parque durante o convênio. Entre 1990 e 1994 a Universidade de Mogi das Cruzes e a Universidade Braz Cubas, através do CEMASI, realizaram pesquisas em biologia de conservação, educação ambiental, arqueologia e levantamento histórico, que forneceram subsídios para a elaboração do presente Plano de Manejo, que diagnosticou a área como um Parque Natural Municipal, segundo as atuais categorias de manejo para unidades de conservação preparadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.” (CEMASI, 1995).

A partir de 1950, o serviço de abastecimento tornou-se insuficiente. Foi quando, na gestão do então Prefeito Henrique Peres, houve a inauguração de um sistema de abastecimento a partir de reservatórios construídos na cidade com “água em abundância devidamente filtrada e tratada segundo a mais moderna técnica” (segundo descrição de documentos da Prefeitura Municipal). Ainda conforme dados da introdução do já citado Plano de Manejo: “A partir dai foi desativado o sistema de captação de água na Serra e a área caiu em relativo esquecimento, sendo apenas frequentada, nos anos seguintes, por familiares que visitavam o local nos fi nais de semana.

O estudo da delimitação geográfica de Mogi das Cruzes é fundamental para a compreensão de sua história e a história de sua gente. O município 23


Gracila Maria Grecco Manfré e José Sebastião Witter

particulares. O mundo em movimento supõe uma permanente redistribuição dos eventos, materiais ou não, com uma valorização diferencial dos lugares. A base da geografia é que o mundo está sempre redistribuindo-se, se regeografi zando.” (SANTOS, 2006).

possui cerca de 65% do território situado em áreas de preservação ambiental e abriga a segunda maior reserva de Mata Atlântica do Estado de São Paulo. E o limite norte do território da cidade – a Serra do Itapeti – é, além de bela paisagem, um espaço que explica o crescimento da cidade, desde os tempos de Gaspar Vaz até os dias atuais. É indispensável entender o espaço urbano de Mogi, como uma “rota de passagem”. Nos tempos iniciais da conquista e da colonização, os primeiros habitantes receberam terras, com a definição da frente da propriedade. A partir dessa delimitação os desbravadores poderiam atingir o máximo de seu território até chegar “ao sertão”. Assim foi em todo o território nacional e não seria diferente na região de Mogi das Cruzes. Na cidade, figuras como Gaspar Vaz, Francisco Vaz Coelho, Domingos Agustim, Brás de Pina, Gaspar de Pina e tantos outros escolheram seus quinhões. Consta que Gaspar Vaz foi o primeiro construtor de um caminho que ligasse ou começasse a ligar, São Paulo a Mogi das Cruzes.

Desde o século 16, quando foi fundada a vila, a segunda da Capitania de São Vicente, até o século 21, quando se constitui numa grande metrópole, Mogi enfrentou a questão de sua localização geográfica, como já apontamos. No século 17, quando os homens buscavam metais e pedras preciosas, foi uma das rotas para a região das minas. Depois das Minas Gerais consolidadas foi um caminho dos tropeiros, que abasteciam os locais das descobertas de ouro com tropas de muares e todas as espécies de mercadorias. Como se sabe, as tropas de muares vinham do sul, faziam sua grande feira em Sorocaba e dali alcançava diferentes regiões do Brasil. O Vale do Tietê e o Vale do Paraíba foram entroncamentos importantes e que ligavam a capital paulista ao Rio de Janeiro, a Minas e ao litoral norte, através dos campos gerais de Cunha. Somente no século 19 (já no seu fim) é que a história de Mogi começa a sofrer alterações. O presidente da província e mogiano, João Teodoro, dentre muitas iniciativas que o notabilizaram, resolveu investir na criação da Estrada de Ferro do Norte, que seria a Estrada de Ferro Central do Brasil. O século 19 foi, sem dúvida, o século das Estradas de Ferro. Elas se expandiram por muitas regiões, em especial na Província de São Paulo, em função da expansão do café, no oeste paulista. No caso de Mogi é importante ressaltar a criação da Estrada de Ferro do Norte porque ela seria o grande veículo de transporte de nossa cidade, por onde circularam até meados do século 20 muitas composições férreas que ligavam São Paulo ao Rio de Janeiro. Pode-se lembrar: O Expressinho, O Noturno, o Alvorada e o Trem de Aço. Eram todos trens de primeira linha, com ar condicionado e vagão restaurante. O Expressinho era o único que destoava, uma espécie de “trem de segunda classe”, mas com vagão restaurante. A partir dos anos 1950 começaram a circular os trens do subúrbio e cuja última estação era a de Mogi das Cruzes. Era, no entanto, um meio eficaz de transporte, que decaiu muito no final do século. Também é preciso avaliar que as composições férreas eram constituídas por vagões de madeira e sem muito conforto e que eram tracionados pelas denominadas “marias-

“Por volta de 1600 a maioria das comunicações era feita através dos rios, em canoas. Geralmente canoas feitas de tronco de árvore, à moda dos índios. Por essa época teve início a abertura dos primeiros caminhos, para uso de tropas de burros, de cavaleiros ou de índios andarilhos. Portanto, o caminho aberto por Gaspar Vaz, em 1601, a mando do Governador Dom Francisco de Souza (ligando São Paulo à futura Mogi das Cruzes), foi um dos primeiros a serem construídos. Esses primeiros caminhos eram estreitos e rudes. Neles andavam apenas bois e gente a pé (...).” (GRINBERG, 1981).

Mas Mogi das Cruzes, por sua própria posição geográfica e pela qualidade das terras, não se transformou num centro de referência e nem atraiu pessoas para viver na região. Sempre foi um caminho que Francisco Ornellas identificou como “um caminho de quatro séculos”, em seu belo artigo no Diário de Mogi, de 15 de janeiro de 2005. Conforme Milton Santos: “A idéia de tempo é inseparável da idéia dos objetos e de seu valor. (...) A conexão existente entre os objetos é dada pelos eventos, isto é, o tempo se fazendo empírico, para poder encontrar os objetos. Os eventos são todos filhos do mundo, seus intérpretes atentos, suas manifestações 24


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-fumaça”. Somente mais tarde iria surgir a tração à eletricidade, como é até hoje. A partir dos anos 1920 e simultaneamente às estradas de ferro, começaram a surgir as Estradas de Rodagem. Primeiramente, eram estradas de terra, depois foram feitas com paralelepípedo e mais tarde asfaltadas. É de então a construção da Estação Rodoviária no centro da cidade (Figura 3F). O “caminho” feito para ligar São Paulo ao Rio de Janeiro passava pelas atuais Voluntário Fernando Pinheiro Franco, Dr. Deodato Wertheimer, Francisco Rodrigues Filho, e, na sequência, a atual estrada que liga a cidade de Mogi a Guararema. Era o denominado leito carroçável da antiga Rodovia Rio-São Paulo, que, por algum tempo, foi um instrumento de progresso para Mogi, mas com a inauguração da Estrada de Rodagem Presidente Dutra, em 1951, a cidade passaria a ficar à margem dessa moderna via de transporte. Marginalizada ficou até que a ligação Mogi-Dutra foi concluída, no ano de 1972. Ela passou a ter papel importante na ligação Mogi - São Paulo porque os ônibus começaram a utilizá-la e com isso reduziram o tempo de viagem de mais de duas horas para uma hora, em média. A “magia” dos caminhos e das estradas é sempre enaltecida no mundo da literatura, da música e das artes em geral. O Presidente Washington Luiz, para expressar o rodoviarismo no Brasil, proferiu que “governar é abrir estradas”. E essa visão de progresso associada às estradas rasgando as cidades provoca esperanças e sonhos de um lado e, de outro, medo do desconhecido.

dioso exatamente para relembrar os números divulgados na imprensa local quando da duplicação da Rodovia Mogi-Dutra (SP-88) em 2005: -

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“31 meses foi o tempo gasto na duplicação da Mogi-Dutra; 30 mil veículos/dia é o fluxo esperado para a Rodovia; 360 mil metros cúbicos foi o volume de rochas retirado da Serra do Itapeti; 1,3 milhão de metros cúbicos foram escavados; 500 mil metros cúbicos é o total de aterro feito na estrada; R$ 110 milhões foi o custo total da duplicação da Rodovia; 10,4 quilômetros da estrada foram contemplados no projeto de duplicação; 280 mil metros quadrados é o total de área pavimentada; 9,2 mil metros de barreira – tipo “new jersey” – foram instaladas para garantir segurança; 4,5 metros é a altura máxima das barreiras centrais”. (Jornal O DIÁRIO DE MOGI – Caderno Especial, sábado, 15 de janeiro de 2005).

Como negar o impacto causado na Serra do Itapeti? (Figuras 5D-F, 6A-E, 7A-B, 7E).

Considerações finais A proposta deste capítulo não foi apenas a de relembrar a importância que um bem natural proporciona a um lugar. Nenhuma soma de detalhes históricos, de cortes na linha do tempo ou da memória de uma cidade, terá força capaz de alterar o passado. Falamos do ontem: de heróis que rasgaram os virgens caminhos verdes da Serra; da notícia do progresso trazido por estradas; da lembrança de um Parque que habita o doce das memórias de uma infância feliz, junto à natureza nos fins de semana... Poderíamos falar do hoje: das invasões de áreas protegidas (Figura 7C), da caça aos animais em extinção, da devastação crescente e descontrolada, da luta incansável de tantas ONGs, dos contrastes de mansões e casebres que sobem a serra devagar, devagar... (Figuras 7D e 7F). O que ousamos lembrar é a possibilidade de um futuro em construção. A Serra do Itapeti, hoje e agora, clama por soluções eficazes quanto a sua proteção. É preciso mais que a existência de rigorosas leis ambientais adormecidas e o tom romântico de discursos ambientalistas que devem, mais que nunca,

“Esse movimento veloz de construir e de destruir é o mais fascinante e o mais amedrontador do mundo capitalista. O que é in num instante, no seguinte já é out. O que interessa, aparentemente, é o movimento criado pelas ‘necessidades econômicas’, obscurecendo, assim, interesses de grupos dominantes. (...) Ao mesmo tempo, ainda que as manifestações de mudança sejam perceptíveis, na essência, o sistema é o mesmo.” (Texto de Dilma Andrade de Paula. In: Muitas Memórias, Outras Histórias, KHOURY et al., 2005).

É preciso que haja cautela em tudo que é ou está sendo considerado “novo” interesse para qualquer comunidade. Jacques Le Goff sintetiza: “mais do que uma ruptura com o passado, “novo” significa um esquecimento, uma ausência de passado” (LE GOFF, 1988). Mencionamos este renomado estu25


Gracila Maria Grecco Manfré e José Sebastião Witter

dar voz à sociedade e vez à reflexão e ao compromisso ético no tocante à qualidade de vida. A questão ambiental é tão ampla que, por vezes, perdemos a dimensão de sua importância no espaço e no tempo que ao homem resta:

todos os grupos da humanidade inteira. Isso não quer dizer que a sua bandeira seja mais justa ou menos justa que a dos demais. Estamos falando em representatividade, pois a defesa da natureza inclui, entre os seus beneficiários, aqueles discriminados ou excluídos que participam dos demais movimentos.” (MARCOVITCH, 2006).

“Todos os movimentos sociais contemporâneos, por mais generosos que sejam, encarnam reivindicações de uma parte da sociedade: negros, mulheres, homossexuais, favelados, sem-terra ou sem-teto. A proteção ao meio ambiente representa o interesse de

Pontos a serem pensados por uma geração que pode transformar seu espaço. E ver, além das serras e do verde, um coração que pulsa.

Referências AZEVEDO, F. A Cultura Brasileira. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Brasília: Editora UnB, 1996. BANDEIRA, M. Crônicas da província do Brasil. Organização, posfácio e notas: Júlio Castañon Guimarães. São Paulo: Cosac Naify, 2006. BATALHA, J. R. C. B. São Paulo: Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes. Coleção Boigyana, n. 1, 2002. CAMPOS, J. F. Santa Anna das Cruzes de Mogy: huma villa de serra asima. Desenhos de Tunico de Paula e Fernando Carvalho. São Paulo, Global Editora e Universidade de Mogi das Cruzes, 1978. CENTRO DE MONITORAMENTO AMBIENTAL DA SERRA DO ITAPETY – CEMASI. Plano de Manejo – Parque Natural Municipal da Serra do Itapety. Mogi das Cruzes: UBC/UMC, 1995. GRINBERG, I. Mogi das Cruzes de 1601 a 1640. São Paulo, ed. do autor, 1981. HOLANDA, S. B. Monções. Rio de Janeiro: Livraria Editora da Casa do Estudante do Brasil, 1945. —————. O Extremo Oeste. São Paulo: Brasiliense: Secretaria de Estado da Cultura, 1986. —————. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. JORNAL “O DIÁRIO DE MOGI”, 15 de janeiro de 2005. KHOURY, Y.; FENELON, D. R.; MACIEL, L. A.; ALMEIDA, P. R. (Orgs.). Muitas Memórias, Outras Histórias. São Paulo: Editora Olho d’Água, 2005. LE GOFF, J. Por amor às cidades. Tradução Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1988. LISPECTOR, C. Aprendendo a viver – Imagens, edição de texto: Tereza Montero; edição de fotografia: Luiz Ferreira. Texto extraído da obra “A maçã no escuro”. Rio de Janeiro: Rocco, 2005. MARCOVITCH, J. Para mudar o futuro: mudanças climáticas, políticas públicas e estratégias empresariais. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Saraiva, 2006. MORAES, R. B. Saint-Hilaire. Viagem à Província de São Paulo e Resumo das viagens ao Brasil, Província Cisplatina e Missões do Paraguai. Direção de Rubens Borba de MORAES. São Paulo: Livraria Martins, 1940. RIBEIRO, W. C. (Org.), Patrimônio Ambiental Brasileiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Uspiana: Brasil 500 Anos, 2003. SAINT-HILAIRE, A. Segunda Viagem do Rio de Janeiro a Minas Geraes e a São Paulo (1822). tradução e introdução de Afonso de E. TAUNAY. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2002. SANTOS, M. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo: USP, 2006. TRIGUEIRO, A. (Org.). Meio ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão ambiental nas suas áreas de conhecimento/coordenação. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.

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Figura 2. Vista dos Campos de Mogi das Cruzes (Thomas Ender, 1817). Aquarela e lápis 195 x 305 mm – Gabinete de gravuras da Academia de Belas Artes - Viena.

Figura 1. Campos chamados gerais, perto de Mogi das Cruzes, na Província de São Paulo. Litografia, 1840 (Martius – 1840 a 1906).

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Figura 3. (A) Gruta de Santa Terezinha, na Serra do Itapeti (Gogelis, 1940). Fonte: Grinberg, 2001; (B) Largo 1º de Setembro e Rua Dr. Correa. Mais à direita, a igreja e o Convento do Carmo e, nos fundos, a Serra do Itapeti (Gogelis, 1940). Fonte: Grinberg, 2001; (C) Alto da Boa Vista e Rua Dr. Corrêa. Ao fundo, a Serra do Itapeti (Gogelis, 1940). Fonte: Grinberg, 2001; (D e E) Detalhe da riqueza da vegetação da Serra do Itapeti. Crédito: Norberto Manfré e Gracila Maria Grecco Manfré; (F) Antiga Estação Rodoviária, inaugurada em 31 de maio de 1941 (Fittipaldi, 1941). Fonte: Grinberg, 2001; (G e H) Parque Municipal, década de 70. Fonte: Arquivo do Jornal “O Diário de Mogi”.

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Figura 4. (A a F) Parque Municipal, década de 70. Fonte: Arquivo do Jornal “O Diário de Mogi”. (Compare a Figura 4A com a Figura 4A do capítulo 3).

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Figura 5. (A a D) Parque Municipal, década de 70. Fonte: Arquivo do Jornal “O Diário de Mogi”; (E e F) Vista Aérea da Rodovia Mogi-Dutra. Fonte: Arquivo do Jornal “O Diário de Mogi”.

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Figura 6. (A a E) Vista Aérea da Rodovia Mogi-Dutra. Fonte: Arquivo do Jornal “O Diário de Mogi”.

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Figura 7. (A, B e E) Vista Aérea da Rodovia Mogi-Dutra. Fonte: Arquivo do Jornal “O Diário de Mogi”; (C) Construção na Serra do Itapeti. Crédito: Gracila Maria Grecco Manfré; (D) Construção na Serra do Itapeti. Crédito: José Sebastião Witter; (F) “Varal” na Serra do Itapeti. Crédito: José Sebastião Witter.

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Relatos sobre as pesquisas arqueológicas na Serra do Itapeti Margarida D. Andreatta Vivian C. Fernandes Yamashita Nair H. T. Tomiyama

Resumo O capítulo apresenta os resultados das pesquisas arqueológicas realizadas na Serra do Itapeti, em Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo, pelo Núcleo de Arqueologia da Universidade Braz Cubas (NAUBC), desde o ano de 1990. As datações obtidas pelo método da termoluminescência em amostras de cerâmica comprovam que a ocupação humana na Serra ocorreu entre os séculos 17 e 19, ou seja, a Capela Santo Alberto, o Lago do Parque e o sítio Taboão no século 17 e por último a Capela Aparecidinha entre os séculos 18 e 19. Os dados arqueológicos obtidos durante todas as expedições de campo demonstram a importância que a Serra possui em relação à história do município.

Hodder (1988 apud ORSER, 1992) acrescenta em seus ensinamentos que:

Introdução Arqueologia, sob a ótica tradicional, estuda a vida e a cultura dos povos antigos por meio de escavações, de documentos, monumentos e objetos. Este olhar da Arqueologia, provavelmente, deriva da origem da própria palavra, que em grego significa “conhecimento dos primórdios” ou “o relato das coisas antigas” (FUNARI, 2003). No decorrer do século 19 e até meados do século 20, a preocupação da Arqueologia era apenas com a coleta de objetos exóticos, descrição e exposição em museus. No Brasil, na década de 1960, essa ciência se tornou uma preocupação acadêmica e evoluiu de uma mera coleta de artefatos1 para o estudo das sociedades pretéritas nos seus diversos aspectos com base nas evidências materiais.

“(...) toda interpretação do passado deve levar em conta a idéia de que todas as ações humanas acontecem em um contexto cultural e histórico que é inteligível pelos próprios agentes sociais. Os homens criam seu mundo através de suas ações dentro de limites culturais que existem em sua época histórica.”

A Arqueologia brasileira pode ser caracterizada sob dois aspectos: Arqueologia Pré-Histórica, que estuda a ocupação humana antes de 1500 e a Arqueologia Histórica, o período posterior a esta data (PROUS, 1992; NAJJAR, 1998). Arqueologia Histórica pode trazer, a partir dos artefatos materiais, evidências de importantes informações das atividades pretéritas; um artefato seja ele, por exemplo, um monumento, um pote de

1 Artefato: todo e qualquer objeto produzido pelo homem. 33


Margarida D. Andreatta; Vivian C. Fernandes Yamashita e Nair H. T. Tomiyama

Figura 1. Mapa de localização dos sítios arqueológicos pesquisados pelo NAUBC em Mogi das Cruzes (SP).

barro, um pequeno adorno ou uma moradia - contém em si mesmo, referências culturais que podem ser transmitidas de um emissor para um receptor, sem que eles se encontrem, nem mesmo sejam contemporâneos entre si (NAJJAR, 2005). “Mesmo sem palavras escritas, o homem transmite informações de sua tradição às sucessivas gerações, através dos artefatos que produz” (GASPAR, 2000). Assim, baseadas nesta visão, as pesquisas arqueológicas no município de Mogi das Cruzes foram desenvolvidas pelo Núcleo de Arqueologia da Universidade Braz Cubas (NAUBC). Na região do Alto Tietê há evidências arqueológicas associadas às populações do período colonial, representadas por sítios arqueológicos2, com datações a partir do século 17. E as descobertas de ocupações pretéritas no município de Mogi das Cruzes

e Vale do Paraíba, ambos no Estado de São Paulo, sempre tiveram grande repercussão no âmbito das pesquisas científicas, visto que há muitos relatos de cronistas, viajantes, cartas e registros religiosos, documentos dos séculos 16 e 17, e registros arqueológicos de sítios (TOMIYAMA, 2002). Alguns sítios arqueológicos do município de Mogi das Cruzes, e que estão representados na Figura 1, foram estudados por pesquisadores do NAUBC, dentre outros. A seguir, um relato sobre os trabalhos desenvolvidos.

Sítios arqueológicos históricos escavados Historicamente em 1986, a convite da Associação Movimento Mogiano Ecológico Livre (MEL), foi realizada uma vistoria arqueológica na região da Serra do Itapeti, sendo encontrado um sítio na vertente do Rio Paraíba. O local recebeu o nome de

2 Sítio arqueológico: local onde se encontram restos de cultura passada (MENDONÇA DE SOUZA, 1997). 34


Relatos sobre as pesquisas arqueológicas na Serra do Itapeti

Sítio Capela Santo Alberto, pois lá se encontra uma capela de invocação a Santo Alberto. No entorno da capela foram encontradas evidências arqueológicas representadas por pederneiras de sílex, lítico polido, fragmentos de cerâmica (simples e decorada) e faiança. Em 1990, por solicitação das Universidades Braz Cubas e de Mogi das Cruzes, firmou-se um convênio com o Museu Paulista da Universidade de São Paulo para a elaboração do Projeto de Arqueologia da Serra do Itapeti – Mogi das Cruzes (SP), sob a coordenação da arqueóloga Margarida Davina Andreatta. Este convênio teve como intermediário o Centro de Monitoramento Ambiental da Serra do Itapeti (CEMASI). O projeto visava a realização de pesquisa arqueológica (prospecção e escavação) na região da Serra, dando ênfase ao Sítio Capela Santo Alberto (Figuras 2A e 2B). Durante os trabalhos, outros sítios também foram identificados e registrados: Sítio Santa Rita, Sítio São José, Sítio Pedro Rosa, Sítio Santa Rita II, Sítio Santa Rita III, Sítio Santa Rita IV e Sítio Martin Pescador.

elementos arquitetônicos e de relatos dos habitantes da comunidade, direcionaram a reconstrução e a preservação da Capela e a continuidade nas tradições religiosas, ainda hoje vigentes no local (FERNANDES, 2005). O projeto do Sítio Capela Santo Alberto mostra o caráter interdisciplinar da Arqueologia, pois a associação com a História e a Arquitetura permitiu o resgate de informações sobre o sítio arqueológico e a execução do projeto de reconstrução da referida capela.

Intervenção arqueológica A pesquisa arqueológica realizada no Sítio Capela Santo Alberto foi agregada a informações orais, à documentação textual, à iconografia, aos mapas cartográficos e aos dados arquitetônicos. As etapas foram: a) Documentação Gráfica: manuscritos e impressas. Primária e secundária: testamentos, Atas da Câmara, Livro de Cartas e Atas de Datas de Chãos da Vila, Livros de Licenças e Alvarás antigos e atuais de proprietários de fazendas da região. Informação oral: entrevistas com moradores da região. Cartografia e Iconografia: mapas e fotografias (atuais e antigas). b) Intervenção de campo.

Sítio Capela Santo Alberto O sítio arqueológico Capela Santo Alberto localiza-se a nordeste do município de Mogi das Cruzes, no bairro Beija-Flor, na encosta norte da Serra do Itapeti, a 700m de altitude, na vertente do Rio Paraíba. Dista 15km do centro do município de Mogi das Cruzes, e é uma edificação do século 17 (Figura 2C), construída em taipa de pilão, e parcialmente reconstruída na década de 1940, em virtude de um desmoronamento causado pela existência de um lençol freático. Os dados arquitetônicos encontrados nas escavações arqueológicas3 (fundações/alicerces em taipa de pilão do século 17) foram analisados e unificados em uma linguagem digital, permitindo a recomposição do projeto nas suas dimensões originais e a reconstrução da capela4, incluindo a colocação de seteiras (Figuras 2D e 2E). As informações arqueológicas, acrescidas de fontes históricas,

As interferências adotadas nas pesquisas de campo seguiram o método e a técnica de “Ampla Superfície” e o etnográfico, todos aplicados por Andreatta de 1981 a 1995, nos diferentes contextos de sítios históricos brasileiros. O conjunto de técnicas em superfícies amplas tem como objetivo a visão global do sítio arqueológico e do seu entorno. Também foi utilizado o “método estratigráfico”, com a determinação de uma estratigrafia natural e artificial, que permitiu a visualização da sequência das camadas no sítio arqueológico. Na análise etnográfica foram relacionadas as atividades humanas cotidianas, que visaram evidenciar os vestígios no interior e exterior da área edificada (áreas de circulação, fundação, taipa de pilão, calçada, entre outros); para tanto foi necessário conhecer a história e a arquitetura do período analisado. No decorrer das escavações arqueológicas foi possível analisar a extensão do sítio, a técnica construtiva, evidenciando a estrutura em taipa de pilão

3 Escavação arqueológica: trabalho intensivo e sistemático num sítio. São numerosas as técnicas de escavação em arqueologia: por níveis artificiais ou naturais; em superfície restrita ou ampla; em quadrículas aleatórias, quadrículas selecionadas, quadrículas agrupadas, trincheiras, transectos, etc. (MENDONÇA DE SOUZA, 1997). 4 O projeto de reconstrução contou com o valioso apoio do pároco Dom Alberto Johannes Steeger, cujo falecimento ocorreu em julho de 2006. 35


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(Figura 2F) e identificando os locais de atividades sociais e religiosas (FERNANDES, 2004). A escavação foi executada por decapagem que deixou clara a sequência de pisos (solos de ocupação) da Capela Santo Alberto e dos testemunhos arqueológicos representados por lítico5, cerâmica, louça, faiança, metal, tijolo e telha (Figuras 3A-D). Para interpretação espacial e social dos testemunhos encontrados no Sítio Capela Santo Alberto, amostras de cerâmicas foram datadas pelo método da termoluminescência6 (TL) (WATANABE & SENGRIPTA, 1997). Os resultados comprovaram que a ocupação humana, neste sítio, se desenvolveu em meados do século 17.

outros elementos escultóricos que completassem a ornamentação.”

Sítio Lago do Parque O Sítio Lago do Parque localiza-se no Parque Natural Municipal “Francisco Affonso de Mello – Chiquinho Veríssimo” em Mogi das Cruzes (SP), junto à encosta sul da Serra do Itapeti, a 800m de altitude, em área de perímetro urbano, distante 5,5km do centro do município. Esta Unidade de Conservação, além do referido sítio, abriga outros indícios arqueológicos, tais como: a antiga casa da guarda do reservatório da Serra, tanques, aquedutos e tubulações do antigo serviço de água do município. A ocupação da área ocorreu desde o século 17, conforme datação realizada pelo método da termoluminescência. No início do século 19, a água do Parque era fornecida para a população por meio de chafarizes localizados em pontos estratégicos da cidade. No século 20, as terras do Parque passaram para a Prefeitura de Mogi das Cruzes com o objetivo de resolver o crônico problema de abastecimento de água da cidade. Ao fim da primeira década do século 20, esta água já era insuficiente para o abastecimento da cidade em contínua expansão. Desta forma, as autoridades municipais começaram a cogitar uma solução para o problema: captar a água dos ricos mananciais da Serra do Itapeti e canalizá-la até a cidade. Obras como a construção de diques de represamento d’água, assentamento dos tubos de canalização, e outras, foram feitas em 1910. Já no ano seguinte, a cidade de Mogi das Cruzes recebia a água oriunda da Serra. Este sistema perdurou até a década de 1950, quando o serviço tornou-se insuficiente. A área permaneceu durante alguns anos desativada e, em 1970, foi criado o Parque Municipal Itapeti, de acordo com a Lei Municipal N.º 1955. Neste mesmo ano, a Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes construiu no local quatro represas para atividades recreativas da comunidade, aproveitando o curso do Ribeirão Cruz do Século. Depois de uma década, as represas foram drenadas por apresentarem rachaduras em suas paredes de sustentação e por não partilharem do ecossistema local. Após a vazão da água, em uma das represas, evidenciou-se a presença de testemunhos arqueológicos, localizados na superfície arenosa, à margem esquerda do Ribeirão Cruz do Século e entre as raízes espessas da mata original (Figuras 4A e 4B). Com a identificação do sítio arqueológico no

Retábulo da Capela Santo Alberto Em relação ao Retábulo da Capela Santo Alberto (Figuras 3E e 3F), Tirapeli (2003, p. 260) aponta que: “O retábulo apresenta uma estrutura construtiva que remete aos altares com influência jesuítica, com elementos ornamentais do maneirismo ou do período de transição entre as fases quinhentista e seiscentista da talha renascentista portuguesa, sob forte influência hispânica e do barroco, porém requererá estudos sistemáticos para determinar a idade e a própria autenticidade. O que nos faz ressaltar sua importância são as relações que se pode fazer a partir de sua existência. As partes todas feitas de tal maneira que tudo se encaixa e apenas encostam na parede de auto-sustentação. Pode-se pensar em um retábulo móvel, vindo de outra região de catequese jesuítica, o que seus elementos de talha vazada à moda plateresca espanhola podem confirmar. O isolamento da capela, ainda hoje, contribuiria para tal possibilidade, visto que não há 5 Lítico: qualquer artefato que tem a pedra como matéria-prima (MENDONÇA DE SOUZA, 1997). 6 Pelo Método da Termoluminescência são descritas as propriedades de luminescência térmica ou opticamente estimulada em cristais iônicos, particularmente nos grãos de quartzo, visando suas aplicações na datação de vasos cerâmicos, terras queimadas, telhas e tijolos antigos. Essa luminescência é induzida pelas radiações provenientes de radioatividade natural do subsolo, onde as cerâmicas arqueológicas são coletadas (WATANABE & SENGRIPTA, 1997, p. 161-166). 36


Relatos sobre as pesquisas arqueológicas na Serra do Itapeti

foi datado, comprovando como data de ocupação da área o século 17 (TOMIYAMA, 2002).

Parque, a área foi subdividida em quadrantes de acordo com os pontos cardeais: noroeste, nordeste, sudeste e sudoeste; e procedeu-se o registro do material arqueológico encontrado. A abertura de cortes estratigráficos (Figura 4C), na face norte do sítio, possibilitou a observação das seguintes camadas: superfície atual com vegetação (0 a 0,10m); depósito antrópico - aterro (0,11m a 1,10m); solo arqueológico (1,11m a 1,31m) e solo original, argila, pirita e silte (1,32m a 1,62m). Com a execução da decapagem na superfície do solo arqueológico, foi possível a coleta e registro dos testemunhos representados por: lítico, cerâmica (simples e decorada), vidro, louça, moeda e sedimentos (Figuras 4D-F).

Capela Aparecidinha O Sítio Capela Aparecidinha localiza-se no Distrito Industrial do Taboão, norte do município de Mogi das Cruzes. Pela ocupação antrópica desenfreada como, desmatamento, exploração de portos de areia e culturas de subsistência, a paisagem do sítio e seu entorno apresentou intervenções que alteraram profundamente o seu quadro natural original. Os testemunhos arqueológicos coletados nesse sítio, em superfície e escavação (Figuras 6A - C), são formados, predominantemente, por cerâmica, seguido por lítico, faiança e vidro. Amostras de cerâmica foram datadas pelo método da TL e o resultado da pesquisa definiu como data de ocupação do referido sítio os séculos 18 e 19.

Sítio Taboão Os indícios de interferência antrópica no sítio Taboão foram detectados durante as obras de intensa movimentação no solo, que se realizaram entre os meses de maio a dezembro de 1997. Na ocasião, a área era de propriedade da Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes (SP), situada no entroncamento das Rodovias Pedro Eroles, km 49 (Mogi-Dutra) e Ayrton Senna km 43 (antiga Trabalhadores), da Rede Ferroviária Federal S.A. – Ramal de Parateí, e a Estrada Municipal São Bento do Parateí, no bairro denominado Taboão. O poder público da municipalidade assumiu a responsabilidade da execução da obra acima mencionada e, após a conclusão, cedeu a mesma à General Motors do Brasil Ltda para instalação de uma de suas unidades de produção. A área (Figuras 5A e 5B) apresentou variedade de testemunhos arqueológicos como lítico, louça, vidro entre outros, e predominância de cerâmica neobrasileira (Figuras 5C-E). O referido material

Considerações finais As evidências arqueológicas obtidas pela equipe do NAUBC na Serra do Itapeti são importantes para o estabelecimento de correlações com as demais pesquisas desenvolvidas no Alto Tietê e Vale do Paraíba, preenchendo lacunas a muitos questionamentos sobre ocupações humanas, visando produzir dados complementares nas áreas de História, Etnografia e Ciências afins; inclusive fornecendo informações do cotidiano de comunidades pretéritas, por meio de sua cultura material e registros arquitetônicos. Os estudos efetuados demonstram a necessidade da continuidade das pesquisas arqueológicas no entorno da Serra do Itapeti, além de contribuir para a sensibilização da população, ressaltando, sobretudo, a importância da conservação dos bens naturais e culturais contidos nesse remanescente de Mata Atlântica.

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Margarida D. Andreatta; Vivian C. Fernandes Yamashita e Nair H. T. Tomiyama

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Figura 2. Capela Santo Alberto (déc. 1970). (A e B) Interior da capela com celebração de Missa pelo Pároco Dom Alberto J. Steeger (O.S.B.); (C) Anterior às pesquisas arqueológicas; (D) Reconstruída após as escavações arqueológicas; (E) Reconstruída: detalhe das seteiras e do alpendre; (F) Sítio Capela Santo Alberto: evidência da fundação em taipa de pilão do século 17.

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Figura 3. Testemunhos arqueológicos encontrados nas escavações do Sítio Arqueológico Capela Santo Alberto. (A) Fragmentos de louça; (B) Fragmento de cerâmica; (C) Telha encontrada a 0,45 metro da superfície; (D) Pederneira em sílex; (E) Retábulo da Capela Santo Alberto em 1974, fonte: IPHAN; (F) Retábulo da Capela Santo Alberto (restaurado), fonte: Tirapeli (2003).

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Figura 4. Sítio arqueológico Lago do Parque; (A) Sítio; (B) Coleta de testemunhos arqueológicos em superfície; (C) Corte para verificação estratigráfica. Testemunhos arqueológicos encontrados nas escavações do Sítio Arqueológico Lago do Parque. (D) Lítico: seixo batedor com marcas de utilização; (E) Cerâmica: base em pedestal; (F) Borda de cerâmica decorada.

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Figura 5. Sítio Arqueológico Taboão. (A) Quadriculamento com as estacas (em branco) delimitando a área do sítio arqueológico; (B) Equipe em trabalho de campo; (C) Vasilhame cerâmico brunido (século 17); (D) Vasilhame cerâmico decorado (século 17); (E) Detalhe do apêndice.

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Figura 6. Sítio Arqueológico Capela Aparecidinha. (A) Escavação com a realização de corte estratigráfico; (B) Testemunhos cerâmicos encontrados in loco; (C) Cachimbo em cerâmica.

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Resumo O município de Mogi das Cruzes abriga quase 180km2 de remanescentes de Mata Atlântica, sendo a segunda maior reserva do Estado de São Paulo. A Mata Atlântica é reconhecida como um dos 25 hotspots, definidos como área onde a cobertura vegetal foi reduzida pelo menos 70%, mas que juntos detêm mais de 60% de todas as espécies terrestres do planeta. Mogi das Cruzes faz parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), primeira do país, com cerca de 29 milhões de ha, que estão localizados nas proximidades das maiores aglomerações urbanas do Brasil. Para conter e ordenar a expansão acelerada foi criada a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da cidade de São Paulo, como parte integrante da RBMA. Na Serra do Itapeti há somente duas Unidades de Conservação, a Estação Ecológica de Itapeti com 89,47ha, cuja gestão é da Fundação para a Conservação e a Produção Florestal do Estado de São Paulo; e o Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello com 352,3ha, administrado pelo governo municipal. As duas áreas protegidas, embora de tamanhos reduzidos, contribuem significativamente para a proteção desse remanescente tão significativo de Mata Atlântica. Natural Municipal Francisco Affonso de Mello; ZPA1 – Zona de proteção ambiental 1, com permissão para urbanização restrita de baixa densidade (lote mínimo de 10.000m2); ZPA2 – Zona de proteção ambiental 2, com permissão para urbanização restrita de média densidade (lote mínimo de 2.500m2). A EMPLASA recomendou que, para a efetiva proteção do local, o plano de preservação necessitaria ser acompanhado pela lei de uso e ocupação do solo. Outros instrumentos legais que conferem proteção a Serra do Itapeti são a Lei Federal Nº. 6.766 de 20 de dezembro de 1979, que dispõe sobre o parcelamento do solo para fins urbanos e permite, de acordo com o inciso I do seu artigo 13, criar a área de preservação

Introdução Em 1981, a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S/A – EMPLASA da Secretaria dos Negócios Metropolitanos entregou ao governo do Estado de São Paulo um plano de preservação da Serra do Itapeti considerando a preocupação da comunidade com a preservação daquele local. A área de preservação da Serra do Itapeti foi dividida em quatro zonas (SÃO PAULO, 1981): ZPE1 – Zona de preservação ecológica 1, abrangendo a área hoje denominada Estação Ecológica de Itapeti; ZPE2 – Zona de preservação ecológica 2, compreendendo as áreas de matas naturais de preservação permanente, zona onde se localiza o Parque 45


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ecológica da Serra do Itapeti; Lei Federal Nº. 6.902, de 27 de abril de 1981 que reforça o conteúdo da lei de parcelamento do solo, pois autoriza o Poder Executivo, quando houver relevante interesse público, a declarar determinadas áreas como de interesse para a proteção ambiental, a fim de assegurar o bem-estar das populações humanas e conservar ou melhorar as condições ecológicas locais (SÃO PAULO, 1982). Criada em 18 de janeiro de 1985, a Lei Estadual Nº. 4.529 dispõe sobre o uso e ocupação do solo na Região da Serra do Itapeti visando à proteção e melhoria da qualidade do meio ambiente na Região Metropolitana de São Paulo. Os objetivos de disciplinar o uso e ocupação do solo na Serra do Itapeti são: I – contribuir para o bem-estar dos habitantes da região metropolitana mediante a proteção de redutos de vegetação natural, localizados junto às áreas urbanizadas; II – favorecer a proteção e melhoria do equilíbrio ecológico na Região Metropolitana de São Paulo, especialmente por meio da proteção do solo, das nascentes, das virtualidades paisagísticas, da fauna, da flora, bem como promover o repovoamento vegetal em áreas específicas; III – restringir e condicionar o parcelamento do solo, visando à proteção ambiental, mediante o controle da densidade demográfica, à preservação da permeabilidade do solo e à manutenção das reservas florestais; IV – estabelecer padrões e critérios destinados a orientar o licenciamento e o controle de uso e ocupação do solo na Serra do Itapeti. A lei mencionada divide a região da Serra do Itapeti em dois tipos de zonas: duas de preservação ecológica (ZPE) e outras duas de proteção ambiental (ZPA), assim designadas: I – ZPE1 – zona de reserva florestal; II – ZPE2 – zona de matas naturais contínuas de grande extensão; III – ZPA1 – zona de urbanização restrita de baixa densidade (lote mínimo de 20.000m2); IV – ZPA2 – zona de urbanização restrita de média densidade (lote mínimo de 5.000m2). Apesar dos instrumentos legais de proteção da Serra do Itapeti, principalmente a lei de uso e ocupação do solo, a expansão urbana continua avançando em direção a Serra, pela facilidade de infraestrutura, principalmente rodovias de acesso. Costa & Ross (1993) avaliaram a pressão urbana e a ameaça à preservação da Serra do Itapeti, alertando que além da legislação haveria necessidade de equipamentos e recursos humanos destinados à fiscalização, de acordo

com o zoneamento de uso do solo existente, e ainda conscientização da população, disciplinamento do uso e ocupação da terra ao longo da Via Perimetral e outras vias que facilitam o acesso à área; e também de grande importância consideraram a reconstituição da paisagem das áreas mineradas. Outro estudo realizado na Serra do Itapeti por Yamamoto & Almeida (2002) relata que a Lei destinada a regulamentar o uso do solo da Serra do Itapeti não está sendo respeitada, considerando que o zoneamento proposto não permite a existência de construções localizadas próximas às áreas mais críticas de preservação. Segundo os autores, representantes do Departamento de Uso do Solo Metropolitano declararam que as principais infrações cometidas pelos proprietários são: parcelamento do solo e construção sem licença prévia dos órgãos competentes; parcelamento do solo em ZPE; lotes e glebas inferiores às áreas mínimas estabelecidas em lei; uso incompatível com as limitações administrativas aplicáveis; supressão de vegetação do tipo capoeira e mata nativa.

Reserva da Biosfera da Mata Atlântica - Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da cidade de São Paulo A Reserva da Biosfera é definida pelo Capítulo VI do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC (BRASIL, 2004), conforme descrito abaixo: Art. 41. A Reserva da Biosfera é um modelo, adotado internacionalmente, de gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais, com os objetivos básicos de preservação da diversidade biológica, o desenvolvimento de atividades de pesquisa, o monitoramento ambiental, a educação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das populações. § 1º A Reserva da Biosfera é constituída por: I - uma ou várias áreas-núcleo, destinadas à proteção integral da natureza; II - uma ou várias zonas de amortecimento, onde só são admitidas atividades que não resultem em dano para as áreas-núcleo; e III - uma ou várias zonas de transição, sem limites rígidos, onde o processo de ocupação e o manejo dos recursos naturais são planejados e conduzidos de modo participativo e em bases sustentáveis. § 2º A Reserva da Biosfera é constituída por áreas de domínio público ou privado. 46


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§ 3º A Reserva da Biosfera pode ser integrada por Unidades de Conservação já criadas pelo Poder Público, respeitadas as normas legais que disciplinam o manejo de cada categoria específica. § 4º A Reserva da Biosfera é gerida por um Conselho Deliberativo, formado por representantes de instituições públicas, de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme se dispuser em regulamento e no ato de constituição da unidade. § 5º A Reserva da Biosfera é reconhecida pelo Programa Intergovernamental “O Homem e a Biosfera – MAB”, estabelecido pela UNESCO, organização da qual o Brasil é membro. A Reserva da Biosfera também é citada no Capítulo XI do Decreto Nº. 4.340, de 22 de agosto de 2002 (BRASIL, 2004) que regulamenta artigos da lei do SNUC, conforme descrito a seguir: A Reserva da Biosfera é um modelo de gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais, que tem por objetivos básicos a preservação da biodiversidade e o desenvolvimento das atividades de pesquisa científica, para aprofundar o conhecimento dessa diversidade biológica, o monitoramento ambiental, a educação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das populações. O gerenciamento das Reservas da Biosfera será coordenado pela Comissão Brasileira para o Programa “O Homem e a Biosfera” - COBRAMAB, de que trata o Decreto de 21 de setembro de 1999, com a finalidade de planejar, coordenar e supervisionar as atividades relativas ao Programa, e também apoiar a criação e instalar o sistema de gestão de cada uma das Reservas da Biosfera reconhecidas no Brasil. O sistema de gestão da Reserva da Biosfera será composto por um conselho deliberativo e por comitês regionais, se a Reserva abranger o território de um estado e comitês estaduais, se a Reserva abranger vários estados. Aos conselhos deliberativos competem: I - aprovar a estrutura do sistema de gestão de sua Reserva e coordená-lo; II - propor à COBRAMAB macrodiretrizes para a implantação das Reservas da Biosfera; III - elaborar planos de ação da Reserva da Biosfera, propondo prioridades, metodologias, cronogramas, parcerias e áreas temáticas de atuação, de acordo com os objetivos básicos enumerados no art. 41 da Lei Nº. 9.985, de 2000; IV - reforçar a implantação da Reserva da Biosfera pela proposição de projetos-piloto em pontos estratégicos de sua área de domínio; e

V - implantar, nas áreas de domínio da Reserva da Biosfera, os princípios básicos constantes do art. 41 da Lei Nº. 9.985, de 2000. Aos comitês regionais e estaduais competem: I - apoiar os governos locais no estabelecimento de políticas públicas relativas às Reservas da Biosfera; e II - apontar áreas prioritárias e propor estratégias para a implantação das Reservas da Biosfera, bem como para a difusão de seus conceitos e funções. O município de Mogi das Cruzes faz parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), que foi reconhecida pela UNESCO entre 1991 e 1993 por meio do programa MAB e foi a primeira a ser estabelecida no país; englobando 14 Estados brasileiros, constitui uma das maiores áreas protegidas do mundo, com cerca de 29 milhões de ha, localizados nas proximidades das maiores aglomerações urbanas do país. Recobre quase todas as Unidades de Conservação (UC) da Mata Atlântica e ecossistemas, considera também as comunidades tradicionais locais, garantindo maior integração regional e social na perspectiva do desenvolvimento sustentável (COSTA NETO, 1997). Em São Paulo, a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica compreende 113 municípios, muitos dos quais localizados no interior do Estado. A RBMA está situada entre as latitudes 22º24’59”S (Queluz) e 25º18’21”S (Ilha do Cardoso – Barra do Ararapira) e longitudes 44º09’46”O (Bananal) e 48º49’34”O (Itaoca). Apresenta variações altitudinais que chegam a 2.422m (Pico dos Marins) e porções submarinas, como o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos. Compreende vasto território sob domínio da Mata Atlântica e associados, que incluem o Vale do Paraíba do Sul, Serra da Mantiqueira, Região Metropolitana de São Paulo, Serra do Mar e de Paranapiacaba, além de todo o litoral do Estado, incluindo o Vale do Ribeira de Iguape (COSTA NETO, 1997). O município de Mogi das Cruzes abriga quase 180km² de remanescentes de Mata Atlântica: é a segunda maior reserva do Estado de São Paulo (PREFEITURA, 2008), porém, em termos de proteção efetiva, há somente 442ha declarados legalmente como Unidades de Conservação: Estação Ecológica de Itapeti (89,47ha) e Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello (352,3ha). A Mata Atlântica é reconhecida como um dos 25 hotspots, definidos como áreas onde a cobertura vegetal original foi reduzida pelo menos 70%, mas que juntos detêm mais de 60% de todas as espécies terrestres do planeta. O Bioma está entre os cinco hotspots mais importantes do 47


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mundo (SÃO PAULO, 2006). No Estado de São Paulo, a Mata Atlântica, que inicialmente vestia mais de 80% de seu território, em 1973 apresentava apenas 8,3% dessa área. De lá para cá, continuou a predação secular. Segundo revelam dados produzidos a partir de imagens de satélite, no período de 1988/1989 houve o extermínio de 1.230.585ha de reservas naturais, com uma média de 76.911ha por ano, equivalentes a 24 campos de futebol por dia, o que representa a redução da relação área verde por habitante no Estado de 0,27ha/hab. para 0,12ha/hab. (Fundação S.O.S. Mata Atlântica & INPE, 1993). Na expansão constante da mancha urbana em direção à periferia, a cidade vai devorando seus recursos naturais, tecido verde, solo, água, ar e a própria memória do sítio primitivo. Fotos de satélite revelam a mancha urbana avançando sobre áreas críticas e sensíveis do Cinturão Verde, sem deterse nos obstáculos naturais, como os mananciais de água da região sudeste, os paredões cristalinos da Serra da Cantareira na região norte e o maciço da Serra de Itapeti a oeste (VICTOR et al., 1994). Para conter e ordenar a expansão acelerada foi criada, em 9 de junho de 1994, como parte integrante da RBMA, a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo (RBCV), contornando e protegendo as matas que envolvem uma das maiores megalópoles do planeta. A institucionalização plena da RBCV, no âmbito do país e do Estado de São Paulo, deu-se pela deliberação Nº. 01/2005 de 4 de maio de 2005 de seu Conselho de Gestão criado pelo Decreto Estadual Nº. 47.094, de 18 de setembro de 2002; que, por sua vez, se ampara na Lei Federal Nº. 9.985, de 18 de julho de 2000 e em sua regulamentação, dada pelo Decreto Federal Nº. 4.340, de 22 de agosto de 2002. Nos termos do ato de seu reconhecimento pela UNESCO, como integrante da rede do MAB, a Reserva da Biosfera acha-se comprometida com as finalidades daquela rede de “conservação da natureza e pesquisa científica a serviço do homem, servindo de sistema de referência para mensurar os impactos do homem sobre o ambiente” (PARECER, 2006). Para cumprir com este compromisso, o estatuto da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde dado pela Deliberação citada, estatuiu em seu artigo 7º os objetivos desta (PARECER, 2006): I - a valorização dos ecossistemas de Mata Atlântica e associados, com seus correspondentes serviços ambientais necessários ao bem-estar humano, remanescentes no interior e na coroa

periférica da cidade de São Paulo; II - o reforço e a complementação à proteção desses ecossistemas e, nos casos de danos verificados, à sua recuperação e restauração; III - a formação de uma consciência coletiva na região do Cinturão Verde sobre a importância da melhoria de seus ambientes urbanos, periurbanos e rurais como parte do projeto de desenvolvimento global regional; IV - o avanço no conhecimento geral e no domínio de técnicas associadas à recuperação, restauração e utilização racional dos recursos naturais da região em sua especificidade; V – a melhoria das condições do assentamento urbano, periurbano e rural da região pela convivência, em condições harmônicas, dos elementos antrópicos naturais da paisagem; VI - a diversificação das oportunidades de geração de empregos e renda mediante exploração racional e criativa dos fatores econômicos e ambientais presentes na cidade de São Paulo e seu entorno; VII – a afirmação do polo metropolitano de São Paulo no contexto internacional como área dotada de condições de promover e manter elevado nível de desenvolvimento concomitantemente a uma gestão judiciosa de seu ambiente, paisagem, recursos naturais e patrimônio histórico-cultural; VIII – o reforço e a complementação à proteção e recuperação dos mananciais, com vistas à manutenção de suprimentos adequados de água potável, dentro do limite da capacidade de suporte dos ecossistemas; IX – a melhoria do conhecimento e a manutenção da diversidade do perfil das espécies de fauna e flora presentes na área, especialmente aquelas sob risco de extinção em face das pressões do uso econômico e da expansão horizontal do assentamento; X – a melhoria do suprimento de informação aos agentes governamentais e não-governamentais sobre as questões ambientais na região do Cinturão Verde; XI – a compatibilização das ações empreendidas pelos diferentes agentes governamentais e não-governamentais nas áreas abrangidas pela Reserva da Biosfera, evitando duplicidade e dispersão das mesmas; XII – a abertura de novas formas de participação da comunidade regional na tomada de decisões e na gestão corrente dos ambientes diversificados contidos na área; 48


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XIII – a canalização da cooperação internacional ensejada pelo Programa “O Homem e a Biosfera” no sentido da melhor qualificação técnica, da disseminação da informação relevante, do aperfeiçoamento das práticas de monitoramento e gestão e da captação de recursos associados à ação administrativa e da comunidade em geral junto ao patrimônio representado pela Reserva; XIV – o desenvolvimento, a divulgação e o acompanhamento de uso, de instrumentos de suporte e incentivo à conservação e recuperação ambiental. De acordo com os preceitos do Programa MAB, são definidos, no âmbito territorial da Reserva, que compreende 73 municípios agrupados em torno da capital do estado, três tipos de zonas descritas a seguir, assim como o mapa ilustrativo do zoneamento da RBCV (Figura 1).

ZONAS NÚCLEO: representam áreas significativas de ecossistemas específicos. No caso da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da cidade de São Paulo, estas áreas são em sua maioria compostas por Unidades de Conservação Estaduais, englobando principalmente remanescentes da Mata Atlântica e algumas áreas de Cerrado. A maior parte destas Zonas Núcleo está sob a administração direta do Instituto e Fundação Florestal, órgãos da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. As áreas foram assim estabelecidas: Parques Estaduais Albert Löfgren, Cantareira, Jaraguá, Serra do Mar, Reserva Florestal do Morro Grande, e Estação Ecológica de Itapeti. ZONAS TAMPÃO: constituídas pelas áreas subjacentes às Zonas Núcleo. Nestas áreas, todas as atividades desenvolvidas, sejam econômicas ou de qualquer outra natureza, devem se adequar às

Figura 1. Mapa de Zoneamento da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da cidade de São Paulo (SÃO PAULO, 2008).

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características de cada Zona Núcleo de forma a garantir uma total preservação dos ecossistemas envolvidos. As Zonas Tampão da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da cidade de São Paulo abrigam outros espaços de posse ou não do Estado, como Áreas de Proteção de Mananciais, Parque Estadual Nascentes do Rio Tietê, Área Tombada da Serra do Japi, e inúmeras outras Áreas de Proteção Ambiental (APAs). ZONAS DE TRANSIÇÃO: constituídas pelas áreas externas às Zonas Tampão e permitem o uso mais intensivo, porém não-destrutivo, do solo e seus recursos ambientais. São nestas áreas que os preceitos do Programa-MAB estimulam práticas voltadas para o Desenvolvimento Sustentável.

Estação Ecológica de Itapeti A lei do SNUC (BRASIL, 2004) em seu artigo 9o define Estação Ecológica como a categoria de Unidade de Conservação que tem por objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas. A Estação Ecológica (Figura 2) é de posse e domínio público, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. A visitação pública nesta categoria é proibida, exceto quando com objetivo educacional, de acordo com o que dispuser o Plano de Manejo da UC ou regulamento específico. A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da UC e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento. Na Estação Ecológica só podem ser permitidas alterações dos ecossistemas no caso de: I - medidas que visem à restauração de ecossistemas modificados; II - manejo de espécies com o fim de preservar a diversidade biológica; III - coleta de componentes dos ecossistemas com finalidades científicas; IV - pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior do que aquele causado pela simples observação ou pela coleta controlada de componentes dos ecossistemas, em uma área correspondente a no máximo 3% da extensão total da unidade e até o limite de 1.500ha. O histórico da Estação Ecológica de Itapeti é bastante significativo. Em 5 de março de 1924, a área foi declarada de utilidade pública para desapropriação, pela necessidade de abas-

Figura 2. Localização do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello (PNMFAM) e da Estação Ecológica de Itapeti (EEI), na Serra do Itapeti, Mogi das Cruzes (SP). 50


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tecimento de água ao Leprosário Santo Ângelo, no município de Mogi das Cruzes. O local ficou sob a guarda da antiga Repartição de Águas e Esgotos de São Paulo. Posteriormente, este sistema foi desativado e a área foi transferida para a Secretaria da Agricultura, com vistas ao Serviço Florestal, com objetivos da preservação da flora e fauna (Decreto No. 21.363-D, de 29 de abril de 1952). Desta estrutura ainda restam a represa construída em 1924, uma casa e 1.500m de caminhos (SERIO, 1999). Em 29 de agosto de 1962, com a regulamentação da Lei Nº. 6.884, que dispõe sobre os parques, florestas e monumentos naturais e dá outras providências, a UC foi classificada como Floresta Estadual, e em 12 de março de 1987, o Decreto Nº. 26.890 transformou a área em Estação Ecológica (SERIO, 1999). A Estação Ecológica de Itapeti (Figura 3) possui uma área de 89,47ha e é administrada pela Fundação Florestal. Localiza-se a 7km a oeste da área urbana de Mogi das Cruzes, entre as coordenadas geográficas de 23º 16’ a 23º 28’ de Latitude Sul e 46º 14’ a 46º 16’ de Longitude Oeste. Para o termo Itapeti há vários significados, porém mais sentido há naquele formulado por Manna de Deus et al. (1995), em que consideram que o nome local derivou-se de “tapety” (Sylvilagus brasiliensis), nossa única lebre nativa ocorrente na Serra do Itapeti. Também os mesmos autores mencionam Saint Hilaire, que no ano de 1822 já denominou aquele local como “Serra do Tapety” ou “Serra das Lebres”. Em uma descrição sucinta dos fatores abióticos, segundo a dissertação de Serio (1999), a UC está localizada na província “Planalto Atlântico”, zona “Planalto Paulistano”, subzona “Colinas de São Paulo”. Compreende uma porção da vertente Sul-Sudeste da Serra do Itapeti, que tem a formação geológica constituída de rochas do Pré-Cambriano composta de granito e migmatitos associados. Segundo Serio (1999), os prováveis tipos de solo do local são os Latossolos vermelho-amarelo orto, podzólico com cascalho e ou Latossolo vermelho amarelo-fase terraço. O clima, segundo a classificação de Köppen é o Cwb, ou seja, mesotérmico de inverno seco em que a temperatura do mês mais quente não atinge 22ºC. Os totais pluviométricos anuais variam de 1.300 a 1.700mm, sendo julho o mês mais seco e também o mais frio. A altitude varia de 800m a 1.000m. A Esta-

ção Ecológica está localizada na Bacia Hidrográfica do Alto Tietê. A Serra do Itapeti é um grande divisor de águas, de bacias hidrográficas de vital importância para o Estado, onde a vertente norte drena para o Rio Paraíba do Sul e a vertente Sul para o Tietê. Pelo seu próprio histórico, a área da UC foi protegida desde o seu início como um manancial para o abastecimento de água e hoje é ainda considerada uma reserva de recursos hídricos, que se tornam cada vez mais escassos. Quanto aos fatores bióticos, a Estação Ecológica apresenta as seguintes classes de cobertura vegetal: Floresta Secundária - 49,06ha; Capoeira - 36,13ha; macega - 1,06ha e outras - 1,94ha (SERIO, 1999). Na Estação Ecológica de Itapeti há espécies vegetais ameaçadas de extinção. De acordo com Mamede et al. (2007), em sua publicação Livro vermelho das espécies vegetais ameaçadas do Estado de São Paulo, o palmito (Euterpe edulis) está na categoria “vulnerável” assim como o xaxim (Dicksonia sellowiana). Quanto à fauna, Serio (1999), baseado em informes locais, descreveu também a presença na UC de veado mateiro (Mazama americana), veado catingueiro (Mazama simplicicornis), jaguatirica (Felis sp.), gambá (Didelphidae), porco do mato (Thayasuidae), cutia (Dasyprocta azarae), paca (Agouti paca), jacu (Penelope obscura), nhambu (Crypturelus obsoletus). Atenção especial deve ser dada à espécie de primata presente na Estação Ecológica, Callitrix aurita, popularmente conhecida como sagui-da-serra-escuro, considerada espécie “vulnerável” na lista da fauna brasileira ameaçada de extinção (MACHADO et al., 2005). A Estação Ecológica de Itapeti não apresenta problemas fundiários, porém seu maior risco potencial é o contínuo processo de parcelamento do solo que acontece no seu entorno (SERIO, 1999). A UC é praticamente desconhecida da comunidade. Além do seu uso ser restrito, pela própria legislação, não há trabalhos de pesquisa publicados sobre esta Unidade de Conservação e a educação ambiental ainda não se efetivou. A Estação Ecológica de Itapeti não tem Plano de Manejo, existindo somente o trabalho de Serio (1999), que teve como objetivo o desenvolvimento de método automatizado para zoneamento de áreas naturais protegidas, e a Estação Ecológica foi escolhida para o estudo de caso. No zoneamento proposto a zona intangível é representada por uma área de 56,13ha (62,9%); a 51


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zona primitiva por uma área de 24,56ha (27,5%); a zona de uso extensivo por uma área de 3,75ha (4,2%); a represa totalizou uma área de 1,00ha (1,1%) e outras zonas, que provavelmente se destinarão à administração e serviços da UC, somaram 3,75ha (4,2%). Os resultados do trabalho de Serio (1999) mostram a aptidão da área para conservação, estando corretamente classificada como uma Unidade de Proteção Integral destinada à sua preservação. A represa é um local que atrai os turistas/ visitantes e deve, em um futuro próximo, ser destinada para os programas de educação ambiental. É necessário ressaltar que o trabalho de Serio (1999) foi a primeira pesquisa técnico-científica realizada na área, e a mesma deverá ser considerada quando da realização do Plano de Manejo, previsto no SNUC em seu artigo 27 (BRASIL, 2004), conforme descrito a seguir: Art. 27. As unidades de conservação devem dispor de um Plano de Manejo. § 1º O Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas. § 2º Na elaboração, atualização e implementação do Plano de Manejo das Reservas Extrativistas, das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, das Áreas de Proteção Ambiental e, quando couber, das Florestas Nacionais e das Áreas de Relevante Interesse Ecológico, será assegurada a ampla participação da população residente. § 3º O Plano de Manejo de uma unidade de conservação deve ser elaborado no prazo de cinco anos a partir da data de sua criação. O Plano de Manejo tem como produtos o zoneamento e os programas de manejo. Também deverá ser delimitada a zona de amortecimento e corredores ecológicos, quando convenientes, conforme os artigos do SNUC descritos a seguir: Art. 25. As unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, devem possuir uma zona de amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos. § 1º O órgão responsável pela administração da unidade estabelecerá normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos de uma unidade de conservação. § 2º Os limites da zona de amortecimento e

dos corredores ecológicos e as respectivas normas de que trata o § 1º poderão ser definidas no ato de criação da unidade ou posteriormente. A Estação Ecológica de Itapeti necessita prioritariamente do seu Plano de Manejo, com o estabelecimento de sua zona de amortecimento. O Plano de Manejo deverá ser realizado brevemente, seguirá o roteiro metodológico de planejamento e deverá ser um processo participativo (BRASIL, 2002). A UC compôs o seu Conselho Consultivo (Portaria Normativa FF/DE Nº. 123/2010), de acordo com o artigo 29 do SNUC (BRASIL, 2004): Art. 29. Cada unidade de conservação do grupo de Proteção Integral disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil, por proprietários de terras localizadas em Refúgio de Vida Silvestre ou Monumento Natural, quando for o caso, e, na hipótese prevista no § 2º do art. 42, das populações tradicionais residentes, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade. O decreto de Regulamentação da Lei do SNUC (BRASIL, 2004) em seu artigo 17 dispõe sobre os Conselhos Consultivos ou Deliberativos, que serão presididos pelo Chefe da unidade de conservação, o qual designará os demais conselheiros indicados pelos setores a serem representados: • A representação dos órgãos públicos deve contemplar, quando couber, os órgãos ambientais dos três níveis da Federação e órgãos de áreas afins, tais como pesquisa científica, educação, defesa nacional, cultura, turismo, paisagem, arquitetura, arqueologia e povos indígenas e assentamentos agrícolas. • A representação da sociedade civil deve contemplar, quando couber, à comunidade científica e organizações ambientalistas não-governamentais com atuação comprovada na região da unidade, população residente e do entorno, população tradicional, proprietários de imóveis no interior da unidade, trabalhadores e setor privado atuantes na região e representantes dos Comitês de Bacia Hidrográfica. A representação dos órgãos públicos e da sociedade civil nos conselhos deve ser, sempre que possí52


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vel, paritária, considerando as peculiaridades regionais. A Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP – com representação no conselho de unidade de conservação não pode se candidatar à gestão de que trata o Capítulo VI deste Decreto. O mandato do conselheiro é de dois anos, renovável por igual período, não-remunerado e considerado atividade de relevante interesse público. No caso de unidade de conservação municipal, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, ou órgão equivalente, cuja composição obedeça ao disposto neste artigo, e com competências que incluam aquelas especificadas no art. 20 deste Decreto, pode ser designado como conselho da unidade de conservação.

to, mosaicos ou corredores ecológicos; e IX - propor diretrizes e ações para compatibilizar, integrar e otimizar a relação com a população do entorno ou do interior da unidade, conforme o caso.

Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello Essa parte do capítulo visa contar um pouco da estória do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello até os dias atuais. Na Serra do Itapeti está localizada a Unidade de Conservação denominada Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello (Figura 4), com administração do município de Mogi das Cruzes. Encontra-se em uma área de encosta, na região centro-sul da Serra do Itapeti (23º28’S e 46º09’O), com altitudes de 807m a 1.141m, no município de Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo (MANNA DE DEUS et al., 1995). As terras onde hoje se encontra o Parque foram protegidas desde o início do século passado para resolver o problema de abastecimento de água da cidade. Vários proprietários particulares cederam parte de suas terras na região de mananciais, outras áreas também foram adquiridas pelo poder público, totalizando aproximadamente 352,3ha, que atualmente é a área total do Parque Natural Municipal. O Parque, da mesma forma que a Estação Ecológica, é uma das categorias de Unidade de Conservação que se enquadra no grupo de proteção integral do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico (BRASIL, 2004). A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da UC, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento. A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da UC e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento. As UC dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou município, serão denominadas, respectivamente, Parque Estadual e

A reunião do Conselho da Unidade de Conservação deve ser pública, com pauta pré-estabelecida no ato da convocação e realizada em local de fácil acesso. Compete ao Conselho de Unidade de Conservação: I - elaborar o seu regimento interno, no prazo de 90 dias, contados da sua instalação; II - acompanhar a elaboração, implementação e revisão do Plano de Manejo da unidade de conservação, quando couber, garantindo o seu caráter participativo; III - buscar a integração da unidade de conservação com as demais unidades e espaços territoriais especialmente protegidos e com o seu entorno; IV - esforçar-se para compatibilizar os interesses dos diversos segmentos sociais relacionados com a unidade; V - avaliar o orçamento da unidade e o relatório financeiro anual elaborado pelo órgão executor em relação aos objetivos da unidade de conservação; VI - opinar, no caso de conselho consultivo, ou ratificar, no caso de conselho deliberativo, a contratação e os dispositivos do termo de parceria com OSCIP, na hipótese de gestão compartilhada da unidade; VII - acompanhar a gestão por OSCIP e recomendar a rescisão do termo de parceria, quando constatada irregularidade; VIII - manifestar-se sobre obra ou atividade potencialmente causadora de impacto na unidade de conservação, em sua zona de amortecimen53


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Parque Natural Municipal (BRASIL, 2004). Os mananciais da Serra abasteceram o município do final da primeira década do século 20 até aproximadamente 1955 e entre os anos de 1956 e 1959 foi inaugurado um outro sistema de abastecimento a partir de reservatórios edificados na cidade com tecnologia moderna. Assim, o sistema de captação da área da Serra foi desativado e a área só era visitada por famílias que frequentavam o local nos fins de semana (veja capítulos 1 e 2). Em 26 de novembro de 1970, foi criado o Parque Municipal Itapeti (Figura 4) pela Lei Municipal No. 1955, ficando o mesmo subordinado ao Conselho Municipal de Turismo. A visitação do Parque teve seu início em maio de 1971, porém ela se deu de forma intensa e sem planejamento, degradando de forma significativa o local. Em 5 de janeiro de 1987, o executivo criou, por meio do Decreto Municipal Nº. 1510, um grupo de trabalho para elaborar o Plano de Manejo necessário à planificação do uso do solo e recursos naturais, de forma a possibilitar a utilização do Parque Municipal Itapeti para fins educacionais, de lazer e estudos científicos de maneira sistematizada e racional. Este grupo teve 30 dias para a realização do Plano de Manejo. O zoneamento deste plano contemplou seis diferentes zonas de utilização: intangível; primitiva; uso extensivo; uso intensivo; recuperação e uso especial (TOMASULO, 1995). Ainda por recomendação do grupo, em 1988, o antigo prédio do Serviço de Captação de Águas foi reformado para sediar um centro de pesquisas para estudos da Mata Atlântica. Também no mesmo ano, a Lei Nº. 3.386 autorizava o executivo a firmar convênio com as Universidades de Mogi das Cruzes e Braz Cubas, a fim de elaborar o Plano de Manejo do Parque Municipal que contemplasse os estudos dos fatores físicos, biológicos e sócioeconômicos. O convênio acima citado foi firmado em 17 de outubro de 1989 e em 30 de outubro do mesmo ano estas duas Universidades criaram o Centro de Monitoramento Ambiental da Serra do Itapeti – CEMASI –, para desenvolvimento de pesquisas em conservação de ecossistemas da Mata Atlântica. A partir desta data, as Universidades de Mogi das Cruzes e Braz Cubas realizaram pesquisas em biologia da conservação, educação ambiental, arqueologia e levantamentos históricos, que forneceram subsídios para a elaboração do Plano de Manejo apresentado em 1995 (MANNA DE DEUS et al., 1995).

Neste período, mais especificamente em 30 de abril de 1990, a Lei Municipal Nº. 3.567 alterou a denominação do Parque Municipal de Itapeti, que passou a ser denominado de Parque Municipal Francisco Affonso de Mello. Os objetivos desta Unidade de Conservação definidos por Manna de Deus et al. (1995) são: • proteger um remanescente de vegetação nativa de Mata Atlântica na Região Metropolitana de São Paulo; • proteger espécies da fauna da Mata Atlântica presentes na lista da fauna brasileira ameaçada de extinção; • proteger uma área de mananciais da Serra do Itapeti; • possibilitar pesquisa científica para a conservação e manejo de vida silvestre; • proteger sítios arqueológicos para pesquisa e visitação, e • realizar atividades de educação ambiental. Os solos do Parque são ácidos, com alto teor de matéria orgânica e considerados pobres com relação à composição dos elementos químicos. O clima, de acordo com a classificação de Köeppen, é do tipo Cwb, com a temperatura média do mês mais quente não atingindo 22ºC e com precipitação média anual de 1.285mm (MANNA DE DEUS et al., 1995). Dentro da área do Parque Municipal foram identificadas duas formações florestais, ou seja, áreas de florestas e áreas de capoeirões, estas últimas localizadas em locais provenientes de interferências antrópicas, silvicultura com plantio de Pinus sp. e Eucalyptus sp. e ainda pequenas lavouras e hortifrutigranjeiros. As áreas de floresta abrangem principalmente as encostas da Serra, com o dossel atingindo cerca de 20m e alguns indivíduos emergentes alcançando 25m. Dos estudos florísticos realizados para dar subsídio ao Plano de Manejo do Parque foram identificados um total de 207 espécies, distribuídas em 150 gêneros e 70 famílias. Considerando o número de espécies, destacaram-se as famílias Leguminosae com 10,1% do total de espécies amostradas, seguida por Melastomataceae e Myrtaceae, ambas com 5,8%; Lauraceae e Rubiaceae com 5,3%; Solanaceae com 4,8%, Compositae, Euphorbiaceae e Piperaceae com 3,8% e Annonaceae com 2,4%. A vegetação do Parque, embora secundária, apresenta vários estágios de regeneração (veja capítulo 8), dado 54


Preservação da Serra do Itapeti

importante para o zoneamento da área no Plano de Manejo (MANNA DE DEUS et al.,1995). Os levantamentos da fauna do Parque tiveram seu início em 1989 e foram sistematizados cada vez mais. Com relação aos mamíferos, foram identificadas oito ordens contendo 20 famílias, 30 gêneros e 39 espécies. Dos mamíferos de médio porte, os mais comumente avistados são: o veado mateiro (Mazama americana), cachorro do mato (Cerdocyon thous) e o guaxinim ou mão pelada (Procyon cancrivorus) (MANNA DE DEUS et al., 1995) (veja capítulos 16 e 19). Da Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (MACHADO et al., 2005), as espécies Callithrix aurita (sagui-da-serra-escuro), Leopardus pardalis (jaguatirica) e Leopardus sp. (gato-do-mato) são classificadas como espécies “vulneráveis” à extinção. No levantamento de aves (MANNA DE DEUS et al., 1995) foram registradas 13 ordens, 29 famílias, 103 gêneros e 119 espécies. Entre as espécies mais comuns estão a Columbina talpacoti talpacoti (rolinha-caldo-de-feijão), Guira guira (anu-branco), Chiroxiphia caudata (tangará), Turdus rufiventris (sabiá-laranjeira) e Dryocopus lineatus (pica-pau-de-topete-vermelho). Também foram encontradas as espécies Accipiter poliogaster (tauató), Penelope obscura (jacuguaçu), Phibalura flavirostris (tesourinha), Platyrinchus leucoryphus (patinho-gigante) e Tinamus solitarius (macuco). Por serem muito sensíveis às pertubações antrópicas, necessitam de áreas em bom estado de preservação onde podem encontrar alimento, acasalar e nidificar. No levantamento qualitativo de insetos na área do Parque, Manna de Deus et al. (1995) identificaram 13 ordens, 16 subordens, 83 famílias, 30 subfamílias, 63 gêneros e 28 espécies. A pesquisa de borboletas, desenvolvida por Silva & Morini (2002), registrou 188 indivíduos no Parque, distribuídos em cinco famílias, 49 gêneros e 84 espécies. Desse total, 65% apareceram na zona primitiva, sendo 21 espécies exclusivas dessa área, 45% na zona de recuperação, com nove espécies exclusivas e 40% na zona de uso intensivo, com dez espécies exclusivas (veja capítulo 12). No levantamento de anfíbios foram registrados no Parque quatro famílias, contendo dez gêneros e 27 espécies. Entre 1991 e 1994 foi constatado um aumento gradativo no número de espécies, uma vez que foram recuperados ambientes adequados para sua sobrevivência. Quanto aos répteis foram identificadas cinco fa-

mílias, 14 gêneros e 17 espécies, com destaque para a presença de Tupinambis teguixim (teiú) nos meses mais quentes e da Bothrops jararaca (jararaca), como a serpente mais comum no Parque (MANNA DE DEUS et al., 1995) (veja capítulos 16 e 17). Entretanto, novos levantamentos foram realizados em 2010 para a revisão do Plano de Manejo proposto por Manna de Deus et al. (1995). Esses inventários deverão acrescentar outros registros às listas de espécies apresentadas neste livro. No Parque há dois sítios arqueológicos que foram escavados entre 1991 e 1994. Foram evidenciados testemunhos de culturas anteriores como líticos, cerâmica simples e decorada de bordas, bases e bojos de vasilhames. Também foram encontrados fragmentos remontados de cerâmica fina e grossa. Os sítios arqueológicos históricos incluem a antiga casa da guarda do reservatório da Serra, tanques, aquedutos e tubulações do antigo serviço de água do município (MANNA DE DEUS et al., 1995) (veja capítulo 2). A equipe de elaboração do Plano de Manejo levantou e ordenou os dados físicos, biológicos e culturais do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, conhecido como Parque Municipal da Serra do Itapeti (MANNA DE DEUS et al., 1995). O zoneamento do Parque contemplou sete áreas: uso primitivo incluindo a área a leste do prédio histórico de captação de água, sede do Laboratório de Biologia da Conservação; uso extensivo, localizada a leste da zona de uso intensivo, incluindo as Trilhas Martim Pescador e Canela Branca; uso intensivo, localizada em local de clareira com área de 5,4ha; histórico-cultural englobando as zonas de usos intensivo e extensivo, sítios arqueológicos e construções históricas da infraestrutura do antigo serviço de captação de água; uso especial localizada na área da portaria com prédios; recuperação contemplando áreas de clareiras abertas por interferência antrópica, áreas das represas a serem drenadas e área a oeste da zona de uso intensivo; entorno distribui-se ao longo dos limites do Parque e das propriedades particulares existentes (MANNA DE DEUS et al., 1995; TOMASULO, 1995). O Plano de Manejo também definiu quatro programas, a saber: manejo e meio ambiente; uso público; operações e arqueologia e levantamentos históricos. Foi determinada a capacidade de uso da área durante a realização do Plano de Manejo. Para tanto, foram considerados a caracterização 55


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da vida silvestre e os sítios arqueológicos existentes na zona de uso intensivo e o espaço de 2ha disponível para a livre movimentação das pessoas. Os autores do Plano de Manejo concluíram que o número máximo de visitantes por dia deveria ser de 120 pessoas (MANNA DE DEUS et al., 1995). O Parque iniciou um programa de educação ambiental em 1989 com alunos de Ensino Fundamental e Médio, e depois ampliado para universitários, crianças especiais, menores carentes e idosos, perfazendo até 1994, quando o programa se encerrou, 25.000 pessoas de diversas localidades do Estado de São Paulo. O programa de educação ambiental contou com a criação de um Centro de Visitantes adaptado em um dos prédios já existentes, e trilhas interpretativas com a presença de monitor, onde eram enfocados conceitos ecológicos e informações sobre a fauna e flora locais (MANNA DE DEUS et al., 1995) (veja capítulo 5). Embora haja dois trabalhos que definem o zoneamento e o Plano de Manejo do Parque Francisco Affonso de Mello (MANNA DE DEUS et al., 1995; TOMASULO, 1995), um Plano de Manejo hoje é definido de forma diferente, principalmente quanto à metodologia, que deve ser participativa, considerando as análises físicas, biológicas e sócio-ambientais da Unidade de Conservação, e também do seu entorno, a fim de estabelecer a zona de amortecimento e corredores ecológicos da área protegida (BRASIL, 2002).

O Parque foi oficializado pela Lei Nº. 6.220 de 29/12/2008, como Unidade de Conservação. O Plano de Manejo do Parque Natural Municipal foi entregue à comunidade no dia 14 de outubro de 2011. O nome oficial do Parque passa a ser “Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello - Chiquinho Veríssimo”, de acordo com a Lei Nº. 6.220 de 29/12/2008.

Considerações Finais Os instrumentos de preservação da Serra do Itapeti, com remanescentes tão significativos da Mata Atlântica, são a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Estação Ecológica de Itapeti e Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Estas áreas protegidas são importantes do ponto de vista de conservação, uma vez que abrigam espécies da flora e fauna presentes nas listas de espécies vegetais e animais em extinção. A região de Mogi das Cruzes está em pleno desenvolvimento e a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica é importante por ter como objetivo principal o desenvolvimento sustentável, buscando o equilíbrio entre os fatores econômicos, sociais e ambientais. A Estação Ecológica e o Parque Natural Municipal também contribuem com a preservação, de acordo com os seus objetivos específicos, e quando tiverem os seus planos de manejo implementados poderão contribuir de forma ainda mais efetiva com a conservação.

Referências BRASIL. MMA. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC. Lei Nº. 9.985, de 18 de julho de 2000 e Decreto Nº. 4.340, de 22 de agosto de 2002. 5ª. ed. 2004. 56p. BRASIL. MMA/IBAMA. Roteiro Metodológico de Planejamento – Parque Nacional, Reserva Biológica e Estação Ecológica, 2002. 135 p. COSTA NETO, J. B. (Org.). A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado de São Paulo. In: Série Gestão da RBMA. Caderno n. 5. São Paulo: 1997. 44 p. COSTA, M. A.; ROSS, J. L. S. A pressão urbana e a ameaça à preservação da Serra do Itapeti – Mogi das Cruzes. In: Anais: Simpósio de Geografia Física Aplicada. São Paulo: [s. n.],1993. p. 131-133. FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA; INSTITUTO NACIONAL PESQUISAS ESPACIAIS. Atlas da evolução dos remanescentes florestais e ecossistemas associados do domínio da Mata Atlântica no período 1985-1990. São Paulo, 1993. MACHADO, A. B. M.; MARTINS, C. S.; DRUMMOND, G. M.(Eds.) Lista da fauna brasileira ameaçada de extinção. Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas, 2005. 160p. MAMEDE, M. C. H.; SOUZA, V. C.; PRADO, J.; BARROS, F.; WANDERLEY, M. G. L.; RANDO, J. G. (Orgs). Livro vermelho das espécies vegetais ameaçadas do Estado de São Paulo. São Paulo: [s. n.], 2007. 165p. MANNA DE DEUS, J. R.; MANZATTI, L.; TOMASULO, P. L. B.; MENEZES, A. C.; LOUREIRO, A.; ESPIRITO SANTO, C. E.; KAKUTA, F. Y.; SILVA, J. C. R.; CAMPOS, J. F.; YAMAMOTO, M. A. M.; ANDREATTA, M. D.;

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Preservação da Serra do Itapeti

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Figura 3. Estação Ecológica de Itapeti. (A) Vista geral do alagado; (B) Vista geral da entrada da Unidade de Conservação. Fotos: José J. B. Oliveira Jr.

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Figura 4. Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. (A) Vista geral da capela (veja Figura 4A do capítulo 1); (B) Vista geral da Unidade de Conservação. Fotos: Eric P. Hengles.

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Degradação Ambiental da Serra do Itapeti Gilda Collet Bruna Marco Antonio Placido de Almeida Marcus Vinicius Monteiro dos Santos Sofia Lie Yamamoto

Resumo O capítulo relata a ocupação da Serra do Itapeti, mostrando que o município de Mogi das Cruzes é um exemplo do que pode acontecer quando ocorre crescimento urbano sem controle, invadindo áreas de preservação. A Serra do Itapeti representa um marco de referência para a população do município pela sua proximidade com o centro urbano e a sua beleza natural. Não respeitando esses atributos, esse remanescente de Mata Atlântica pode ser ocupado de maneira irregular, predominantemente para fins habitacionais, em desacordo com a legislação vigente e colocando em risco não só a vegetação, como o próprio meio ambiente em que essas moradias se encontram. Ainda neste contexto, a falta de preocupação com a preservação da Mata Atlântica mostra que o interesse imobiliário prevalece em detrimento da preservação ambiental. Assim, mesmo que as legislações ambientais tracem um percurso em prol da sustentabilidade, ainda há muito a ser feito, até que se valorize adequadamente a condição do ambiente natural e do ambiente construído. A preservação do ambiente natural é um legado para as gerações futuras. servação ecológica, áreas que, por lei, são destinadas à proteção ambiental. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010), a Região Metropolitana de São Paulo possui 19.672.582 habitantes, e essa população se espalha pelo território, crescendo mais significativamente na periferia metropolitana e em ritmo menor em seu município central, São Paulo. Destaca-se nesse crescimento a formação de comunidades informais e a ocupação de áreas de preservação e proteção de mananciais, sem a infraestrutura de saneamento necessária. Essa área urbanizada metropolitana desenvolve-se na forma de uma aglomeração urbana crescente, estruturando um processo de conurbação que se estende na direção leste-oeste num contínuo urbano

Introdução Metrópole de um país subdesenvolvido industrializado, São Paulo – a cidade e sua região – é, certamente, um dos exemplos típicos no Terceiro Mundo, com sua urbanização caracterizada por uma situação de modernidade incompleta, pois engloba a justaposição de traços de opulência e de pujança da vida econômica superpostos aos de debilidades e atraso das estruturas sociais e políticas, concomitantemente (SANTOS, 1990). Em outras palavras, é a metrópole em que ocorre a sobreposição de situações de ambiente preservado e com qualidade, em contraste com outros depauperados e degradados, frutos em grande parte de uma população inconsciente dos impactos negativos que produz, ao ocupar indevidamente, sem condições de higiene e pre59


Gilda Collet Bruna; Marco Antonio Placido de Almeida; Marcus Vinicius Monteiro dos Santos e Sofia Lie Yamamoto

de cerca de 100km e na direção norte-sul, alcançando aproximadamente 40km de extensão. Nestas áreas metropolitanas mais periféricas, o crescimento populacional continua ocorrendo, ainda que com taxas menores que nas décadas anteriores. Mas, este crescimento não é homogêneo, pois forma algumas ilhas de riqueza imersas num mar de pobreza, que encobre áreas ecologicamente frágeis e que legalmente deveriam ter sido preservadas, e, cujo uso e ocupação, deveriam pautar-se por determinada qualidade e intensidade, de forma a permitir a manutenção da capacidade de sustentação do território. A leste, o crescimento populacional estrutura-se em núcleos urbanos localizados na Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, incluindo os municípios de Biritiba Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis e Suzano. Mogi das Cruzes, como todos os municípios, precisa exercer sua gestão ambiental local, de modo a controlar os impactos em seu território, com relação às áreas de proteção ambiental que vêm sendo ocupadas por habitações construídas à revelia da lei, em geral feitas por famílias de baixa renda salarial. Destaca-se que essa ocupação ilegal vem ocorrendo em várias áreas de preservação ambiental, que deveriam permanecer intocadas, desocupadas, ou seja, há necessidade de gestão ambiental. De um modo geral, essa irregularidade de ocupação vem ocorrendo ao longo do tempo, pela maneira que a cidade foi sendo construída, sem respeitar as características locais de limitações de capacidade de ocupação do solo, conforme seus diferentes sítios urbanos. As várzeas planas e alagadiças, por exemplo, não foram preservadas como áreas de domínio dos rios, essenciais ao escoamento das águas em períodos de grandes chuvas; os movimentos de terra em geral são realizados sem os cuidados necessários à proteção dos terrenos contra desmoronamentos; as áreas que necessitam de proteção ambiental, tais como reservas ecológicas e outras Unidades de Conservação (SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – Lei Federal Nº. 9.985/2000). Muitas vezes áreas como essas continuam a ser “eliminadas” por construção praticamente ininterrupta, colocando em evidência a precariedade, tanto do comportamento da sociedade, que ignora a legislação vigente, como do poder público em reconhecer a importância de manter essas reservas ecológicas e áreas verdes em prol do equilíbrio ambiental e proteção da saúde de sua população, evitando inundações e deslizamentos de terra.

Destaca-se a grande dificuldade, tanto dos governos estaduais que propõem a política das áreas de preservação e proteção do Estado de São Paulo, como dos governos municipais, cuja competência está diretamente ligada aos assuntos de interesse local, uso e gestão do solo (SANTOS, 1999). Desse modo, municípios e Estados precisam manter a preservação de reservas ecológicas e áreas de proteção aos mananciais, contando com seu poder de polícia; nesse sentido, dentre outros, o município pode licenciar, proibir e monitorar o uso e ocupação do solo. Destaca-se importante a formulação de uma política estratégica de desenvolvimento futuro da cidade, principalmente pelo fato do município contar com o apoio do Estatuto da Cidade (Lei Federal Nº. 10.257/2001), o qual, como poder local determinado pela Constituição Federal vigente, deve traçar a política municipal de desenvolvimento urbano. Essa forma de planejamento pode ser associada ao controle do Estado nas bacias hidrográficas (Lei Estadual Nº. 7.663/1991, que estabelece normas de orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos), bem como ao Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Assim, por meio de seus comitês, formados por membros do Estado, membros dos municípios parcial ou totalmente situados na bacia hidrográfica e pela sociedade civil, é que se desenvolve a gestão de sua região. No caso da proteção dos mananciais, o Estado conta com a Lei Nº. 9.866/1997 (esta lei dispõe sobre diretrizes e normas para a proteção e recuperação das bacias hidrográficas dos mananciais de interesse regional do Estado de São Paulo e dá outras providências). Com essas legislações é importante observar que as decisões são tomadas nas unidades de planejamento, ou seja, nas bacias hidrográficas, por meio de seu comitê de bacia (com a participação das sub-bacias e subcomitês); nesses há participação do Estado, dos municípios total ou parcialmente abrangidos por aquelas unidades de planejamento e também da sociedade civil organizada. Desse modo, para poder contar com uma política de gestão urbana ambiental é preciso promover a atualização constante do pessoal das instituições do Poder Público; desenvolver programas de educação ambiental; aumentar o nível de conscientização e de participação responsável do munícipe; contar com zoneamento de desempenho e com avaliação de impacto de vizinhança, conforme definido pelo Estatuto da Cidade (Lei Federal Nº. 10.257 de 2001). Embora a preocupação em conservar o ambiente em que se vive tenha crescido nos últimos anos, 60


Degradação Ambiental da Serra do Itapeti

Preservação vs ocupação

talvez pela importância deste assunto, que está mais frequentemente presente na mídia, pode ser que os quadros técnicos do poder público e mesmo a população venham assimilando a qualidade ambiental como um fator fundamental para a preservação de seu lugar no planeta e da vida das gerações futuras. Apesar da relevância do meio ambiente, entretanto, os impactos de obras urbanas nem sempre vêm recebendo o cuidado devido por parte do cidadão comum; isto porque, muitas vezes, ocorre de uma forma quase imperceptível para o cidadão. Mas, indubitavelmente, a necessidade de cuidado ambiental é bem conhecida pelos empreendedores imobiliários; estes, por força da lei, passam a eliminar ou minimizar os impactos gerados por elementos nocivos à saúde pública, e poluidores ambientais. Questões como essas muitas vezes ultrapassam as esferas de atuação dos municípios e Estados, ou mesmo da União, passando a ser objeto de preocupação e regulação em âmbito global, como vem sendo incentivado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em suas convenções e congressos específicos. Trata-se de preservar o planeta e evitar a degradação ambiental, de diversos modos, seja interferindo nos processos produtivos, seja na avaliação e controle do impacto ambiental; ou, por políticas públicas expressas mesmo em legislações internacionais a que os países se comprometem a respeitar; também, pelas Normas Internacionais a exemplo a ISO (International Standardization Organization) que passam a ser adotadas no país. Destacam-se assim estas normas que não são imposições políticas, mas são incorporadas por empresas privadas e também por algumas empresas estatais, que se mostram conscientes da importância de preservar o meio ambiente. Enfatiza-se assim: o Sistema de Gestão Ambiental, Auditoria Ambiental, e Rotulagem Ambiental, conhecida também pelo nome de Selo Verde. Essas iniciativas apresentam formas de cooperação com a proteção ambiental e, simultaneamente, com o crescimento econômico. Assim, a ocupação antrópica precisa ser planejada e deve objetivar processos sustentáveis de desenvolvimento. A incorporação da responsabilidade ambiental por governos e cidadãos precisa levar a ações em prol da sustentabilidade ambiental, deixando de criar passivos ambientais, poluindo ou ocupando indevidamente o solo urbano, por indivíduos mal esclarecidos.

A leste, na Região Metropolitana de São Paulo, encontra-se o município de Mogi das Cruzes, que se desenvolve por meio de um processo de urbanização contínuo, recebendo investimentos do setor industrial que vem se instalando desde os últimos anos da década de 1990, a exemplo da Empresa General Motors e da Placo do Brasil. Com uma área total de 721km2, o município conta com 358km2 considerados como área de proteção aos mananciais e 52km2 correspondentes à área de reserva da Mata Atlântica, que se estende pela Serra do Itapeti. Descortina-se assim um dos conjuntos de ecossistemas mais ricos em diversidade de espécies vegetais e animais, um ecossistema protegido por lei e que se estende por dois municípios, Mogi das Cruzes e Guararema, este abrigando pequena extensão da Serra. A Serra do Itapeti, que é um importante remanescente de Mata Atlântica, possui um Parque Municipal de 352,3ha e uma Estação Ecológica de 89,7ha cuja preservação vem sendo descaracterizada, pois se observa um processo contínuo de aumento do número de loteamentos e cooperativas que surgiram na forma de ocupações irregulares e que acabam transformando alguns desses pontos em favelas. Agrava-se, assim, a destruição da biodiversidade da Mata Atlântica local (SANTOS, 2000; ALMEIDA, 2000). É importante ressaltar que, segundo a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, a área conta com a Lei Nº. 4.529 de 18 de janeiro de 1985 que, objetivando a proteção e qualidade do meio ambiente, dispõe sobre o uso do solo na região da Serra do Itapeti; visa controlar a densidade demográfica e repovoar a vegetação local, manter a permeabilidade do solo e as reservas florestais, ao mesmo tempo em que estabelece padrões e critérios para orientar o licenciamento e controle do uso do solo nessa Serra (SMA, 2010). Este processo de ocupação irregular, predominantemente para fins habitacionais, em desacordo com a legislação vigente, está colocando em risco não só a vegetação, como o próprio meio ambiente em que essas moradias se encontram. É um processo contínuo – ainda que lento – de destruição da Mata Atlântica e tende a se reverter como um “bumerangue” contra essa mesma ocupação urbana, algumas décadas depois, como mostram os estudos de Diamond (2005). Segundo esse mesmo autor, a ocupação humana de áreas naturais sem nenhum planejamento resulta em sérios problemas ecológicos, “pelo fato de as pessoas terem destru61


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ído inadvertidamente os recursos ambientais dos quais as suas sociedades dependiam” (...) “[isto] vem sendo confirmado por descobertas em décadas recentes feitas por arqueólogos, climatologistas, historiadores, paleontólogos e palinologistas (cientistas especialistas em pólen)”. Segundo Diamond (2005), é possível estabelecer oito categorias, cuja importância relativa difere caso a caso, que acabam conduzindo determinadas sociedades ao colapso: “desmatamento e destruição do hábitat; problemas com o solo (erosão, salinização e perda de fertilidade), problemas com o controle da água, sobrecaça, sobrepesca, efeitos da introdução de outras espécies sobre as espécies nativas e aumento per capita do impacto do crescimento demográfico”. Mogi das Cruzes é um exemplo do que pode acontecer quando ocorre um crescimento urbano sem controle, invadindo áreas de preservação, como a Serra do Itapeti. O município atrai turistas e pesquisadores pela riqueza natural de seu território. Também vem investindo na educação ambiental, estimulando projetos específicos como o “Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, o Núcleo Ambiental da Ilha Marabá e a Escola Ambiental, projeto de referência nacional na área” (MOGI DAS CRUZES, 2010). Por isso, Mogi mostra potencial para buscar um desenvolvimento sustentável, com qualidade de vida à população e respeito ao meio ambiente a partir de cuidados com a ocupação antrópica irregular. Observa-se que áreas de Mata Atlântica como em Cubatão, no litoral sul do Estado de São Paulo, foram destruídas paulatinamente, pois a habitação clandestina foi crescendo nos denomimados bairros cota 200 e 400 da Serra do Mar, até se impor como uma ocupação sem retorno, ou seja, irreversível, mas que ocasionou a derrubada da Mata Atlântica e a formação de ocupações consolidadas consideradas “cidades”, pois se estima que ali há cerca de 20.000 habitantes que promovem, consciente ou inconscientemente, a caça de animais selvagens, a extração de palmitos, a contaminação de mananciais com despejo de lixo e esgoto, entre outros fatos agravantes. A Comarca de Cubatão trata de ação civil pública (ajuizada pelo Ministério Público), objetivando a remoção daquelas pessoas, o que pode ser entendido como uma forma de controlar a qualidade do meio ambiente. Outro exemplo a ser citado sobre essa relação entre áreas de preservação ambiental e a cidade tradicional refere-se a Porto Velho, capital de Rondônia, que precisa controlar seu meio ambiente, pois a expansão urbana ocupa áreas inundáveis por

igarapés e sofre com as enchentes nos períodos de chuvas, espalhando doenças para a população diretamente atingida e, indiretamente, pela transmissão hídrica. Estes exemplos representam uma amostra dos grandes problemas que o Poder Público precisa enfrentar ao procurar preservar o ambiente natural. Muitas vezes, pensando equacionar a questão social e trabalhando em prol do social, ao focalizar aquela população que vem se fixando em áreas de preservação, como no caso da Serra do Itapeti, o poder público efetua a urbanização daquelas áreas ao levar para lá serviços públicos como luz, água, coleta de lixo, destruindo uma reserva florestal imprescindível para a qualidade ambiental. Muitas vezes, esses problemas passam despercebidos e a qualidade ambiental, no caso da Mata Atlântica, está sendo prejudicada, tanto por ocupação clandestina, como por tráfego de ida e vinda de população e de oferta de serviços urbanos (FUPAM/FAUUSP, 1991, 1995). Sabendo que a taxa geométrica de crescimento populacional do município de Mogi das Cruzes entre 1991 e 1996 foi de 2,79% (IPUMC & IBGE, 1996), torna-se imperativo refletir sobre essa ocupação urbana irregular, pois, a partir dessa medida de crescimento, pode-se prever também que aquela ocupação irregular em área de preservação continue a ocorrer, e aumentar, caso não sejam tomadas medidas para sua contenção. Nessa direção, nota-se em Mogi das Cruzes que o Distrito Industrial do Taboão, ao norte da Serra do Itapeti, constitui-se num polo de atração de população de baixa renda que vem em busca de trabalho e a procura de moradia perto do emprego pode assentar essa população, clandestinamente. Tal fato, somado à expansão dos municípios vizinhos de Suzano, Arujá e Itaquaquecetuba, está formando uma “área de alta pressão” por assentamento humano. A Estação Ecológica de Itapeti, segundo a Fundação Florestal, é uma Unidade de Conservação integral (BARRADAS, 2008), e, desse modo, as áreas de mananciais da Serra do Itapeti precisam se manter como espaços naturais preservados. Assim, é preciso cuidar dos espaços cercados que lá existem e, ao mesmo tempo, coibir o desenvolvimento de áreas urbanas, que se iniciam de modo muito incipiente no início, mas que com o tempo se tornam totalmente ocupadas, ficando mais difícil remanejar a população para outras áreas. E esta ocupação, para fins habitacionais, em desacordo com a legislação ambiental e urbanística, está colocando em risco não só a preservação da vegetação natural, como o próprio meio ambiente 62


Degradação Ambiental da Serra do Itapeti

em que estão inseridas, ou seja, está destruindo o pouco que restou da Mata Atlântica. Vale destacar que a Mata Atlântica constitui-se numa floresta latifoliada tropical que, originariamente, tinha um domínio que se estendia numa larga faixa do litoral desde o Estado do Rio Grande do Sul até o Piauí, avançando para o interior em distâncias heterogêneas, abrangendo em torno de 1.300.000km2, ou seja, ocupando cerca de 15% do território nacional, englobando 17 Estados brasileiros, atingindo até o Paraguai e a Argentina. A denominação de Mata Atlântica é nome genérico, servindo para batizar a grande variedade de matas tropicais úmidas que, recobrem (ou melhor, recobriam) as regiões costeiras do Brasil (CONTI, 1996). Não se pode esquecer que esta Mata Atlântica é considerada pelos botânicos como a floresta de maior biodiversidade por hectare do planeta, abrigando mais de 25 mil espécies de plantas, sendo um bioma, cujos 93% de sua formação original já foram devastados (SOS MATA ATLANTICA, 2007). Para conhecer como ocorreu a ocupação dessa área em relação à Serra do Itapeti, pode-se examinar, ainda que brevemente, como se deu o processo de interferência antrópica, que começou há quatro séculos, quando os jesuítas e europeus fundaram os primeiros assentamentos humanos. As terras foram tomadas dos indígenas pelos colonos portugueses que iniciaram a caça ao bugre, como eram denominados os índios rebeldes (GRIMBERG, 1961; ALTO TIETÊ, 1998). Nesta época da colonização, esta porção de Mata Atlântica, hoje conhecida como Serra do “Itapeti” era denominada de “Sete Pecados Mortais”, pelas dificuldades de deslocamento para se atingir o Vale do Paraíba, dada às precárias vias de comunicação rumo ao Rio de Janeiro, então capital do reino de Portugal. Também na terceira década do século 17, o fornecimento de escravos africanos para o Brasil começou a ser mais difícil e por isto a demanda por escravos indígenas aumentou; então, se organizou uma espécie de bandeirismo de predação que traficava “peças indígenas” para outras regiões do país. Assim, entre os desentendimentos com a Coroa e com a Igreja, em 1640 os jesuítas foram expulsos do país. Mas, já no final deste século, por falta de bandeirantes locais, a caça aos indígenas foi diminuindo até que no fim da década de 1960, do mesmo século, termina o tráfico de “peças indígenas”. Por isto, o povoamento da região entra noutra fase de expansão, em que os índios que lá viviam deixaram provas dessa história da ocupação da Serra do

Itapeti, período esse em que o poder público não se preocupava com o meio ambiente. O Poder Público preocupava-se sim com as áreas urbanas. Grimberg (2001) afirma que em 1613 a Câmara já focalizava a questão urbanística e assim, dois anos após a instalação da Vila, determinou seu arruamento. Depois dessa medida, começou a ser possível reconhecer os limites das propriedades. Também, caso esta demarcação não fosse obedecida, a administração pública podia impor a pena de demolição das construções. Mas foi a partir do século 18 que a cidade de Mogi das Cruzes entra em processo de franco crescimento. E a Serra do Itapeti torna-se um marco de referência para aqueles que habitam o centro urbano da cidade pela sua proximidade e beleza natural. Estas condições somadas à falta de preocupação com a preservação da Mata Atlântica acabam despertando o interesse do setor imobiliário. Atualmente, há cerca de 1.400 propriedades particulares na Serra do Itapeti, onde vivem aproximadamente 6.000 pessoas. Esses proprietários são donos de 91,52% a 93% da área da Serra. Vale destacar que, apesar do proprietário ser dono da terra, a biodiversidade lá existente é um bem pertencente à União. A Estação Ecológica, com uma área de 89,47ha, correspondendo a 1,71% da área da Serra e o Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, com uma área 352,3ha, correspondendo a 6,77%, são as únicas áreas remanescentes preservadas existentes no interior da Serra do Itapeti. Lembra-se, porém que, tanto a Constituição Federal de 1988, em seu art. 225, parágrafo 4o, como a Constituição Estadual de 1989, em seu art. 196 estabelecem que a Mata Atlântica – na qual se inclui a Serra do Itapeti – é espaço territorial especialmente protegido, integrante do patrimônio nacional (SÃO PAULO, 1999) (veja capítulo 3).

Aspectos legais A Lei Orgânica do Município de Mogi das Cruzes, no capítulo referente ao Ato das Disposições Transitórias, artigo 11, prevê que o Prefeito venha a constituir um Grupo de Trabalho para atuar concomitantemente com a Guarda Municipal de forma que promovam irrestrita e constante vigilância sobre a Serra do Itapeti e a Serra do Mar, com o objetivo de preservá-las, no âmbito dos limites administrativos municipais, comunicando outrossim, à Policia Florestal e aos demais órgãos competentes, qualquer anormalidade que seja constatada. Esta legislação, como se vê, es63


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tabelece a competência do município na preservação ambiental, nas Serras do Itapeti e do Mar. Competência de igual teor é definida pela Lei Orgânica Municipal, em seu artigo 12, que também estabelece a competência da Prefeitura na preservação da área do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Descrevendo a matéria, este artigo trata ainda sobre a criação do Centro de Defesa da Serra do Itapeti, que para sua operação pode promover, sempre que necessário, convênios com os órgãos públicos competentes, tendo em vista fiscalizar e proteger a natureza. Por outro lado, apesar desta legislação que define a competência de fiscalizar e proteger essas áreas, não se pode esquecer que em Mogi das Cruzes o Batalhão de Polícia Florestal e Meio Ambiente (BPFMA) possui um contingente diminuto para fiscalizar a Serra do Itapeti, o que, de fato, tornar-se um fator mais limitativo que facilitador dessas funções. A Serra do Itapeti, por sua vez, por ser considerada uma extensa reserva florestal, é protegida também pela Lei Estadual Nº. 4.529, de 18 de janeiro de 1985, que dispõe sobre o uso e a ocupação do solo na região da Serra e objetiva sua proteção, e, em decorrência, a melhoria da qualidade ambiental na região Metropolitana de São Paulo. Esta lei e o Decreto Nº. 26.116/86 disciplinaram as formas de uso e ocupação do solo na região da Serra do Itapeti. Enquanto região metropolitana, por anos esta questão esteve a cargo da EMPLASA (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano SA). Mas, desde os anos de 1990, a responsabilidade por regulamentações e Licenciamento de empreendimentos e seu impacto no meio ambiente é de responsabilidade da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA), por intermédio de seu Departamento de Uso do Solo Metropolitano (DUSM, DPRN e CETESB, no âmbito de suas competências). A ocupação irregular deste importante ecossistema data de mais de 100 anos e há estimativas de que existam mais de trezentas edificações no local, todas em situação irregular. Talvez tal irregularidade possa ser explicada em parte pelo desconhecimento que se tinha da importância da preservação ambiental. Talvez, ainda, porque a consciência da necessidade de preservação do meio ambiente e da qualidade de vida só esteja despertando, tardiamente, nessas últimas décadas do século 20. Observa-se, ao longo do tempo, de 1600 a 1964, que a regulamentação do uso e ocupação de áreas sujeitas à preservação era uma atribuição exercida diretamente por decretos municipais, como se fazia

no fim dos anos 1800. Foi somente em 1965 que passou a vigorar o Código Florestal, definido pela Lei Federal Nº. 4.771, de 15 de setembro de 1965. Mas, foi em 1977 que a importância da preservação da Serra do Itapeti ganhou nova força, quando foi instalado em Mogi das Cruzes um escritório da SMA – o Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DEPRN). E, com a aprovação da Lei Estadual Nº. 4.529/85, a região da Serra do Itapeti passou a controlar uso e a preservação ambiental. Esta lei, de autoria do Deputado por Mogi das Cruzes, Maurício Najar, objetivava a proteção da área de Mata Atlântica e a melhoria da qualidade do meio ambiente da Região Metropolitana de São Paulo, dando assim mais um passo em prol do controle dos impactos ambientais. Nessa direção, em 1998, a Procuradoria do Estado moveu uma ação contra a Prefeitura de Mogi das Cruzes e a Secretaria de Meio Ambiente do Estado, por “permitirem” a ocupação ilegal da Serra do Itapeti. Isso mostra quão importante pode ser a utilização, de fato, desses instrumentos legais, e também da conscientização para preservar o meio ambiente. As legislações ambientais traçaram um percurso em prol da sustentabilidade, mas ainda há muito a ser feito, até que se valorize adequadamente a condição do ambiente natural e do ambiente construído. É preciso preservá-los para as gerações futuras.

Aspectos urbanísticos A ocupação da Serra do Itapeti deve ser compreendida nos diferentes momentos históricos. Durante um longo período não existiram instrumentos urbanísticos para controlar o uso, a ocupação, nem a construção das habitações nessas áreas de preservação. Estes instrumentos passaram a estar disponíveis na década de 1980. Em 1981, a Lei Federal Nº. 6.938 dispõe sobre a política do meio ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Nesse sentido, esta lei instituiu o Sistema Nacional de Meio Ambiente e estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, pela qual, em seu parágrafo único, “as atividades empresariais públicas ou privadas serão exercidas em consonância com as diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente”. Uma das inovações em termos de participação popular nas questões ambientais foi a criação por esta lei do CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente que dentre seus instrumentos conta com o zonea64


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mínima inferior a 20.000m2 (artigo 6°) e na ZPA 2 fica vedado iniciar ou efetuar qualquer modalidade de parcelamento do solo do qual resultem lotes ou glebas com área mínima inferior a 5.000m2 (artigo 7°) (veja capítulo 2). Assim, começam-se a distinguir nestas legislações limites de propriedades, adensamentos possíveis e restrições em termos de urbanização. Estas condições impõem parâmetros restritivos de uso e ocupação do solo e, no caso de edificações ou obras, a limitação é que as construções ficam proibidas em áreas com declividade superior a 40%, como também em áreas de matas ou capoeiras, pois é proibida a supressão total da vegetação natural. Além disso, para garantir a execução de obras e edificações adequadas ao desenvolvimento preconizado para determinados usos, em região de proteção ambiental, a Lei Estadual Nº. 4.529/85 estabelece Índices Urbanísticos que devem ser observados na ocupação dos lotes, como se pode visualizar na Tabela 1. Como se observa na Tabela 1, além dos grandes tamanhos dos lotes ou glebas, a taxa de ocupação é muito pequena, iniciando com 10% na primeira cota

mento ambiental, a avaliação de impactos ambientais e a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, dentre outros. Também, em 1985, foi promulgada a Lei Estadual Nº. 4.529, que “dispõe sobre o uso e a ocupação do solo na Região da Serra do Itapeti com vistas à proteção e melhoria da qualidade do meio ambiente na Região Metropolitana de São Paulo”, estabelecendo critérios para o uso e ocupação do solo na região da Serra do Itapeti. No artigo 3º desta Lei, a região da Serra do Itapeti, conforme o artigo 1° fica subdividida em dois tipos de zonas: as de preservação ecológica ZPE, designadas: ZPE 1: zona de reserva florestal e ZPE 2: zona de matas naturais contínuas de grande extensão; e as outras de proteção ambiental ZPA: ZPA 1: zona de urbanização restrita de baixa densidade e ZPA 2: zona de urbanização restrita de média densidade. Nas ZPE 1 e ZPE 2 é proibido iniciar ou efetuar qualquer modalidade de parcelamento do solo (artigo 5°); enquanto na ZPA 1 fica vedado iniciar ou efetuar qualquer modalidade de parcelamento do solo do qual resultem lotes ou glebas com área

Tabela 1. Dimensionamento, Ocupação e Aproveitamento do Lote ou Gleba. Índices Urbanísticos Cotas de 2.500 m2 compreendidas no terreno

Faixas de Taxa de Coeficiente de enquadramento ocupação por aproveitamento de área de lote ou cota (Io) por cota (Ic) gleba (m2)

Taxa de impermeabilização por cota (Ti)

Taxa de permeabilização alterável para cota (Tpa)

1ª. Cota 2.500

2.500

0,10

0,25

0,30

0,40

2ª. Cota 2.500

2.500 a 5.000

0,02

0,05

0,10

0,40

3ª. Cota 2.500

5.001 a 7.500

0,02

0,05

0,10

0,40

4ª. Cota 2.500

7.5001 a 10.000

0,02

0,05

0,10

0,40

na 2.500

n

0,02

0,05

0,10

0,40

Fonte: Lei Nº. 4.529/1985.

época da aprovação desta Lei, tanto que registrara em mapas essas propriedades ou territórios. Vale lembrar que também é de 1981 a Lei Federal Nº. 6.902 que em seu artigo 1° estabelece que as “Estações Ecológicas são áreas representativas de ecossistemas brasileiros, destinadas à realização de pesquisas básicas e aplicadas de ecologia, à proteção do ambiente natural e ao desenvolvimento da educação conservacionista”. E não se pode esquecer que esse enfoque sobre as Estações Ecológicas passou a fazer parte da Lei Federal Nº. 9.985 de

e diminuindo para 2% nas demais cotas; enquanto que o coeficiente de aproveitamento inicial é de 25% na 1ª cota e de 5% nas demais cotas. Destaca-se, ainda, a taxa de impermeabilização que também é bem baixa, sendo de 30% na 1ª cota e nas demais de 10%. Destaca-se o segundo parágrafo do artigo 3° da Lei Nº. 4.259/1985, “as zonas a que se refere este artigo encontram-se delimitadas nas cartas mencionadas no artigo 1° e seus perímetros descritos no Anexo 10 desta lei”, o que significa que o poder público tinha um controle da situação existente na 65


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2000, que Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III, e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Nesse sentido, vale lembrar que a Lei Nº. 9.985 define: “unidade de conservação como um espaço territorial e seus recursos ambientais; incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes; legalmente instituídos pelo Poder Público com objetivos de conservação e limites definidos; sob regime especial de administração ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção” e, mais ainda, que a conservação da natureza abrange: “o manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utilização sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras e garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral” (veja capítulo 2). Com estas colocações pode-se pensar que “teoricamente” é possível controlar a ocupação de áreas de preservação, com legislações tão detalhadas como estas. Mas, na realidade, mesmo existindo estas legislações, não se está conseguindo controlar a ocupação de áreas de preservação. Pode-se perguntar então por que as ocupações indevidas, como estas verificadas na Serra do Itapeti e na Serra do Mar, por exemplo, vêm ocorrendo ao longo do tempo? Como fazer para controlar efetivamente o uso e ocupação do solo em áreas de preservação? Para responder estas questões, deve-se observar que as ocupações mencionadas são compostas, em sua maioria, por imóveis, tanto de alto como de baixíssimo padrão construtivo e que, inclusive, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado (SMA) já identificou a presença do início de um processo de favelização na Serra do Itapeti. Em relação a características urbanas de áreas ocupadas de baixíssimo padrão é possível distinguir as áreas urbanas centrais e as áreas periféricas, estendendo-se entre morro e asfalto. Este quadro, mais do que exprimir a desigualdade, acaba atuando como um fator de indução desse tipo de urbanização desigual. Ora, uma cidade dividida entre as porções legais dotadas de infraestrutura e as porções ilegais pobres e precárias, oferece oportunidades desiguais à população: quem reside na parte mais periférica e pobre tem pouco acesso às oportunidades de trabalho e lazer. Por sua vez, a tendência de aumento popula-

cional é maior nas camadas de baixa renda. E este fato demanda controle por parte do Poder Público, pois sem efetivo controle da expansão urbana das cidades, esta tende a ocupar, entre outras, áreas que deveriam permanecer intactas, preservadas e protegidas. Daí o perigo que as áreas periféricas correm, inclusive a Serra do Itapeti, pois a periferia sem infraestrutura, em sua imensa maioria, reúne terrenos mais baratos e por isto de mais fácil “acesso” para a população de baixa renda. No entanto, esse fácil acesso acaba “estimulando” a ocupação indevida. Esta “desordem urbanística e ambiental”, fruto da falta de planejamento responsável, ocorre também pela ausência de gestão dos planos diretores; trata-se aqui de gestão municipal, que deveria tratar também da aplicação das leis de zoneamento, inclusive das questões ambientais. Muitas vezes a lógica do mercado acaba tornando a moradia algo passível de especulação e o ambiente, uma “oportunidade de negócio”, quando, de fato, este deveria ter a primazia de possibilitar um negócio sustentável. Mas ocorre que os imóveis situados em áreas centrais, servidos por todos os tipos de equipamentos urbanos, configuram um bom negócio, embora sejam caros e por isso, nem sempre podem ser adquiridos pela esmagadora parcela da população, que é pobre. Aqueles imóveis localizados na periferia muitas vezes se encontram em situação irregular, em loteamentos clandestinos ou mesmo em áreas de proteção ambiental, como a Serra do Itapeti e são baratos, por não se configuram em um bom negócio, na medida em que não atendem aos requisitos das legislações ambientais e urbanísticas. As causas que podem ser apontadas para compreender esse processo são várias, entre elas, destaca-se o baixo poder aquisitivo da população, que se reflete na desigualdade social existente na região do Alto Tietê; a falta de oportunidade de trabalho; e o “baixo custo” de aquisição de uma porção de terra na forma de lote ilegal nessas áreas, pois nos casos de invasão, o custo do lote praticamente não existe. Este mercado de imóveis ilegais contribui para acentuar as desigualdades da população urbana, pois pelo menos cria dois grupos, aqueles que têm possibilidade de adquirir um imóvel legalmente e aqueles que só conseguem “comprar” um imóvel ilegal, pois desconhecem a legislação ou a força de poder morar naquele local é mais forte que a razão ambiental. Essa situação de ilegalidade não é privilégio das áreas ambientais como a Serra do Itapeti. Na área central da São Paulo, conforme o IBGE 66


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(2000), foi identificado aumento no número de moradores de favelas, que evoluiu de 1,2 milhões para 2 milhões em 2000, enquanto a população de rua atingiu quase 15 mil moradores. Como entender esse mecanismo? O Relatório Sobre Moradia Adequada no Brasil (ONU, 2006) aponta a falta de moradia e a escassez de terra, como fatores fundamentais do déficit habitacional; também destaca que essa desigualdade em termos de propriedade habitacional está relacionada com a discriminação histórica e segregação das comunidades afrobrasileiras e indígenas, que se adicionam à parcela daquela população marginalizada. Há necessidade de ações práticas dos governos locais, estaduais e federal para que haja redistribuição da riqueza e da terra. É por isto que o país se orgulha do programa Fome Zero que, segundo muitos, contribui para atenuar a situação de precariedade extrema de muitas famílias. Buscando minimizar a gravidade deste panorama urbano nacional, o governo federal promulgou a Lei Federal Nº. 10.257, de 10 de julho de 2001, denominada Estatuto da Cidade, que, ao regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, reúne instrumentos jurídicos que, se devidamente utilizados pelas administrações locais permitir-lhesá enfrentar essas questões, tratando de sua política de desenvolvimento urbano. Nesse sentido, entre suas diretrizes esta lei que “estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental”. Desse modo, segundo o Estatuto da Cidade, cabe ao nível local de planejamento, o nível municipal, implantar sua política de desenvolvimento urbano por meio de um plano-diretor elaborado com a participação da população, incluindo em suas propostas aqueles instrumentos constantes do texto de lei que julgar necessário para atingir os objetivos da função social da cidade e da propriedade. Em seu artigo 2º, o Estatuto da Cidade define que “a política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana”. Nessa direção, os instrumentos jurídicos que reúne, se devidamente utilizados pelas administrações locais, permitirlhes-á enfrentar, entre outras, as questões referentes ao planejamento e gestão urbana e ambiental, assim como a tarefa de definir os meios para que seja cumprida a função social da cidade e da propriedade urbana.

Em referência específica às questões municipais, os instrumentos disponibilizados pelo Estatuto da Cidade, desde que sejam para sua aplicação constem do Plano Diretor do Município aprovado por lei municipal, contanto ainda com Legislação Municipal específica aprovada para tanto, conforme requisito do Estatuto da Cidade, estão relacionados, entre outros, em seu art. 4º, a saber: inciso III: - Planejamento municipal, em especial: a) plano diretor; b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo; c) zoneamento ambiental; d) plano plurianual; e) diretrizes orçamentárias e orçamento anual; f) gestão orçamentária participativa; g) planos, programas e projetos setoriais; h) planos de desenvolvimento econômico e social; dentre outros. Talvez uma das grandes inovações do Estatuto da Cidade, em relação ao meio ambiente, seja a obrigatoriedade do município contar com Estudo Prévio de Impacto Ambiental, e Estudo Prévio de Impacto de Vizinhança; isto é, o município também deve considerar a necessidade de controlar eventuais impactos negativos no meio ambiente, analisando o impacto de vizinhança, embora deva continuar a tratar do impacto ambiental, solicitado pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado. Em relação específica ao EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança), vale observar os artigos 37 e 38 do Estatuto da Cidade, destacando no art. 37 que “O EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no mínimo, das seguintes questões: I - adensamento populacional; II - equipamentos urbanos e comunitários; III - uso e ocupação do solo; IV - valorização imobiliária; V - geração de tráfego e demanda por transporte público; VI - ventilação e iluminação; VII - paisagem urbana e patrimônio natural e cultural; no art. 38 o Estatuto da Cidade esclarece que “A elaboração do EIV não substitui a “elaboração e a aprovação de estudo prévio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislação ambiental”. Com estas colocações sobre impacto ambiental e de vizinhança, procura-se fortalecer a necessidade de controlar os recursos naturais ambientais, em prol da qualidade de vida e da sustentabilidade local, contribuindo assim para a sustentabilidade do planeta. Destaca-se, ainda, que o Estatuto da Cidade instituiu um processo de planejamento municipal em que o plano diretor é a peça fundamental. De acordo com seu art. 40, “o plano-diretor, aprovado por 67


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lei municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana”. No § 1º, o plano-diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal, devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual, incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas. Mais ainda no § 2º observa-se que: o plano-diretor deverá englobar o território do município como um todo. É necessário mostrar que esse processo de planejamento e controle do desenvolvimento urbano ambiental precisa ser institucionalizado e oferecer condições de qualidade de vida à população. Nos § 3º e § 4º destaca-se, respectivamente, que a lei que instituir o plano-diretor deverá ser revista, pelo menos, a cada dez anos e que no processo de elaboração do plano diretor e na fiscalização de sua implementação, os Poderes Legislativo e Executivo municipais garantirão: I - a promoção de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade; II - a publicidade quanto aos documentos e informações produzidos; III - o acesso de qualquer interessado aos documentos e informações produzidos. Essas modificações introduzidas pelo Estatuto da Cidade mostram que, com base na Constituição Federal de 1988, o governo federal decidiu descentralizar as questões urbanas, incumbindo os municípios de seu cuidado. É que são os munícipes que estão no dia a dia das questões urbanas, convivendo com as desigualdades, inclusive no exemplo da existência de domicílios vazios em contraposição ao aumento do número de favelados, como ocorre nas grandes cidades. Assim é que o plano-diretor deve instituir normas e metas para as políticas urbanas e ambientais, em conformidade com a lei federal do Estatuto da Cidade, condicionando a função social da propriedade aos objetivos de sua política. Por isto, é que a gestão municipal torna-se fundamental para a manutenção da qualidade urbana e da sustentabilidade do meio ambiente, ao expressar no Plano Diretor do Município todos os padrões de controle urbanístico e ambiental. Também se pode dizer, essa gestão municipal é mais importante ainda, porque agora, num período de democracia, obriga-se, por força do Estatuto da Cidade, a envolver a participação popular na elaboração do plano diretor. Nesse sentido, participam da elaboração do plano-diretor os órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal de governo (Estatuto da Cidade, art. 43), e passa a ser obrigatório organizar debates, audiências públicas e consultas pú-

blicas (Estatuto da Cidade, art. 43, II) como meio necessário ao desenvolvimento de conscientização e consenso da comunidade. Também se podem incluir conferências sobre assuntos de interesse urbano e ambiental (art. 43, III) e ainda poderá haver iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano (Estatuto da Cidade, art. 43, IV). Ainda como iniciativa democrática, o Ministério Público vem desempenhando um papel valioso na luta pela proteção ambiental, mesmo na Serra do Itapeti em Mogi das Cruzes. Todavia, pouco resultado terá se não contar com a ajuda dos demais atores, que, por força de disposição legal, também deveriam estar engajados nesta batalha. Desde o ano 2000, a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo de Mogi das Cruzes do Ministério Público do Estado de São Paulo ajuizou ações civis públicas objetivando a demolição de imóveis e a recuperação de áreas na Serra do Itapeti. Muitas ações vêm sendo julgadas pertinentes, ficando os culpados obrigados a demolir as edificações construídas em áreas de preservação ambiental, bem como recuperar o dano ambiental causado (veja MP.GOV.SP., 2010). O ajuizamento de ações como estas mostra que, na preservação dessas áreas, o direito coletivo como um todo exige do degradador a recuperação integral das terras degradadas. Desse modo, o causador do dano ambiental é obrigado a recuperar com vegetação adequada as áreas protegidas por lei. Dentre os efeitos dessas ações da promotoria pública dois se destacam como bastante positivos. O primeiro deles foi o de envolver o Poder Judiciário nessa questão, o qual acabou se mostrando bastante preocupado, dando respostas importantes nos julgamentos dos processos. O outro foi pedagógico, servindo para revelar à população a importância da preservação da Serra do Itapeti e as graves consequências para quem desrespeita a legislação que a protege. As ações continuam sendo ajuizadas pelo Ministério Público e certamente outras ainda virão. No entanto, essa medida não pode ser a única nesse projeto de proteção da Serra do Itapeti. É indispensável que o Poder Executivo, tanto o estadual quanto o municipal, se engaje nesta missão. Eles devem deixar de figurar no polo passivo das ações para integrarem o polo ativo em litisconsórcio com o Ministério Público. Mas, para isso precisam mudar radicalmente de postura. Precisam exercer seu poder de polícia com eficiência e responsabilidade. Precisam sair de um quadro de omissão, passando para um de ação, fiscalizando e tomando, cada qual nos limites de sua 68


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competência, as medidas administrativas que se fizerem necessárias para proteção daquela floresta. Observa-se, assim, que o Estatuto da Cidade, juntamente com o recém-revisado Plano-Diretor de Mogi das Cruzes são valiosos instrumentos para que a gestão urbana ambiental possa gerar resultados, em curto espaço de tempo, permitido garantir a preservação da Serra do Itapeti, tanto para a geração atual quanto para as futuras.

que a Mata Atlântica, na qual se inclui a Serra do Itapeti, é um espaço territorial protegido, integrante do patrimônio nacional (SÃO PAULO, 1999). Estes documentos mostram que todo o cidadão tem direito a um ambiente ecologicamente equilibrado e preservado. Assim, é desejável que áreas como a Serra do Itapeti, consideradas bem comum da coletividade, permaneçam como ambiente ecologicamente preservados, portanto, essenciais à qualidade de vida. Por isto, o Poder Público tem competência para defender ambientes como esses, protegendo-os. Inclui-se em áreas com essas características a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal MatoGrossense e a Zona Costeira, entre outras, incluídas no conjunto das unidades de conservação federais, estaduais e municipais que fazem parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), conforme Lei Federal Nº. 9.985, de 18 de julho de 2000, como patrimônios nacionais. Portanto, sua utilização somente pode ocorrer na forma da lei, obedecendo a condições que assegurem a preservação do meio ambiente e promovendo o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais (inciso IV, art. 4º).

O processo de ocupação da Serra do Itapeti Processo de ocupação Além dos problemas gerados pelos proprietários, como já mencionado, constata-se ainda a formação de favelas na Serra do Itapeti decorrentes das ocupações habitacionais. Estas são tradicionalmente definidas como grupos de domicílios, construídos com madeira, zinco, lata, papelão ou mesmo com alvenaria, que ocupam desordenadamente terrenos, cuja propriedade não é legalizada, geralmente em áreas de relevo de acentuada declividade ou mesmo áreas inundáveis (TASCHNER, 1997), como costumam ocorrer em regiões de Serra. Na Serra do Itapeti são observados locais com alta densidade de ocupação, seja em lotes bem definidos, seja em conjuntos de habitações de baixa renda do tipo favela. O primeiro efeito ambiental adverso dessas ocorrências é o desmatamento de área para a construção da moradia, e, eventualmente, para plantio de subsistência. As construções com características de favelas existentes no interior da Serra do Itapeti apresentam, principalmente, problemas relacionados com:

Fatores indutores A ocupação da Serra do Itapeti também encontra como fatores de indução, a existência da Estrada Cruz do Século, que liga a cidade ao topo da Serra, onde se encontram instaladas as torres transmissoras de energia. Observa-se, ainda, que esse fato é agravado pelo bom estado de conservação dessa estrada, fruto dos contínuos serviços de capeamento e manutenção executados com o objetivo de permitir o acesso de veículos de serviços a essas torres. Outro fator de indução se relaciona ao sistema de iluminação pública ao longo da referida estrada, que se constitui por si próprio em elemento atrativo à ocupação das áreas marginais dessa via. A distribuição de serviços públicos para a região pode ser apontada como outro fator indutor dessa ocupação irregular, destacando-se o atendimento desse setor por rede de distribuição de energia elétrica operada pela Eletropaulo. Vale observar também que a área da Serra do Itapeti conta com abastecimento d’água de boa qualidade captada nas nascentes situadas a montante e transportada através de canos até as moradias. Constata-se, ainda, a existência de rede de telefonia convencional, uma infraestrutura que não é encontrada em mui-

a) a supressão da vegetação permanente para a construção dos barracos; b) o corte da mata nativa (Mata Atlântica); c) esgoto doméstico despejado diretamente sobre o solo, sem nenhum tipo de tratamento; d) resíduos sólidos (lixo doméstico) jogados na mata; e) ocupações em áreas próximas a nascentes ou cursos d’água. Ocorre assim o assentamento humano à revelia ao que reza tanto a Constituição Federal de 1988 (artigo 225, parágrafo 4º), como a Constituição Estadual de 1989 (artigo 196), pois ambas estabelecem 69


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tos núcleos urbanos do Estado de São Paulo, mas, no entanto, encontra-se à disposição dos moradores da Serra do Itapeti. Também pode-se atentar para uma possível cooperação da Prefeitura com o controle da ocupação em áreas de preservação, pois esta, por meio da Secretaria Municipal de Finanças, cobra o Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) das propriedades cadastradas naquele órgão, independentemente da situação do imóvel perante a legislação de proteção ambiental vigente. Essa cooperação é desejada, pois a inexistência de sintonia entre secretarias e mesmo entre nível local e estadual de gestão ambiental urbana vem prejudicar a coletividade. Desse modo, como seria possível valorizar e controlar a preservação ambiental local, sem a cobrança da obediência também às legislações estadual e federal, quando ocorrem invasões? Também não se pode esquecer, ainda, que nessa situação de preservação ambiental há o agravante no fato dos proprietários de imóveis não cumprirem os prazos estabelecidos pela municipalidade para a regularização dos imóveis. Este descumprimento de prazo determina a aplicação de penalidade, exigindo o pagamento de multa. Mas, quem está preocupado com multa? Praticamente há o “desconhecimento” generalizado entre os moradores locais, das normas que regem o uso do solo na região da Serra do Itapeti. O zoneamento instituído pela legislação de preservação e proteção ambiental é totalmente ignorado, inclusive, muitas vezes mesmo por agentes técnicos do município, responsáveis pela fiscalização da área protegida. Segundo a Promotoria de Justiça de Mogi das Cruzes (SÃO PAULO, 1999), visitas feitas à Serra do Itapeti levaram à constatação que existem ações de controle desenvolvidas pela administração municipal, embora estas se restrinjam ao embargo de edificações em fase de construção e à notificação de todos aqueles que respondem pelas áreas ocupadas, a fim de que regularizem a situação do imóvel junto à Secretaria Estadual do Meio Ambiente; etapa esta indispensável para seu licenciamento no âmbito municipal. Tais intimações têm sido realizadas, entretanto, por vezes sem diferenciar os casos passíveis de regularização daqueles sabidamente não-regularizáveis. Desse modo, o procedimento tem encaminhado os autuados à Secretaria Estadual do Meio Ambiente, localizada em São Paulo. O orgão os orientará quanto a documentos e outras exigências requeridas para abertura de processo de licenciamento. Situações como estas pesam ain-

da mais para esses proprietários e também para a coletividade, pela demora na regularização dessas situações. Esta forma de gerir a ocupação ambiental, conforme se observa no quadro apresentado, mostra que os princípios consolidados na legislação de proteção ambiental, que abrange inclusive a Serra do Itapeti, definidos no artigo 2º da Lei Estadual Nº. 4.529/85 e reafirmados em sua regulamentação – não estão sendo cumpridos.

Fatores de reversão Buscando promover a reversão desse processo, a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo de Mogi das Cruzes instaurou Inquérito Civil (I.C. Nº. 001/99 de 29 de junho de 1999) focalizando a ocupação irregular do solo na Serra do Itapeti, que se encontra em desacordo com a Lei Estadual Nº. 4.529/85 (SÃO PAULO, 1999). Por sua vez, a Polícia Florestal, em parceria com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, realizou pesquisas constatando que os desmatamentos realizados são, em sua maioria, realizados pelos próprios proprietários de atuais terrenos e glebas existentes no interior da Serra do Itapeti. Estes acabam desmatando para construir para uso próprio, casas e chácaras, ou para finalidades recreativas como clubes e pesqueiros. Vale observar que o poder público, nas esferas municipal ou estadual, teria condições de controlar essas irregularidades, caso tivesse uma atuação mais efetiva no monitoramento do uso e ocupação do solo nessa área. Entretanto, a grande preocupação recai sobre o crescente número de ocupações irregulares que têm levado à formação de favelas na Serra do Itapeti, onde as possibilidades de controle e solução dos impactos negativos que produzem são diminutas. Diante desses fatos, a questão que se levanta é como o Poder Público pode intervir buscando regularizar situações como essas? A Polícia Florestal calcula que, se não houver um controle feito diretamente pelos órgãos governamentais competentes para regularizar esses casos, e a situação de desmatamento continuar, praticamente não haverá mais mata nativa (natural) na Serra do Itapeti daqui a dez ou 15 anos. A gravidade desses fatos pode ser observada, de um lado por meio das contínuas denúncias realizadas pelo Ministério Público, pelos Promotores de Justiça do Meio Ambiente e da Habitação e Uso do 70


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Solo. Por outro lado, pelo fato de que a proteção ambiental, abrangendo a preservação da natureza em todos os seus elementos essenciais à vida humana e à manutenção do equilíbrio ecológico, visa tutelar as condições do meio ambiente em função da qualidade de vida, pois esta é direito fundamental da pessoa humana. As infrações cometidas comprometem os elementos paisagísticos da região, a estabilidade do terreno e das nascentes, a permeabilidade do solo e o equilíbrio da fauna e da flora, atributos esses que garantem a manutenção de um ecossistema protegido e contribuem para o bem-estar dos habitantes da Região Metropolitana de São Paulo. Como então, avaliar e controlar os problemas ambientais urbanos sob o ponto de vista da sustentabilidade? Entendendo-se que o conceito de sustentabilidade no meio urbano é o resultado do equilíbrio entre as ações antrópicas e seus conflitos pelos recursos, é que se podem valorizar as discussões em prol da conscientização sobre os limites e possibilidades de se contar com gestões locais baseadas em estratégias de desenvolvimento sustentável. Em outras palavras, é preciso que o cidadão participe desse desenvolvimento promovendo-o de modo que ocorra sem destruição do meio ambiente, permitindo, outrossim, sua constante renovação para que possa ser palco do crescimento das futuras gerações. Claro está que um programa de desenvolvimento urbano sustentável acaba interferindo na realidade cotidiana materializada por determinadas rotinas. Estas devem passar a incorporar princípios que permitam manter a ecologia dos sistemas urbano e natural, como a implantação de medidas do usuário pagador e poluidor-pagador em amplo sentido, que permita a regeneração daquilo que for destruído, saneando ou mitigando os impactos negativos, desenvolvendo processos de produção mais limpa, saudáveis ao ambiente natural e construído e recuperando áreas degradadas. Talvez assim, seja possível contar, como resultado, com um desenvolvimento mais sustentável. Desse modo, destacam-se numa abordagem da sustentabilidade no meio urbano, três importantes eixos de atuação: 1) a ação da população urbana em seu meio, uso, ocupação e formas de reconhecimento desta ação; 2) a identificação da forma ou expressão espacial que esta ação pode assumir; 3) a verificação de ações pró-ativas considerando suas possibilidades e limites, ao buscar respostas que induzam e facilitem condutas positivas ambientalmente saudáveis em relação ao ambiente urbano.

Considerações finais A gravidade da situação ambiental das áreas de preservação aponta para a precariedade do controle de sua preservação, como é o exemplo da Serra de Itapeti; este caso é conhecido pelas contínuas denúncias realizadas pelo Ministério Público, pelos seus Promotores de Justiça do Meio Ambiente e da Habitação e Uso do Solo. Na expectativa de solução para casos como estes, espera-se que esta preservação preconizada para a Serra do Itapeti encontre guarida na capacidade do Poder Público em implantar medidas alternativas que possibilitem controlar a ocupação irregular e valorizar as áreas de preservação. Nesse sentido é que, a guisa de conclusão, procuram-se identificar algumas alternativas de políticas públicas em prol da preservação de áreas como a Serra do Itapeti, cujas medidas adotadas possam contribuir para o controle do uso e ocupação do solo desses patrimônios da coletividade: 1) o efetivo o cumprimento do art. 40, da Lei Estadual Nº. 4.529/85, que estabelece que para a execução do disposto na Lei poderá o Poder Executivo pela sua Administração Direta ou Indireta, inclusive pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente, celebrar convênios com as municipalidades como Guararema e Mogi das Cruzes e suas comunidades, visando dentre outros objetivos à fiscalização, aprovação de projetos e cumprimento das obrigações fixadas nesta lei; 2) a implementação de mecanismos de gestão que permitam transferir para os moradores, organizados em associações, a responsabilidade pela preservação, manutenção e restauração das áreas ocupadas. Desse modo, procura-se assegurar o cumprimento da legislação ambiental e urbanística e, em decorrência, valorizar o território do entorno. Somente assim se estaria promovendo o desenvolvimento sustentável, por meio da escolha de estratégias relacionadas com a capacidade de operacionalização das associações de moradores; 3) o redirecionamento do processo de expansão urbana do município de Mogi das Cruzes, fundamentando-se no Plano-Diretor vigente, por meio de incentivos e outros mecanismos constantes do Estatuto da Cidade, que enfatizem uma ocupação que acompanhe a 71


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estrutura linear existente na cidade, que preferencialmente se distribui no sentido leste-oeste. Evita-se assim que essa ocupação se prolifere desordenadamente, principalmente para norte em direção à Serra do Itapeti; 4) a criação de novas áreas de proteção ambiental, com a participação da população no Subcomitê de Bacia do Alto Tietê-Cabeceiras, em conformidade com os Planos-Diretores Municipais, de modo a formar uma rede interligada de áreas ambientalmente protegidas, abrangendo os municípios desta região, em especial Mogi das Cruzes e Guararema; estimulando o ecoturismo, como fonte de lazer, cultura e de negócios regionais. Nesse sentido, é importante que os municípios incentivem em seus planos-diretores a implantação de empreendimentos urbanos voltados para o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis, abrangendo tanto quanto possível áreas próximas ao “entorno” das represas e áreas de proteção, dentro dos limites permitidos por lei; 5) a criação de incentivos fiscais para que os atuais proprietários de imóveis urbanos venham a fazer a manutenção das áreas livres e públicas com espécies vegetais locais e de interesse de preservação permanente, conforme o artigo 2º do Código Florestal; 6) a identificação de áreas urbanas próximas aos locais de moradia da população, para a relocação das ocupações ilegais existentes,

que permitam desocupar as áreas construídas com habitações irregulares ou ilegais, assim como minimizar os impactos ambientais nos locais daquelas ocupações que não possam ser removidas; 7) a promoção de integração das atividades dos órgãos municipais, iniciativa privada, organizações não-governamentais (ONGs) e universidades visando desenvolver um programa de educação ambiental e um programa de fiscalização, conscientização e recuperação da Serra do Itapeti; 8) a procura do entendimento da possibilidade de participação na preservação da Serra do Itapeti para toda a sociedade civil, incentivando a formação de parcerias com as Universidades locais, com o Subcomitê de Bacia do Alto-Tietê, entre outros, de modo a aumentar o envolvimento dos cidadãos na valorização e preservação ambiental. Campanhas divulgando essa possibilidade podem ganhar importância, na medida em que envolvam a preservação da Mata Atlântica, principalmente aquela existente no município de Mogi das Cruzes. O governo local pode estabelecer um pacto social voltado para o desenvolvimento sustentável no meio urbano. Passa-se assim a buscar soluções para os problemas ambientais e sociais relatados anteriormente, definindo claramente os custos a serem despendidos em prol do bem-estar da comunidade.

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Degradação Ambiental da Serra do Itapeti

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Briófitas da Serra do Itapeti Denilson Fernandes Peralta Olga Yano

Resumo As briófitas foram inventariadas na Serra do Itapeti, especificamente no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, em coletas de campo realizadas nos anos de 2005 e 2006. Foram registradas 216 espécies e uma variedade de briófitas; com 19 novas ocorrências para o Estado de São Paulo, sendo 14 Bryophyta e cinco Marchantiophyta. As famílias mais ricas foram Lejeuneaceae com 47 espécies, seguida de Bryaceae e Dicranaceae (10 espécies), Pilotrichaceae e Pottiaceae (9 espécies) e Jubulaceae e Radulaceae (8 espécies). Os gêneros mais ricos foram Lejeunea (9 spp.), Frullania (8 spp.), Fissidens e Radula (7 spp.) e Cheilolejeunea e Plagiochila (6 spp.).

te úmidas até as áreas de pouca umidade como cerrado, caatinga e deserto. Elas crescem nos mais variados substratos, tais como: tronco vivo e podre, húmus, superfície de rocha, em solo arenoso, argiloso e calcáreo, sobre folhas vivas, barrancos úmidos e diversos materiais orgânicos; e apresentam várias aplicações diretas e indiretas para o uso do homem. Os musgos têm grande importância no início da sucessão ecológica das florestas recém-devastadas, sendo responsáveis pela formação do húmus e a consequente redução do pH do solo, na retenção de água das chuvas e ainda pela formação de um ótimo substrato para a germinação de sementes. Há pássaros que utilizam as briófitas para a construção de seus ninhos, tornando-os mais macios (YANO, 1992a). Os primeiros trabalhos representativos sobre briófitas realizados no Estado de São Paulo foram os de Hell (1969), que fez o levantamento das briófitas talosas da cidade de São Paulo e arredores. Em segui-

Introdução Há cerca de 15.000 espécies de briófitas no mundo, das quais 10.000 são musgos, 5.000 hepáticas, e 100 antóceros (GRADSTEIN et al., 2001; FRAHM, 2003). No Brasil, encontramos aproximadamente 3.125 espécies distribuídas em 450 gêneros e 110 famílias (YANO, 1996a). Para o Estado de São Paulo são estimadas 1.250 espécies, sendo conhecidas até o momento por volta de 1.166, que estão distribuídas em 274 gêneros (YANO, 1998b). As briófitas são representadas por três divisões: antóceros (Anthocerotophyta), musgos (Bryophyta) e hepáticas (Marchantiophyta). Popularmente são incluídas como briófitas muitas outras plantas. É muito comum serem denominadas de musgo, tanto as hepáticas como os fungos liquenizados, angiospermas da família Podostemonaceae e inúmeras Pteridófitas. As briófitas são encontradas em quase todos os ambientes, desde as florestas pluviais extremamen75


Denilson Fernandes Peralta e Olga Yano

da, tem-se o extenso trabalho de Yano (1975), com a família Leucobryaceae, no Estado de São Paulo. Na Tabela 1 são apresentadas os principais trabalhos publicados enfocando as briófitas na região continental do domínio de Mata Atlântica, próximo ao litoral do Estado de São Paulo. Já na Tabela

2 são enumeradas as pesquisas sobre as briófitas na região insular do domínio de Mata Atlântica, próximo ao litoral do Estado de São Paulo, e os trabalhos listados na Tabela 3 se referem às briófitas fora do domínio de Mata Atlântica, no interior do Estado de São Paulo.

Tabela 1. Relação dos trabalhos publicados sobre briófitas na região continental do domínio Mata Atlântica. Autor

Grupo de Briófitas

Vegetação

Município

Giancotti & Vital (1989)

Lejeuneaceae/Hepática

Mata Atlântica

Santo André (Paranapiacaba)

Yano & Mello (1989)

Phyllogoniaceae/Musgos

Mata Atlântica

São Paulo

Visnadi & Vital (1989)

Musgos e Hepáticas

Mata Atlântica

Iporanga

Mello & Yano (1991)

Musgos

Mata Atlântica/Restinga

Peruíbe

Visnadi (1993)

Musgos/Meteoriaceae

Mata Atlântica

Estado de São Paulo

Yano & Carvalho (1993)

Musgos

Mata Atlântica/Manguezal

Itanhaém

Vital & Visnadi (1994)

Musgos e Hepáticas

Mata Atlântica

Peruíbe

Yano (1996b)

Mniaceae, Rhizogoniaceae, Racopilaceae, Phyllogoniaceae e Leucobryaceae/Musgos

Mata Atlântica

São Paulo

Yano & Oliveira e Silva (1997) Fissidentaceae/Musgo

Mata Atlântica

São Paulo

Visnadi & Vital (1997)

Mata Atlântica/Casa de Vegetação

São Paulo

Musgos e Hepáticas

Visnadi (1998)

Musgos e Hepáticas

Mata Atlântica

Ubatuba

Visnadi & Vital (2000)

Musgos e Hepáticas

Mata Atlântica

São Paulo

Mello et al. (2001)

Musgos e Hepáticas

Mata Atlântica/Orquidário

Santos

Yano (2002)

Lejeuneaceae/Hepática

Mata Atlântica/Manguezal

Litoral Sul

Visnadi (2004a)

Musgos e Hepáticas

Mata Atlântica/Praias

Estado de São Paulo

Yano & Peralta (2006)

Musgos e Hepáticas

Mata Atlântica/Restinga

Iguape

Yano et al. (2009)

Musgos e Hepáticas

Mata Atlântica

Santo André/Paranapiacaba

Tabela 2. Relação dos trabalhos publicados sobre briófitas na região insular do domínio de Mata Atlântica, próximo ao litoral do Estado de São Paulo. Autor

Grupo de Briófitas

Vegetação

Município

Yano et al. (2003)

Musgos e Hepáticas

Ilha Urubuqueçaba

Santos

Yano (1990)

Leucobryaceae Sphagnaceae Rhizogoniaceae/Musgos

Ilha do Cardoso

Cananeia

Visnadi & Vital (2001)

Musgos e Hepáticas

Joyce et al. (2006) Yano & Peralta (2007) Peralta & Yano (2008) Yano & Peralta (2008)

Musgos e Hepáticas Musgos e Hepáticas Musgos e Hepáticas Musgos e Hepáticas

Ilhas de Alcatrazes, do Bom Abrigo, da Casca e do Castilho Ilha das Palmas Ilha do Bom Abrigo Ilha Anchieta Ilhabela

Cananeia Guarujá Cananeia Ubatuba São Sebastião

Tabela 3. Relação dos trabalhos sobre as briófitas fora do domínio de Mata Atlântica, no interior do Estado de São Paulo. Autor

Grupo de Briófitas

Vegetação

Município

Visnadi & Monteiro (1990)

Musgos e Hepáticas

Cerrado/Urbano

Rio Claro

Yano & Santos (1993)

Musgos

Mata Ciliar/Cerrado

Mirassol

Visnadi (2004b)

Musgos e Hepáticas

Cerrado

Mogi-Guaçu

Peralta & Yano (2005)

Musgos e Hepáticas

Mata Ciliar/Cerrado

Zacarias

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Briófitas da Serra do Itapeti

Apesar desses trabalhos, a Flora Briofítica do Estado de São Paulo ainda não é suficientemente estudada. No Estado de São Paulo está o maior número de especialistas, e ainda há muitas áreas que necessitam serem exploradas para aprofundar o conhecimento deste grupo vegetal. Como é o caso da Serra do Itapeti, que é uma área de Mata Atlântica no interior do Estado de São Paulo, que ainda não teve a sua flora briofítica estudada. Assim, o objetivo deste trabalho foi elaborar uma lista das espécies de briófitas: Anthocerotophyta (antóceros), Bryophyta (musgos) e Marchantiophyta (hepáticas), especificamente do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, que é uma Unidade de Conservação.

distribuídas em 121 gêneros e 56 famílias. Duas espécies pertencem a Anthocerotophyta, 112 a Bryophyta e 103 a Marchantiophyta. As famílias mais ricas foram Lejeuneaceae com 47 espécies, seguida de Bryaceae e Dicranaceae (10 espécies), Pilotrichaceae e Pottiaceae (9 espécies) e Jubulaceae e Radulaceae (8 espécies). Dos 217 táxons encontrados, 19 são novas ocorrências para o Estado de São Paulo, sendo 14 Bryophyta e cinco Marchantiophyta. Os gêneros mais ricos foram Lejeunea (9 spp.), Frullania (8 spp.), Fissidens e Radula (7 spp.) e Cheilolejeunea e Plagiochila (6 spp.). Essas novas ocorrências estão assinaladas por asterisco na Tabela 4.

Discussão Metodologia

A maioria das espécies registradas, apresenta distribuição geográfica brasileira ampla e estritamente ligada à Mata Atlântica. O total de espécies neste inventário corresponde a 62% das 353 espécies listadas por Visnadi (2005), que estudou cinco municípios de Mata Atlântica na região norte do Estado de São Paulo. Comparando-se os dois levantamentos, pode ser constatado que 118 espécies foram compartilhadas e 102 ocorreram apenas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. A ocorrência de novas citações para o Estado de São Paulo mostra a importância da preservação de remanescentes, como é o caso da Unidade de Conservação estudada. Entre as Marchantiophyta, Lejeuneaceae apresenta grande diversidade na maioria dos biomas brasileiros e é a família mais rica. Neste inventário, esse táxon corresponde a 21% das espécies encontradas na área, seguida de Jubulaceae e Radulaceae; que também são duas famílias características do bioma Mata Atlântica. Já entre as Bryophyta, os acrocárpicos como Bryaceae, Dicranaceae e Pottiaceae foram os mais ricos, enquanto o pleurocárpico Pilotrichaceae foi a família mais rica. Esta família também é característica da Mata Atlântica. Espécies comuns em áreas de Mata Atlântica como: Bryum limbatum Müll. Hal., Callicostella pallida (Hornsch.) Ångstr. e Helicophyllum torquatum (Hook.) Brid., entre outras, não foram coletadas, o que deve estar relacionado apenas ao baixo número de expedições de coleta realizadas. Na tabela 4 é apresentada uma lista das espécies de briófitas ocorrentes no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. A lista está em ordem alfabética de família, gênero e espécies, dentro das Divisões Anthocerotophyta, Bryophyta e Marchantiophyta.

As briófitas foram coletadas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, seguindo a metodologia de coleta, preservação e herborização baseada em Yano (1984a). Para garantir boa amostragem, as coletas foram efetuadas por meio de caminhadas no interior e margem do Parque, procurando-se abranger a maioria dos ambientes disponíveis. Cada amostra foi retirada diretamente com as mãos ou com auxílio de canivete, acondicionadas em sacos de papel e secos diretamente ao ar. A identificação das amostras foi baseada nos trabalhos de Bastos (2004), Bischler-Causse et al. (2005), Buck (1998, 2003), Costa (1999, 2008), Dauphin-López (2003), Frahm (1991), Fulford (1963, 1968, 1976), Gradstein (1994), Gradstein & Costa (2003), Gradstein & Ilkiu-Borges (2009), Hell (1969), Ilkiu-Borges (2005), Ireland & Buck (2009), Lemos-Michel (2001), Ochi (1980, 1981), Pursell (2007), Reese (1993), Reiner-Drehwald (2000), Sharp et al. (1994), Yano (1979, 1984b, 1992b) e Zander (1993). As amostras também foram comparadas com material identificado por especialistas. O sistema de classificação foi baseado em Buck & Goffinet (2000) para Bryophyta, Crandall-Stotler & Stotler (2000) para Marchantiophyta e Stotler & Crandall-Stotler (2005) para Anthocerotophyta. O material testemunho está depositado no Herbário do Estado “Maria Eneyda P. Kauffmann Fidalgo”, São Paulo (SP), do Instituto de Botânica.

Resultados A análise das amostras coletadas no Parque Natural Municipal “Francisco Affonso de Mello”, resultou em 216 espécies e uma variedade de briófitas, 77


Denilson Fernandes Peralta e Olga Yano

Tabela 4. Lista de espécies ocorrentes no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Divisão Anthocerotophyta

Família ANTHOCEROTACEAE NOTOTHYLADACEAE BARTRAMIACEAE

BRACHYTHECIACEAE

BRYACEAE

CALYMPERACEAE

CRYPHAEACEAE Bryophyta

DICRANACEAE

ENTODONTACEAE FABRONIACEAE

FISSIDENTACEAE

FUNARIACEAE HOOKERIACEAE

HYPNACEAE

Espécie Anthoceros punctatus L. (Fig. 1) Phaeoceros leavis (L.) Prosk. * Leiomela bartramioides (Hook.) Paris Philonotis uncinata (Schwägr.) Brid. * Brachythecium occidentale (Hampe) A. Jaeger Meteoridium remotifolium (Müll. Hal.) Manuel * Oxyrrhynchium pringlei (Cardot) J.T. Wynns Rhynchostegium scariosum (Taylor) Steph. Squamidium leucotrichum (Taylor) Broth. Squamidium nigricans (Hook.) Broth. Zelometeorium ambiguum (Hornsch.) Manuel Zelometeorium patulum (Hedw.) Manuel Brachymenium consimile (Mitt.) A. Jaeger Brachymenium hornschuchianum Martius * Brachymenium systylium (Müll. Hal.) A. Jaeger Bryum argenteum Hedw. (Fig. 2) Gemmabryum coronatum (Schwägr.) J.R. Spence & H.P. Ramsay Gemmabryum exile (Dozy & Molk.) J.R. Spence & H.P. Ramsay Gemmabryum subapiculatum (Hampe) J.R. Spence & H.P. Ramsay Rhodobryum beyrichianum (Hornsch.) Müll. Hal. Rosulabryum densifolium (Brid.) Ochyra Rosulabryum huillense (Welw. & Duby) Ochyra Octoblepharum albidum Hedw. Syrrhopodon gaudichaudii Mont. Syrrhopodon parasiticus (Brid.) Besch. Syrrhopodon prolifer Schwägr. Schoenobryum concavifolium (Griff.) Gangulee Campylopus arctocarpus (Hornsch.) Mitt. Campylopus filifolius (Hornsch.) Mitt. var. humilis (Mont.) J.-P. Frahm Campylopus heterostachys (Hampe) A. Jaeger Campylopus pilifer Brid. Campylopus trachyblepharon (Müll. Hal.) Mitt. (Fig. 3) Dicranella hilariana (Mont.) Mitt. Holomitrium olfersianum Hornsch. Leucoloma serrulatum Brid. * Leucoloma tortellum (Mitt.) A. Jaeger * Pilopogon laevis (Taylor) Thériot Erythrodontium longisetum (Hook.) Paris Dimerodontium mendozense Mitt. Fabronia ciliaris (Brid.) Brid. Fissidens asplenioides Hedw. Fissidens elegans Brid. * Fissidens goyazensis Broth. Fissidens palmatus Hedw. Fissidens scariosus Mitt. Fissidens serratus Müll. Hal. (Fig. 4) Fissidens zollingeri Mont. Entosthodon bonplandii (Hook.) Mitt. Hookeria acutifolia Hook. & Grev. Chryso-hypnum diminutivum (Hampe) W.R. Buck Chryso-hypnum elegantulum (Hook.) Hampe Isopterygium tenerifolium Mitt. Mittenothamnium reptans (Hedw.) Cardot (Fig. 5) Taxiphyllum taxirameum (Mitt.) M. Fleisch. Vesicularia vesicularis (Schwägr.) Broth.

78


Briófitas da Serra do Itapeti

Tabela 4. (Continuação) Divisão

Família HYPOPTERYGIACEAE LEMBOPHYLLACEAE LEUCOBRYACEAE LEUCOMIACEAE METEORIACEAE MYRINIACEAE

NECKERACEAE

ORTHOTRICHACEAE

PHYLLOGONIACEAE

PILOTRICHACEAE

Bryophyta PLAGIOMNIACEAE

POLYTRICHACEAE

POTTIACEAE

PRIONODONTACEAE PTEROBRYACEAE PTYCHOMITRIACEAE RACOPILACEAE RHIZOGONIACEAE

SEMATOPHYLLACEAE

Espécie Hypopterygium tamarisci (Hedw.) Brid. Lopidium concinnum (Hook.) Wilson Orthostichella pentasticha (Brid.) W.R. Buck Leucobryum clavatum Hampe Leucobryum crispum Müll. Hal. Leucomium strumosum (Hornsch.) Mitt. Meteorium deppei (Müll. Hal.) Mitt. Meteorium nigrescens (Hedw.) Dozy & Molk. Floribundaria flaccida (Mitt.) Broth. Helicodontium capillare (Hedw.) A. Jaeger Neckeropsis undulata (Hedw.) Reichardt * Porotrichum korthalsianum (Dozy & Molk.) Mitt. Porotrichum longirostre (Hook.) Mitt. Porotrichum substriatum (Hampe) Mitt. Macrocoma orthotrichoides (Raddi) Wijk & Margad. Macromitrium cirrosum (Hedw.) Brid. * Macromitrium guatemalense Müll. Hal. Macromitrium richardii Schwägr. Schlotheimia rugifolia (Hook.) Schwägr. Schlotheimia tecta Hook. f. & Wilson Phyllogonium viride Brid. Cyclodictyon albicans (Hedw.) O. Kuntze Cyclodictyon varians (Sull.) O. Kuntze Lepidopilidium portoricense (Müll. Hal.) H.A. Crum & Steere Lepidopilum muelleri (Hampe) Mitt. Lepidopilum scabrisetum (Schwägr.) Steere Trachyxiphium guadalupense (Spreng. in Brid.) W.R. Buck Thamniopsis incurva (Hornsch.) W.R. Buck (Fig. 6) Thamniopsis langsdorffii (Hook.) W.R. Buck Thamniopsis undata (Hedw.) W.R. Buck Plagiomnium rhynchophorum (Hook.) T. Kop. Atrichum androgynum (Müll. Hal.) A. Jaeger Pogonatum pensilvanicum (Hedw.) P. Beauv. Polytrichadelphus pseudo-polytrichum (Raddi) G.L. Smith Polytrichum commune L. ex Hedw. Polytrichum juniperinum Willd. ex Hedw. * Bryoerythrophyllum inaequalifolium (Taylor) R.H. Zander * Didymodon rigidulus Hedw. Hyophila involuta (Hook.) A. Jaeger Hyophiladelphus agrarius (Hedw.) R.H. Zander Chionoloma schimperiana (Paris) M. Menzel Streptopogon cavifolius Mitt. Tortella humilis (Hedw.) Jenn. Tortula amphidiaceae (Müll. Hal.) Broth. * Weissia jamaicensis (Mitt.) Grout Prionodon densus (Hedw.) Müll. Hal. Calyptothecium duplicatum (Schwägr.) Broth. Pterobryon densum (Schwägr.) Hornsch. Ptychomitrium sellowianum (Müll. Hal.) A. Jaeger Racopilum tomentosum (Hedw.) Brid. Hymenodon aeruginosus (Hook. f. & Wilson) Müll. Hal. Pyrrhobryum spiniforme (Hedw.) Mitt. Acroporium estrellae (Müll. Hal.) W.R. Buck & Schäfer-Verw. Donnellia commutata (Müll. Hal.) W.R. Buck Sematophyllum cuspidiferum Mitt. Sematophyllum galipense (Müll. Hal.) Mitt. Sematophyllum subpinnatum (Brid.) E. Britton 79


Denilson Fernandes Peralta e Olga Yano

Tabela 4. (Continuação) Divisão Bryophyta

Família SEMATOPHYLLACEAE THUIDIACEAE ACROBOLBACEAE ANEURACEAE BALANTIOPSIDACEAE BRYOPTERIDACEAE CALYPOGEIACEAE CEPHALOZIELLACEAE FOSSOMBRONIACEAE HERBERTACEAE

GEOCALYCACEAE

JUBULACEAE

JUNGERMANNIACEAE

Marchantiophyta

LEJEUNEACEAE

Espécie Wijkia flagellifera (Broth.) H.A. Crum * Pelekium schistocalyx (Müll. Hal.) Touw Thuidium tomentosum Schimp. ex Besch. * Lethocolea glossophylla (Spruce) Grolle Aneura pinguis (L.) Dumort. Riccardia chamedryfolia (With.) Grolle Riccardia digitiloba (Steph.) Pagán Isotachis aubertii (Schwägr.) Mitt. Bryopteris filicina (Sw.) Nees Calypogeia grandistipula (Steph.) Steph. Calypogeia laxa Gottsche & Lindenb. Cylindrocolea rhizantha (Mont.) R.M. Schust. Fossombronia porphyrorhyza (Nees) Prosk. Herbertus bivittatus Spruce Lophocolea bidentata (L.) Dumort. (Fig. 7) Lophocolea liebmanniana Gottsche Lophocolea lindmanii Steph. Lophocolea martiana Nees Neesioscyphus homophylus (Nees) Grolle Frullania arecae (Spreng.) Gottsche Frullania beyrichiana (Lehm. & Lindenb.) Lehm. & Lindenb. Frullania brasiliensis Raddi Frullania caulisequa (Nees) Nees Frullania ericoides (Nees) Mont. Frullania glomerata (Lehm. & Lindenb.) Mont. Frullania neesii Lindenb. Frullania riojaneirensis (Raddi) Ångstr. (Fig. 8) Jungermannia amoena Lindenb. & Gottsche Acanthocoleus aberrans (Lindenb. & Gottsche) Kruijt Anoplolejeunea conferta (Meissn. ex Spreng.) A. Evans Ceratolejeunea cornuta (Lindenb.) Schiffn. Cheilolejeunea acutangula (Nees) Grolle Cheilolejeunea adnata Grolle Cheilolejeunea holostipa (Spruce) Grolle & R.-L. Zhu Cheilolejeunea oncophylla (Ångstr.) Grolle & E. Reiner Cheilolejeunea rigidula (Nees ex Mont.) R.M. Schust. Cheilolejeunea trifaria (Reinw. et al.) Mizut. Cheilolejeunea unciloba (Lindenb.) Malombe Cheilolejeunea xanthocarpa (Lehm. & Lindenb.) Malombe Cololejeunea cardiocarpa (Mont.) A. Evans Cololejeunea clavatopapillata Steph. * Cololejeunea cornutissima (R.M. Schust.) Pócs * Cololejeunea minuscula Pócs Cololejeunea subcardiocarpa P. Tixier Cololejeunea verwimpii P. Tixier Drepanolejeunea bidens Steph. Drepanolejeunea lichenicola (Spruce) Steph. Drepanolejeunea mosenii (Steph.) Bischler Frullanoides tristis (Steph.) van Slageren Harpalejeunea stricta (Lindenb. & Gottsche) Steph. Harpalejeunea subacuta A. Evans Lejeunea bermudiana (A. Evans) R.M. Schust. Lejeunea adpressa Nees Lejeunea cristulata (Steph.) E. Reiner & Goda Lejeunea flava (Sw.) Nees (Fig. 9) Lejeunea glaucescens Gottsche Lejeunea grossitexta (Steph.) E. Reiner & Goda 80


Briófitas da Serra do Itapeti

Tabela 4. (Continuação) Divisão

Família

LEJEUNEACEAE

MARCHANTIACEAE Marchantiophyta METZGERIACEAE

MONOCLEACEAE PALLAVICINIACEAE PELLIACEAE

PLAGIOCHILACEAE

RADULACEAE

TRICHOCOLEACEAE

Espécie Lejeunea laetevirens Gottsche Lejeunea deplanata Nees Lejeunea monimiae (Steph.) Steph. Leptolejeunea diversilobulata Bischler Leptolejeunea elliptica (Lehm. & Lindenb.) Schiffn. Lopholejeunea nigricans (Lindenb.) Schiffn. Microlejeunea bullata (Taylor) Steph. Microlejeunea epiphylla Bischler Neurolejeunea breutelii (Gottsche et al.) A. Evans Odontolejeunea lunulata (Weber) Schiffn. Omphalanthus filiformis (Sw.) Nees Prionolejeunea aemula (Gottsche) A. Evans Taxilejeunea isocalycina Steph. Taxilejeunea lusoria (Lindenb. & Gottsche) Steph. Taxilejeunea obtusangula (Spruce) A. Evans * Taxilejeunea terricola Steph. Bazzania aurescens Spruce Bazzania hookerii (Lindenb.) Trevis. (Fig. 10) Kurzia brasiliensis (Steph.) Grolle Paracromastigum pachyrhyzum (Nees) Fulford Telaranea nematodes (Gottsche ex Austin) M. Howe Dumortiera hirsuta (Sw.) Nees (Fig. 11) Marchantia chenopoda L. Metzgeria albinea Spruce Metzgeria conjugata Lindb. Metzgeria convoluta Steph. Metzgeria leptoneura Spruce Metzgeria uncigera A. Evans Monoclea gottschei Lindb. Symphyogyna aspera Steph. ex McCormick Symphyogyna brasiliensis (Nees) Nees & Mont. Symphyogyna podophylla (Thunb.) Mont. & Nees Noteroclada confluens Taylor ex Hook. f. & Wilson Plagiochila bifaria (Sw.) Lindenb. Plagiochila corrugata (Nees) Nees & Mont. Plagiochila disticha Mont. Plagiochila martiana (Nees) Lindenb. Plagiochila rutilans Lindenb. Plagiochila simplex (Sw.) Lindenb. Radula fendleri Gottsche ex Steph. * Radula gottscheana Taylor Radula javanica Gottsche (Fig. 12) Radula kegelii Gottsche ex Steph. Radula nudicaulis Steph. Radula quadrata (Hedw.) Mitt. Radula tectiloba Steph. Trichocolea brevifiss a Steph. Trichocolea flaccida (Spruce) J.B. Jack & Steph.

* Nova ocorrência para o Estado de São Paulo.

81


Denilson Fernandes Peralta e Olga Yano

A amostragem de um grande número de espécies de briófitas, além de novas ocorrências para o Estado de São Paulo, mostra a importância da Unidade de Conservação estudada para a preservação da biodiversidade, e confirma a necessidade de realização de mais inventários florísticos para o conhecimento da flora briofítica deste ecossistema.

Considerações finais O Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello está localizado na Serra do Itapeti, que faz parte do domínio da Mata Atlântica. Pelas condições proporcionadas por este bioma, quanto à umidade e disponibilidade de substrato, as briófitas encontram uma variedade de microambientes essenciais para o seu desenvolvimento.

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Briófitas da Serra do Itapeti

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Bri贸fitas da Serra do Itapeti

1

2

3

4

5

6

Figuras 1-6. Bri贸fitas. (1) Anthoceros punctatus L.; (2) Bryum argenteum Hedw.; (3) Campylopus trachyblepharon (M眉ll. Hal.) Mitt.; (4) Fissidens serratus M眉ll. Hal.; (5) Mittenothamnium reptans (Hedw.) Cardot; (6) Thamniopsis incurva (Hornsch.) W.R. Buck.

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Denilson Fernandes Peralta e Olga Yano

7

8

9

10

11

12

Figuras 7-12. Briófitas. (7) Lophocolea bidentata (L.) Dumort.; (8) Frullania riojaneirensis (Raddi) Ångstr.; (9) Lejeunea flava (Sw.) Nees; (10) Bazzania hookerii (Lindenb.) Trevis.; (11) Dumortiera hirsuta (Sw.) Nees; (12) Radula javanica Gottsche.

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Reflexões e ações para a construção da Agenda 21 da Serra do Itapeti Maria Henriqueta Andrade Raymundo

Resumo Por uma educação ambiental de características crítica, abrangente, democrática e participativa, a Serra do Itapeti, em Mogi das Cruzes, foi o centro de reflexões e ações para a proteção dos recursos naturais, históricos e culturais deste remanescente de Mata Atlântica na Região Metropolitana de São Paulo. A riqueza biológica e a beleza da Serra, em meio ao seu processo de degradação, tornaram-se cenário para o protagonizar da educação ambiental em busca de caminhos que contribuíssem com a qualidade de vida. Da conservação de biodiversidade à construção de cidadania, do humilde morador ao promotor de justiça, das ações às reflexões, da intervenção social ao conhecimento científico: estes foram alguns pontos percorridos pela pesquisa/intervenção em educação ambiental na Serra do Itapeti desenvolvida entre os anos de 2000 a 2003. A pesquisa teve o objetivo geral de contribuir para a produção de conhecimentos comprometidos com a melhoria da qualidade de vida e conservação dos recursos naturais, históricos e culturais da Serra. Os atores participantes estão inseridos em grupos da sociedade civil e do poder público, integrados em torno da construção de uma Agenda 21 local. O cerne da pesquisa foi a participação individual e coletiva a partir de reflexões sobre educação ambiental vista como possibilidade de construção da cidadania para emancipação de sujeitos. A Agenda 21 local é colocada aqui como um fim desencadeador de meios para o desenvolvimento da educação ambiental, em um estímulo e facilidade à participação e organização dos variados segmentos da sociedade com diversificados interesses pela Serra do Itapeti. Ocorreu conciliação e permeação de elementos da metodologia qualitativa, intervenção social e técnicas de planejamento, que se construíram e reconstruíram à medida que se faziam necessárias. Como resultados dessa pesquisa-intervenção, apresentaram-se os olhares técnicos, acadêmicos, políticos e populares, que, entrelaçados, organizaram-se para a viabilização das sugestões, ações e desejos apontados pelos envolvidos na construção da Agenda 21 da Serra do Itapeti. Houve uma análise das formas de participação dos sujeitos da pesquisa e da compreensão que os moradores da Serra têm sobre suas realidades.

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do que representam, portanto, pressupõe-se que o destino de nossa existência atrelado a este poder das ideias deve ser envolvido em processos de educação ambiental emancipatória, numa tentativa de assegurar que o poder das ideias seja canalizado para uma criticidade capaz de mediação dos atos do sujeito e da sociedade sobre a sustentabilidade socioambiental. Assim, a educação ambiental é importante para explorar caminhos em busca do conhecimento do povo, que deve se apoderar de conhecimentos vindos de sua vivência, de seu saber cotidiano, de suas necessidades, de seus desejos para conquistar sua emancipação. Educar para participar criativa e criticamente como forma de reação aos poderes indesejados de decisão sobre nossas vidas, que costumeiramente caminham em direção contrária às nossas necessidades mais íntimas e também coletivas, quando nos ausentamos do poder esclarecido e crítico que podemos deter. A educação ambiental proposta para a Serra do Itapeti vai ao encontro da inclusão de sujeitos nos processos participativos, passando pela criação de espaços democráticos com objetivo de fortalecimento por meio das relações dialógicas. Aliando educação à participação, poderíamos sonhar com o povo exercendo de forma positiva a emancipação dos sujeitos. Foi em busca dessa utopia que o processo de construção da Agenda 21 local da Serra do Itapeti se estruturou, criando inúmeras estratégias para possibilitar o espaço crítico e criativo necessário para desabafos, socialização de informações, diálogos, reflexões, ações, trocas solidárias de experiências, construção e produção de conhecimentos socioambientais.

Agenda 21 local e seu entrelaçamento à educação ambiental Indicada como o mais importante resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, a Agenda 21, assinada por mais de 150 países, é apresentada em forma de um plano de ação estratégico para o desenvolvimento sustentável. Reportando-nos ao documento Agenda 21, capítulo 28, localizamos a “Agenda 21 Local” como recomendação que deveria ser iniciada logo após a Conferência, porém, foram inúmeras dificuldades para o êxito deste cumprimento. Recomendada amplamente no documento Agenda 21 a partir de várias imbricações, a educação ambiental desempenha papel fundamental no processo de construção de Agendas 21 locais, com vistas a propiciar oportunidades de participação nas tomadas de decisão, que definem os rumos da sociedade imbuída do sujeito social. Acredita-se ser razoavelmente fácil e possível combinar e garantir de fato a oportunidade de participação, democracia, atendimento aos desejos de conservação e qualidade de vida durante o processo de construção de uma Agenda 21 local, dependendo principalmente do ponto de partida desta construção, que pode ser da sociedade civil ou do poder público. Difícil mesmo é garantir esta mesma combinação após o processo, ou seja, no momento da implementação da Agenda. Portanto, é necessário desenvolver estratégias pedagógicas que possibilitem comunidades e sociedade civil organizada descobrirem suas potencialidades como fonte de poder para concretizar seus projetos. Em meio às inúmeras relações de poder estabelecidas e vivenciadas, cita-se aqui o poder do povo. Este se associa diretamente ao conhecimento, conforme estudado em Tassara (1995) e Foucault (1999, p.23) que diz: “é somente nas relações de luta e poder - na maneira como as coisas entre si, os homens entre si procuram dominar uns aos outros, querem exercer, uns sobre os outros, relações de poder – que compreendemos em que consiste o conhecimento”. Ainda em Foucault (1999, p.121), encontramos “um poder que atravessa e anima todos os outros poderes, é o poder epistemológico, poder de extrair dos indivíduos um saber, extraído dos próprios indivíduos, a partir do seu próprio comportamento”. As ideias dos indivíduos podem ser vistas como uma forma de poder, principalmente se essas ideias estiverem conectadas à busca de consciência crítica

Os olhares sobre a Serra do Itapeti A pesquisa-intervenção realizada (RAYMUNDO, 2002) foi construída com os referenciais teóricos de metodologias qualitativas, planejamento e intervenção social que se estruturam em formas de conhecer e compreender a realidade, identificar necessidades e desenvolver estratégias para minimizar os problemas, ao mesmo tempo em que visa a produção de novos conhecimentos (BORDA, 1982; COSTA, 1986; LUDKE & ANDRÉ, 1986; PATTON, 1990; FREIRE, 1997). Partimos da escolha dos segmentos da sociedade a serem envolvidos no referido processo, ressaltando que não foi neutro o elenco destes grupos feito pela pesquisadora, que atuava como educadora ambiental na Serra do Itapeti há quase dez anos. Desta forma, os grupos de interesse direto e indireto foram escolhidos com identificação de divergências e convergências de ações e ideias. 88


Reflexões e ações para a construção da Agenda 21 da Serra do Itapeti

Para cada grupo foram utilizadas técnicas e/ou estratégias para a participação, que possibilitassem uma contribuição inicial na construção da Agenda 21 local, por meio de um mapeamento de suas expectativas, aspirações, sonhos, problemas e sugestões de soluções para a Serra do Itapeti. Para melhor compreensão dos resultados, reflexões e considerações são apontadas, na sequência, as técnicas e estratégias da pesquisa/intervenção realizada. Durante a realização das atividades citadas no Quadro 1 (RAYMUNDO, 2002), foi realizado também um mapeamento com perguntas centrais, que se referiam aos sonhos, problemas e soluções para os problemas da Serra, sendo isto a base para a construção da Agenda 21 local. Os resultados obtidos neste mapeamento de cada grupo foram intitulados de Olhares sobre a Serra do Itapeti1, que foram sintetizados para fins de sistematização, com a garantia da essência das informações dadas, sendo possível que cada sujeito participante da pesquisa se reconhecesse em seu grupo. Após o levantamento e sistematização das versões dos Olhares de cada grupo, uma versão unificada dos problemas e soluções foi discutida e refletida durante uma reunião que envolveu representantes de todos os grupos.

Ao fim das discussões sobre a versão unificada dos Olhares, outro resultado surgido da reflexão conjunta em reunião geral com os grupos foi a criação da “Comissão da Agenda 21 da Serra do Itapeti”, composta por integrantes dos segmentos ali representados. Os Olhares, que são frutos das variadas técnicas desenvolvidas com os distintos grupos da pesquisa, representam a fala, o discurso, a percepção, os sentimentos, a visão e as ações de cada um; cada qual apontando e defendendo sua posição e sua verdade, segundo teorias e práticas científicas, técnicas, políticas, poéticas, acadêmicas, militantes, populares, jurídicas, econômicas, enfim, individuais e coletivas. Com objetivo geral de transformar os Olhares num plano de ação da Agenda 21 da Serra do Itapeti, além de coordenação do processo, a referida Comissão desenvolveu diversas atividades que propiciaram aprofundamentos nas discussões e reflexões dos seus integrantes, convidados e sociedade de forma geral. O trabalho desenvolvido pela Comissão da Agenda 21 da Serra do Itapeti passou por diversos assuntos e momentos delicados, que eram carregados da subjetividade de seus participantes, mas que confluíam ao direito de socializar, discutir, refletir e decidir conjuntamente, num alcance de resultados positivos a partir do esforço coletivo.

Quadro 1. Estratégias desenvolvidas para a participação dos segmentos1. GRUPO / SEGMENTO DA SOCIEDADE

TÉCNICA / ESTRATÉGIA DE PARTICIPAÇÃO

1) Técnicos (profissionais de diversas áreas do poder público, ministério público e sociedade civil)

a) Reuniões b) Seminários, encontros, exposições c) Entrevistas

2) Estudantes Universitários das Universidades Mogianas

a) Curso de educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Conservação da Serra do Itapeti b) Estágio c) Palestras-Oficinas

3) Moradores da Serra do Itapeti

a) Questionários b) Entrevistas c) Reuniões

4) Professores dos Ensinos Fundamental e Médio

a) Curso de educação Ambiental e Agenda 21 b) Palestras-Oficinas

5) Professores das Universidades Mogianas

a) Entrevistas

1 Os Olhares sobre a Serra do Itapeti encontram-se na encadernação “Agenda 21 Local da Serra do Itapeti” entregue no ano de 2003 em ato público, ao Poder Público e sociedade civil, além dos representantes dos segmentos envolvidos na sua construção. Encontram-se também arquivados na biblioteca da Universidade de São Paulo – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, como parte da Dissertação Educação ambiental na Serra do Itapety, Mogi das Cruzes (SP), construindo uma Agenda 21 local (RAYMUNDO, 2002). 89


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Educação ambiental e as interpretações dos segmentos envolvidos na construção da Agenda 21 da Serra do Itapeti

tornando-se assim difícil a percepção ou resgate de memória de tranquilidade, vegetação ou natureza, oposto ao que ocorre com os moradores que ocupam a área há mais de 20 anos. Estabelecendo relação com a pergunta anterior, na tentativa de reconstrução do passado e construção de um presente desejado na ótica dos moradores, questionamos: Como gostaria que a Serra do Itapeti estivesse hoje? Encontramos nas respostas, um contraste entre passado - presente desejado, com a lembrança de percepção de tranquilidade e natureza substituída pela desejada urbanização, que ultrapassou 50% das respostas. Destacou-se também um presente desejado indeterminado, sem formas, sem desejos, manifestado por aqueles que dizem não saber como gostariam que a Serra do Itapeti estivesse hoje e ainda alguns que não percebem diferenças entre passado e presente. As respostas à outra pergunta, feita com a intenção de captar a percepção ou reforçar aquilo já apreendido nas respostas anteriores, visando ainda encontrar uma essência da representação da Serra na vida destes moradores, mostraram uma repetição das ideias destes, manifestadas, desta vez, como representação de seus sentimentos e não como desejo ou memória da Serra. Novamente encontramos um contraste, num reforço de ideias sobre a natureza, tranquilidade e bem-estar, acrescidas de beleza e, em outro extremo, a presença da não-ideia, o amorfo, o impensado, talvez o não-sentido, por isto o não-sabido. Enquanto as memórias sobre e a representação da Serra giram fortemente em torno da natureza, tranquilidade e beleza, os desejos manifestados para a vida presente concentram-se em urbanização. Talvez na concepção desses moradores exista uma perfeita normalidade em conciliar o urbano com a natureza e tranquilidade, ou talvez eles estejam demonstrando que seus desejos não são para a Serra do Itapeti e sim para suas vidas em algum outro local em que seja possível a urbanização. Há uma maioria que não escolheu a Serra do Itapeti para morar, mas se viu obrigada a instalar-se nela por motivos de trabalho, oportunidades fáceis, família, herança e outros que, de alguma forma, poderiam levar a ocupação para qualquer outra área. Deste modo, torna-se difícil desejar, sentir ou pensar em algum significado para um lugar que não escolhemos para morar, mas que fomos levados pelas circunstâncias a ocupá-lo. Pode ser que se encontre aí o motivo para um grande não-saber manifestado na memória, desejos e representações da Serra do Itapeti.

No envolvimento dos grupos nas diferentes estratégias apresentadas foram realizadas, para cada um deles, análises e interpretações das características, formas e motivos de participação, com base principalmente na “potência de ação”, conceito descrito no Tratado de Ética do filósofo holandês, Baruch Espinosa (1632-1677). A potência de ação é estudada também por alguns pesquisadores contemporâneos como Sawaia (2001), que explica ser a “capacidade das pessoas serem afetadas por outras, num processo de possibilidades infinitas de criação e de entrelaçamento nos bons e maus encontros”. O processo desenvolvido pela pesquisa gerou questionamentos e ao mesmo tempo produção de conhecimentos necessária para melhor entendimento da situação estudada sobre a Serra do Itapeti, o que poderia contribuir para a melhoria socioambiental desejada.

Moradores da Serra do Itapeti O grupo dos moradores foi apontado, por todos os outros grupos abordados por esta pesquisa, como o maior problema da Serra do Itapeti. Com objetivo de desvendar algumas facetas deste importante grupo, que viabilizassem a elaboração de intervenções educativas futuras e pós-pesquisa, foram aplicados questionários em 213 residências, com pontos previamente selecionados aleatoriamente de acordo com as aglomerações demográficas da Serra do Itapeti. Para resgatar um pouco da memória dos moradores, assim como captar suas percepções sobre um passado próximo ou distante, foram realizadas entrevistas nas quais indagamos sobre suas lembranças de como era a Serra do Itapeti quando se instalaram nela. Parte das respostas mostrou uma memória relacionada à percepção de tranquilidade e natureza, com ausência de muitas casas ou urbanização, confirmando lembranças da natureza mais farta. Por outro lado, encontramos os esquecidos e indiferentes, que sem lembrar ou perceber, não notaram nenhuma alteração no local em que vivem. Estes são os moradores mais recentes, que não tiveram a oportunidade de encontrar a Serra em seu auge de preservação. Instalaram-se no ponto baixo da Serra, marcado por ocupação desordenada, 90


Reflexões e ações para a construção da Agenda 21 da Serra do Itapeti

Outras indagações objetivaram construir o perfil dos moradores tomando como base também os seus sonhos, suas aspirações e desejos. Os resultados foram classificados de acordo com categorização, apresentada na sequência, feita exclusivamente para esta pesquisa.

plo negativo ou ausente pode ser representado pela resposta “nenhum sonho”. E o que dizer de um povo que não sonha? Numa análise desta resposta dada pela maioria dos moradores, percebe-se que há sentimentos omissos impedindo-os de sonhar. Estas pessoas possuem necessidades básicas, possuem uma percepção do local, mesmo que não manifestada e também possuem sentimentos. Nada disso fez com que elas nos apresentassem algum tipo de sonho, mas algumas explicações delas nos orientam para compreender a ausência de sonhos.

1) Sonho/necessidade – são os sonhos que vão ao encontro das necessidades básicas individuais e algumas coletivas. O sonho se constrói a partir daquilo que falta; que se ausenta; que é necessário para propiciar um bem-estar mínimo que seja. Esta necessidade é de ordem material, concreta, como manifestaram os moradores com itens sobre recursos financeiros, recreação e de legalidade. Nesta categoria, encontram-se os moradores recentes e antigos, de poder aquisitivo baixo e alto. Os sonhos aqui não consideram o local, os sentimentos sobre o local, ou a percepção do local.

“Eu já sou muito velho para sonhar” “Eu sou apenas caseiro, não posso ter sonhos” “Ah, sonho é algo que nunca acontece” Estas frases, faladas pelos entrevistados, indicam sentimentos construídos a partir de algo como necessidade, percepção e subjetivações individuais. Esses sentimentos criaram empecilhos para os moradores sonharem e criaram uma negação do sonho.

2) Sonho/percepção da paisagem – estes partem do recorte que os moradores fazem do ambiente em que vivem, constituindo-se numa visão sobre a paisagem local, atribuindo importância à área pelas suas características físicas e biológicas. Entra aqui a conservação, relacionada às concepções ecológicas, estéticas e de qualidade de vida numa interligação com ar puro, água, beleza e tranquilidade, apresentando-se independente das carências individuais ou coletivas.

Estudantes universitários Os estudantes universitários eram das Universidades Mogianas, sendo metade residente em Mogi das Cruzes e outra parte distribuída nos municípios vizinhos. Inseriram-se nesta pesquisa por motivos pessoais e subjetivos variados, mas todos a partir da oferta concreta de um estágio no processo da pesquisa e um “Curso de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Conservação da Serra do Itapeti”. Numa breve investigação sobre a motivação de cada um para participação do projeto de construção da Agenda 21 da Serra do Itapeti, identificamos o desejo de adquirir novos conhecimentos, a ocupação do tempo ocioso, o contato com a natureza, a realização da boa ação especializada, a vaga para um estágio, a vontade de fazer parte de alguma coisa importante para o meio ambiente. Essas representações eram os desejos contidos de participação imanente à espera de uma oportunidade que propiciasse sua realização. A oferta do curso e estágio significou a realização pessoal, e também, um instrumental pedagógico para que estes estudantes participassem de algo que não fosse apenas para satisfazer os seus desejos, pois livres de seus motivos subjetivos, passaram a atuar pela melhoria da qualidade de vida

3) Sonho/sentimento – aqueles formados com base nos sentimentos, relacionados a diversos fatores como o local, elas próprias, o outro, ou tudo isto numa inter-relação. Pode até envolver a percepção que se tenha do local e até mesmo uma necessidade básica, mas o que move é o sentimento construído, é a subjetividade de cada um. Estes sonhos/ sentimentos podem ser positivos ou negativos, presentes ou ausentes. Os sentimentos podem estimular os sonhos ou neutralizá-los. O exemplo positivo ou presente é quando o sonho existe independentemente da origem do sentimento, este inspira um sonho como é o caso dos moradores que apontaram ter o sonho de ir embora da Serra. Algum sentimento leva estes moradores a sonharem com a saída deste local. O exem91


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educação ambiental as seguintes palavras-chave: confiança, persistência, paciência, serenidade, sensibilidade, amor, respeito e curiosidade. As explicações de muitos professores para a indicação destas características partiram, segundo eles, de intuições, percepções e sentimentos de alegria e contentamento pela participação neste processo de construção da Agenda 21 da Serra do Itapeti com objetivo de conservação.

e conservação da Serra do Itapeti, numa proposta educativa em busca da realização dos desejos de outras pessoas também. Partindo do pressuposto de que esses estudantes universitários necessitavam de um repertório esclarecido e crítico, para que a participação pelo coletivo ocorresse de forma ativa, o curso e estágio foram desenvolvidos para propiciar trocas, informações, reflexões e práticas, procurando alcançar, mesmo que minimamente uma transformação da realidade encontrada junto a esse segmento envolvido. A referida realidade foi de manifestação aparente dos estudantes com inocência, ausência de informações e criticidade. Houve, ainda, algumas profundas distorções provocadas pelos processos dominantes da educação formal e não-formal em que nos inserimos. Apontaram como possível contribuição uma educação ambiental com visão restrita à biologia e ecologia, ausentando-se de qualquer conexão com outras ideias, com perspectiva unidirecional que considera o outro um depósito de informações. Isso serviu para orientar esta pesquisadora sobre os caminhos que deveria percorrer com os estudantes a fim de que refletissem sobre as dimensões mais amplas da educação ambiental. A partir daí, os estudantes foram convidados a acompanhar as atividades desenvolvidas com os outros grupos da pesquisa, em busca de integração, trocas sociais e culturais, demonstrando certa superação das iniciais manifestações e concepções ingênuas, com grande dedicação e empenho nas atividades realizadas.

Professores universitários Professores de diversas disciplinas das Universidades Mogianas puderam expor, por meio de entrevistas, algumas ideias sobre a Serra do Itapeti e suas participações em torno da mesma. A participação deste grupo na pesquisa foi tímida pela ausência de recursos financeiros e ao tempo limitado para o desenvolvimento do trabalho realizado por esta pesquisadora. Todos os professores participantes das entrevistas já traziam algumas informações sobre a Serra do Itapeti, alguns superficialmente, outros pessoalmente, alguns por meio de jornais, outros por ouvir alguém falar e ainda alguns intensamente e apaixonados como frisaram. Percebeu-se na fala de muitos professores, mesmo nos apaixonados, um tom de impotência diante de fatos, deixando-os quase sempre alienados quanto às ações que poderiam desenvolver. Recorrendo a Espinosa em Chauí, citados por Sacardo (2001, p.148), que ao discorrer sobre as paixões, afirma ser:

Professores dos Ensinos Fundamental e Médio

“o desejo, a alegria e a tristeza afetos originários. O desejo e a alegria podem ser paixão ou ação. Será paixão quando a causa é imaginária, desconhecida, externa ao desejante, será ação quando a causa é real, conhecida, interna, própria do desejante. Enquanto a tristeza será sempre paixão, jamais será ação. As paixões mais fortes virão sempre da alegria, enquanto as mais fracas vêm da tristeza. Haverá sempre um movimento no sentido das passagens das paixões tristes para as paixões alegres e destas para as ações, nascendo a liberdade suscitada pelo desejo de alegria”.

A participação deste grupo, formado por professores das escolas estaduais e municipais de Mogi das Cruzes, se deu por meio da realização de um curso de “Educação Ambiental e Agenda 21” com carga horária de 16 horas/aulas e de algumas palestras e oficinas sobre o mesmo tema. Após extensas exposições e reflexões, realizadas entre os professores, sobre educação ambiental na Serra do Itapeti, percebeu-se o quanto era necessária a intervenção em forma de um curso, não somente para criar e aprimorar repertórios, mas também para estimular o envolvimento e ação daqueles que ficam à espera de algo que os despertem. Este grupo demonstrou grande sensibilidade em todos os momentos do curso, apontando como características necessárias para o desenvolvimento de

É possível, a partir daí, compreender como esses professores, apaixonados pela Serra do Itapeti, mostram-se impotentes diante da problemática existente. Ao mesmo tempo em que falam de sua paixão, exprimem também aspectos negativos 92


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como justificativas da imobilização, que enfraquecem por demais a paixão, inviabilizando as ações, como eles mesmos apontam. Neste momento a educação ambiental é fundamental, pois, pode buscar formas de contemplar os sentimentos, como as paixões alegres e tristes para que estas últimas sejam diluídas, dispersas por afetos fortes em busca da liberdade e desejos de viver pela transformação.

Mesmo que o sujeito, por seus motivos subjetivos próprios, tenha escolhido inserir-se e participar de determinada instituição por possuir afinidades com esta, no momento de representá-la, assumirá os motivos daquela que ele representa e não os seus, tornando-se assim um objeto institucional. Visualiza-se em alguns destes sujeitos um conflito com a dualidade em que vivem, entre ser e desejar ser, entre pensar e fazer, entre subjetividade pessoal e institucional. Houve nesta pesquisa alguns poucos casos em que o sujeito com deveres institucionais a cumprir, procedia de forma crítica e consciente, assumindo ainda seus princípios e desejos, independente daquilo que estava representando, que podia exigir ou não a sua anulação. Entre os motivos aparentes desta participação os evidenciados foram: obrigação, dever, paixão e política, sendo algumas vezes integrados. Os motivados pela obrigação e política normalmente encontravam-se no poder público, procurando manter a postura adotada como correta e adequada. Para isto, seus sujeitos precisavam participar daquilo que se caracterizava como importante para esta postura, independente de sua concepção íntima quanto ao assunto tratado. Houve também, no poder público, os motivados pela paixão e pelo dever e estes demonstraram maior entusiasmo e dinamismo, com empenho na participação da pesquisa e construção da Agenda 21 da Serra do Itapeti. Esses sujeitos reconheciam o dever de sua participação, mas diante de dificuldades, deslocavam este dever em outras formas de participar, pois o importante para eles era atuar, fazer parte, contribuir com aquilo que desejavam.

Técnicos O grupo dos técnicos foi formado por profissionais de diversificadas áreas do conhecimento da Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes, Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Universidades Mogianas, indústrias, ONGs, Associação de Engenheiros e Arquitetos de Mogi das Cruzes, Polícia Militar Ambiental e Ministério Público do Estado de São Paulo, com atuação direta ou indireta na Serra do Itapeti. Participaram desta pesquisa por meio de entrevistas, reuniões, cursos, seminários, encontros e exposições. Considerar o cotidiano pode ser um caminho para a compreensão da trama social em que nos inserimos, portanto, previamente investigou-se o dia-a-dia profissional destes técnicos, para envolvê-los em atividades da construção da Agenda 21 da Serra do Itapeti que fossem ao encontro daquilo que já realizavam em suas respectivas instituições de trabalho. Desta forma, os integrantes deste grupo manifestaram satisfação em participar da pesquisa, por ser um envolvimento próximo ao seu cotidiano técnico-profissional, sendo desenvolvida por eles a exposição de conhecimentos, argumentações, apontamento de problemas e propostas de soluções. Alguns motivos aparentes de participação deste grupo na pesquisa e em seus desdobramentos talvez não expressem a realidade da subjetivação dos técnicos, mas expressam as subjetivações e objetivações de uma instituição, uma política, uma condição, um cargo, enfim, de estruturas físicas ou não, cada qual com sua ideologia, que tornam a participação um objetivo de suas realizações subjetivas. Trata-se então da participação de uma instituição composta por sujeitos movidos pelo institucional e profissional. Neste caso, o sujeito busca atender às subjetivações de uma instituição, garantindo talvez algumas de suas subjetivações voltadas à questões econômicas e políticas, independendo muitas vezes das suas convicções ideológicas e história de vida.

Educação ambiental e subjetividade: das reflexões às ações na Serra do Itapeti A pesquisa-intervenção, que tratou do tema Educação Ambiental e elaboração da Agenda 21 local da Serra do Itapeti (RAYMUNDO, 2002), foi construída e reconstruída à medida que surgiam aberturas e obstáculos diante do planejamento previsto. A partir de uma análise geral da contribuição dos moradores, seguem algumas considerações sobre seus desejos, sonhos, representações, enfim, sobre suas ideias apresentadas ao longo do trabalho. Para Espinosa (1989), os corpos sempre são afetados por outros corpos de diversas formas, entendendo-se por corpo aquilo que exprime, que manifesta, sendo esta manifestação originária da essência que é constituída tanto na ordem das ideias como na das coisas. 93


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Seguindo este pressuposto, analisa-se a forma que os moradores da Serra foram afetados, tendo como base a manifestação destes pelas palavras sobre suas memórias, desejos, representações e sonhos para o local em que vivem. Percebemos uma boa parte dos moradores afetada pela existência das necessidades não-contempladas em seus cotidianos, acarretando em insatisfações, em ausência de memória, ausência de saber, de desejos e sonhos para a Serra. Espinosa (1989, p.162) diz que “só tem realidade o que é necessário, mesmo que seja possível ou provável, é impossível em ato”. Assim, podemos compreender que as necessidades dos referidos moradores são o que os afetam e movem na manifestação da essência que os compõe, apresentando-se com uma realidade de ausências, conforme verificado. Como tornar parte da realidade aquilo que intimamente não lhe é necessário? Por que ter uma memória, um sonho, um desejo ou manifestar uma representação para a Serra do Itapeti, se a realidade encontrada fundamenta-se em necessidades básicas independentes do local em questão? Se os moradores tivessem sido afetados pelos valores estéticos, técnicos ou científicos do lugar, estes seriam manifestados quando chamados pelas suas memórias, pois, “se o corpo humano foi uma vez afetado simultaneamente por dois ou vários corpos, sempre que for solicitado recordar-se-á imediatamente dos outros” (ESPINOSA, 1989, p.86). Ainda no mesmo tratado de Espinosa (p. 72), podemos compreender a ausência de ideias, de opiniões ou de desejos dos moradores, visto que os modos de pensar como o amor, o desejo ou qualquer outro sentimento humano não pode existir num indivíduo se não se verifica neste mesmo indivíduo uma ideia da coisa amada ou desejada. Se quisermos afetar esses moradores pela conservação da Serra do Itapeti, antes de qualquer coisa, é fundamental resolver aquilo que os afeta no presente, para tornar suas necessidades atendidas e assim terem uma realidade mínima de satisfação. Desta forma, teriam como partir para o desejo de outras necessidades transformadas posteriormente em realidade. Apenas a partir da existência da necessidade de conservação da Serra para os moradores, seria possível que esses desenvolvessem em suas essências, como diz Espinosa, uma ideia da coisa amada ou desejada. Em relação ao grupo de técnicos, surgiram propostas firmadas no conhecimento científico, na técnica e na racionalidade sobre a problemática da Serra e prováveis soluções. Com oportunidades

de reflexões e ações não somente no decorrer desta pesquisa, mas em todo o exercício profissional, os técnicos demonstraram priorizar ou considerar apenas os saberes provenientes da lógica técnica instrumental. Boaventura de Sousa Santos (2000, p.236), em suas análises da cidadania e emancipação, discorre sobre os pilares sustentadores para uma transformação da sociedade, são eles: “Pilar da regulação e da emancipação, este último, constituído por três dimensões em articulação: a racionalidade moral-prática do direito moderno; a racionalidade cognitivo-instrumental da ciência e da técnica moderna e a racionalidade estético-expressiva das artes e da literatura moderna”.

Chamando a atenção para a segunda dimensão, apontada dentro do pilar da emancipação, podemos visualizar os técnicos dentro do que é discutido pelo mesmo autor, dizendo que a “racionalidade cognitivo-instrumental desenvolveu-se em detrimento das demais racionalidades, com uma hipertrofia que transformou a própria ciência moderna através da hegemonia das epistemologias positivas”. Os técnicos, dotados de muitos conhecimentos científicos sobre o contexto da Serra do Itapeti, lançam propostas inovadoras, ousadas, com capacidade para solucionar muitos problemas apresentados, mas, privam-se de envolvimentos que fujam de suas inteligências racionais, rumo à concretização de suas propostas. Inseridos na “racionalidade cognitivo-instrumental”, numa postura de negação do outro, acabam por ignorar ou desconsiderar relações que devem estabelecer diante da problemática existente, permeando entre outros, o político, o acadêmico e o popular. Mesmo com a questionável lógica racional dos técnicos, considera-se o “dever unido à paixão”, encontrado em alguns deles, como um motivo de suas ações, representando isto uma grande qualidade em seu conjunto. Os que demonstraram esta característica, embora, seus métodos de ação possam ser da ordem “positivista”, agem em sintonia com seus sentimentos mais fortes, saindo da passividade para a busca de melhorias. Com pretensões de transformações social, ambiental e mais especificamente, do diagnóstico socioambiental da Serra do Itapeti, devemos trabalhar por mudanças paradigmáticas para a mobilização da nossa capacidade de sentir e agir contemplando novas e amplas dimensões. 94


Reflexões e ações para a construção da Agenda 21 da Serra do Itapeti

Se muitos técnicos sentem, pensam e atuam na perspectiva reducionista da “racionalidade cognitivo-instrumental”, por outro lado, os professores do Ensino Fundamental e Médio figuram como frutos desta mesma visão, mas distanciados do compartilhar de tal perspectiva. Apresentaram-se extremamente receptivos ao novo, ao diálogo, às críticas e reflexões, manifestando sentimentos imanentes de alegria. Explica-nos Espinosa (1989) que a alegria, que pode estar acompanhada de uma causa exterior, por sua vez, propicia a potência de ação, visto que este sentimento representa o lado forte de uma paixão, capaz de nos mover. O interessante nisto é saber que nos esforçaremos sempre para manter em nós aquilo que nos dá a atividade, por termos absorvido a essência de tal coisa que nos mantém em movimento, sendo este esforço existente por tempo indefinido, destruído apenas por uma causa exterior (ESPINOSA, 1989). A partir daí, destaca-se o fundamental papel da educação ambiental como instrumento gerador e mobilizador das forças e potências de sujeitos, num estímulo constante, que facilite a desejada transformação da história de sofrimento individual e coletivo. Torna-se imprescindível a criação de espaços democráticos para reflexões, diálogos, trocas sociais e culturais para a conquista da emancipação, que dá criticidade, autonomia, consciência e afetividade. Estes espaços devem ser recheados de estímulos aos sentimentos fortes e alegres, que provocam a passagem da passividade para a atividade, considerando ainda, que é necessário persistir intensamente na ideia e imagem do desejado. Num sentido contrário aos resultados da análise dos professores do Ensino Fundamental e Médio, surgem os professores universitários. Contrário no que ser refere aos seus sentimentos imanentes, que se manifestaram tristes, caracterizando-se então na “potência do padecer, que é viver ao acaso dos encontros, colocando nos outros o sentido da própria potência de ação” (SAWAIA, 2001, p.125). A paixão como passividade estava presente nesse grupo com um discurso dentro do “imobilismo derrotista”, ou seja, ao mesmo tempo em que o grupo manifestou afetividade pela Serra do Itapeti, colocou-se como impotente para qualquer transformação, configurando-se assim numa paixão triste. Numa mescla de manifestações, os estudantes universitários chegaram trazendo características dos técnicos e professores do Ensino Fundamental

e Médio, distanciando-se bastante do discurso impotente dos professores universitários. No início da pesquisa, os estudantes puderam expor e dialogar sobre educação ambiental e a forma que poderiam contribuir para a melhoria da qualidade de vida na Serra do Itapeti, sendo neste momento conferida a aproximação com as características dos técnicos. Eles se mostraram inseridos na tradicional “educação bancária” (FREIRE, 1987), que faz do educando um cofre para depósitos do “rico e único saber” dos educadores. De certa forma, era uma atitude já esperada, visto que os estudantes universitários vieram de uma educação carregada de preconceitos, centrados na tradição da racionalidade técnico-cognitiva. Por outro lado, assim como os professores do Ensino Fundamental e Médio, os estudantes se apresentaram dispostos e abertos à participação, cada um movido pela sua subjetividade, pela alegria de realizar sua vontade, tornaram realidade aquilo que necessitavam. Houve importante e significativa transformação neste grupo no transcorrer da pesquisa, com a ampliação da visão sobre educação ambiental incluindo o despertar para criticidade necessária em processos de emancipação. É possível afirmar que os referidos estudantes vivenciaram a pesquisa, numa construção de conhecimento e participação crítica, criativa, consciente e feliz. Mais uma vez, nota-se a importância da pesquisa com intervenções educativas como um caminho para a conquista do fortalecimento de sujeitos, que se constroem atuando em nossa história, desejando espaços políticos, educativos e culturais numa ética humanista. “As intervenções, enquanto instâncias de reflexões, são propostas para a desejada recuperação da autonomia, permitindo ainda aos indivíduos, a construção de narrativas de identidade subsidiando a consciência do processo de colonização das alternativas de futuro pelas forças sistemáticas.” (TASSARA, 1998, p. 21).

Considerações finais A pesquisa-intervenção transitou no campo da racionalidade técnico-cognitivo até as ideias provenientes dos sentimentos diversos, aflorados anterior e durante o trabalho. Da impotência imobilizadora de sentimentos tristes à potência de ação pelas alegrias, do compromisso assumido e cumprido ao esquecido e ignorado. 95


Maria Henriqueta Andrade Raymundo

Ressalte-se ainda nesta pesquisa teórica e prática a necessidade de ocuparmos os espaços públicos de estimular a potência de ação dos sujeitos, de trabalharmos desde a criança até o profissional de diversas áreas do conhecimento, de propormos conteúdos para aprimorar e criar repertórios, mas também a importância de atividades que sensibilizem a todos, para a integração, diálogo, trocas solidárias de experiências e busca conjunta pela qualidade de vida. Não sendo possível realizar inteira e satisfatoriamente a utopia criada na pesquisa, acredita-se ter possibilitado um início de fortes provocações em muitos sujeitos, que juntos ou sozinhos darão continuidade a esta utopia e a muitas outras que poderão surgir.

Nesta passagem por sentimentos, conhecimentos, reflexões e ações, a pesquisa, na utopia criada, buscou a integração dos diferentes, num respeito às singularidades de cada um, tentou uma busca pelo outro que acrescentasse individual e coletivamente, sem a anulação de nenhum, mas pelo sentido emancipatório de todos. Na análise dos sujeitos participantes e atuantes direta ou indiretamente na Serra do Itapeti, a pesquisa aponta fragilidades, necessidades e potencialidades, que devem ser exploradas com trabalhos estratégicos de educação ambiental. Estes trabalhos não podem se limitar a despejar informações e conteúdos em crianças ou estudantes, como se apenas os conteúdos fossem integrantes da complexidade que envolve a área estudada. É fundamental que poder público e sociedade civil organizada estejam atentos aos desejos que movem as pessoas; a transversalidade que exige a questão ambiental; a amplitude que existe na educação ambiental, que muitas vezes é desenvolvida como uma coletânea de palestras conteudistas.

“A utopia é a exploração de novas possibilidades e vontades humanas, ela destaca o que não existe como parte integrante do que existe, mas que está silenciada. Ela aponta para o que é radicalmente melhor que a humanidade tem direito de desejar e por que merece lutar.” (SOUSA SANTOS, 2000, p.323).

Referências BORDA, F. O. Aspectos teóricos da pesquisa participante: considerações sobre o significado e o papel da ciência na participação popular. In: BRANDÃO, C. R. Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 1982. COSTA, L. R. F. Estratégia de planejamento. Ciência e Cultura, v. 38, p. 1366-1373, 1986. ESPINOSA, B. Ética. Trad. de J. Carvalho, J. F. Gomes e A. Simões. 4 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1989. FOUCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas. Trad. R. C. M. Machado e E. J. Morais. Rio de Janeiro: Nau, 1999. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997. LUDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. RAYMUNDO, M. H. A. Educação ambiental na Serra do Itapety. Mogi das Cruzes (SP), construindo uma Agenda 21 local. Dissertação (Mestrado). Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2002. PATTON, M. Q. Qualitative evaluation and research methods. New York: Sage, 1990. SACARDO, G. A. Participação e subjetividade num programa de educação ambiental. Tese (Doutorado). São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 2001. 160p. SAWAIA, B. B. Participação e subjetividade. In: SORRENTINO, M. (Coord.). Ambientalismo e participação na contemporaneidade. São Paulo: EDUC/FAPESP, 2001. SOUSA SANTOS, B. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2000. TASSARA, E. T. O. Educação Ambiental: conhecimento e política no contexto da crise ambiental. In: SORRENTINO, M.; TRAJBER, R.; BRAGA, T. (Org.). Cadernos do III fórum de educação ambiental. São Paulo: Gaia, 1995. TASSARA, E. T. O. Utopia e anti-utopia: o ressuscitar da história. In: SOUZA, L.; FREITAS, M. F. O.; RODRIGUES, M. M. P. (Org.). Psicologia: reflexões (im) pertinentes. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.

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Pteridófitas da Serra do Itapeti Vinícius Antonio de Oliveira Dittrich Alexandre Salino

Resumo Foi realizado o inventário das pteridófitas na Serra do Itapeti, município de Mogi das Cruzes, São Paulo, Brasil. Encontraram-se 87 espécies, distribuídas em 48 gêneros e 19 famílias. As famílias mais ricas em espécies foram Polypodiaceae (15 espécies), Dryopteridaceae (11 spp.) e Pteridaceae (10 spp.). Os gêneros mais ricos foram Asplenium (7 spp.), Blechnum (5 spp.), Pteris e Thelypteris (4 spp. cada). A forma de vida predominante foi a terrícola, com 53 espécies, seguida pelas plantas epifíticas (21 espécies) e pelas rupícolas (10 espécies). Três plantas ocuparam mais de um tipo de substrato. Em comparação realizada com outras duas áreas próximas à área de estudos, a maior similaridade obtida ocorreu entre a Serra da Mantiqueira e a Serra do Mar (80,1%), seguida pela Serra do Itapeti e Serra do Mar (50,8%) e Serra do Itapeti e Serra da Mantiqueira (42,1%). et al., 2001, 2004; SMITH et al., 2006). Portanto, a divisão Pteridophyta deve ser abandonada, por não se tratar de um grupo monofilético. Consequentemente, as pteridófitas não possuem sinapomorfias; caracterizam-se por serem plantas vasculares que se reproduzem por esporos e possuem um ciclo de vida com alternância de gerações independentes uma da outra, tanto física quanto nutricionalmente. Entretanto, são perfeitamente aceitáveis como um grupo informal, compreendendo as plantas vasculares sem sementes. No Estado de São Paulo, os trabalhos de cunho essencialmente florístico com pteridófitas ainda são poucos, destacando-se os de Salino (1996), Prado & Labiak (2001), Salino & Joly (2001), Athayde-Filho et al. (2003), Boldrin & Prado (2007) e Salino & Almeida (2008). Áreas relativamente pobres em espécies no interior do Estado foram inventa-

Introdução As pteridófitas são compostas por representantes de dois grupos monofiléticos: (i) as monilófitas (que compreendem as samambaias – como tradicionalmente circunscritas –, as psilotáceas e as equisetáceas) e (ii) as licófitas (PRYER et al., 2001, 2004; SMITH et al., 2006). Até o fim do século passado (e.g. TRYON & TRYON, 1982), tais grupos eram tratados como pertencentes a uma só divisão: Pteridophyta. Como um grupo natural, entretanto, a divisão Pteridophyta não se sustenta, pois as licófitas e as monilófitas não compartilham um ancestral comum exclusivo. Tais grupos compartilham um ancestral que também é ancestral das plantas com sementes, sendo que neste clado as plantas com sementes são o grupo-irmão das monilófitas (PRYER 97


Vinícius Antonio de Oliveira Dittrich e Alexandre Salino

tura. Os nomes dos autores das espécies estão abreviados de acordo com o preconizado por Pichi-Sermolli (1996). A classificação adotada no presente trabalho é a apresentada por Smith et al. (2006) para monilófitas e a de Kramer & Green (1990) para licófitas. Com o intuito de abordar a questão da similaridade florística entre a Serra do Itapeti e as Serras do Mar (a sul e a leste) e da Mantiqueira (ao norte e a noroeste), compararam-se as floras pteridofíticas de três áreas distintas utilizando-se o índice de Jaccard calculado com o programa SYSTAT® (SYSTAT software, 2007). Foram usados os dados obtidos nos levantamentos deste trabalho, no estudo da APA Fernão Dias, na Serra da Mantiqueira, Minas Gerais (MELO & SALINO, 2007) e da flora do núcleo Santa Virgínia do Parque Estadual da Serra do Mar, nos municípios de São Luís do Paraitinga e Natividade da Serra, São Paulo (SALINO et al., dados não publicados).

riadas na primeira metade da década (COLLI et al., 2003, 2004a, 2004b). Além disso, Windisch (1992) contribuiu para o conhecimento das pteridófitas da região noroeste do Estado por meio de um guia para estudos; e Prado (1998) realizou um apanhado do conhecimento da riqueza de espécies de pteridófitas no Estado. Destes trabalhos, os realizados em área de ocorrência de Floresta Ombrófila Densa foram os de Prado & Labiak (2001), Athayde-Filho et al. (2003), Boldrin & Prado (2007) e Salino & Almeida (2008), evidenciando a carência de estudos nestas áreas, mais ricas em pteridófitas do que qualquer outro ecossistema paulista.

Material e métodos Área de estudo A Serra do Itapeti está inserida junto à borda do Planalto Paulistano, na subzona conhecida como Colinas de São Paulo, caracterizada por grandes extensões de morros com topos arredondados e vertentes às vezes abruptas, de perfil retilíneo, conhecidas como “mares de morros” da Bacia do Paraíba (AB’SÁBER, 1956), com altitudes variando de 700 a 1.160m. Possui 5,2 mil hectares de extensão e até 5Km de largura, sobre base de rochas predominantemente cristalinas pré-cambrianas, graníticas e gnáissicas, onde os espigões e colinas estão sustentados por sedimentos da Bacia de São Paulo e Taubaté (TIRICO, 1960; IPT, 1981). No conjunto de morros que compõe a Serra, representando um divisor de águas que abriga os afluentes das bacias dos rios Paraíba do Sul e Tietê, podem ser definidos quatro níveis topográficos (EMPLASA, 1981): superior (acima dos 1.000m de altitude), intermediário (entre 875 e 1.000m), inferior (entre 720 e 874m) e subinferior (abaixo dos 720m). As coletas de material botânico foram realizadas em três pontos distintos da Serra do Itapeti, entre setembro de 2005 e janeiro de 2007: no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello; nas proximidades do Pico do Urubu; e em uma área a aproximadamente 4km a ENE do Pico do Urubu. O material foi herborizado de acordo com métodos usuais (SILVA, 1989) e as exsicatas foram depositadas nos herbários HUMC (Herbário Mogiense Universidade de Mogi das Cruzes; disponível em http://www.umc.br/herbario) e BHCB (Herbário da Universidade Federal de Minas Gerais). O material foi determinado pelos autores, com auxílio de litera-

Resultados e discussão Na Serra do Itapeti foram inventariadas 87 espécies de pteridófitas, distribuídas em 48 gêneros e 19 famílias (Tabela 1). As famílias mais ricas em espécies foram Polypodiaceae (15 espécies), Dryopteridaceae (11 spp.) e Pteridaceae (10 spp.). Os gêneros mais ricos foram Asplenium (7 spp.), Blechnum (5 spp.), Pteris e Thelypteris (4 spp. cada). As espécies encontradas são, de forma geral, comuns no Estado de São Paulo, exceto Doryopteris hybrida Brade & Rosenst. Esta espécie, de acordo com Tryon (1942), pode ser um híbrido entre Doryopteris nobilis (Raddi) J. Sm. e D. sagittifolia (Raddi) J. Sm., e era conhecida apenas da coleção-tipo até o presente. A riqueza de espécies de pteridófitas na Serra, quando comparada à de outras regiões de Floresta Ombrófila Densa, é relativamente baixa. Dittrich et al. (2005) levantaram 81 spp. em uma área de apenas 1ha em Floresta Ombrófila Densa de encosta atlântica no Paraná; também no Paraná, em área (Ilha do Mel, município de Paranaguá) com Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas e Submontana, restingas e manguezais, Salino et al. (2005) encontraram 114 spp.; Salino & Almeida (2008) inventariaram 207 espécies (mais cinco táxons infraespecíficos) no Parque Estadual de Jacupiranga, no sul do Estado de São Paulo, em área de 150.000ha e Salino et al. (dados não-publicados) encontraram mais de 200 espécies em áreas de 800 a alguns milhares de ha na Floresta Ombrófila Densa também em São Paulo. Já Labiak & Prado (1998) constataram 49 spp. de pteridófitas epífitas em área de 1.186ha em 98


Pteridófitas da Serra do Itapeti

planície litorânea em Itapoá, Santa Catarina. A explicação para tal riqueza relativamente baixa deve estar no alto grau de alteração antrópica sofrido pela Serra do Itapeti: a área possui estradas, áreas com menor ou maior grau de urbanização, torres de transmissão de energia e de comunicação, plantações de eucaliptos e áreas degradadas pelo fogo (especialmente na face norte da encosta), apenas para citar os impactos mais óbvios. As diferentes espécies crescem em hábitats distintos na Serra. Em áreas abertas, como beira de estrada e em áreas queimadas, são comuns Pteridium arachnoideum (Dennstaedtiaceae) e gleiqueniáceas. Também são comuns nestas áreas, sobretudo em beira de estrada, espécies como Blechnum brasiliense, B. polypodioides, B. cordatum (Blechnaceae), Anemia phyllitidis (Anemiaceae), Thelypteris dentata (Thelypteridaceae) e Pteris vittata (Pteridaceae), as duas últimas espécies naturalizadas no Brasil. Outras espécies também ocorrem em áreas alteradas, mas comumente em beira de trilhas ou em clareiras na floresta, como Pteris deflexa (Pteridaceae), Ctenitis submarginalis (Dryopteridaceae) e Deparia petersenii (Woodsiaceae - naturalizada). Entretanto, espécies que são mais exigentes só crescem em determinado tipo de situação: Pecluma truncorum (Polypodiaceae) é altamente específica quanto ao tipo de substrato, pois só cresce sobre caules de ciateáceas arborescentes, fato já mencionado em outros trabalhos (e.g. EVANS, 1969; DITTRICH et al., 2005). Alguns autores afirmam que a espécie cresce exclusivamente – ao menos em algumas áreas – sobre Alsophila setosa (Cyatheaceae), como Sehnem (1970), Schwartsburd & Labiak (2007) e Matos (2009). Somente Athayde Filho & Windisch (2003) relatam sua presença no solo, no extremo sul do Brasil. Polyphlebium angustatum é outra espécie que tem preferência por caules de samambaias arborescentes. Asplenium triquetrum só cresce sobre rochas à beira de riachos, fato já mencionado por outros autores também (e.g. MURAKAMI & MORAN, 1993; DITTRICH et al., 2005; FIGUEIREDO & SALINO, 2005; SCHWARTSBURD & LABIAK,

2007; MATOS, 2009). As espécies de Diplazium estão mais ou menos confinadas ao interior da floresta, crescendo preferencialmente à margem de riachos. Pteris decurrens cresce em áreas sombreadas no interior da floresta, geralmente em interflúvios, ambiente já mencionado por Prado & Windisch (2000) como preferencial para a espécie. Com relação à similaridade florística entre áreas distintas, a maior foi entre a Serra da Mantiqueira e a Serra do Mar (80,1%), seguida pela Serra do Itapeti e Serra do Mar (50,8%) e Serra do Itapeti e Serra da Mantiqueira (42,1%). É interessante ressaltar que a altitude média da Serra da Mantiqueira é superior àquela da Serra do Itapeti e da Serra do Mar, e este parece ser um fator de suma importância para a presença de diversas espécies de pteridófitas (TRYON, 1972; PAGE, 1979; DZWONKO & KORNA S´, 1994; MORAN, 1995; ALMEIDA, 2008). Também é importante ressaltar que a distância em km entre as áreas é bastante distinta: ca. 75km até determinado ponto médio na APA Fernão Dias (Serra da Mantiqueira) e 110 km até o Núcleo Santa Virgínia (Serra do Mar), na região da sede deste.

Considerações finais O presente inventário mostra a necessidade de se conservar o que ainda resta da Serra do Itapeti. Apesar de todas as atividades antrópicas observadas no local, a Serra ainda abriga um número considerável de espécies de pteridófitas (sobretudo se levado em conta que a Serra está situada na Região Metropolitana de São Paulo, a maior do país e uma das maiores do mundo), inclusive de táxons raros como é o caso de Doryopteris hybrida. Refrear o crescimento urbano na Serra, por meio da implantação de uma Unidade de Conservação representativa (as unidades existentes são de pequenas dimensões e não conservam efetivamente o que resta ainda em bom estado de conservação da Serra), seria de grande valia para a conservação não somente das espécies como também de todos os recursos naturais ali existentes.

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Vinícius Antonio de Oliveira Dittrich e Alexandre Salino

Tabela 1. Lista das espécies de pteridófitas da Serra do Itapeti, município de Mogi das Cruzes, São Paulo. As espécies exóticas que crescem espontaneamente na área estão marcadas com um asterisco. E: epífita. EA: epífita acidental. HES: hemiepífita secundária. R: rupícola. T: terrícola. TA: terrícola arborescente. TE: terrícola escandente.

Anemiaceae

Aspleniaceae

Táxon Anemia phyllitidis (L.) Sw. A. villosa Willd. Asplenium alatum Willd. A. auritum Sw. (Fig. 1F) A. harpeodes Kunze A. inaequilaterale Willd. A. mucronatum C. Presl A. scandicinum Kaulf. A. triquetrum N. Murak. & R.C. Moran Blechnum austrobrasilianum de la Sota B. binervatum subsp. acutum (Desv.) R.M. Tryon & Stolze

Blechnaceae

Cyatheaceae

Dennstaedtiaceae Dicksoniaceae

Dryopteridaceae

Gleicheniaceae

Hymenophyllaceae

Hábito T T T E E R E E R T HES

Exsicata Dittrich 1325 Dittrich et al. 1324 Dittrich et al. 1349 Dittrich 1440 Dittrich et al. 1373 Dittrich 1355 Dittrich et al. 1346 Dittrich 1360 Dittrich et al. 1353 Dittrich et al. 1330, 1337 Dittrich 1348

B. brasiliense Desv.

T

Dittrich 1334; Dittrich & Sorrentino 1401

B. cordatum (Desv.) Hieron. (Fig. 1C) B. polypodioides Raddi Alsophila setosa Kaulf.

T T TA

Dittrich & Sorrentino 1404 Dittrich 1322, 1406 Dittrich 1368

Cyathea atrovirens (Langsd. & Fisch.) Domin

TA

Dittrich et al. 1329, 1367

C. delgadii Sternb. (Fig. 2B) Dennstaedtia globulifera (Poir.) Hieron. Pteridium arachnoideum (Kaulf.) Maxon Dicksonia sellowiana Hook. Ctenitis anniesii (Rosenst.) Copel. C. aspidioides (C. Presl) Copel.

TA T T TA T T

Dittrich et al. 1340 Dittrich et al. 1378 Observada Dittrich 1386 Dittrich et al. 1365 Dittrich et al. 1369

C. submarginalis (Langsd. & Fisch.) Ching

T

Dittrich & Miranda 1385, Dittrich & Sorrentino 1398

Didymochlaena truncatula (Sw.) J. Sm. Elaphoglossum longifolium (C. Presl) J. Sm. E. gayanum (Fée) T. Moore E. vagans (Mett.) Hieron. Lastreopsis amplissima (C. Presl) Tindale L. effusa (Sw.) Tindale Megalastrum umbrinum (C. Chr.) A.R. Sm. & R.C. Moran Rumohra adiantiformis (G. Forst.) Ching Dicranopteris flexuosa (Schrad.) Underw. Gleichenella pectinata (Willd.) Ching (Fig. 1D) Sticherus bifidus (Willd.) Ching Sticherus lanuginosus (Fée) Nakai Hymenophyllum polyanthos (Sw.) Sw. Hymenophyllum pulchellum Schltdl. & Cham.

T E R R T T

Dittrich et al. 1350 Dittrich 1344 Dittrich et al. 1421 Dittrich et al. 1424 Observada Dittrich et al. 1380

T

Dittrich et al. 1382

R T T T T E R

Dittrich 1395 Dittrich 1359 Dittrich 1327 Dittrich 1326, 1357 Dittrich et al. 1420 Dittrich 1389 Dittrich et al. 1419

E

Dittrich et al. 1354

Polyphlebium angustatum (Carmich.) Ebihara & Dubuisson

100


Pteridófitas da Serra do Itapeti

Tabela 1. (Continuação)

Hymenophyllaceae

Lycopodiaceae Lygodiaceae Marattiaceae Osmundaceae

Polypodiaceae

Pteridaceae

Selaginellaceae

Táxon Hábito Didymoglossum cf. krausii (Hook. & Grév.) R/E C. Presl Trichomanes polypodioides L. E Polyphlebium pyxidiferum (L.) Ebihara & E Dubuisson Abrodyctium rigidum (Sw.) Ebihara & T Dubuisson Lycopodiella camporum B. Øllg. & P.G. T Windisch Lycopodium clavatum L. T Lygodium volubile Sw. TE Danaea moritziana C. Presl T Danaea geniculata Raddi T Eupodium kaulfussii (J. Sm.) J. Sm. T Osmunda regalis var. spectabilis (Willd.) A. Gray T Campyloneurum nitidum (Kaulf.) C. Presl E

Exsicata Dittrich 1371 Dittrich et al. 1356 Dittrich 1370, 1375 Dittrich et al. 1345 Observada

Cochlidium punctatum (Raddi) L.E. Bishop

R/E

Leucotrichum schenckii (Hieron.) Labiak Microgramma percussa (Cav.) de la Sota M. squamulosa (Kaulf.) de la Sota Pecluma recurvata (Kaulf.) M.G. Price P. sicca (Lindm.) M.G. Price P. truncorum (Lindm.) M.G. Price Phlebodium pseudoaureum (Cav.) Lellinger (Fig. 1B) Pleopeltis astrolepis (Liebm.) Fourn. P. macrocarpa (Bory ex Willd.) Kaulf. P. hirsutissima (Raddi) de la Sota P. pleopeltidis (Fée) de la Sota Serpocaulon catharinae (Langsd. & Fisch.) A.R. Sm.

R E E E T E

Observada Dittrich 1332 Dittrich 1347 Dittrich 1351 Observada Dittrich 1339 Dittrich 1335 Dittrich & Miranda 1388; Dittrich et al. 1418 Dittrich et al. 1417 Dittrich 1323 Dittrich 1343 Dittrich & Miranda 1390 Dittrich 1379 Dittrich 1376, 1391

E

Observada

E E E E

Dittrich & Sorrentino 1403 Dittrich et al. 1319 Dittrich 1336 Dittrich & Miranda 1394

E

Dittrich & Sorrentino 1399

S. meniscifolium (Langsd. & Fisch.) A.R. Sm.

R

Adiantopsis perfasciculata Sehnem Adiantum pentadactylon Langsd. & Fisch. A. raddianum C. Presl (Fig. 2D) Doryopteris hybrida Brade & Rosenst. Pityrogramma trifoliata (L.) R.M. Tryon Polytaenium lineatum (Sw.) J. Sm. Pteris decurrens C. Presl P. deflexa Link (2A) P. splendens Kaulf. P. vittata L. Selaginella flexuosa Spring (1E)

T T T T T R T T T T T

S. muscosa Spring

T

Selaginella sp.

T

101

Dittrich & Miranda 1397, Dittrich et al. 1423 Dittrich & Miranda 1396 Dittrich et al. 1361 Dittrich et al. 1321 Dittrich & Miranda 1393 Dittrich et al. 1341 Dittrich et al. 1374 Dittrich & Miranda 1384 Dittrich et al. 1352 Dittrich et al. 1439 Dittrich et al. 1338 Observada Dittrich et al. 1320; Dittrich & Miranda 1387 Dittrich et al. 1331


Vinícius Antonio de Oliveira Dittrich e Alexandre Salino

Tabela 1. (Continuação)

Tectariaceae

Thelypteridaceae

Woodsiaceae

Táxon Hábito Tectaria incisa Cav. T Macrothelypteris torresiana (Gaudich.) Ching* T Thelypteris amambayensis (Christ) Ponce T

Exsicata Dittrich et al. 1381 Dittrich et al. 1333 Dittrich et al. 1337

T. decussata var. brasiliensis (C. Chr.) A.R. Sm. (Fig. 1A)

T

Dittrich et al. 1342

T. dentata (Forssk.) E.P. St. John*

T

Dittrich et al. 1328

T. raddii (Rosenst.) Ponce

T

Dittrich & Miranda 1392; Dittrich & Sorrentino 1400

Deparia petersenii (Kunze) M. Kato*

T

Dittrich & Sorrentino 1405

Diplazium ambiguum Raddi

T

Dittrich et al. 1366, 1383

D. cristatum Desr.

T

Dittrich et al. 1362

D. cf. turgidum Rosenst.

R

Dittrich et al. 1363

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Figura 1. (A) Thelypteris decussata var. brasiliensis (C. Chr.) A.R. Sm. Foto: V.A.O. Dittrich; (B) Phlebodium pseudoaureum (Cav.) Lellinger. Foto: V.A.O. Dittrich; (C) Blechnum cordatum (Desv.) Hieron. Foto: V.A.O. Dittrich; (D) Gleichenella pectinata (Willd.) Ching. Foto: Adriana Nogueira Souto; (E) Selaginella flexuosa Spring. Foto: V.A.O. Dittrich; (F) Asplenium auritum Sw. Foto: V.A.O. Dittrich.

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Pterid贸fitas da Serra do Itapeti

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Figura 2. (A) Pteris defl exa Link. Foto: V.A.O. Dittrich; (B) Cyathea delgadii Sternb. Foto: Adriana Nogueira Souto; (C) Diplazium ambiguum Raddi. Foto: Adriana Nogueira Souto; (D) Adiantum raddianum C. Presl. Foto: Adriana Nogueira Souto.

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Flora fanerogâmica da Serra do Itapeti Pedro Luis Batista Tomasulo

Resumo A Serra do Itapeti está inserida junto à borda do Planalto Paulistano, na subzona conhecida como Colinas de São Paulo. Faz parte da Bacia Sedimentar de Taubaté e pertence à unidade geológica denominada Embasamento Cristalino. Juntamente com a Serra do Mar e a Serra da Cantareira, forma a maior extensão de remanescentes de Mata Atlântica da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê. As encostas de seus morros são recobertas por remanescentes de Floresta Ombrófila Densa. O dossel atinge em média 20m e há indivíduos emergentes com mais de 25m. O sub-bosque apresenta grande riqueza, sendo notável a presença de espécies epífitas, principalmente de bromélias, orquídeas, filodendrons, cactos e begônias. Nos últimos anos, foi constatada a regeneração natural de várias espécies, entre elas o palmito-juçara, planta considerada vulnerável à extinção pela Resolução SMA 48 de 21 de setembro de 2004, e que encontra abrigo e possibilidade de recuperação das suas populações nas áreas protegidas da Serra. Pelo complexo histórico de ocupação da região, a Serra do Itapeti apresenta fitofisionomias campestres e florestais. Dentre as formações florestais, destacam-se os remanescentes de Florestas Ombrófilas Densas em diferentes estágios sucessionais. Também estão presentes campos antrópicos e plantações de eucalipto. O processo de fragmentação das matas do Itapeti alterou o hábitat, com efeitos que comprometem a biodiversidade e a manutenção em longo prazo dos serviços ecossistêmicos da região. Apesar disso, este estudo, que foi realizado ao longo de 15 anos, constatou a presença de 308 espécies, sendo sete exóticas, 91 endêmicas do Domínio Atlântico, oito com algum grau de ameaça de extinção e uma (Cinnamomum sp.) ainda não descrita pela ciência. O encontro de sete espécies exóticas é preocupante e requer estudos mais aprofundados associados a programas de conservação das espécies nativas. Assim, com o objetivo de contribuir para o conhecimento da flora da Serra do Itapeti, esse capítulo apresenta a lista das espécies vegetais registradas até o momento, com ênfase no componente arbóreo dos seus principais remanescentes florestais. Conclui-se que as matas do Itapeti necessitam de políticas que as incluam nos planejamentos ambientais municipais do Alto Tietê e que forneçam garantias de proteção e recuperação dos ambientes degradados. Se quisermos traçar metas de desenvolvimento, englobando a sustentabilidade ambiental como ferramenta para que os sistemas naturais sejam mantidos, é urgente a intervenção da sociedade a favor da conservação da biodiversidade no âmbito regional.

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Pedro Luis Batista Tomasulo

O diâmetro dos troncos das árvores componentes do dossel (Figura 3), se medido a 1,30m do solo, denominado também de DAP – diâmetro dos troncos à altura do peito – varia entre 30 e 80cm, com alguns podendo atingir 100cm. São espécies características do dossel da floresta o jequitibá-branco (Cariniana estrellensis), o cedro-rosa (Cedrella fissilis), o guapuruvu (Schizolobium parahyba), o embiruçu (Pseudobombax grandiflorum), a paineira (Ceiba speciosa), o jatobá (Hymenaea courbaril), a guaraiuva (Pera glabrata), as maçarandubas (Ecclinusa ramiflora; Pouteria bullata; Pouteria laurifolia), as canelas (Aniba firmula; Beilschmiedia emarginata; Cryptocarya saligna; Endlicheria paniculata; Licaria armeniaca; Nectandra leucantha; Nectandra oppositifolia; Ocotea diospyrifolia; Ocotea silvestris), os ingás (Inga marginata; Inga sessilis), as sapopemas (Sloanea guianensis; Sloanea monosperma), as figueiras (Ficus enormis; Ficus insípida), a canjerana (Cabralea canjerana), o guatambu (Aspidosperma olivaceum), entre outras. O sub-bosque (Figura 4) é formado pelas árvores e arbustos que ocorrem sob o dossel. Possui menor porte e as espécies que o habitam estão sujeitas à baixa incidência luminosa, menor temperatura e maior umidade relativa do ar, ou seja, a um ambiente denominado ombrófilo. Esse tipo de ambiente reúne árvores com alturas compreendidas entre 4 e 12m, com DAP variando entre 10 e 25cm. O número de espécies herbáceas que vivem sobre as árvores do estrato médio, denominadas epífitas, é alto, abrangem vários tipos de cactáceas, bromélias, orquídeas, guaimbês e filodendros. É alto também o número de espécies vegetais de hábito trepador. Compõem o estrato médio tanto aquelas trepadeiras tenras e verdes, dotadas de gavinha, quanto aquelas de maior porte, com caule lenhoso, denominadas lianas, que apenas apresentam ramos com folhas e flores quando atingem o dossel, aproveitando-se da incidência direta da luz do sol (Figura 5). As espécies mais comuns no estrato médio da floresta são as pequenas palmeiras de tucuns (Bactris glaucescens; Bactris vulgaris) e guaricangas (Geonoma gamiova), a guabiroba (Campomanesia guaviroba; Campomanesia reitziana), o araticumdo-mato (Annona emarginata; Annona neosericea, Annona sylvatica), o jacaratiá (Jacaratia spinosa), o guarantã (Esenbeckia grandiflora), o cauassú (Cephaelis tomentosa), os camboatás (Cupania

Tipos florestais da Serra do Itapeti De acordo com o Atlas de Classificação da Vegetação Brasileira, a Serra do Itapeti é composta por remanescentes de Floresta Ombrófila Densa (VELOSO et al., 1991). Com histórico antigo de ocupação, a Serra do Itapeti não apresenta mais a floresta primária, que foi suprimida ao longo de décadas. Inicialmente, seus recursos naturais eram utilizados para sobrevivência das populações indígenas da região. Após a colonização e o avanço da industrialização, a vegetação da Serra foi suprimida para confecção do carvão vegetal usado como fonte energética para a siderurgia. A Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes (COSIM) é um exemplo (veja capítulo 22). Atualmente, a pressão de ocupação consolida um novo ciclo de ameaça aos ecossistemas naturais das montanhas do Itapeti. Hoje, a vegetação predominante na Serra é secundária e seu estado de conservação é reflexo do grau de intervenção ou de preservação de cada local. Assim, quanto mais tempo se passou sem a ação de distúrbio humano, maior o grau de preservação da mata e melhor a qualidade do hábitat para as espécies silvestres. Têm-se quatro fitofisionomias nas associações vegetais da Serra, sendo elas: (1) remanescentes de Floresta Ombrófila Densa em estágio médio de regeneração; (2) remanescentes de Floresta Ombrófila Densa em estágios pioneiro e secundário inicial de regeneração; (3) campos antrópicos, e (4) áreas de silvicultura - plantação de eucalipto.

Florestas em estágio médio de regeneração As áreas mais preservadas da Serra do Itapeti apresentam vegetação em estágio médio de regeneração, ou seja, possuem tempo de regeneração pós distúrbio suficiente para a formação de uma estrutura composta por três estratos distintos. A fisionomia dessa mata é florestal (Figura 1), com árvores altas de disposição adensada, cuja estratificação é distinta pela altura que as árvores atingem. O dossel é formado por árvores de maior porte, as quais chegam a atingir cerca de 20m, altura onde as copas se tocam, formando um contínuo que atua filtrando a luz que chega aos estratos inferiores (Figura 2). Muitas espécies, entretanto, ultrapassam essa altura e são denominadas espécies emergentes. São as árvores mais altas desses trechos de floresta e ultrapassam os 25m de altura. 108


Flora fanerogâmica da Serra do Itapeti

emarginata; Cupania oblongifolia; Cupania vernalis; Dodonaea viscosa; Matayba elaeagnoides; Matayba juglandifolia), o palmito-juçara (Euterpe edulis), a fruta-de-pomba (Erythroxylum deciduum), a licurana (Croton salutaris), a simbiúva (Hirtella hebeclada), o jacarandá-pato (Machaerium nictitans), o ipê-amarelo (Handroanthus chrysotrichus), o ipê-tabaco (Zeyheria tuberculosa), o jacarandápaulista (Machaerium villosum), o cambuí (Eugenia cerasiflora), o guamirim (Calyptranthes grandifolia), entre outras. No entanto, segundo Tomasulo (1995) exercem dominância ecológica pelo elevado número de indivíduos de suas populações a mariamole (Guapira opposita – Nyctaginaceae) e o marinheiro (Guarea macrophylla – Meliaceae), essa última muito abundante nos trechos mais úmidos da floresta, ocorrendo principalmente junto aos pequenos cursos d’água. Além dessas espécies, o estrato médio é composto por samambaias arborescentes, denominadas popularmente de samambaiaçus (Figura 6; veja capítulo 7) e pelo palmito-juçara (E. edulis). A última espécie tem apresentado grande sucesso regenerativo nas áreas mais preservadas da Serra como no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello e na Estação Ecológica de Itapeti. Nessas áreas protegidas é comum encontrar o palmito em várias fases de crescimento, desde plântulas (Figura 7), até palmeiras adultas que atingem os pontos de maior altura no estrato médio (Figura 8). Vale ressaltar que o palmito-juçara é uma das espécies consideradas vulneráveis à extinção para o Estado de São Paulo, segundo a Resolução SMA 48 de 21 de setembro de 2004, e o Livro Vermelho das Espécies Vegetais Ameaçadas do Estado de São Paulo (MAMEDE et al., 2007). O estrato inferior da floresta é composto basicamente por espécies vegetais de porte herbáceo e arbustivo que não ultrapassam os quatro metros de altura. Entre elas, estão plantas jovens das espécies ocupantes dos estratos mais altos (Figura 9) que incrementam a riqueza específica, assim como acontece no estrato médio. O estrato inferior se mantém sob as mesmas condições ombrófilas do estrato subsequente. Muitos estudiosos das ciências florestais consideram que a estrutura do estrato inferior está diretamente relacionada com a qualidade de conservação da floresta como um todo, pelo fato desse ambiente abrigar importante fase de desenvolvimento biológico das espécies do dossel. Além disso, esse estrato atua como indicador das ações de distúrbio

florestal, pois sempre que ocorre uma intervenção antrópica na floresta, as marcas de pisoteio, de uso de artefatos de desbaste da mata, como facão, foice ou outras ferramentas são muito evidentes e revelam nele nítidas alterações estruturais. Nas áreas com florestas em estágio médio de regeneração, principalmente nas unidades de conservação da Serra do Itapeti, o sub-bosque é muito bem estruturado apresentando uma riqueza específica significativa. No estrato inferior ocorrem também importantes relações ecológicas entre o ambiente físico e o meio biótico. Nesse ambiente, por exemplo, afloram blocos de granito que servem como hábitat para várias espécies de aráceas e orquidáceas (veja capítulo 9), e estão inseridos todos os cursos d’água que drenam no fundo dos vales para as cotas altitudinais mais baixas (Figura 10) e que, usualmente, abrigam a fauna aquática das encostas da Serra. É no sub-bosque que ocorre todo o depósito da camada de matéria orgânica produzida pela floresta, a denominada serapilheira. Esta é responsável pela fertilidade do solo e manutenção da densa vegetação da serra. Nos trechos mais úmidos da floresta são encontradas plantas herbáceas de grande potencial paisagístico pela beleza das folhas, flores ou touceiras. Entre as principais estão os caetés (Calathea zebrina; Ctenanthe lanceolata), as avencas (veja capítulo 7), as begônias (Begonia fruticosa; Begonia inciso-serrata) e as helicônias (Heliconia velloziana) (Figuras 11 e 12), essas últimas muito cobiçadas por apanhadores clandestinos de plantas pelo valor de suas inflorescências no mercado de paisagismo e ornamentação. Há grande quantidade de espécies cuja dispersão de sementes está associada à fauna no sub-bosque (Figuras 13 e 14), tornando esse ambiente muito rico como nicho de alimentação para aves, mamíferos e insetos.

Florestas em diferentes estágios de regeneração Na Serra do Itapeti, as áreas sob intervenção antrópica apresentam uso do solo variado. Em muitos trechos, há bairros residenciais consolidados, em outros, chácaras com atividade rural, silvicultura com base no cultivo de Eucalyptus e, mais recentemente, condomínios em estabelecimento. Essa heterogeneidade da atividade humana na Serra gera ambientes igualmente heterogêneos 109


Pedro Luis Batista Tomasulo

(Figura 15). Concomitantemente ao processo de ocupação ocorre o processo de regeneração espontânea da vegetação, onde as áreas desmatadas são naturalmente repovoadas. No início há o estabelecimento de plantas herbáceas e, ao longo do tempo, ocorre a substituição gradativa de espécies adaptadas às condições ambientais que surgem, formando comunidades singulares resultantes de um processo sucessivo, até a formação da floresta. Com o estabelecimento das comunidades herbáceas surgem condições para o desenvolvimento de plantas maiores, de hábito arbustivo e de pequenas árvores. Essas comunidades mistas são denominadas capoeiras, e são comuns na Serra do Itapeti nos trechos desmatados e que tenham sido abandonados há cerca de dez anos, além das margens de estradas e caminhos. As capoeiras são formadas principalmente por arbustos e pequenas árvores com alturas que variam entre 2 e 8m, distribuídas esparsamente no ambiente, sem formar um dossel. Assim, a luz solar penetra por entre as copas, incidindo diretamente no solo e favorecendo o crescimento de espécies heliófitas e generalistas que irão colonizar rapidamente o local. Uma das espécies mais frequente nesses ambientes em transformação é o manacá-daserra (Tibouchina mutabilis) (Figura 16), que em muitos locais apresenta populações numerosas. Outras espécies características dessas capoeiras são o vassourão (Piptocarpha axillaris) a candiúva (Trema micrantha), as embaúbas (Cecropia glaziovi; Cecropia hololeuca; Cecropia pachystachya), os tapiás (Alchornea sidifolia; Alchornea triplinervia), o capixingui (Croton floribundus; Croton salutaris) e as aroeiras-pimenteiras (Schinus terebinthifolius). Especialmente nas bordas das capoeiras, é comum a ocorrência de uma gramínea bambusoide trepadeira do gênero Chusquea, que por meio das células silicificadas que cobrem a bainha de suas folhas, consegue aderência suficiente para chegar à copa das árvores a partir do solo. A infestação de Chusquea na floresta em estágio médio ocorre a partir das áreas de borda ou a partir da formação de clareiras no interior dos remanescentes. Essa infestação é, geralmente, de difícil controle.

campos, a implantação de pastagem e o seu manejo para evitar a formação de capoeiras são os principais fatores da persistência dessa fitofisionomia na Serra do Itapeti. Também contribui para a manutenção da fisionomia campestre a presença de caules do tipo rizoma, em diversas espécies ali presentes, principalmente aquelas da família Poaceae. Segundo Bazzaz (1996), as características das espécies de plantas que se estabelecem nesses locais é muito semelhante, ou seja, são em sua maioria heliófitas, de crescimento rápido, tolerantes à baixa fertilidade do solo e de ciclo de vida curto, geralmente anual ou bianual. São frequentes o capim-gordura (Melinis minutiflora) e o capim-braquiária (Brachiaria), espécies exóticas trazidas da África, e amplamente utilizadas como forrageiras, servindo de pastagem para o gado. Associadas a esses pastos ocorrem ervas e arbustos considerados ruderais, ou seja, colonizadores de terrenos baldios, beira de estradas e pastos, como o oficial-de-sala (Asclepias curassavica), a trapoeraba (Commelina), a guanxuma (Malvastrum), o assapeixe (Vernonanthura diffusa), os cambarás (Lantana camara), entre outros. De modo geral, as áreas em estágio pioneiro ou secundário inicial, bem como os campos antrópicos apresentam baixa riqueza e grande dominância de algumas espécies. Em geral, estas espécies se caracterizam por apresentar ciclo de vida curto, produzindo grande quantidade de flores e frutos que ficam disponíveis à fauna associada aos estágios iniciais da regeneração.

Silvicultura – plantio de eucalipto O cultivo do eucalipto está entre as principais atividades econômicas que ocorrem nas áreas rurais na região do Alto Tietê, perfazendo grandes extensões de área plantada. Uma vez que formam adensados arbóreos monoespecíficos, com indivíduos geneticamente idênticos e de crescimento uniforme, essas áreas podem ser facilmente distinguidas dos remanescentes de florestas naturais existentes na Serra do Itapeti, conforme mostra a Figura 17. O clima úmido da Serra, juntamente com a cobertura orgânica do solo fornecida pelos eucaliptos, torna o ambiente favorável à regeneração da mata no interior dos talhões de cultivo. Nota-se que o processo regenerativo nas fazendas de eucalipto localizadas na Serra do Itapeti ocorre com maior vigor e rapidez nos locais onde há fragmentos de floresta nativa circundante. Estes fragmentos

Campos antrópicos Nos campos antrópicos a vegetação é herbácea, com as ervas graminoides predominando no processo de colonização. Na maioria das áreas de 110


Flora fanerogâmica da Serra do Itapeti

nativos fornecem propágulos e agentes dispersores da fauna que contribuem com a colonização das espécies nativas dentro dos talhões de eucalipto. Tomasulo (2010), num levantamento florístico realizado na Serra do Itapeti, que incluiu talhões de eucalipto, encontrou sub-bosque formado por espécies nativas dos estágios de regeneração inicial e médio. De forma geral, no interior dos talhões antigos de eucalipto na Serra do Itapeti, é comum a ocorrência de helicônias, caetés, camboatás, manacás, capororocas, candiúvas, canelas, guaçatongas, canjeranas, jerivás, samambaiaçus e até mesmo do palmito-juçara, desde que o manejo de roçadas tenha sido interrompido por dez anos e que existam fragmentos circundantes de floresta nativa.

lista da flora da Serra do Itapeti possui similaridade de 85,7% no nível de família, de 65,1% no nível de gênero e de 45% no de espécies. Analisando trabalhos sobre a diversidade florística de Florestas Ombrófilas Densas no Estado de São Paulo realizados na Jureia, Ilha do Cardoso, Cubatão, Picinguaba, Ubatuba e Salesópolis, Tabarelli & Mantovani (1999) concluíram que as famílias com maior riqueza de espécies são Myrtaceae, Leguminosae, Rubiaceae, Lauraceae, Melastomataceae e Euphorbiaceae, todas com mais de 15 espécies. A presente listagem apresenta as famílias Fabaceae, Asteraceae, Myrtaceae, Lauraceae, Melastomataceae e Rubiaceae com maior número de espécies, dados muito semelhantes aos encontrados nas localidades com Mata Atlântica analisadas pelos autores citados. Tais famílias foram referenciadas também por Leitão Filho (1982) entre aquelas possuidoras de maior riqueza específica nos remanescentes de Mata Atlântica no Estado de São Paulo. Os remanescentes da Serra do Itapeti abrigam uma considerável diversidade biológica vegetal, conforme apontaram os estudos de Tomasulo (1995), Tomasulo & Cordeiro (2000) e Tomasulo (2010). Em relação aos índices de diversidade de Shannon e Wiener (H’), Tomasulo (1995) obteve valores > 3,0, quando calculados para a sinúsia arbórea obtida em três remanescentes florestais do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, em Mogi das Cruzes. Além da alta diversidade, tais remanescentes possuem oito espécies (Araucaria angustifolia; Calathea zebrina; Calea serrata; Euterpe edulis; Machaerium villosum; Myrceugenia campestris; Myrceugenia rufescens; Pouteria bullata) com algum grau de ameaça de extinção, segundo as listas publicadas no nível estadual (Resolução SMA Nº. 48/2004), nacional (Fundação Biodiversitas) e internacional (União Internacional para Conservação da Natureza – IUCN). A ação antrópica na vegetação da Serra do Itapeti vem sendo o principal fator de modificação da fitocenose e, consequentemente, dos hábitats para a vida silvestre. A interrupção do contínuo florestal pela formação de moradias, pastos, silvicultura e estradas altera de forma abrupta a fitofisionomia local, formando um mosaico na paisagem onde a matriz, geralmente, é composta por áreas com alto grau de transformação (Figura 18). Esse tipo de intervenção na paisagem confi-

Resultados e discussão A Tabela 1 mostra a composição florística dos principais remanescentes na Serra do Itapeti estudados até a presente data, enfatizando o componente arbóreo-arbustivo. É apresentada uma lista com 308 espécies distribuídas em 81 famílias botânicas e 215 gêneros. Os dados utilizados para compor tal listagem foram obtidos por meio de levantamentos florísticos, com ênfase no componente arbóreo. Foram utilizados dados de pesquisas realizadas nas áreas naturais protegidas da Serra do Itapeti, por trabalhos técnicos e por trabalhos acadêmicos realizados por alunos das universidades mogianas. Os binômios utilizados foram baseados em Stehmann et al. (2009), à exceção quando houve parecer diferente de um especialista consultado ou foi encontrada uma revisão recente. A nomenclatura botânica adotada seguiu as normas do Código Internacional de Nomenclatura Botânica (MCNEILL et al., 2006). A identificação dos espécimes foi feita por meio de consultas à bibliografia especializada, a especialistas e por comparações com o material depositado no herbário Maria Eneyda P. Kauffmann Fidalgo, do Instituto de Botânica de São Paulo. Embora para Eiten (1970), a ocorrência conjunta de estágios sucessionais diferentes possam dificultar a classificação da vegetação, não há dúvidas sobre a proximidade florística da mata da Serra do Itapeti com outras regiões de ocorrência de Mata Atlântica no Estado de São Paulo. Se comparada a um estudo clássico sobre a florística da Mata Atlântica costeira de Ubatuba (SP), realizado por Silva & Leitão Filho (1982), a presente 111


Pedro Luis Batista Tomasulo

na as espécies florestais em hábitats de tamanho cada vez mais reduzido, induzindo a polinização entre plantas de parentesco genético muito próximo e, segundo Forman (1997), provocando a extinção local de espécies com perda de diversidade biológica. Além disso, foram observadas na Serra do Itapeti espécies que ocupam hábitats muito especiais, como o peixinho (Nematanthus villosus – Gesneriaceae), planta que foi coletada apenas em um trecho úmido, junto a um curso d’água no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello e uma espécie de maçaranduba (Pradosia lactescens – Sapotaceae), coletada apenas em um trecho de floresta muito preservado no mesmo Parque, e que é raramente citada em levantamentos florísticos no Estado de São Paulo. Segundo Richards (1996), nas florestas tropicais, muitas espécies possuem pequena área de ocorrência natural ou ainda áreas pequenas podem possuir alta porcentagem de espécies endêmicas. Populações desse tipo possuem, geralmente, baixa abundância de indivíduos, sendo naturalmente raras e, portanto, mais sensíveis à ação antrópica, correndo o risco de entrar em extinção local ou regional se os distúrbios se intensificarem. Assim, as espécies dos estágios mais avançados de regeneração tendem a desaparecer, predominando associações vegetais secundárias iniciais e pioneiras. Essa alteração antrópica na paisagem interfere nos estudos da vida silvestre em geral, dificultando o entendimento das comunidades e suas relações ecológicas. Apesar da Lei Estadual Nº. 4.529 de 18 de janeiro de 1985 que disciplina o uso e a ocupação do solo na Serra do Itapeti (veja capítulo 4), a pressão de ocupação está causando uma ampla conversão da floresta em um mosaico de hábitats alterados e remanescentes isolados pela ação humana, assim como ocorre na maioria dos processos de intervenção nas florestas tropicais (GASCON et al., 2001). A fragmentação florestal na Serra do Itapeti vem causando mudanças nas condições estruturais da floresta, principalmente pelo efeito de borda. Tal efeito resulta no aumento da queda de folhas, na quebra de galhos, na mortalidade de plântulas e na invasão de espécies trepadeiras, dentre outras consequencias. Esses efeitos foram notados em todas as bordas dos remanescentes fragmentados, sem distinção. Além disso, na Serra do Itapeti, a fragmentação das florestas nativas ocorre para a consolidação de áreas de uso antrópico permanente. Estas áreas representam uma barreira para muitas

espécies da flora, principalmente aquelas de interior de mata, que serão afetadas no processo de polinização, na dispersão de seus propágulos e no estabelecimento de plântulas em ambientes mais hostis, como os pastos, por exemplo. Além dos impactos causados pela fragmentação, há aqueles relacionados com o clima global. Colombo & Joly (2010) realizaram um estudo relacionando os impactos das mudanças climáticas com a área de distribuição de 38 espécies arbóreas típicas de Mata Atlântica. Segundo os resultados encontrados pelos autores, entre as espécies que sofrerão maior redução de sua área de ocorrência estão Euterpe edulis, Mollinedia schottiana e Inga sessilis, árvores que ocorrem naturalmente nos fragmentos de mata da Serra do Itapeti. Portanto, recomenda-se que o manejo da paisagem na área deva considerar a importância do contínuo florestal como forma de conservação da biodiversidade, principalmente naqueles remanescentes em estágio médio de regeneração, favorecendo a conectividade e evitando o isolamento maior dos fragmentos hoje existentes. O estabelecimento de corredores de vegetação que possam conectar os componentes naturais da paisagem, restaurando ou recompondo áreas já degradadas, é fundamental para a manutenção da heterogeneidade de hábitats e da diversidade biológica. É importante considerar também a criação de projetos integrados que contemplem a conservação de áreas pequenas, mesmo aquelas que apresentem algum grau de alteração como as capoeiras, pois elas têm papel importante na movimentação e dispersão de espécies entre os fragmentos, funcionando como verdadeiros trampolins ecológicos (FORMAN, 1997; SCHAIK & RIJKSEN, 2002). Assim, há necessidade urgente de estudos mais aprofundados sobre a composição de espécies das diversas fitofisionomias na Serra do Itapeti, enfatizando não somente o componente arbóreo, mas também plantas herbáceas e epífitas, além daquelas que são capazes de colonizar ambientes já alterados. Além disso, os fragmentos de mata hoje existentes necessitam ter seus posicionamentos geográficos levantados, dimensionados e avaliados quanto ao grau de conservação e isolamento na paisagem. Somente assim haverá possibilidade de identificação das áreas prioritárias para a criação de um maior número de unidades de conservação, minimizando o risco de perda da diversidade biológica.

112


Flora fanerogâmica da Serra do Itapeti

Acanthaceae Amaranthaceae Amaryllidaceae Anacardiaceae

Annonaceae

Apocynaceae

Justicia carnea Lindl.

junta-cobra

Mendoncia velloziana Mart.

Araliaceae Araucariaceae

Arecaceae

Aristolochiaceae

Amaranthus sp.

caruru

Pfaffia paniculata (Mart.) Kuntze

Biodiversitas

IUCN

H H

Hippeastrum sp.

açucena

H

Schinus terebinthifolius Raddi

aroeira-pimenteira

AR

Tapirira guianensis Aubl.

tapiriri

AR

Annona emarginata (Schltdl.) H. Rainer

araticum

AR

x

Annona neosericea H. Rainer

araticum

AR

x

Annona sylvatica A. St.-Hil.

araticum

AR

x

Guatteria australis A. St.-Hil.

pindaíba

AR

x

Xylopia brasiliensis Spreng.

pindaíba

AR

x

Asclepias curassavica L.

oficial-de-sala

H

Aspidosperma olivaceum Müll. Arg.

guatambu

AR

Malouetia cestroides (Nees ex Mart.) Müll. Arg.

x

AR H

Anthurium crassipes Engler

antúrio

Anthurium scandens (Aubl.) Engl.

antúrio

Lemna gibba L.

lentilha-d’água

AQ

H H

Wolffiella neotropica Landolt

lentilha-d’água

AQ

Schefflera angustissima (Marchal) Frodin

mandioqueira

AR

Schefflera calva (Cham.) Frodin & Fiaschi

mandioqueira

AR

Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze

araucária; pinheiroAR do-paraná

Bactris glaucescens Drude

tucum

AR

Bactris vulgaris Barb. Rodr.

tucum

AR

Euterpe edulis Mart.

palmito-juçara

AR

Geonoma gamiova Barb. Rodr.

guaricanga

AR

Syagrus rommanzoffiana (Cham.) Glassman

jerivá

AR

Aristolochia paulistana Hoehne

papo-de-peru

TR

Achyrocline satureioides (Lam.) DC.

macela

AB

Baccharis anomala DC.

H

Baccharis dentata (Vell.) G. M. Barroso

AB

Baccharis dracunculifolia DC. Asteraceae

H H

Orthosia urceolata E. Fourn.

Araceae

Ameaça de extinção SMA 48/2004

Nome popular

Espécie

Espécie endêmica do Domínio Atlântico

Família

Hábito***

Tabela 1. Lista geral das espécies encontradas nos remanescentes de mata nativa na Serra do Itapeti.

vassourinha

Baccharis elaeagnoides Steud. ex Baker Baccharis trimera (Less.) DC.

carqueja-do-mato

H

Bidens pilosa L.

erva-picão

H

língua-de-vaca

AB

H

Chaptalia nutans (L.) Polak.

113

x

x

VU CR EN

x VU x x x

AB AB

Calea serrata Less.

x

x

VU

EN


Pedro Luis Batista Tomasulo

Asteraceae

Emilia sonchifolia (L.) DC.

serralhinha

H

Eupatorium sp.

eupatório

H

Mikania cordifolia (L. F.) Willd.

cipó-cabeludo

AB

Mutisia coccinea A. St.-Hil.

cravo-divino

AB

Piptocarpha axillaris (Less.) Baker

vassourão

Piptocarpha regnellii (Sch.Bip.) Cabrera Senecio brasiliensis (Spreng.) Less.

AR flor-das-almas

AB

Taraxacum officinale (L.) Weber *

dente-de-leão; amargosa

AR H

Vernonanthura westiniana (Less.) H. Rob.

Begoniaceae

Bignoniaceae

Bromeliaceae

Cactaceae

x x

Symphyopappus sp.

Vernonanthura diffusa (Less.) H. Rob.

Balsaminaceae

TR AR

AB

Impatiens walleriana Hook. F. *

maria-semvergonha

H

Begonia fruticosa (Klotzsch) A. DC.

begônia

H

x

Begonia incisoserrata A. DC.

begônia

H

x

Amphilophium crucigerum (L.) L.G. Lohmann

pente-de-macaco

AR

Handroanthus chrysotrichus (Mart. ex DC.) Mattos ipê-amarelo

AR

Pyrostegia venusta (Ker Gawl.) Miers.

cipó-de-são-joão

TR

Zeyheria tuberculosa (Vell.) Bureau ex Verl.

ipê-tabaco

AR

Aechmea organensis Wawra

bromélia

EP

Bilbergia distachia (Vell.) Mez

bromélia

EP

Canistrum cf. cyathiforme Mez

bromélia

EP

Tillandsia geminiflora Brongn.

bromélia

EP

Vriesea carinata Wawra

bromélia

EP

x

Cereus jamacaru DC.

EP

Hatiora salicornioides (Haworth) Britton & Rose

EP

x

Lepismium houlletianum (Lemaire) Barthlott

EP

x

Pereskia grandiflora Haw.

EP

Rhipsalis baccifera (J. M. Muell.) Stearn

EP

Rhipsalis burchellii Britton & Rose

EP

x

Rhipsalis elliptica G. Lindb. ex K. Schum.

EP

x

Rhipsalis puniceo-discus G. Lindb.

EP

x

Rhipsalis teres (Vell.) Steud.

EP

x

EP

x

Rhipsalis trigona Pfeiff. Cannabaceae

Trema micrantha (L.) Blume

candiúva

Cannaceae

Canna indica L.

bananeirinha

H

Cardiopteridaceae

Citronella paniculata (Mart.) R. A. Howard

congonha

AR

Caricaceae

Jacaratia spinosa (Aubl.) A. DC.

jacaratiá

AR

Maytenus alaternoides Reissek

cafezinho-do-mato

AR

Maytenus evonymoides Reissek

cafezinho-do-mato

AR

Celastraceae

x

114

AR x

Biodiversitas

IUCN

Ameaça de extinção SMA 48/2004

Nome popular

Espécie

Espécie endêmica do Domínio Atlântico

Família

Hábito***

Tabela 1. (Continuação)


Flora fanerogâmica da Serra do Itapeti

Chrysobalanaceae

Hirtella hebeclada Moric. ex DC.

simbiúva

AR

Clethraceae

Clethra scabra Pers.

vassourão

AR

Clusia criuva Cambess.

criúva

AR

Clusiaceae

Garcinia gardneriana (Planch. & Triana) Zappi

bacupari

AR

Tovomitopsis paniculata (Spreng.) Planch. & Triana Commelinaceae

Commelina erecta L.

AR trapoeraba-azul

H TR

Dichorisandra thyrsiflora J. C. Mikan

H

Convolvulaceae

Ipomoea cairica (L.) Sweet

jetirana

Cordiaceae

Cordia sellowiana Cham.

louro-mole

AR

Cunoniaceae

Lamanonia ternata Vell.

guaperê

AR

Cyperaceae

Dilleniaceae Elaeocarpaceae Erythroxylaceae

Euphorbiaceae

Fabaceae

Cyperus sp.

H

Eleocharis elegans (Kunth) Roem. & Schult.

H

Pleurostachys sp.

H

Rynchospora exaltata Kunth

H

Rynchospora sp.

H

Davilla rugosa Poir.

cipó-caboclo

H

Sloanea guianensis (Aubl.) Benth.

sapopema

AR

Sloanea monosperma Vell.

sapopema

AR

Erythroxylum deciduum A. St.-Hil.

fruta-de-pomba

AR

Acalypha gracillis Spreng.

AR

Actinostemon concepcionis Pax & K. Hoffm.

AR

Alchornea sidifolia Müll. Arg.

tapiá

AR

Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll. Arg.

tapiá-mirim

AR

x

Croton floribundus Spreng.

capixingui

AR

Croton salutaris Casar.

capixingui

AR

Croton urucurana Baill.

sangra-d’água

AR

Sapium glandulosum (L.) Morong

pau-de-leite

AR

Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan

angico

AR

Andira fraxinifolia Benth.

angelim-rosa

AR

Bauhinia geminata Vogel

pata-de-vaca

AR

Cassia ferruginea (Schrad.) DC.

canafístula

AR

Chamaecrista nictitans (L.) Moench

falsa dormideira

H

Crotalaria anagyroides H. B. K.

guiso-de-cascavel

AB

Crotalaria micans Link

guiso-de-cascavel

AB AR

x

Dalbergia brasiliensis Vogel

caviúna

AR

x

Desmodium adscendens (Sw.) DC.

carrapicho-beiçode-boi

H

Erythrina speciosa Andrews

mulungu

AR

Hymenaea courbaril L.

jatobá

AR

Inga marginata Willd.

ingá-feijão

AR

Dahlstedtia pinnata (Benth.) Malme

115

x

Biodiversitas

IUCN

Ameaça de extinção SMA 48/2004

Nome popular

Espécie

Espécie endêmica do Domínio Atlântico

Família

Hábito***

Tabela 1. (Continuação)


Pedro Luis Batista Tomasulo

AR

x

Machaerium acutifolium Vogel

guaxumbé

AR

Machaerium nictitans (Vell.) Benth.

jacarandá-bico-deAR pato

Fabaceae

jacarandá-paulista

AR

dormideira

H

Mimosa scabrella Benth.

bracatinga

AR

x x

Ormosia arborea (Vell.) Harms

olho-de-cabra

AR

Piptadenia gonoacantha (Mart.) J. F. Macbr.

pau-jacaré

AR

Schizolobium parahyba (Vell.) S. F. Blake

AR guapuruvu

Senna multijuga (L. C. Rich.) H. S. Irwin & Barneby pau-cigarra

AR

Swartzia myrtifolia Sm.

AR

braúna

Zollernia ilicifolia (Brongn.) Vogel

x

AR

AR

Gesneriaceae

Nematanthus villosus (Hanst.) Wiehler

peixinho

Heliconiaceae

Heliconia velloziana L. Emygdio

helicônia

H

Aegiphila sellowiana Cham.

tamanqueiro

AR

Lauraceae

VU

Machaerium villosum Vogel. Mimosa pudica L.

Pseudopiptadenia leptostachya (Benth.) Rauschert

Lamiaceae

x

H

Vitex polygama Cham.

tarumã

AR

Aniba firmula (Nees & Mart.ex Nees) Mez

canela-louro

AR

Beilschmiedia emarginata (Meisn.) Kosterm. Cinnamomum sellowianum (Nees & Mart. ex Nees) Kosterm. Cinnamomum sp.** (espécie inédita)

canela-oiti

AR

Cryptocarya saligna Mez

canela-branca

AR

Endlicheria paniculata (Spreng.) J. F. Macbr.

canela frade

AR

x

AR AR

Licaria armeniaca (Nees) Kosterm.

canela

AR

Nectandra leucantha Ness & Mart. ex Nees

canelinha

AR

Nectandra membranacea (Sw.) Griseb.

injuva-branca

AR

Nectandra oppositifolia Nees & Mart. ex Nees

canela-ferrugem

AR

canela-amarela

AR

Ocotea aciphylla (Nees & Mart. ex Nees) Mez Ocotea diospyrifolia (Meisn.) Mez

x

x

x

AR

Ocotea cf. laxa (Nees) Mez

AR

x

Ocotea puberula (Rich.) Nees

canela-guaicá

AR

Ocotea silvestris Vattimo-Gil

canela-silvestre

AR

x

AR

x

Ocotea urbaniana Mez Persea willdenovii Kosterm.

abacateiro-do-mato AR

Lecythidaceae

Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze

jequitibá-branco

AR

Loganiaceae

Strychnos brasiliensis (Spreng.) Mart.

quina

AR

Loranthaceae

Struthanthus concinnus Mart.

erva-de-passarinho TR

Lythraceae

Lafoensia pacari A. St.-Hil.

dedaleiro

116

AR

Biodiversitas

ingá-ferradura

Espécie

IUCN

Espécie endêmica do Domínio Atlântico

Inga sessilis (Vell.) Mart.

Família

Ameaça de extinção SMA 48/2004

Nome popular

Hábito***

Tabela 1. (Continuação)


Flora fanerogâmica da Serra do Itapeti

Ceiba speciosa (A. St.-Hil., A. Juss. & Cambess.) Ravenna Malvastrum sp. Malvaceae

Marantaceae

paineira

AR

guanxuma

AB

Pavonia communis A. St.-Hil.

malva

AB

Pseudobombax grandiflorum (Cav.) A. Robyns

embiruçu

AR

Sida cordifolia L.

vassourinha

AB

Sida glaziovii K. Schum.

guanxuma-branca

AB

Melastomataceae

Meliaceae

Menispermaceae

Monimiaceae

Moraceae

Myristicaceae

Calathea zebrina (Sims) Lindl.

caetê

H

x

caetê

H

x

Leandra amplexicaulis DC.

AR

x

Leandra mosenii Cogn.

AR

x

Leandra niangiformis Cogn.

AR

x

AR

x

Miconia cabussu Hoehne

pixirica, cabuçu

AR

x

Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin

jacatirão

AR

x

Miconia cubatanensis Hoehne

jacatirãozinho

AR

Miconia fasciculata Gardner

AR

x

Miconia inaequidens (DC.) Naudin

AR

x

Miconia sellowiana Naud.

AR

Miconia sp.

AR

Mouriri chamissoana Cogn.

guaé-branco

AR

x

Tibouchina granulosa (Desr.) Cogn.

quaresmeira

AR

x

Tibouchina mutabilis (Vell.) Cogn.

manacá-da-serra

AR

x

Cabralea canjerana (Vell.) Mart.

canjerana

AR

Cedrela fissilis Vell.

cedro-rosa

AR

Guarea macrophylla Vahl

marinheiro

AR

Trichilia pallida Swartz

catiguá

AR

Abuta selloana Eichler

TR

Mollinedia argyrogyna Perkins

AR

Mollinedia clavigera Tul.

AR

Mollinedia schottiana (Spreng.) Perkins

AR

x x

Mollinedia triflora (Spreng.) Tulasne

AR

x

Mollinedia uleana Perkins

AR

x

Ficus enormis Mart. ex Miq.

figueira-branca

AR

Ficus insipida Willd. Sorocea bonplandii (Baill.) W. Burg., Lanj. & Wess. Boer Virola oleifera (Schott) A. C.Sm.

AR

Myrsine paulensis A. DC.

figueira falsa-espinheirasanta bocuva capororocavermelha capororoca

AR

Myrsine umbellata Mart.

capororoca

AR

Myrsine ferruginea (Ruiz & Pav.) Mez Myrsinaceae

x

Ctenanthe lanceolata Petersen

Leandra purpurascens Cogn.

117

AR

x

AR AR

x

VU

Biodiversitas

IUCN

Ameaça de extinção SMA 48/2004

Nome popular

Espécie

Espécie endêmica do Domínio Atlântico

Família

Hábito***

Tabela 1. (Continuação)


Pedro Luis Batista Tomasulo

Myrsinaceae

Myrsine umbrosa Mart. ex Miq.

capororoca

Calyptranthes grandiflora O. Berg

Myrtaceae

AR

x

Campomanesia guaviroba (DC.) Kiaersk.

guabiroba

AR

x

guabiroba

AR

x

Eucalyptus sp. *

eucalipto

AR

Eugenia cerasiflora Miq.

guamirim, cambuí

AR

Eugenia involucrata DC.

cerejeira-do-mato

AR

Eugenia kleinii D. Legrand.

guamirim, cambuí

AR

x

Eugenia neoverrucosa Sobral

guamirim, cambuí

AR

x

Eugenia prasina O. Berg.

uvaia-do-campo

AR

x

Eugenia pyriformis Cambess.

guamirim, cambuí

AR AR

Myrceugenia campestris (DC.) Legrand et Kausel

cambuí

AR

x

VU

Myrceugenia rufescens (DC.) Legrand et Kausel

cambuí

AR

x

VU

Myrcia glabra (O. Berg) Legrand

guamirim-vermelho AR

x

Myrcia hebepetala DC.

x

Myrcia tomentosa (Aubl.) DC.

aperta-guela AR guamirim-de-folhaAR miúda goiaba-brava AR

Myrciaria floribunda (H. West ex Willd.) O. Berg.

cambuí

AR

Myrcia splendens (Sw.) DC.

Psidium cattleyanum Sabine

araçá

AR

Syzigium jambos (L.) Alston

jambo

AR

Nyctaginaceae

Guapira opposita (Vell.) Reitz

maria-mole

AR

Olacaceae

Heisteria silvianii Schwacke

brinco-de-mulata

AR

Onagraceae

Ludwigia elegans (Cambess.) H. Hara

cruz-de-malta

H

Passiflora cincinnata Mast.

maracujá-do-mato

TR

Passiflora edulis Sims

maracujá-do-mato

TR

Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill.

tabucuva

AR

Hyeronima alchorneoides Allemão

urucurana

AR

Passifloraceae Peraceae Phyllanthaceae

Savia dictyocarpa Müll. Arg.

guaraiuva

AR

Phytolaccaceae

Seguieria aculeata Jacq.

agulheiro

AR

Picramniaceae

Picramnia glazioviana Engl.

camboitá

AR

Peperomia catharinae Miq.

AB

Peperomia hispidula (Sw.) A. Dietr.

AB

Piper aduncum L. Piperaceae

caapeba

AB

Piper cernuum Vell.

AB

Piper lhotzkyanum Kunth

AB

Piper reitzii Yunck.

AB

Piper rivinoides Kunth

erva-de-vidro

Piper urocarpa Fischer et Meyer Plantaginaceae

AB H

Plantago tomentosa Lam.

tanchagem

118

H

x

x

x x

Biodiversitas

IUCN

AR

Campomanesia reitziana D. Legrand

Eugenia sp.

Ameaça de extinção SMA 48/2004

Nome popular

Espécie

Espécie endêmica do Domínio Atlântico

Família

Hábito***

Tabela 1. (Continuação)


Flora fanerogâmica da Serra do Itapeti

Andropogon bicornis L.

Poaceae

H

Brachiaria sp. *

capim-braquiária

H

Chusquea oxylepis (Hackel) Ekman

taquarembó

TR

Melinis minutiflora P. Beauv. *

capim-gordura

H

Panicum maximum Jacq. *

capim-colonião

Paspalum sp.

H H

Setaria sp.

H

Polygalaceae

Polygala sp.

H

Polygonaceae

Coccoloba vellosiana Casar.

AR

Proteaceae

Roupala montana Aubl.

carne-de-vaca

AR

Eriobotrya japonica (Thumb.) Lindl.

ameixeira, nespereira

AR

Prunus sellowii Koehne

pessegueiro-bravo

AR

Rubus rosifolius J. E. Sm.

moranguinhosilvestre

AB

Rosaceae

Alibertia concolor (Cham.) Schum.

AB

Amaioua intermedia Mart. ex Schult. & Schult. f.

canela-de-veado

AR

Bathysa australis (A. St.-Hil.) K. Schum.

cauassu

AR

Cephaelis tomentosa (Aubl.) Vahl

AR

Coccocypselum lanceolatum (Ruiz & Pav.) Pers.

AB

Faramea montevidensis (Cham. & Schltdl.) DC.

AR

Guettarda viburnoides Cham.& Schltdl.

veludo-branco cipó-de-santoantonio

AR

Palicourea marcgravii A. St.-Hill.

erva-de-rato

AR

Posoqueria latifolia (Rudge) Schult.

laranja-de-macaco

AR

Psychotria carthagenensis Jacq.

erva-de-rato

AB

Psychotria cephalanta (Müll. Arg.)

erva-de-rato

AB

Psychotria leiocarpa Cham. & Schltdl.

erva-de-rato

AB

Manettia cordifolia Mart. Rubiaceae

Margaritopsis cephalanta (Müll. Arg.) C. M. Taylor

TR AR

Psychotria sessilis (Vell.) Müll. Arg.

AB

Psychotria suterella Müll. Arg.

erva-de-rato

AB

Psychotria vellosiana Benth.

erva-de-rato

AB

Rudgea jasminoides (Cham.) Müll. Arg.

erva-de-rato

AB

Rutaceae

Esenbeckia grandiflora Mart.

guarantã

AR

Rutaceae

Zanthoxylum rhoifolium Lam.

mamica-de-porca

AR

Casearia decandra Jacq.

guaçatonga

AR

Casearia obliqua Spreng.

guaçatonga

AR

Casearia sylvestris Sw.

guaçatonga

AR

Allophylus petiolulatus Radlk.

vacum

AR

Cupania oblongifolia Mart.

baga-de-mocego

AR

Salicaceae

Sapindaceae

x

119

x

Biodiversitas

IUCN

Ameaça de extinção SMA 48/2004

Nome popular

Espécie

Espécie endêmica do Domínio Atlântico

Família

Hábito***

Tabela 1. (Continuação)


Pedro Luis Batista Tomasulo

Cupania vernalis Cambess. Sapindaceae

Sapotaceae

Solanaceae

camboatá

Dodonaea viscosa Jacq. Matayba elaeagnoides Radlk.

camboatá

AR

Matayba juglandifolia (Cambess.) Radlk.

camboatá-branco

AR

Ecclinusa ramiflora Mart.

maçaranguba

AR

Pouteria bullata (S. Moore) Baehni

guacá-de-leite

AR

Pouteria laurifolia (Gomes) Radlk.

aguaí

AR AR

Capsicum flexuosum Sendtn.

AB

x

Capsicum mirabile Mart.

AB

x

Cestrum lanceolatum Miers.

AR

Cyphomandra diploconos (Mart.) Sendtn.

AB

Sessea brasiliensis Toledo

peroba-d’água

Urticaceae

espora-de-galo

Vochysiaceae Zingiberaceae

Biodiversitas

IUCN

AB

AR

x

AR

x

AR

x

Solanum mauritianum Scop.

AR

Solanum rufescens Sendtn.

AR

x

Solanum variabile Mart.

AR

x

Symplocos tetrandra Mart.

AR

x

Symplocos uniflora (Pohl) Benth.

AR

Daphnopsis schwackeana Taub.

AR

Typha domingensis Pers.

taboa

H

Boehmeria caudata Sw.

rabo-de-raposa

AR

Cecropia glaziovi Snethlage

embaúba

AR

Cecropia hololeuca Miq.

embaúba

AR

Cecropia pachystachya Trécul.

embaúba

AR

Urera baccifera (L.) Gaudich. ex Wedd.

urtiga

AR

Coussapoa microcarpa (Schott) Rizzini

Verbenaceae

H

AR

Solanum inodorum Vell.

Typhaceae

VU

Pradosia lactescens (Vell.) Radlk. Brugmansia suaveolens (H. B. K. ex Willd.) Bercht. trombeteira & C. Presl Brunfelsia sp.

Solanum inaequale Vell.

Thymelaeaceae

x

AR AB

Solanum bullatum Vell.

Symplocaceae

Ameaça de extinção SMA 48/2004

Nome popular

Espécie

Espécie endêmica do Domínio Atlântico

Família

Hábito***

Tabela 1. (Continuação)

x

x

AR

Lantana camara L.

cambará

AB

Lantana fucata Lindl.

cambará-roxo

AB

Qualea selloi Warm.

louro-da-serra

AR

Vochysia tucanorum Mart.

pau-de-tucano

AR

Hedychium coronarium J. König *

lirio-do-brejo

H

* Espécies marcadas com um asterisco são aquelas exóticas plantadas ou de ocorrência subespontânea na mata. ** Espécie inédita para a ciência, ainda em fase de descrição taxonômica. Para o enfoque de endemismo da espécie no Domínio Atlântico foram consultadas as informações de Stehmann et al. (2009). Para o enfoque do grau de ameaça de extinção de cada espécie foram consultadas as listas publicadas pela Resolução SMA 48 de 21 de setembro de 2004, pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) e pela Fundação Biodiversitas, cujas espécies consideradas vulneráveis à extinção foram marcadas com a sigla VU, em perigo com a sigla EN e aquelas consideradas criticamente em perigo com a sigla CR. *** Hábitos: AB = arbusto; AR = árvore; AQ = aquática; EP = epífita; H = erva; TR = trepadeira. 120


Flora fanerogâmica da Serra do Itapeti

diversidade de espécies, porém, são ambientes em acelerada transformação, e, portanto, considerados importantes na manutenção dos processos de regeneração florestal e devem ser protegidos. Os campos antrópicos e as áreas de cultivo de eucalipto interferem diretamente na paisagem, formando matrizes de áreas não-hábitat para a flora e fauna silvestres, impedindo o desenvolvimento de novas populações naturais, principalmente das espécies de interior de floresta, contribuindo para o aumento do risco de extinção local ou regional. Embora espécies raras da flora e uma ainda inédita para a ciência tenham sido catalogadas nos últimos anos de pesquisa na Serra do Itapeti, há carência de estudos sobre a vida silvestre, suas relações ecológicas e seus apelos para conservação. Programas de pesquisas devem ser direcionados para auxiliar o Poder Público na tomada de decisões no planejamento ambiental desse importante patrimônio natural. Maior atenção deve ser dada aos fragmentos de mata ainda existentes, com ênfase no manejo da paisagem e na possibilidade de conexão entre os fragmentos remanescentes nos modelos de gestão ambiental municipal. Nosso maior desafio será associar a conservação da biodiversidade com os modelos de desenvolvimento econômico vigentes, de maneira a garantir às futuras gerações a manutenção do rico patrimônio natural representado pela Serra do Itapeti.

Considerações finais Os remanescentes florestais da Serra do Itapeti fazem parte dos remanescentes do Domínio da Mata Atlântica no Estado de São Paulo e abrigam grande diversidade biológica. São reservatórios naturais de espécies nativas, e desempenham grande número de funções ecológicas, tais como fornecimento de água, manutenção do regime climático etc. A flora da região apresenta grande potencial para a produção de mudas de espécies nativas para utilização em projetos de recuperação ambiental. Juntamente com a Serra do Mar e a Serra da Cantareira, constituem as maiores dimensões de floresta contínua de Mata Atlântica na região do Alto Tietê. Atualmente, as fitofisionomias encontradas na Serra do Itapeti são as florestas naturais nos estágios médio, inicial e pioneiro de regeneração, incluindo as capoeiras, e os ambientes com interferência antrópica como os campos antrópicos e a silvicultura com plantio de eucalipto. A maior diversidade biológica encontra-se refugiada nas florestas naturais em estágio médio de regeneração, as quais abrigam também a maior heterogeneidade de ambientes considerados hábitats importantes para a vida silvestre na Serra. Os remanescentes em estágio pioneiro e secundário inicial de regeneração abrigam menor

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Pedro Luis Batista Tomasulo

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Flora fanerogâmica da Serra do Itapeti

Figura 1. Trecho de mata em estágio médio de regeneração na face leste da Serra do Itapeti. Notar o contínuo vegetacional formado pela união das copas das árvores do dossel, e, no canto superior direito, uma ávore emergente, a qual se destaca das demais pelo maior porte.

Figura 2. Raios solares filtrados pelas árvores do dossel numa pequena estrada que margeia um trecho de floresta em estágio médio de regeneração, na face oeste da Serra do Itapeti. Notar a predominância das áreas sombreadas, com luminosidade suave, e a baixa incidência direta da luz no solo.

Figura 3. Detalhe do caule de uma árvore de maçaranduba com cerca de 40 centímetros de DAP, cujo porte atinge o dossel da floresta.

Figura 4. Vista de um trecho do estrato médio da floresta. Notar o ambiente ombrófilo e a grande variedade de árvores com diferentes medidas de DAP.

Figura 5. Em primeiro plano, caule lenhoso de uma trepadeira (liana) apoiando-se em tronco de uma árvore do estrato médio da floresta.

Figura 6. Aglomerado de samambaiaçus na floresta em estágio médio de regeneração.

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Pedro Luis Batista Tomasulo

Figura 7. Plântulas de palmito-juçara indicando a boa regeneração da espécie no sub-bosque de áreas protegidas na Serra do Itapeti.

Figura 8. Ao centro, observa-se uma palmeira adulta de palmito-juçara com cerca de 12 metros de altura ocupando o estrato médio da floresta.

Figura 9. Vista parcial do sub-bosque em floresta no estágio médio de regeneração. Notar a grande quantidade de plântulas de uma mesma espécie de Myrtaceae em crescimento no ambiente ombrófilo.

Figura 10. Trecho de sub-bosque na Serra do Itapeti, mostrando drenagem de um pequeno curso d’água. Notar a grande quantidade de plantas herbáceas que são favorecidas pela umidade trazida pela passagem da água no local.

Figura 11. Vista parcial do sub-bosque em trecho de encosta na Serra do Itapeti. Notar no canto inferior esquerdo a grande quantidade de caetês e helicônias.

Figura 12. Detalhe de ramo de avenca, espécie encontrada no sub-bosque florestal da Serra do Itapeti, uma das muitas plantas com potencial ecopaisagístico.

124


Flora fanerogâmica da Serra do Itapeti

Figura 13. Frutos ainda imaturos do cafézinho-do-mato (Celastraceae) no sub-bosque de um fragmento de mata em estágio médio de regeneração, na face leste da Serra do Itapeti. A dispersão de sementes dessa espécie está associada à alimentação de aves e pequenos mamíferos.

Figura 14. Frutos de erva-de-rato (Rubiaceae) em sub-bosque de floresta em estágio médio na Serra do Itapeti. Essa arvoreta, abundante no estrato inferior, possui frutos de cor azulada e polpa carnosa, muito atrativos para a fauna.

Figura 15. Vista de um trecho da face oeste da Serra do Itapeti que mostra heterogeneidade da paisagem já bastante antropizada com estradas, pastos, cultivo de eucalipto (canto superior esquerdo) e mata nativa (canto superior direito).

Figura 16. Vista parcial da copa de um manacá-da-serra na face norte da Serra do Itapeti. Essa espécie de árvore é colonizadora de áreas em estágio inicial de regeneração.

Figura 17. Vista geral de um mosaico de paisagem na Serra do Itapeti, onde a matriz é a silvicultura com plantio de eucalipto.

Figura 18. Vista parcial de um contínuo florestal na face noroeste da Serra do Itapeti, mostrando a interrupção da floresta para a formação de um pasto. Esse tipo de intervenção transforma áreas de hábitat para a vida silvestre em áreas de uso humano, ou seja, não-hábitat.

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A família Orchidaceae da Serra do Itapeti Vinícius Trettel Rodrigues Fábio de Barros

Resumo Neste trabalho foi realizado o inventário das espécies de Orchidaceae ocorrentes no Parque Natural Municipal Francisco Afonso de Mello (PNMFAM), localizado na Serra do Itapeti, Município de Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo. As exsicatas obtidas foram depositadas no Herbário Científico do Estado “Maria Eneyda P. Kauffmann Fidalgo” (SP), do Instituto de Botânica. Foram encontradas 67 espécies de Orchidaceae distribuídas em 47 gêneros, constituindo a família mais representativa em número de espécies, dentre as citadas para a região até o momento. Os gêneros mais representativos, em número de espécies, foram Oncidium s.l. (5 spp.), Acianthera (4 spp.) e Epidendrum (4 spp.), porém, a grande maioria dos gêneros (ca. 93%) apresenta apenas uma ou duas espécies. Uma nova ocorrência para o Estado de São Paulo é apresentada neste trabalho; trata-se de Acianthera micrantha que, até então, só era citada para o Estado de Minas Gerais. Dentre os inventários florísticos levados a efeito na região Sudeste do Brasil, a Flora do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (São Paulo) foi a que apresentou maior quantidade de espécies de Orchidaceae em comum com o PNMFAM, ou seja, 34 espécies. Já entre os inventários florísticos levados a efeito no Estado de Minas Gerais, a Flora do Parque Estadual de Ibitipoca foi a que apresentou maior número de espécies em comum com o Parque (24 spp.). Os inventários florísticos levados a efeito nos demais Estados da região Sudeste apresentaram poucas espécies em comum com o PNMFAM. O trabalho contribui para o conhecimento da flora da região e gera dados que podem justificar a preservação da área. abundante e diversificada em florestas tropicais, especialmente da Ásia e das Américas. Nos Neotrópicos a família é amplamente diversificada, sobretudo na região equatorial, com grande diversidade de espécies na Colômbia, Equador, Brasil e Peru. O Brasil detém uma das maiores diversidades de orquídeas do continente Americano e do mundo, com cerca de 2.500 espécies (DRESSLER, 1981), porém, em decorrência das inúmeras descobertas e novas ocorrências para o país, o número

A família Orchidaceae Orchidaceae é a maior família, em número de espécies, entre as monocotiledôneas; pertence à ordem Asparagales (APG, 2006), sendo constituída por cerca de 24.500 espécies distribuídas em cerca de 800 gêneros (DRESSLER, 1993, 2005). São plantas herbáceas, perenes, terrícolas ou, mais comumente, epífitas (ca. 73% das espécies). Apresenta distribuição cosmopolita, embora seja mais 127


Vinícius Trettel Rodrigues e Fábio de Barros

registrado de espécies para o Brasil certamente já ultrapassou esta soma, que para Barros (1999) é de aproximadamente 3.000 espécies. Todas as formações vegetais brasileiras acomodam orquídeas, mas elas são mais numerosas nas formações florestais úmidas, principalmente na Mata Atlântica. Apesar da alta representatividade da família, que segundo Sanford (1974) abrange 7% das angiospermas, ainda há muito a se descobrir. Dressler (1981) enfatiza que maiores estudos sobre a família devem ser feitos especialmente em regiões tropicais. A família Orchidaceae caracteriza-se por possuir flores hermafroditas, raramente unissexuais (então, dimorfas, como por exemplo, em Catasetum), são frequentemente zigomorfas, raramente assimétricas, trímeras, com três sépalas e três pétalas, sendo uma delas, a oposta ao estame fértil, morfologicamente modificada, constituindo o labelo. O androceu é constituído de um, raro dois ou três, estames férteis; o filete é adnado ao estilete, formando o ginostêmio; o estigma fica, geralmente, na face ventral do ginostêmio, é trilobado, sendo um dos lobos parcialmente estéril, formando o rostelo, uma estrutura mais ou menos membranácea que separa a antera do estigma; a antera, na maioria dos casos, é representada por um “capuz” que geralmente cai no processo de retirada do pólen; o pólen na maioria das espécies é unido em polínias, em número de 2, 4, 6 ou 8; o ovário é ínfero, em regra unilocular, com placentação parietal; os frutos são capsulares e quase secos, raramente carnosos; as sementes são numerosas, minúsculas, com embrião rudimentar, desprovidas de endosperma. Quanto ao modo de crescimento, as orquídeas podem ser terrícolas, holoepífitas, hemiepífitas ou rupícolas, raramente mico-heterotróficas e, então, aclorofiladas. Espécies saprófitas têm maior representação em regiões temperadas (DUNSTERVILLE & GARAY, 1976). Estas diferentes formas de vida possibilitam a ocupação de diferentes tipos de ambientes. Caules secundários intumescidos, formando pseudobulbos, folhas carnosas e raízes dotadas de velame cobrindo grande superfície são algumas estratégias adaptativas das orquídeas, importantes na economia de água. Ao contrário dos órgãos vegetativos, que têm grande diversidade estrutural, as flores das orquídeas são relativamente uniformes quanto ao número e arranjo de suas partes. Sua diversidade está no tamanho e nos detalhes das estruturas (DRESSLER, 1993). Partindo das características

comuns a toda a família, como o filete adnado ao estilete, formando o ginostêmio e a modificação de uma das pétalas, formando o labelo, as flores apresentam-se nas mais variadas formas, algumas até bizarras. Segundo Van der Pijl & Dodson (1966), tal especialização das flores seleciona polinizadores e facilita a polinização cruzada. Como afirmado anteriormente, os órgãos vegetativos apresentam grande variedade estrutural; as raízes são fasciculadas, frequentemente dotadas externamente, de uma ou mais camadas de células suberificadas e mortas, constituindo o velame. Podem, ainda, apresentar-se engrossadas, pilosas ou não; em algumas espécies como em muitos representantes de Habenaria, parte das raízes pode apresentar-se intumescida formando tuberoides; já em algumas plantas áfilas como, por exemplo, Campylocentrum burchellii, as raízes apresentam-se clorofiladas e substituem as folhas na função da fotossíntese. Fungos micorrízicos encontram-se associados às raízes de todas as orquídeas. Embora muitas espécies possam crescer satisfatoriamente sem seus fungos micorrizógenos, ao menos após terem produzido órgãos capazes de realizar fotossíntese, todas as orquídeas precisam deles para germinar e desenvolver-se nos primeiros estágios de seu desenvolvimento (TOSCANO-DE-BRITO & CRIBB, 2005). As orquídeas apresentam dois tipos básicos de crescimento: monopodial e simpodial. Nas espécies de crescimento simpodial, o caule primário cessa o seu desenvolvimento ao fim de cada estação de crescimento, formando um simpódio. Novos brotos surgem das gemas axilares, que crescerão até a maturidade, formando novos simpódios como em Cattleya. Já nas orquídeas monopodiais, o caule apresenta potencial para um crescimento apical indefinido, crescendo sempre a partir de uma mesma gema apical, por exemplo, em Vanilla. O caule frequentemente se divide em uma parte mais basal denominada rizoma e outra, geralmente ereta, denominada cauloma (muitas vezes denominado caule secundário). O rizoma varia de uma estrutura inconspícua, que pode ser totalmente recoberta por bainhas ou escamas, como em Cyclopogon, a uma estrutura alongada e conspícua, que frequentemente se desenvolve paralela ao substrato. Nas espécies com crescimento simpodial, geralmente é do rizoma que partem as raízes. Já o cauloma, geralmente perpendicular ao substrato, pode apresentar-se das mais variadas formas; nas espécies epífitas, é comum constituir 128


A família Orchidaceae da Serra do Itapeti

numa estrutura intumescida denominada pseudobulbo, que tem a função de armazenamento de água e nutrientes. O cauloma pode, ainda, ser classificado de acordo com número de entrenós. Quando formado por um único entrenó, é denominado heteroblástico, como é o caso das espécies de Gomesa e, quando formado por mais de um entrenó, como em Dichaea e a maioria das espécies de Epidendrum, é denominado homoblástico. As folhas também apresentam grande variação morfológica, podendo estar ausentes durante a floração, em algumas espécies terrícolas, ou reduzidas a escamas. Na maioria das espécies, as folhas são simples, geralmente inteiras e de formato variável, com disposição alterna, frequentemente dística, às vezes espiralada. Sua consistência é variável e comumente são glabras, com nervação paralelinérvea, raramente reticulada como, por exemplo, em Epistephium. Podem, ainda, apresentar bainhas ou pecíolos. São geralmente dorsiventralmente achatadas, porém podem apresentar-se cilíndricas como nas espécies de Scuticaria, ou lateralmente achatadas, como em algumas espécies de Pleurobotryum. A inflorescência pode ter de uma a muitas flores, dispostas em racemos, panículas, espigas, raramente em corimbos ou capítulos, que podem ser eretos, nutantes ou pendentes. Quanto à disposição em relação ao caule, ele pode ser axilar, lateral ou terminal. A base da inflorescência pode apresentar uma bráctea ou espata, que tem como função proteger os botões florais durante o início de seu desenvolvimento. Dado o exposto, uma apreciação da estrutura das flores é essencial para a identificação das espécies, visto que os caracteres vegetativos são extremamente variáveis, em muitos casos, até entre espécies de um mesmo gênero. A compreensão dos relacionamentos filogenéticos e da classificação das orquídeas teve grande impulso nos últimos anos, a partir de avanços na análise do DNA e do poder crescente dos computadores que agora conseguem analisar enormes conjuntos de dados. Em consequência, a última obra completa sobre classificação de orquídeas (DRESSLER, 1993) já se encontra desatualizada (TOSCANO-DE-BRITO & CRIBB, 2005). Os trabalhos mais recentes que tentam estabelecer um sistema filogenético para a família Orchidaceae são os de Cameron et al. (1999), Chase et al. (2003) e Pridgeon et al. (1999, 2001, 2003, 2005, 2009). Estes últimos ainda

se encontram em fase de publicação, estando a obra completa planejada para seis volumes, dos quais cinco já estão publicados. Os fundamentos deste último sistema foram apresentados por Pridgeon et al. (1999), baseados em dados macromoleculares e morfológicos. O sistema de Pridgeon et al. (1999, 2001, 2003, 2005, 2009) tende a, gradualmente, substituir os sistemas anteriores, pelo seu caráter filogenético e sua base molecular. Basicamente, propõe a divisão das Orchidaceae em cinco subfamílias: Cypripedioideae, Apostasioideae, Vanilloideae, Orchidoideae e Epidendroideae. Do ponto de vista morfológico, essas subfamílias separam-se, principalmente, por características das polínias, anteras e folhas. O sistema de Chase et al. (2003) parece sintetizar todos os trabalhos mais atuais em filogenia dentro da família. Também espelha as mudanças mais básicas que surgirão no sistema de classificação de Pridgeon et al. (1999, 2001, 2003, 2005, 2009), ainda não concluído. De acordo com Pridgeon et al. (1999), Apostasioideae é a subfamília basal com grande número de caracteres morfológicos plesiomórficos como dois ou três estames férteis, anteras lineares, filete basalmente adnado ao estilete, pólen em mônades e placentação axial. Provavelmente por agregar um número de características tão atípicas em relação aos demais membros da família, Schlechter (1926) e Szlachetcko (1995) tenham considerado esta uma família à parte (Apostasiaceae). A subfamília encontra-se representada por dois gêneros, Neuwiedia e Apostasia, com 15 espécies, que ocorrem no Sudeste Asiático e Oceania. Cypripedioideae abrange espécies frequentemente terrícolas, com inflorescência terminal, flores com sépalas laterais coalescentes, formando um sinsépalo e labelo sacciforme. O ginostêmio possui duas anteras férteis e um estaminódio, o pólen encontra-se reunido em massas glutinosas, porém não formam polínias distintas. A subfamília encontra-se distribuída pela Ásia, Europa e continente Americano, sendo representada por cinco gêneros e cerca de 150 espécies. No Brasil ocorrem dois gêneros, Phragmipedium e Selenipedium, e apenas cerca de seis espécies (PABST & DUNGS, 1975; PRIDGEON et al., 1999). Os membros da subfamília Vanilloideae são, na grande maioria, terrícolas, podendo apresentar hábito hemiepifítico lianescente, como em Vanilla. Apresentam apenas uma antera fértil, terminal, incumbente. O pólen encontra-se em 129


Vinícius Trettel Rodrigues e Fábio de Barros

massas farinosas não formando polínias distintas. Ocorrem no continente Americano, África, Ásia e Oceania. Possuem grande representatividade nos Neotrópicos e abrange 15 gêneros dos quais cinco ocorrem no Brasil, sendo Cleistes e Vanilla os mais representativos em número de espécies. As duas subfamílias remanescentes possuem grãos de pólen aglutinados em polínias distintas e são as mais representativas em número de espécies. Orchidoideae possui distribuição cosmopolita, caracterizando-se por apresentar folhas basais ou espiraladamente dispostas ao longo do caule, raízes carnosas, um estame fértil, antera ereta ou dorsal, grãos de pólen frouxamente reunidos em dois ou quatro polínias, inteiriças ou sécteis, com consistência macia ou granulosa (PABST & DUNGS, 1977). Polínias sécteis ocorrem, por exemplo, em Habenaria. Incluem-se nesta subfamília os representantes de Spiranthoideae sensu Dressler (1993). É formada por cerca de 208 gêneros e aproximadamente 3.630 espécies (PRIDGEON et al., 2001). Epidendroideae é a maior das subfamílias, com cerca de 18.000 espécies distribuídas em aproximadamente 650 gêneros (PRIDGEON et al., 2005). Além do grande número de espécies, esta é a subfamília mais diversificada. Nela ocorre grande número de espécies epífitas, e pode ser caracterizada por possuir antera terminal, incumbente, 2-8 polínias rígidas, com consistência ceroide ou cartilaginosa. Segundo Pabst & Dungs (1977), geralmente dotadas de apêndices como caudícula, estipe e víscido. O ginostêmio pode prolongar-se num pé, tendo a base das sépalas laterais adnada a ele, formando um mento. A subfamília foi anteriormente dividida por alguns autores como Brieger (1976), em duas subfamílias: Epidendroideae e Vandoideae. Porém os novos sistemas de classificação, baseados em dados macromoleculares e morfológicos, sugerem que esta separação não se sustenta. De acordo com Braga (1977), pelo grande número de espécies, há diversos problemas taxonômicos envolvendo a família Orchidaceae, e poucas são as obras de cunho revisional. No Brasil, dentre as mais relevantes, podemos citar os trabalhos de Rodrigues (1877, 1882), nos quais foram descritas várias espécies novas para a flora brasileira. Suas ilustrações só vieram a ser publicadas em 1996 (SPRUNGE, 1996) e constituem, em muitos casos, os tipos das espécies descritas, pois o material de herbário correspondente foi perdido. Posteriormente, Cogniaux (1893-1896, 1898-1902, 1904-1906), publicou em Flora Bra-

siliensis, três volumes sobre a família, descrevendo novas espécies, fazendo novas combinações, totalizando 3.105 espécies para o Brasil. Hoehne (1940, 1942, 1945, 1953) iniciou um novo levantamento das Orchidaceae brasileiras, porém não conseguiu concluí-lo, tendo publicado quatro volumes em Flora Brasilica, obra que pretendia catalogar todas as espécies fanerogâmicas brasileiras. Outra obra importante realizada pelo mesmo autor foi Iconografia das Orchidaceas do Brasil (HOEHNE, 1949). A obra de divulgação aborda o histórico da família na qual foram apresentadas ilustrações de, pelo menos, uma espécie de cada gênero abordado. Pabst & Dungs (1975, 1977) elaboraram a mais recente e abrangente revisão da família para o Brasil. No trabalho desses autores foram apresentadas novas combinações e uma grande lista de sinônimos, totalizando 190 gêneros e cerca de 2.300 espécies de orquídeas para flora brasileira. Posteriormente, Castro Neto & Campacci (2000, 2003) apresentaram dois novos trabalhos com o propósito de descrever novas espécies de orquidáceas brasileiras, após a revisão de Pabst & Dungs (1975, 1977), e de divulgar revisões de gêneros estudados pelos autores. Grande parte dos trabalhos publicados nos últimos 25 anos está restrita à descrição de novos táxons, como é o caso de Campacci & Vedovello (1983), Barros (1988), Duveen (1990), Barros & Lourenço (2004), Pansarin (2004) e Pinheiro & Barros (2006), ou traz revisões de categorias infrafamiliares, como os de Toscano-de-Brito (1994, 2007), Forster (2007) e Smidt (2007), ou, ainda, traz novas ocorrências e floras regionais como os trabalhos de Pinheiro (1999), Santana (2000), Barros (1987), Forster (2002), Barros & Pinheiro (2004), Fraga & Peixoto (2004), Stancik (2004), Batista et al. (2005), Toscano-de-Brito & Cribb (2005), Menini Neto (2005), Menini Neto et al. (2004a, 2004b, 2007), Barbero (2007) e Cunha & Forzza (2007). Em diversos inventários florísticos realizados em remanescentes florestais do Estado de São Paulo, a família Orchidaceae destaca-se como uma das mais diversas. Na Flora Fanerogâmica da Reserva do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga foram amostradas 124 representantes desta família (BARROS, 1983). Segundo Mamede et al. (2001), foram amostradas 74 espécies de Orchidaceae na Serra da Juréia. De acordo com Barros (2006), na Flora da Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba, 130


A família Orchidaceae da Serra do Itapeti

espécies), Rubiaceae e Melastomataceae (13 spp. cada), Myrtaceae (12 spp.) e Lauraceae e Solanaceae (11 spp. cada). A família Orchidaceae representa cerca de 24% das espécies citadas para a região até o momento. Os gêneros mais representativos, em número de espécies, foram Oncidium s.l. (5 spp.), Acianthera (4 spp.) e Epidendrum (4 spp.), porém, a grande maioria dos gêneros (ca. 93%) apresentou apenas uma ou duas espécies. Oncidium Sw. sensu lato, tal como tem sido tratado, é um gênero artificial, polifilético. Um estudo de sua filogenia molecular está atualmente em andamento, mas alguns grupos já foram estudados em artigos que levam em conta a filogenia molecular das Oncidiinae (e.g, WILLIAMS et al., 2001a,b; FARIA, 2004). Alguns gêneros, como Lophiaris e Baptistonia já foram estabelecidos há algum tempo e sua separação de Oncidium sensu stricto é clara. Outros grupos, no entanto, ainda não estão estabelecidos de maneira inequívoca. Por isso, optou-se por manter, no presente estudo, um tratamento clássico de Oncidium para a maioria dos grupos que compõem o gênero, mantendo separados apenas Lophiaris e Baptistonia. Portanto, as cinco espécies de Oncidium encontradas no PNMFAM podem vir, futuramente, a ser tratadas em gêneros distintos. Algumas espécies, no Parque, têm ocorrência restrita a regiões acima de 1.000m de altitude como, por exemplo, Baptistonia lietzei (Regel) Chiron & V. P. Castro, Bulbophyllum chloroglossum Rchb. f. & Warm., Bulbophyllum exaltatum Lindl., Cirrhaea dependens (Lodd.) Loudon e Oncidium forbesii Hook., enquanto outras são encontradas somente no extremo sul-sudoeste da área de estudo, provavelmente achando-se no limite de sua área de ocorrência, por exemplo, Comparettia coccinea Lindl. e Rodriguezia decora (Lem.) Rchb. f. Uma nova ocorrência para o Estado de São Paulo é citada neste trabalho: Acianthera micrantha (Barb. Rodr.) Pridgeon & M.W. Chase (Figura1E), espécie anteriormente encontrada apenas no Estado de Minas Gerais (RODRIGUES, 1882; PABST & DUNGS, 1975). Nos inventários florísticos consultados, levados a efeito no Estado de Minas Gerais, como os de Forster (2002), Barros (1987), Barros & Pinheiro (2004), Menini Neto (2005) e Menini Neto et al. (2004a, 2004b, 2007), a espécie também não é relacionada. Na descrição original, Rodrigues (1882) cita a espécie para a Serra das Bicas, província de Minas Gerais, área que, por esta denominação, foi impossível localizar.

(www.ibot.sp.gov.br/ PESQUISA/ paranapiacaba/ paranapiacaba.htm), a família encontra-se representada por 153 espécies, enquanto na Ilha do Cardoso (ROMANINI & BARROS, 2008) novamente aparece como a mais representativa, com 147 espécies.

As orquídeas do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello O primeiro estudo florístico efetivamente publicado para a área do Parque Natural Municipal Francisco Afonso de Mello foi apresentado por Tomasulo & Cordeiro (2000). Neste foram citadas 214 espécies fanerogâmicas entre árvores, arbustos, ervas, lianas, epífitas e hemiepífitas, porém nenhuma orquidácea foi referida. O mesmo ocorreu com a primeira listagem das espécies da flora para a área disponível no Plano de Manejo para o Parque Natural Municipal da Serra do Itapeti (MANNA-DE-DEUS et al., 1995). A consulta realizada entre os anos de 2005 e 2007 ao Herbário do Estado “Maria Eneyda P. Kauffmann Fidalgo” (SP), do Instituto de Botânica, onde os testemunhos dos trabalhos anteriormente citados estão depositados, revelou a ausência de depósitos de exemplares da família Orchidaceae para a área do Parque até então. Assim, este trabalho visou preencher esta lacuna do conhecimento florístico do PNMFAM e, num âmbito maior, colaborar com o conhecimento e a distribuição geográfica da família Orchidaceae no Estado de São Paulo. Para a elaboração deste inventário foram efetuadas coletas quinzenais na área do Parque, no período de maio de 2006 a dezembro de 2007, utilizando as trilhas já abertas, visando evitar a degradação da vegetação local. Tais trilhas cobrem quase a totalidade da área do Parque e as coletas procuraram tirar proveito desse fato, de modo a maximizar a amostragem da área e, consequentemente, maximizar a representatividade dos espécimes da família Orchidaceae coletados. Os materiais-testemunho dos espécimes encontrados estão depositados no Herbário do Estado “Maria Eneyda P. Kauffmann Fidalgo” (SP), do Instituto de Botânica. Neste estudo foram encontradas 67 espécies de Orchidaceae no PNMFAM, distribuídas em 47 gêneros. Os táxons inventariados estão listados na Tabela 1. Com base no inventário apresentado por Tomasulo & Cordeiro (2000), Orchidaceae pode ser considerada a família mais representativa em número de espécies, na área, seguida por: Leguminosae (20 131


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Tabela 1. Lista dos táxons de Orchidaceae inventariados para o PNMFAM em ordem alfabética dentro de cada tribo segundo o sistema apresentado por Chase et al. (2003). Subfamília

Tribo

Espécie Cyclopogon congestus (Vell.) Hoehne Cyclopogon elatus (Sw.) Schltr. Eurystyles cotyledon Wawra

Cranichidae Orchidoideae

Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay Prescottia oligantha (Sw.) Lindl. Prescottia stachyodes (Sw.) Lindl. Sacoila lanceolata (Aubl.) Garay Sauroglossum nitidum (Vell.) Schltr.

Orchidae

Habenaria josephensis Barb. Rodr. Habenaria pleiophylla Hoehne & Schtr. Baptistonia lietzei (Regel) Chiron & V.P. Castro Bifrenaria aureofulva (Hook.) Lindl. Bifrenaria harrisoniae (Hook.) Rchb. f. Brasiliorchis picta (Hook.) R. Singer, S. Koehler & Carnevalli Capanemia thereziae Barb. Rodr. Catasetum cernuum (Lindl.) Rchb. f. Christensonella subullata (Lindl.) Szlach., Mytnik, Górniak & Smiszek (Fig. 1A) Cirrhaea dependens (Lodd.) Loudon Comparettia coccinea Lindl. Cyrtopodium flavum Link & Otto ex Rchb. f. Dichaea cogniauxiana Schltr. Eulophia alta (L.) Fawc. & Rendle Gomesa crispa (Lindl.) Klotzsch ex Rchb. f. Gomesa recurva R. Br.

Cymbidae

Grobya amherstiae Lindl. Lophiaris pumila (Lindl.) Braem Notylia nemorosa Barb. Rodr.

Epidendroideae

Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl. Oncidium flexuosum Lodd. Oncidium forbesii Hook. Oncidium harrisonianum Lindl. Oncidium hookeri Rolfe (Fig. 1B) Oncidium praetextum Rchb. f. Phymatidium delicatulum Lindl. Phymatidium falcifolium Lindl. Rhetinantha notylioglossa (Rchb. f.) M.A. Blanco Rodriguezia decora (Lem.) Rchb. f. (Fig. 1C) Rodrigueziella jucunda (Rchb. f.) Garay Warrea warreana (Lodd. ex Lindl.) C. Schweinf.

Epidendreae

Zygopetalum maxillare Lodd. (Fig. 1D) Acianthera micrantha (Barb. Rodr.) Pridgeon & M.W. Chase (Fig. 1E) Acianthera saundersiana (Rchb. f.) Pridgeon & M.W. Chase (Fig. 1F) Acianthera saurocephala (Lodd.) Pridgeon & M.W. Chase

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A família Orchidaceae da Serra do Itapeti

Tabela 1. (Continuação) Subfamília

Tribo

Espécie Acianthera sonderana (Rchb. f.) Pridgeon & M.W. Chase (Fig. 2A) Anathallis aff. heterophylla Barb. Rodr. Anathallis rubens (Lindl.) Pridgeon & M.W. Chase (Fig. 2B) Encyclia patens Hook. var. patens Encyclia patens Hook. var. serroniana (Barb. Rodr.) R. Romanini & F. Barros Epidendrum pseudodifforme Hoehne & Schltr. (Fig. 2C) Epidendrum paranaense Barb. Rodr.

Epidendreae

Epidendrum proligerum Barb. Rodr. Epidendrum secundum Jacq. Isochilus linearis (Jacq.) R. Br. (Fig. 2D) Octomeria crassifolia Lindl.

Epidendroideae

Octomeria diaphana Lindl. (Fig. 2E) Prosthechea bulbosa (Vell.) W.E. Higgins Scaphyglottis modesta (Rchb. f.) Schltr. Specklinia aff. grobyi (Bateman ex Lindl.) F. Barros Stelis aff. hypnicola (Lindl.) Pridgeon & M.W. Chase Stelis sp. Malaxideae Triphoreae

Liparis nervosa (Thunb. ex Murray) Lindl. (Fig. 2F) Malaxis excavata (Lindl.) Kuntze Psilochilus modestus Barb. Rodr. Bulbophyllum chloroglossum Rchb. f. & Warm.

Vandae

Bulbophyllum exaltatum Lindl. Campylocentrum aromaticum Barb. Rodr. Polystachya estrellensis Rchb. f.

Vanilloideae

Vanillae

Vanilla edwallii Hoehne

Dentre os inventários florísticos levados a efeito na região Sudeste do Brasil, a Flora do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga-PEFI (BARROS, 1983) foi a que apresentou maior quantidade de espécies de Orchidaceae em comum com o PNMFAM, ou seja, 34 espécies: Bifrenaria aureofulva (Hook.) Lindl., B. harrisoniae (Hook.) Rchb. f., Campylocentrum aromaticum Barb. Rodr., Cyrtopodium flavum Link & Otto ex Rchb. (= Cyrtopodium polyphyllum (Vell.) Pabst ex F. Barros), Dichaea cognauxiana Schtr., Encyclia odoratissima (Lindl.) Schtr. (= E. patens Hook.), Epidendrum paranaense Barb. Rodr., E. proligerum Barb. Rodr., Eulophia alta (L.) Fawc. & Rendle, Grobya amherstiae Lindl., Habenaria josephensis Barb. Rodr., Malaxis excavata (Lindl.) Kuntze, Maxillaria cerifera Barb Rodr. (= Rhetinantha notylioglossa (Rchb. f.) M.A. Blanco), Maxillaria picta Hook. (= Brasiliorchis picta (Hook.) R. Singer, S. Koehler

& Carnevalli), Maxillaria subullata Lindl. (= Christensonella subullata (Lindl.) Szlach., Mytnik, Górniak & Smiszek), Octomeria albopurpurea Barb. Rodr. (= O. diaphana Lindl.), Oncidium flexuosum Lodd., O. harrisonianum Lindl., O. pumilum Lindl. (= Lophiaris pumila (Lindl.) Braem), Phymatidium delicatulum Lindl., P. tillandisoides Barb. Rodr. (= P. falcifolium Lindl.), Polystachya concreta (Jacq.) Garay & H.R. Sweet (= P. estrellensis Rchb. f.), Prescottia oligantha (Sw.) Lindl, P. stachyodes (Sw.) Lindl., Rodrigueziella jucunda (Rchb. f.) Garay, Sauroglossum nitidum (Vell.) Schltr., Stenorrhynchus lanceolatus (Aubl.) L.C. Rich.(= Sacoila lanceolata (Aubl.) Garay), Specklinia grobyi (Bateman ex Lindl.) F. Barros, S. hypnicola (Lindl.) F. Barros (= Stelis hypinicola (Lindl.) Pridgeon & M.W. Chase), S. saudersiana (Rchb. f.) F. Barros (= Acianthera saundersiana (Rchb. f.) Pridgeon & M.W. Chase), S. sonderana (Rchb. f.) F. Barros (= Acianthera 133


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sonderana (Rchb. f.) Pridgeon & M.W. Chase), S. rubens (Lindl.) F. Barros (= Anathallis rubens (Lindl.) Pridgeon & M.W. Chase), Tetragamestus modestus Rchb. f. (= Scaphyglottis modesta (Rchb. f.) Schtr.), Vanilla edwalli Hoehne e Zygopetalum maxillare Lodd. O Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI) localiza-se a 23°38’08’’ - 23°40’18” S e 46°36’48’’ - 46°38’00’’ O, a ca. 798m de atitude, sendo sua área coberta por Floresta Ombrófila densa. Embora o PEFI não atinja altitudes acima de 1.000m, a proximidade com a área do PNMFAM, o clima comparável, bem como a cobertura vegetal semelhante, justificam o grande número de espécies de Orchidaceae em comum. A Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapicaba localiza-se no município de Santo André (SP), entre as coordenadas 23o46’00”23o47’10” S e 46o18’20”-46o20”40” O, na borda do Planalto Atlântico à altitude de 750 – 891m. Em seus 336ha predomina relevo montanhoso. A vegetação da Reserva, composta por florestas e campos nativos entremeados por manchas esparsas de matas mais baixas, é predominantemente secundária, porém testemunhos de mata primária são encontrados em locais mais acidentados e protegidos da poluição atmosférica. De acordo com o inventário apresentado por Barros (2006), a flora local apresenta 26 espécies de Orchidaceae em comum com o PNMFAM: Bifrenaria aureofulva (Hook.) Lindl., B. harrisoniae (Hook.) Rchb. f., Cirrhaea dependens (Lodd.) Loudon, Encyclia bulbosa (Vell.) Pabst (= Prosthechea bulbosa (Vell.) W.E. Higgins), Epidendrum ecostatum Pabst (= E. proligerum Barb. Rodr.), E. paranaense Barb. Rodr., E. secundum Jacq., Eulophia alta (L.) Fawc. & Rendle, Gomesa crispa (Lindl.) Klotzsch ex Rchb. f., Grobya amherstiae Lindl., Malaxis excavata (Lindl.) Kuntze, Maxillaria cerifera Barb. Rodr. (= Rhetinantha notylioglossa (Rchb. f.) M.A. Blanco), Maxillaria madita Lindl.(= Christensonella subullata (Lindl.) Szlach., Mytnik, Górniak & Smiszek), Maxillaria picta Hook. (= Brasiliorchis picta (Hook.) R. Singer, S. Koehler & Carnevalli), Octomeria gehrtii Hoehne & Schtr.(= O. crassifolia Lindl.), O. serrana Hoehne (= O. crassifolia Lindl.), Oncidium flexuosum Lodd., Pleurothallis grobyi Lindl.( = Specklinia grobyi (Bateman ex Lindl.) F. Barros), P. heterophylla (Barb. Rodr.) Cogn.(= Anathallis heterophyla Barb. Rodr.), P. hypnicola Lindl. (= Stelis hypnicola (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase), P. rubens Lindl. (= Anathallis rubens (Lindl.) Pridgeon & M.W. Chase), Phymatidium delicatulum Lindl., P.

falcifolium Lindl., Prescottia stachyodes (Sw.) Lindl., Psilochilus modestus Barb. Rodr., Sauroglossum nitidum (Vell.) Schltr. e Scaphyglottis modesta (Rchb. f.) Schtr. Assim como o PEFI, a Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba está relativamente próxima à área do PNMFAM. Segundo Tomasulo & Cordeiro (2000), a análise da composição florística e da fisionomia da vegetação hoje encontrada no PNMFAM, bem como seu histórico de criação e ocupação, levam a crer que a floresta que o recobre é, em grande parte, secundária, pela intensa atividade humana na região, responsável pela transformação da floresta primitiva em um conjunto de blocos florestais em diferentes estágios sucessionais, situação comparável à dos remanescentes florestais da Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba. Embora os remanescentes florestais da Serra do Itapeti sejam, em grande parte, florestas secundárias, Tomasulo & Cordeiro (2000) indicam uma clara semelhança entre os remanescentes florestais do Itapeti e as florestas costeiras do Sudeste e Sul do Brasil. O Parque Estadual da Ilha do Cardoso (PEIC), que localiza-se a 25°04’-25°20’ S e 47°54’-48°05’ O, apresenta um maciço montanhoso central com mais de 800m de altitude, e abriga quase todos os tipos de vegetação relacionados com a Mata Atlântica, o que garante grande variedade de ambientes e alta biodiversidade, de acordo com Romanini & Barros (2008). O PEIC apresenta 29 espécies de Orchidaceae em comum com PNMFAM: Acianthera saundersiana (Rchb. f.) Pridgeon & M.W. Chase, Bifrenaria aureofulva (Hook.) Lindl., B. harrisoniae (Hook.) Rchb. f., Campylocentrum aromaticum Barb. Rodr., Cirrhaea dependens (Lodd). Loudon, Cyrtopodium flavum Link & Otto ex Rchb. f. (= Cyrtopodium polyphyllum (Vell.) Pabst ex F. Barros), Dichaea cognauxiana Schltr., Encyclia patens Hook., Epidendrum paranaense Barb. Rodr., E. secundum Jacq., Eulophia alta (L.) Fawc. & Rendle, Eurystyles cotyleton Wawra, Habenaria pleiophylla Hoehne & Schltr., Isochilus linearis (Jacq) R. Br., Liparis nervosa (Thunb. ex Murray) Lindl., Maxillaria notylioglossa Rchb. f. (= Rhetinantha notylioglossa (Rchb. f.) M.A. Blanco), Maxillaria picta Hook. (= Brasiliorchis picta (Hook.) R. Singer, S. Koehler & Carnevalli), Maxillaria subullata Lindl. (= Christensonella subullata (Lindl.) Szlach., Mytnik, Górniak & Smiszek), Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay, Octomeria alpina Barb. Rodr. (= O. crassifolia Lindl.), Oncidium flexuosum Lodd., O. hookeri Rolfe, Phymatidium delicatulum Lindl., Polystachya estrellensis Rchb. f., 134


A família Orchidaceae da Serra do Itapeti

Prescottia oligantha (Sw.) Lindl, Prosthechea bulbosa (Vell.) W.E. Higgins, Psilochilus modestus Barb. Rodr., Sauroglossum nitidum (Vell.) Schltr. e Scaphyglottis modesta (Rchb. f.) Schtr.. Mamede et al. (2001) citam, para a Estação Ecológica Juréia-Itatins (EEJI), localizada entre os paralelos 24º17’-24º40’ S e 47º00’-47º36’ O, Litoral Sul do Estado de São Paulo, 13 espécies em comum com o PNMFAM: Cyrtopodium flavum Link & Otto ex Rchb. (= Cyrtopodium polyphyllum (Vell.) Pabst ex F. Barros), Encyclia patens Hook., E. proligerum Barb. Rodr., E. secundum Jacq., Habenaria josephensis Barb. Rodr., Maxillaria picta Hook. (= Brasiliorchis picta (Hook.) R. Singer, S. Koehler & Carvenalli), Oncidium flexuosum Lodd., Pleurothallis saudersiana Rchb. f. (= Acianthera saundersiana (Rchb. f.) Pridgeon & M.W. Chase), P. hypnicola Lindl.(= Stelis hypnicola (Lindl.) Pridgeon & M.W. Chase), Phymatidium falcifolium Lindl., Prescottia oligantha (Sw.) Lindl., Sauroglossum nitidum (Vell.) Schltr. e Scaphyglottis modesta (Rchb. f.) Schtr. O grande número de espécies de Orchidaceae em comum entre o PEIC e a EEJI reforça as conclusões de Tomasulo & Cordeiro (2000) quanto à natureza atlântica das florestas do Itapeti. Dentre os inventários florísticos da família Orchidaceae consultados, levados a efeito no Estado de Minas Gerais (BARROS, 1987; FOSTER, 2002; BARROS & PINHEIRO, 2004; MENINI NETO, 2005; MENINI NETO et al., 2004a, 2004b, 2007; BARBERO, 2007), foi constatada a presença de 30 espécies em comum com o PNMFAM: Bifrenaria aureofulva (Hook.) Lindl., B. harrisoniae (Hook.) Rchb. f., Campylocentrum aromaticum Barb. Rodr., Capanemia thereziae Barb. Rodr., Catasetum cernuum (Lindl.) Rchb. f., Maxillaria subullata Lindl. (= Christensonella subullata (Lindl.) Szlach., Mytnik, Górniak & Smiszek), Comparettia coccinea Lindl., Encyclia patens Hook., Epidendrum ochrochlorum Barb. Rodr. (= E. proligerum Barb. Rodr.), E. secundum Jacq., Gomesa recurva R. Br., Grobya amherstiae Lindl., Habenaria josephensis Barb. Rodr., Isochilus linearis (Jacq.) R. Br., Liparis nervosa (Thunb. ex Murray) Lindl., Malaxis excavata (Lindl.) Kuntze, Maxillaria notylioglossa Rchb. f. (= Rhetinantha notylioglossa (Rchb. f.) M.A. Blanco), Maxillaria madita Lindl. (= Christensonella subullata (Lindl.) Szlach., Mytnik, Górniak & Smiszek), Octomeria alpina Barb. Rodr. (= O. crassifolia Lindl.), O. diaphana Lindl., Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl., O. hookeri Lodd., Psilochilus modestus Barb. Rodr., Pleurothallis heterophyla (Barb. Rodr.) Cogn.

(= Anathallis heterophyla Barb. Rodr.), P. hypnicola Lindl. (= Stelis hypnicola (Lindl.) Pridgeon & M.W. Chase), P. rubens Lindl. (= Anathallis rubens (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase), P. saudersiana Rchb. f. (= Acianthera saundersiana (Rchb. f.) Pridgeon & M.W. Chase), Sacoila lanceolata (Aubl.) Garay, Sauroglossum nitidum (Vell.) Schltr. e Scaphyglottis modesta (Rchb. f.) Schtr.. A grande maioria (24 espécies) é citada para o Parque Estadual de Ibitipoca (MENINI NETO et al., 2007) cuja vegetação é representada por um mosaico de formações vegetais, das quais o campo rupestre ocupa a maior extensão. O clima da região é classificado como Cwb, mesotérmico úmido, na classificação de Köppen, portanto comparável ao encontrado no PNMFAM. Segundo Fontes apud Menini Neto et al. (2007), as florestas do interior do Parque Estadual de Ibitipoca devem ser classificadas como Florestas Ombrófilas Densas ou nebulares, perfazendo mais de 30% da cobertura total de florestas do Parque. Segundo o mesmo autor, é notório o grande número de espécies epífitas predominantes no domínio da Floresta Atlântica encontradas na área. A grande maioria das espécies em comum com a Serra do Itapeti é composta por exemplares típicos do Domínio Atlântico, muitos dos quais são citados também nos inventários florísticos dos remanescentes de Floresta Atlântica levados a efeito no Estado de São Paulo (BARROS, 1983; MAMEDE et al., 2001; BARROS, 2006; ROMANINI & BARROS, 2008). Nos demais inventários da família Orchidaceae realizados na região Sudeste, especificamente nos Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo (PINHEIRO, 1999; SANTANA 2000; FRAGA & PEIXOTO, 2004; CUNHA & FORZZA, 2007) são listadas as seguintes espécies em comum com aquelas encontradas no PNMFAM: Cyrtopodium flavum Link & Otto ex Rchb. f. (= Cyrtopodium polyphyllum (Vell.) Pabst ex F. Barros), Dichaea cognauxiana Schltr., Encyclia patens Hook, Eurystyles cotyledon Wawra, Gomesa crispa (Lindl.) Klotzsch ex Rchb. f., Isochilus linearis (Jacq.) R. Br., Mesadenella cuspidata (Lindl.) Garay, Octomeria crassifolia Lindl., Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl., Oncidium flexuosum Lodd., Oncidium pumilum Lindl. (= Lophiaris pumila (Lindl.) Braem), Pleurothallis saudersiana Rchb. f. (= Acianthera saundersiana (Rchb. f.) Pridgeon & M.W. Chase), P. grobyi Lindl. (= Specklinia grobyi (Bateman ex Lindl.) F. Barros), Polystachya estrellensis Rchb. f., Prescottia oligantha (Sw.) Lindl., P. stachyodes (Sw.) Lindl. e Sacoila lanceolata. (Aubl.) Garay. Embora estas áreas do Rio 135


Vinícius Trettel Rodrigues e Fábio de Barros

de Janeiro e Espírito Santo pertençam ao Domínio Atlântico, apresentam poucas espécies em comum com o PNMFAM se comparadas aos inventários florísticos realizados nos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Com base no inventário de Fraga & Peixoto (2004), as espécies em comum são mais representadas (ca. 62%) nas restingas do Espírito Santo, sendo, em sua maioria, espécies amplamente distribuídas como Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl., que é encontrada desde a América do Norte até a Argentina e Cyrtopodium flavum Link & Otto ex Rchb. f., que ocorre por quase toda a costa atlântica brasileira, da Paraíba ao Rio Grande do Sul. São também espécies citadas nos inventários florísticos levados a efeito nos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Embora citadas por Pabs & Dungs (1975, 1977) para o Estado de São Paulo e demais Estados da região Sudeste do Brasil, algumas espécies de Orchidaceae encontradas no PNMFAM não são relacionadas nos inventários florísticos consultados, realizados nesta região (BARROS, 1983, 1987; PINHEIRO, 1999; SANTANA, 2000; MAMEDE et al., 2001; FORSTER, 2002; BARROS & PINHEIRO, 2004; FRAGA & PEIXOTO, 2004; MENINI NETO, 2005; MENINI NETO et al., 2004a, 2004b, 2007; BARBERO, 2007; CUNHA & FORZZA, 2007; ROMANINI & BARROS, 2008); entre elas estão: Acianthera saurocephala (Lodd.) Pridgeon & M.W. Chase, Baptistonia lietzei (Regel) Chiron & V.P. Castro, Bulbophyllum chloroglossum Barb. Rodr., B. exaltatum Lindl., Notylia nemorosa Barb. Rodr. e Rodriguesia decora (Lem.) Rchb. f. Por outro lado, algumas espécies são citadas apenas em inventários florísticos realizados no Estado de Minas Gerais, como: Capanemia thereziae Barb. Rodr., Catasetum cernuum (Lindl.) Rchb. f., Comparettia coccinea Lindl. e Warrea warreana (Lodd. ex Lindl.) C. Schweinf. (MENINI NETO et al., 2004a, 2004b, 2007). A consulta à coleção de exsicatas de Orchidaceae do projeto “Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo”, composta de materiais depositados no “Herbário Científico do Estado Maria Eneyda P. Kauffmann Fidalgo” (SP) e o empréstimo de exemplares coletados no Estado e depositados em diversos herbários, demonstraram que o número de espécimes depositados, para a grande maioria das espécies anteriormente citadas, é escasso. A inclusão dos exemplares coletados no PNMFAM traz novas informações quanto à distribuição geográfica destas espécies no Estado.

Considerações finais Todas as formações vegetais presentes no PNMFAM acomodam orquídeas, e, num âmbito maior, esta área representa um reduto de todas as formações vegetais encontradas na Serra do Itapeti. O número de indivíduos, bem como a distribuição das espécies na área, é muito variável, apresentando certas peculiaridades como: Bulbophyllum chloroglossum Rchb. f. e Baptistonia lietzei (Regel) Chiron & V.P. Castro, que só foram encontrados em áreas acima de 1.000m na região nordeste, com poucos indivíduos observados. A primeira citada é normalmente encontrada em áreas de contato entre Mata Atlântica e Cerrado, já B. lietzei (Regel) Chiron & V.P. Castro é endêmica da Floresta Atlântica, ocorrendo preferencialmente em Floresta Ombrófila Densa. Outra espécie típica desta formação vegetal é Cirrhaea dependens (Lodd.) Loudon, que até o término deste inventário foi pouco observada na área de estudo, sendo encontrados apenas dois indivíduos desta espécie, ambos ocorrendo no extremo noroeste, acima de 1.000m, próximo a cursos d’água. Dentre as espécies terrícolas, Prescottia oligantha (Sw.) Lindl. e Habenaria pleiophylla Hoehne & Schltr, foram frequentemente encontradas na área de estudo; ambas são mais observadas em campos, vegetando entre gramíneas, e também ocorrem em restingas. Comparettia coccinea Lindl. e Rodriguezia decora (Lem.) Rchb. f. são espécies típicas de matas ciliares, ambas ocorrentes na área de estudo e também ao longo do curso do Rio Tietê, entre Salesópolis e Mogi das Cruzes. Este mosaico de espécies típicas de diferentes formações vegetais encontradas em uma única área, torna esta vegetação singular. Nada se sabe a respeito da dinâmica destas populações, bem como informações quanto à biologia floral e reprodutiva destas espécies. Até o momento, sabe-se que dentre as espécies encontradas no PNMFAM, algumas são endêmicas da Mata Atlântica, formação vegetal dominante na Serra do Itapeti. Dados atuais indicam que restam cerca de 11% da Mata Atlântica original, distribuída em fragmentos florestais de tamanho reduzido, biologicamente empobrecidos e cuja restauração poderia levar centenas de anos. Só esta constatação já justificaria a importância da preservação da área de estudo. Porém, no caso específico da Serra do Itapeti, no que concerne às 136


A família Orchidaceae da Serra do Itapeti

levados a efeito no Estado de Minas Gerais, a espécie também não é relacionada. Na descrição original, Rodrigues (1882) cita a espécie para a Serra das Bicas, Província de Minas Gerais, área que, por esta denominação, foi impossível localizar. Atualmente, a principal estratégia para conservação da natureza é o estabelecimento e a manutenção de áreas protegidas. No caso da Serra do Itapeti essa atitude é extremamente bem vinda.

orquidáceas, pode-se acrescentar um novo dado, trata-se de Acianthera micrantha (Barb. Rodr.) Pridgeon & M.W. Chase, que pela primeira vez foi encontrada no Estado de São Paulo. Esta espécie ocorre dentro da área do PNMFAM e em suas adjacências. Desde sua descrição, há mais de um século, até os dias atuais, pouco se sabe sobre sua distribuição geográfica. A espécie era citada, até agora, apenas para Estado de Minas Gerais, porém, nos inventários florísticos consultados,

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Vinícius Trettel Rodrigues e Fábio de Barros

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C

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Figura 1. (A) Christensonella subullata (Lindl.) Szlach., Mytnik, Górniak & Smiszek; (B) Oncidium hookeri Rolfe; (C) Rodriguezia decora (Lem.) Rchb. f.; (D) Zygopetalum maxillare Lodd.; (E) Acianthera micrantha (Barb. Rodr.) Pridgeon & M.W. Chase; (F) Acianthera saundersiana (Rchb. f.) Pridgeon & M.W. Chase.

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A famĂ­lia Orchidaceae da Serra do Itapeti

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Figura 2. (A) Acianthera sonderana (Rchb. f.) Pridgeon & M.W. Chase; (B) Anathallis rubens (Lindl.) Pridgeon & M.W. Chase; (C) Epidendrum pseudodifforme Hoehne & Schltr.; (D) Isochilus linearis (Jacq.) R. Br.; (E) Octomeria diaphana Lindl.; (F) Liparis nervosa (Thunb. ex Murray) Lindl.

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Bactérias e fungos na Serra do Itapeti João Lúcio de Azevedo Elisa Esposito Clarice Loguercio-Leite

Resumo A Mata Atlântica está atualmente reduzida a menos de 8% de sua extensão original. Entretanto, no sudeste brasileiro ocorrem áreas preservadas, sendo que no município de Mogi das Cruzes (Estado de São Paulo), o Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello abriga uma alta biodiversidade ainda por ser estudada. Um grupo organismos ainda carente de estudos compõe a microbiota, isto é, microrganismos como bactérias e fungos que habitam a Mata Atlântica, em especial, a Serra do Itapeti. Embora haja uma preocupação bastante válida na preservação de espécies animais e vegetais com risco de extinção, pouca ou nenhuma preocupação existe na preservação de microrganismos, tanto por parte de ecologistas como, principalmente, por órgãos governamentais. Entretanto, a vasta riqueza microbiana das matas brasileiras, talvez superior à diversidade animal e vegetal, permanece praticamente desconhecida. A Universidade de Mogi das Cruzes realizou estudos com microrganismos na Serra do Itapeti, entre eles a pesquisa com bactérias endofíticas encontradas em samambaias da espécie Dicksonia sellowiana. Foi verificada a existência de microrganismos endofíticos de vários gêneros, alguns ainda desconhecidos, habitando o interior de plantas, sendo destacada a detecção da síntese de substâncias antimicrobianas. Em um estudo similar, visando ao isolamento e à caracterização de bactérias endofíticas de uma conhecida espécie de orquídea ornamental, Oncidium flexuosum, foi encontrada uma microbiota bastante numerosa e com capacidade de produzir vários compostos de interesse tais como fito-hormônios e solubilizadores de fosfato. O isolamento de microrganismos do solo, da superfície de plantas e de restos vegetais foi também objeto de estudos por diversos autores utilizando técnicas convencionais e moleculares. Os resultados demonstraram mais uma vez a enorme riqueza de nossa microbiota. Em um caso especial, bactérias capazes de inibir fungos fitopatogênicos já estão sendo empregadas, na prática, para controle biológico de doenças de culturas de importância econômica. Como observação geral, vale lembrar que há uma riqueza de vida a ser descoberta nos solos, nas plantas, na serapilheira e demais microambientes, não apenas na Serra do Itapeti como também nas demais florestas brasileiras.

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João Lúcio de Azevedo; Elisa Esposito e Clarice Loguercio-Leite

ção de espécies em vias de extinção, movimentando entidades ambientais e o poder público de municípios localizados no que restou da Mata Atlântica. Entretanto, tendo uma localização que pode ser próxima ou se afastar um pouco da costa do Brasil, este tipo de vegetação possui clima que pode variar de quente a temperado devido sua altitude, mas é em geral muito úmido. Isto favorece a alta densidade vegetal, reduzindo a luminosidade no interior da mata. Em síntese, o clima torna-se favorável para o desenvolvimento de microrganismos macroscópicos como os fungos conhecidos popularmente como cogumelos, chapéu de cobra ou orelhas de pau (basidiomicetes), até formas mais simples de fungos microscópicos (“deuteromicetes”, ascomicetes), além de outros microrganismos, entre eles as bactérias. Tais organismos são os responsáveis pela decomposição de restos vegetais que caem no solo, promovendo a ciclagem de nutrientes neste ambiente e mantendo a floresta exuberante. Um exemplo deste tipo de efeito microbiano é o caso de solos pobres em nutrientes, onde certos basidiomicetes e zigomicetes (outro grupo de fungos) estabelecem relações micorrízicas com os vegetais, suprindo-os nutricionalmente. Com uma riqueza vegetal e animal superior a da floresta amazônica por conter uma variedade de climas desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, a biodiversidade da Mata Atlântica, em geral, carece de maior atenção e estudos. Mais impressionante ainda é a carência de trabalhos relacionados aos microrganismos que habitam este ecossistema. Aliás, estudos recentes mostram o pouco conhecimento da microbiota existente nos mais diversos ambientes. Os estudos realizados por Hawksworth (1991, 1992, 2004) estimaram os números de espécies descritas, mostrando que cerca de 90% dos vegetais de

Introdução A Mata Atlântica, considerada a segunda maior floresta tropical úmida brasileira, superada apenas pela Floresta Amazônica, ocupando uma área de 1,3 milhões de km2, e atualmente está reduzida a menos de 10% de sua extensão original, ou seja, cerca de 52 mil km2. Entretanto, principalmente no sudeste do Brasil ocorrem áreas ainda bastante preservadas. Estes remanescentes florestais ainda possuem uma biodiversidade muito pouco conhecida. O município de Mogi das Cruzes, no Estado de São Paulo, apresenta quase dois terços de seu território situado em áreas de preservação ambiental e está também inserido na segunda maior reserva de Mata Atlântica do Estado de São Paulo. O Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello possui uma área de 352,3ha de extrema importância por abrigar flora, fauna e microbiota nativas da Mata Atlântica. Estima-se que existam na Mata Atlântica cerca de 20.000 espécies vegetais, desde samambaias e orquídeas até grandes árvores, dentre as quais se destaca a abundância de palmeiras. Há também um grande número de vertebrados, entre eles mais de 100 espécies de mamíferos, 200 espécies de aves, além de centenas de espécies de répteis e anfíbios. Entre as plantas e animais existem espécies com risco de extinção, por exemplo, alguns primatas como o sagui-da-serra-escuro (Calithrix aurita) que habita a Serra do Itapeti, o mico-leão-dourado na Mata Atlântica do Rio de Janeiro e algumas espécies de morcego. Com relação às plantas, algumas eram anteriormente encontradas em grande número como o pau-brasil e samambaias, dentre estas Dicksonia sellowiana, conhecida popularmente como xaxim. Estudos sobre plantas e animais da Mata Atlântica revelam a preocupação com a preserva-

Tabela 1. Número de seres vivos conhecidos e classificados e número estimado no planeta Terra (HAWKSWORTH, 1991, 1992; modificado). Grupo Bactérias Fungos Algas Protozoários Plantas Poríferos; Nematoides Artrópodes Outros animais Vírus

Número de espécies Existentes Estimado 4.700 40.000 69.000 1.500.000 40.000 60.000 30.800 100.000 267.750 295.000 29.000 515.000 970.000 6 a 10.000.000 98.000 100.000 5.000 130.000

144

Porcentagem 11,9 4,6 66,7 30,8 90,8 5,6 9,7 a 16,0 98,0 3,8


Bactérias e fungos na Serra do Itapeti

nosso planeta já são conhecidos e classificados, bem como cerca de 98% dos vertebrados. Em contraste, menos de 12% das bactérias e menos de 7% dos fungos (Tabela 1) são devidamente descritos e catalogados em nossos acervos de conhecimento. A preservação de espécies animais e plantas em vias de extinção é alardeada em publicações científicas, em jornais e em revistas e até estampadas em camisetas. Quem já não viu crianças, jovens e adultos com camisetas com o mico-leão-dourado, tartarugas, a ararinha azul e outras espécies, tentando salvá-las de uma extinção futura? E pergunta-se: alguém já viu uma camiseta com espécies de bactérias e fungos úteis, em extinção? Algumas razões podem ser levantadas para este tipo de disparidade, como o tamanho diminuto dos microrganismos, a escassez de especialistas neste tipo de estudo, a pouca divulgação sobre as comunidades microbianas, tornando-os “invisíveis” ao grande público. Vale ainda ressaltar que há também a fama de prejudiciais associada aos microrganismos, conhecidos pela população leiga como causadores de doenças em humanos, nos outros animais, nas plantas, mofando paredes, frutas, enfim, causando danos. Poucos, entretanto, se lembram de que a grande maioria dos microrganismos não é apenas útil, mas imprescindíveis para a vida na Terra. Além do seu papel como decompositores e recicladores, todos os dias utilizam-se produtos de origem microbiana. Basta citar os antibióticos como a tradicional penicilina proveniente de Penicillium, bem como novas fontes de antibiótico isoladas de basidiomicetes (SMÂNIA et al., 2003). Da mesma maneira, o ácido cítrico que faz parte de refrigerantes e medicamentos, proveniente de Aspergillus niger. Não existiriam também produtos lácteos como queijos, iogurtes, bebidas como a cerveja e o vinho e combustíveis como o etanol utilizado por automóveis. Estes são apenas alguns poucos exemplos de seu valor em nossas vidas. Entretanto, quando se constrói uma represa, quando há incêndios, ocasionais ou não, ou desmatamentos nas

florestas, muito da diversidade microbiana pode ser perdida, levando a escassez de recursos microbianos no desenvolvimento de novas tecnologias. A preservação da microbiota em geral é tão imprescindível quanto a preservação de plantas e animais. Uma questão interessante é o quanto a ação humana nas florestas, fragmentando-as, por exemplo, o que pode afetar profundamente as comunidades de fungos e as bactérias associadas a ela. Veja-se, por exemplo, o relatório nacional para a convenção sobre diversidade biológica, organizado pelo Ministério do Meio Ambiente em 1998. De suas quase 300 páginas, plantas e animais são exaustivamente discutidos, mas não se destinam descrições sobre os microrganismos. Os diversos grupos animais e vegetais são classificados dentro da riqueza e biodiversidade que nosso país possui, mas nenhuma referência é feita à microbiota (Tabela 2). Existe também um desbalanço na preservação deste tipo de organismos por meio de coleções. Sociedades Brasileiras vinculadas aos microbiologistas e fitopatologistas têm batalhado junto aos órgãos governamentais para que se estabeleçam coleções de culturas de fungos, bactérias e outros microrganismos. Este tipo de investimento faz-se necessário para a preservação do patrimônio brasileiro frente aos novos problemas ligados à biopirataria, que é um crime ainda possível de ser controlado quando os alvos são animais ou plantas, mas torna-se difícil se baseado no transporte ilegal de microrganismos, que podem ser facilmente levados em locais pequenos, como aberturas de uma sola de um sapato. De qualquer modo, a presente introdução deste capítulo tenta mostrar que microrganismos são seres vivos importantes e que merecem estudos em seus mais diversos ângulos no Brasil, para sua preservação e utilização. Na Floresta Atlântica, os estudos são ainda incipientes neste sentido e quase inexistente nas matas da Serra do Itapeti. A Universidade de Mogi das Cruzes realizou algumas pesquisas neste aspecto, apresentando os trabalhos como teses, comunicações em congressos científicos e publicações em revistas especializadas.

Tabela 2. Número de espécies em grupos de animais e plantas existentes no Brasil e a classificação de nosso país em relação a outros países de alta biodiversidade (BRASIL, 1998).

Total Classificação Endêmicas Classificação

Peixes de água doce

Vertebrados (-peixes)

Aves

Mamíferos

Répteis

Anfíbios

Plantas

>3.000 1 N/D -

3.131 2 788 4

1.622 3 >191 3

524 1 131 4

468 5 172 5

517 2 234 2

>50.000 1 >17.000 1

145


João Lúcio de Azevedo; Elisa Esposito e Clarice Loguercio-Leite

constituída por microrganismos, geralmente fungos e bactérias que são denominados de microrganismos endofíticos (endo = dentro e fitos = planta). Os endofíticos vêm sendo melhor estudados a partir dos anos 80, portanto há cerca de 30 anos. Durante este pequeno período, relativamente, estes organismos têm mostrado exercer uma ação protetora dentro dos vegetais, produzindo entre outros, hormônios de crescimento vegetal e antibióticos que protegem o seu hospedeiro vegetal contra ataque de patógenos. Além disso, os microrganismos endofíticos auxiliam a nutrição das plantas fornecendo nitrogênio, fósforo e outros componentes essenciais ao crescimento da planta (AZEVEDO, 1997; AZEVEDO, 1998; AZEVEDO et al., 2000; AZEVEDO et al., 2003, AZEVEDO & ARAÚJO, 2007). Tudo isso destaca a importância em estudar as bactérias que habitam o interior da D. sellowiana, em uma tentativa de encontrar microrganismos úteis que possam ser empregados no crescimento mais rápido e vigoroso da espécie. Essas bactérias podem, também, servir como inoculantes em uma eventual transferência dessa espécie do campo para a casa de vegetação, ou o inverso. Este trabalho foi realizado na Universidade de Mogi das Cruzes nos anos de 2002 e 2003 pela aluna de pós-graduação Irene de Araújo Barros, cuja dissertação de mestrado (BARROS, 2003) foi defendida em 2003, apresentada em congressos científicos e publicada recentemente (BARROS et al., 2010). Plantas de D. sellowiana, provenientes de Mogi das Cruzes, de campo e estufa fornecidos pelo Prof. Dr. Ikuta serviram de base para o isolamento de bactérias endofíticas. Os resultados demonstraram que a planta é rica em bactérias, especialmente suas raques, havendo maior quantidade de microrganismos em plantas na estufa do que no campo, além da determinação de que plantas mais velhas apresentam maior concentração de bactérias endofíticas do que as mais jovens. Dentre as bactérias evidenciou-se um grande número de espécies, entre elas muitas pertencentes ao gênero Bacillus, tais como o B. thuringiensis conhecido por produzir toxinas que impedem o ataque de insetos. Outros gêneros de bactérias (Amphibacillus, Gracilibacillus e outros) foram detectados pela primeira vez como endofíticos. Muitos microrganismos endofíticos isolados tinham a capacidade de produzir antibióticos, podendo assim ser potencialmente de valor biotecnológico. A Tabela 3 mostra algumas das bactérias isoladas de D. sellowiana provenientes da Serra do Itapeti e sua capacidade em produzir antibióticos.

Esta tentativa é pelo menos um início que demonstra o que foi mencionado até aqui, ou seja, o fato de que nossa região é rica também em sua microbiota, e as potencialidades acadêmicas e aplicadas desses organismos são elevadas. Alguns desses estudos vão ser aqui abordados, esperando que eles possam ser o ponto inicial de outras pesquisas neste intuito.

A microbiota bacteriana em samambaias da Serra do Itapeti A família Dicksoniaceae é formada por cinco gêneros de samambaias sendo Dicksonia um deles, formado por mais de 20 espécies. Uma destas espécies é D. sellowiana, popularmente conhecida como xaxim, samambaia-açú, samambaia imperial ou xaxim bugio. É uma espécie que pode chegar até 6m de altura; é considerada uma das maiores samambaias arbóreas da nossa flora (Figura 1). Seu tronco é revestido de uma grossa camada de raízes adventícias. Suas folhas são grandes, atingindo até 2m de comprimento e 1m de largura, formadas por pinas e pínulas dispostas ao longo de um eixo denominado raque (ASSIS et al., 1994). Ela tem ampla distribuição geográfica, desde o sul do México até o Uruguai (TRYON & TRYON, 1982). Habita preferencialmente o interior das matas e tem crescimento lento, com longevidade de até 60 anos. Suas raízes adventícias são usadas para produção de vasos para plantas e substrato para o cultivo de plantas epífitas como orquídeas. Essas raízes, quando trituradas, servem também como adubo (GUEDES-BRUNI & LIMA, 1996). D. sellowiana era comum na Mata Atlântica, incluindo a Serra do Itapeti, mas vem se tornando cada vez mais rara com o desmatamento e com o uso abusivo na produção de vasos e outras finalidades, tornando-se uma espécie em perigo de extinção e proibida de ser comercializada (MELLO FILHO et al., 1992). Foram feitas tentativas para permitir o crescimento mais rápido da espécie, em Mogi das Cruzes, pelo professor Dr. Hiroshi Ikuta. Graças ao cultivo em casas de vegetação e o estudo de sua propagação por técnicas que utilizam revestimento de material plástico escuro, o Dr. Ikuta obteve resultados promissores. Entretanto, a transferência do material vegetal do campo para estufa e vice-versa, ainda não é totalmente eficiente. Uma das causas dessa dificuldade sugere a importância de microrganismos neste nicho, especialmente bactérias que habitam o interior da samambaia. Sabe-se que cada planta possui uma microbiota própria 146


Bactérias e fungos na Serra do Itapeti

Tabela 3. Bactérias isoladas de Dicksonia sellowiana e sua capacidade de produzir antimicrobianos contra outras bactérias (BARROS, 2003). Espécies Bacillus thuringiensis Bacillus megaterium

Bacillus pumilus

R10 R47; R20

Eco

Mlu

Sau

Bsu

Xca

++*

+

++

+

-

-

-

-

-

+

G30

+

-

++

+++

+

F17; G46

++

+

+

+

-

R1

++

+

-

+

+

G14; F4; R3

-

+

-

-

+

R1/R101

-

+/++

+

+/+++

+

+++/+

++/+

++/+

+++

+

F8/R12

Bacillus subtilis

Atividade antagônica contra**

Isolados

R23/G11

-

-

+

+/++

-/+

G5

-

+

-

-

-

G1; R02

+

+

-

+

+

R11

+

+

+

+

-

G11; R24; R7

-

+

-

-

+

R8

+

+++

-

+++

-

Amphibacillus

G17

-

-

-

+

-

Micrococcus

R15

-

++

-

++

+

G3; F25; F32

-

+

+

-

-

R7/R41

-

+/+++

+/++

+/++

-

Stenotrophomonas

*- = não houve inibição; += halo de inibição de 0,1-0,5cm; ++= halo de inibição de 0,6-1,0cm; +++= halo de inibição > 1,0cm. **Eco = Escherichia coli; Mlu = Micrococcus luteus; Sal = Staphylococcus aureus; Bsu = Bacillus subtilis; Xca = Xanthomonas campestris.

O estudo mostrou que as matas da Serra do Itapeti podem abrigar uma enorme e desconhecida riqueza em sua microbiota, protegendo as plantas contra o ataque de pragas e moléstias, favorecendo seu maior e mais rápido crescimento e podendo até abrigar espécies microbianas desconhecidas na literatura científica.

no Brasil, mas também no exterior e a sua exportação tem aumentado nos últimos anos. Na natureza, o crescimento de orquídeas é lento, podendo demorar cerca de oito a nove anos. Muitas bactérias habitam o interior destas orquídeas e possivelmente, como ocorre em outras espécies, algumas delas são capazes de produzir hormônios de crescimento como auxinas. O conhecimento destas bactérias tem então grande valor econômico em potencial, podendo reduzir o tempo de produção de flores e proteger plantas contra o ataque de doenças e pragas. Desta maneira, a Profa. Maria Cecília Piola Brandt, da UMC, desenvolveu seu trabalho de mestrado sob orientação do Prof. Dr. Welington Luiz de Araújo, visando isolar bactérias endofíticas de O. flexuosum e avaliar seu potencial na produção de hormônios de crescimento vegetal (BRANDT, 2004). Para o isolamento de bactérias endofíticas, foram usadas orquídeas da espécie O. flexuosum, cultivadas em casas de vegetação em Mogi das Cruzes. Esta espécie apresenta duas variedades que diferem em relação à época de floração: uma produz flores de forma mais intensa no verão e a outra no inverno. Após as técnicas de desinfecção superficial das fo-

As bactérias existentes em orquídeas na Serra do Itapeti A Mata Atlântica é rica em orquídeas, dentre elas espécies do gênero Oncidium com preponderância de O. flexuosum. Esta planta é nativa da região serrana do município de Mogi das Cruzes, com seu hábitat natural situado na Serra do Mar, especialmente no limite dos municípios de Mogi das Cruzes e Bertioga. Esta planta floresce, apresentando suas flores reunidas em uma inflorescência amarela e daí seu nome popular de “chuva de ouro” (Figura 2). Atualmente, o mercado brasileiro de plantas ornamentais está em pleno desenvolvimento, apresentando faturamento crescente de ano para ano. As orquídeas são procuradas não apenas 147


João Lúcio de Azevedo; Elisa Esposito e Clarice Loguercio-Leite

lhas, raízes, pseudobulbos e rizomas de orquídeas saudáveis, as bactérias foram isoladas em três coletas (inverno, verão e outono). O número de bactérias, isoladas em diferentes períodos de tempo, apresentou pequena variação, com leve decréscimo no número de bactérias no inverno. Também foi constatada maior densidade de bactérias nos rizomas e pseudobulbos do que em folhas e raízes. Entretanto, a variedade de gêneros bacterianos é maior nas folhas e raízes do que nas outras partes da orquídea. Um considerável número de gêneros foi encontrado no interior das plantas, entre eles Arthrobacter, Bacillus, Brevibacillus, Brevibacterium, Burkholderia, Corynebacterium, Curtobacterium, Flavobacterium, Janibacter, Kocuria, Methylobacterium, Microbacterium, Micrococcus, Mycobacterium, Paenibacillus, Pedobacter, Rhodanobacter, Sphingomonas, Staphylococcus e Xylanomicrobium. Algumas das bactérias encontradas são incomuns e refletem a alta diversidade bacteriana que deve existir em plantas que habitam a Serra do Itapeti. Mais ainda, Brandt (2004) verificou quais destas bactérias eram capazes de produzir hormônios de crescimento vegetal. Como já é conhecido, bactérias que habitam o interior de plantas podem produzir substâncias que atuam na regulação do crescimento de seus hospedeiros, por exemplo, fixando nitrogênio atmosférico ou solubilizando fosfatos que ficam disponíveis para o vegetal, produzindo fito-hormônios ou ainda atuando no controle de doenças e pragas do hospedeiro (FUENTES-RAMIREZ et al., 1993; PILLAY & NOVACK, 1997; AZEVEDO et al., 2003). No trabalho de Brandt (2004) foi verificado que há bactérias endofíticas produtoras do ácido indol acético (AIA), um importante fito-hormônio. Foi também verificado que estas bactérias estão principalmente nos rizomas da orquídea, e que sua quantidade varia com a estação do ano e condições de cultivo. Tudo isso pode ser utilizado em favor do produtor destas plantas, pela inoculação de bactérias em plantas cultivadas em casa de vegetação. Foram também constatadas bactérias solubilizadoras de fosfato e bactérias que fixam nitrogênio no interior das orquídeas. Todos estes dados têm grande significância acadêmica, mostrando a alta diversidade microbiana existente em uma só espécie de planta encontrada na Serra do Itapeti, o que deve também ocorrer em outras plantas no mesmo local. Mais, ainda, estas bactérias podem ter um significado biotecnológico importante, podendo ser utilizadas não apenas pelos produtores de plantas orna-

mentais como também para promover crescimento de outros vegetais.

Microrganismos isolados do solo, água e restos vegetais na Mata Atlântica e a produção de substâncias de interesse biotecnológico Além dos microrganismos que habitam o interior das plantas, há também a abundância de microrganismos no solo e na água da Mata Atlântica. Um grama de solo pode conter milhões de células de bactérias e de outros seres vivos alocados filogeneticamente em milhares de espécies. Nas florestas tropicais ocorre forte interação entre vegetais e solo com seus microrganismos. É aí que acontece a ciclagem de nutrientes, numa intensa atividade microbiana na rizosfera, região próxima às raízes, pelos exsudatos e secreções radiculares que são ricas fontes de carbono para os microrganismos. Estes catalisam transformações indispensáveis nos ciclos bioquímicos da biosfera e produzem uma série de componentes da nossa atmosfera (TORSVICK et al., 2002). Muitos gêneros de bactérias são encontrados no solo. No entanto, poucos trabalhos foram realizados em solos típicos da floresta brasileira como a Mata Atlântica. Um trabalho bastante extenso com fungos tem sido realizado por membros do Instituto de Botânica de São Paulo, Brasil. Uma revisão sobre o assunto indica que um levantamento feito a partir de solo, água e folhas de árvores, feito na Mata Atlântica, na região de Cubatão, em São Paulo, detectou 280 táxons de microfungos, sendo 23 espécies ainda não haviam registradas para o Brasil (SCHOENLEINCRUSIUS et al., 2006). Graças às modernas tecnologias que envolvem o material genético de microrganismos e fungos (GÓES-NETO et al., 2002; 2005), ou seja, o ácido desoxirribonucleico (DNA), o número de espécies microbianas pode ser melhor estimado e resultados surpreendentes têm sido obtidos em todo o mundo. Para a Floresta Atlântica há registros recentes para os macrofungos (Basidiomycetes), nos Estados de Santa Catarina (GROPOSO & LOGUERCIO-LEITE, 2005) e Paraná (DE MELLO & SOUTELLO, 2003). Por outro lado, quanto às bactérias da Mata Atlântica, um trabalho de pesquisa realizado por docentes da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) revelou a 148


Bactérias e fungos na Serra do Itapeti

existência de enorme número de bactérias vivendo na superfície de folhas de árvores que habitam a Mata Atlântica: Trichilia catigua, T. clausenii e Campomanesia xanthocarpa (LAMBAIS et al., 2006). O método molecular mais utilizado gera bandas específicas a partir de sequências gênicas de seus RNAs ribossomais. Foram encontradas nas folhas de cada espécie de 95 a 671 espécies bacterianas. Considerando que a Mata Atlântica possui cerca de 20.000 espécies diferentes de plantas vasculares, é de esperar que possam existir nessa mata de 2 a 13 milhões de espécies bacterianas, sendo a maioria não-cultivável e, portanto, inteiramente desconhecidas. Só por esses dados pode-se aquilatar a importância não só acadêmica, mas também aplicada que a conservação da Mata Atlântica, hoje reduzida a apenas 8% de seu tamanho original. Com relação à Serra do Itapeti, uma pesquisa foi realizada na Universidade de Mogi das Cruzes por Vânia Aparecida Gonçalves, aluna de pós-graduação do programa em Biotecnologia da UMC e orientada do Prof. Dr. Welington Luiz de Araújo (GONÇALVES, 2006). O trabalho consistiu em isolar bactérias do solo da Serra do Itapeti, estudar sua diversidade por modernas técnicas moleculares e verificar a capacidade das mesmas em inibir fungos que causam doenças em plantas, em produzir enzimas úteis do ponto de vista aplicado, além de apresentar a capacidade de solubilizar o fosfato. Foram isoladas 235 diferentes bactérias, encontradas em números bastante semelhantes nas diversas amostras coletadas e analisadas, mostrando que solos com alto teor de matéria orgânica tendem a manter uma população microbiana estável. Resultados bastante interessantes foram conseguidos. Por exemplo: foram encontradas bactérias capazes de produzir enzimas de interesse industrial como as amilases e as pectinases. Outras bactérias eram capazes de solubilizar o fosfato do solo, mostrando sua enorme capacidade de fornecer nutrientes para si mesmas e para as plantas que as rodeiam. Mais importante ainda é o fato que algumas bactérias possuírem o potencial de inibir fungos fitopatogênicos, como espécies dos gêneros Fusarium e Alternaria. Assim, elas também podem ser responsáveis pelo equilíbrio reinante em uma mata natural, sendo participativas na manutenção da exuberância desta mata e responsáveis pelo vigor e controle de doenças vegetais. Algumas destas bactérias têm-se mostrado úteis no controle de doenças de plantas cultivadas atestando seu potencial na agricultura e no controle biológico de doenças de plantas (Figura 3).

Os fungos identificados na Floresta Atlântica Trezentas e dezesseis ocorrências de 20 táxons de fungos zoospóricos da Mata Atlântica da Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba, município de Santo André (SP), foram registradas em folhas de Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll. Arg. colocadas em ambientes terrestre e aquático, coletadas mensalmente de julho de 1988 a maio de 1990. Entre táxons, 13 são de Chytridiomycetes e sete de Oomycetes (Pseudofungos), sendo as espécies com maior ocorrência: Karlingia rosea (De Bary & Woronin) Johanson (35 ocorrências), Polychytrium aggregatum Ajello (32 ocorrências), Rhizophydium elyensis Sparrow (34 ocorrências) e Nowakowskiella elegans (Nowak.) Schroeter (32 ocorrências). São citados pela primeira vez na Floresta Atlântica: Karlingiomyces sp., Phlyctochytrium sp. e Rhizophydium chitinophyllum Sparrow (Schoenlein-Crusius e Milanez, 1998). De Mello & Soutello (2003) identificaram e testaram o potencial celulolítico dos fungos Auricularia sp., Hexagonia sp., Pycnoporus cinabarinus e Ganoderma applanatum coletados em região de Mata Atlântica no Estado do Paraná (veja também o capítulo 11). O Estado de Santa Catarina apresenta somente 17,4% de sua área original coberta pela Mata Atlântica e até agora estão registradas 163 espécies de macromicetos (Basidiomycetes, Fungi) lignocelulolíticos (GROPOSO & LOGUERCIO-LEITE, 2005); algumas delas novas para a ciência. Sabe-se que as espécies de basidiomicetos lignocelulolíticos abundam em todos os tipos de floresta, uma vez que são os principais responsáveis pela decomposição da madeira em muitos ecossistemas. Trabalhos com viés biotecnológico com estes macrofungos vêm sendo desenvolvidos em Santa Catarina, desde identificação de substâncias antibióticas até testes de produção enzimática para uso em biodegradação (SMÂNIA et al., 2003; FERNANDES et al., 2005). É sabido que, além dos usos citados, estes fungos têm recebido especial atenção nos últimos tempos pela sua aplicabilidade em processos de descontaminação ambiental, entretanto nem por isso foram implementados projetos para ampliar o conhecimento das espécies presentes na Mata Atlântica. Na região de Mogi das Cruzes, por exemplo, não há qualquer registro das espécies fúngicas.

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João Lúcio de Azevedo; Elisa Esposito e Clarice Loguercio-Leite

ser uma ferramenta importante na descoberta de novos organismos com potencial biotecnológico. Novos fármacos, novas enzimas, ácidos orgânicos, alimentos, despoluentes e muitos outros produtos estão aí a nossa espera para serem descobertos e empregados em benefício das comunidades locais. Ao passo em que a floresta vai desaparecendo e enquanto espécies microbianas vão se extinguindo, perde-se o material biológico e genético contido nesta floresta. A grande intenção deste capítulo é de que o leitor sinta-se estimulado a conhecer, estudar e preservar a Serra do Itapeti, a Mata Atlântica e as florestas brasileiras.

Considerações finais Os resultados apresentados são um atestado da enorme diversidade de microrganismos que habitam a Floresta Atlântica e em especial a Serra do Itapeti, e do quão escasso é o nosso conhecimento sobre este patrimônio biológico. Existe uma riqueza fabulosa de espécies ainda desconhecidas em sua maioria, imprescindíveis no equilíbrio do ecossistema e preservação do ambiente. Além disso, vale destacar a importância de tais estudos na contribuição científica nas áreas de microbiologia com ênfase à taxonomia microbiana, a qual pode

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João Lúcio de Azevedo; Elisa Esposito e Clarice Loguercio-Leite

Figura 1. Samambaia Dicksonia sellowiana (xaxim) em área de mata (Foto: V.A.O. Dittrich).

Figura 2. Oncidium flexuosum no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello (Foto: E.C. Batista).

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Bactérias e fungos na Serra do Itapeti

A

B1

B2

Figura 3. Inibição de fungos fitopatogênicos por bactérias isoladas do solo na Serra do Itapeti. (A) Bactérias inibindo fungo do gênero Alternaria; (B1) Fungo do gênero Fusarium crescendo em meio de cultura e o mesmo fungo sendo inibido por bactérias (B2) (Gonçalves, 2006).

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Fungos Zoospóricos da Serra do Itapeti Carmen Lidia Amorim Pires-Zottarelli Fabíola Fernandes Michelin

Resumo O Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, localizado no município de Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo, possui uma área de aproximadamente 352,3ha, representada por um importante fragmento de Mata Atlântica, onde estão abrigadas inúmeras espécies da fauna e da flora brasileira. Diversos estudos com fungos zoospóricos já foram realizados em áreas de Mata Atlântica do Estado de São Paulo, porém, há necessidade de outros, visando à ampliação do conhecimento da diversidade deste grupo de fungos no Brasil, onde se conhece, aproximadamente, 18% dos táxons já registrados no mundo. O estudo foi realizado considerando-se a relevância de áreas de Mata Atlântica, a importância dos fungos zoospóricos nos ecossistemas aquáticos e terrestres, a escassez de estudos com este grupo de fungos e a inexistência do conhecimento do grupo no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Para isso, amostras de água e solo foram coletadas e processadas segundo a técnica de iscagem múltipla, que consiste, em laboratório, na colocação de substratos celulósicos, quitinosos e queratinosos nas amostras e, em campo, na submersão de frutos de Malus sp. Foram identificados 38 táxons de fungos zoospóricos, sendo 34 ao nível específico e quatro ao nível genérico, 20 pertencendo ao Filo Oomycota distribuídos em Leptomitales (1), Pythiales (4), Rhipidiales (2) e Saprolegniales (13); um ao Filo Blastocladiomycota, em Blastocladiales (1); e 17 ao Filo Chytridiomycota, em Chytridiales (12), Monoblepharidales (1) e Spizellomycetales (4). É importante ressaltar que um dos táxons, Karlingia curvispinosa, representa a primeira citação para o Brasil. Os espécimes obtidos foram documentados, preservados e incorporados ao acervo do Instituto de Botânica.

Introdução

Trata-se de um grupo polifilético de organismos, que hoje estão inseridos em diferentes reinos, Protozoa com o Filo Plasmodiophoromycota; Fungi com os Filos Blastocladiomycota, Chytridiomycota e Neocallimastigomycota; e Chromista (Straminipila pro parte) com os Filos Oomycota, Hyphochytriomycota e Labyrinthulomycota (KIRK et al., 2008). Todos estes organismos são tradicionalmente e didaticamente tratados como fungos, sendo a expressão “fungos

Os fungos zoospóricos são organismos microscópicos, cosmopolitas, presentes nos ecossistemas aquáticos e terrestres, caracterizados pela presença de flagelos em suas estruturas de reprodução assexuada (zoósporos) e/ou sexuada (planogametas). São também conhecidos como fungos aquáticos, dependendo de água, pelo menos em algum momento do seu ciclo de vida, para sobreviverem (MOORE-LANDECKER, 1996). 155


Carmen Lidia Amorim Pires-Zottarelli e Fabíola Fernandes Michelin

zoospóricos” utilizada pelos micologistas para se referir àqueles que possuem esporos e/ou gametas flagelados, designação que hoje não possui conotação taxonômica. Esses organismos são, normalmente, encontrados como sapróbios em diferentes tipos de substratos, participando ativamente da degradação da matéria orgânica, sendo importantes para a manutenção do fluxo de energia e ciclagem de nutrientes nos ecossistemas aquáticos, continentais e marinhos, bem como, nos terrestres (DICK, 1976). Entretanto, podem também parasitar algas, anfíbios, briófitas, crustáceos, peixes, plantas fanerogâmicas, pteridófitas e outros fungos. Alguns assumem maior importância por serem patógenos em plantas de interesse econômico, como é o caso de representantes dos gêneros Albugo, Phytophthora e Pythium, este último com a espécie Pythium insidiosum De Cock, Mendoza, Padhye, Ajello et Kaufman, a qual causa pitiose em animais e no homem (ALEXOPOULOS et al., 1996). No Brasil, casos de lesões em animais causadas por essa espécie têm sido constantemente registrados (SANTURIO et al., 1998; LEAL et al., 2001; SALLIS et al., 2003; RECH et al., 2004, entre outros), tendo sido recentemente relatado o primeiro caso na espécie humana (BOSCO et al., 2005). Batrachochytrium dendrobatidis Longcore, Persier & D.K. Nichols, um quitridiomiceto, tem merecido atenção especial por ser responsável pelo declínio da população de anfíbios, nos quais causa infecções epidérmicas, sendo relatado em várias partes do mundo, inclusive no Brasil (CARNAVAL et al., 2005). Como mutualistas, encontramos espécies de quitrídias anaeróbicas, as quais vivem no rúmen e ceco de animais herbívoros (ALEXOPOULOS et al., 1996). Os primeiros relatos de fungos zoospóricos no Brasil datam do século 19 por Hennings (1896) em Santa Catarina. Após essa data, poucos foram os estudos realizados até a década de 1940 (MÖLLER, 1901; HENNINGS, 1902; CUNHA & MUNIZ, 1923), na qual importante contribuição foi dada por Viégas & Teixeira (1943), com vários relatos de representantes de quitridiomicetos e oomicetos em plantas de interesse econômico. Nesta época, J.S. Karling publicou diversos relatos importantes sobre novas espécies descobertas da região Amazônica para a ciência (KARLING, 1944a-e, 1945a-c, 1946a-b, 1947). Entretanto, foi a partir da década de 1960 que os estudos taxonômicos com o grupo foram incentivados por A.I. Milanez, e muitos trabalhos foram publicados com seus colaboradores (BENEKE & ROGERS, 1962; ROGERS & BENEKE, 1962; FURTADO, 1965; MILANEZ, 1968,

1984a,b; ROGERS et al., 1970; LYRA & MILANEZ, 1974; PELIZON & MILANEZ, 1979; MILANEZ & TRUFEM, 1981, 1984; MILANEZ, 1984a,b; PIRES-ZOTTARELLI, 1990; SCHOENLEIN-CRUSIUS et al., 1992; PIRES-ZOTTARELLI & MILANEZ, 1993; MILANEZ et al., 1994a,b; PIRES-ZOTTARELLI et al., 1995, 1996a,b; SCHOENLEIN-CRUSIUS & MILANEZ, 1998; PIRES-ZOTTARELLI, 1999; ROCHA & PIRES-ZOTTARELLI, 2002; MILANEZ et al., 2003; GOMES et al., 2003; BAPTISTA et al., 2004; ROCHA, 2004; SCHOENLEIN-CRUSIUS et al., 2006; GOMES & PIRES-ZOTTARELLI, 2006, 2008; MIRANDA & PIRES-ZOTTARELLI, 2008; NASCIMENTO & PIRES-ZOTTARELLI, 2009; dentre outros). No entanto, embora muitos desses trabalhos tenham sido desenvolvidos em áreas de Mata Atlântica, não havia nenhuma referência de fungos zoospóricos para o Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello.

Metodologia Para o estudo da diversidade dos fungos zoospóricos do Parque, duas técnicas foram empregadas. A primeira consistindo na iscagem, em laboratório, de amostras de água e solo, coletadas durante a estação seca (agosto/2005) e chuvosa (dezembro/2005). A iscagem foi realizada com substratos celulósicos (sementes de Sorghum spp. previamente fervidas, palha de milho, celofane, pólen de Pinus spp. e epiderme de cebola), queratinosos (ecdise de cobra e fios de cabelo louro de crianças) e, também quitinoso (exoesqueleto de camarão), com o intuito de obter e isolar o maior número de representantes. A segunda, em campo, onde os fungos zoospóricos foram obtidos por meio da submersão de frutos de Malus sp. (maçã) colocados em recipientes de plástico perfurados, nos corpos d’água do Parque, por aproximadamente três semanas. Após esse período, os frutos foram coletados, as pústulas dissecadas e os espécimes identificados. Para a identificação dos táxons de fungos zoospóricos foram utilizadas literaturas específicas, tais como, Johnson (1956), Sparrow (1960), Scott (1961), Seymour (1970), Karling (1977), Plaats-Niterink (1981) e Johnson et al. (2002). Para a denominação dos táxons foi adotada a nomenclatura usual até maio de 2010. Os espécimes foram preservados por meio da preparação de lâminas semipermanentes com azul de algodão e lactofenol, vedadas com esmalte incolor e/ou conservados em frascos Wheaton, com água destilada esterilizada, em câmara fria (4-10ºC) e/ou pelo método de Castellani, e incorporados ao acervo do Instituto de Botânica. 156


Fungos Zoospóricos da Serra do Itapeti

Karling, Karlingia granulata Karling, Nowakowskiella elegans (Nowak.) Schröeter, Chytriomyces spinosus Fay, Karlingia rosea (de Bary & Woronin) Johanson e Polychytrium aggregatum Ajello, são normalmente mencionados de áreas de Mata Atlântica do Estado de São Paulo (ROGERS et al., 1970; SCHOENLEIN-CRUSIUS et al., 1992; MILANEZ et al., 1994a,b; PIRES-ZOTTARELLI, 1996a; SCHOENLEIN-CRUSIUS & MILANEZ, 1998; ROCHA & PIRES-ZOTTARELLI, 2002; ROCHA, 2004; SCHOENLEIN-CRUSIUS et al., 2006; PIRES-ZOTTARELLI & GOMES, 2007; NASCIMENTO & PIRES-ZOTTARELLI, 2009; dentre outros). Juntamente com os filos Blastocladiomycota e Neocallimastigomycota, são os únicos do Reino Fungi a produzirem células móveis num mesmo estágio do seu ciclo de vida. Exceto para poucas espécies com células poliflageladas, presentes nos representantes anaeróbicos de Neocallimastigomycota, as células móveis (zoósporos e gametas) destes organismos possuem um único flagelo tipo chicote, posteriormente inserido. São filos cujos representantes são organismos heterotróficos, com parede celular composta principalmente por quitina e cuja nutrição se dá por absorção (ALEXOPOULOS et al., 1996; KIRK et al., 2008).

Resultados e discussão Neste estudo foram identificados 38 táxons de fungos zoospóricos, sendo 34 em nível específico e quatro em nível genérico (Tabela 1), com a representação de 22 gêneros e oito ordens. Dos táxons identificados, 18 pertencem ao Reino Fungi e 20 ao Reino Chromista (Straminipila pro parte), com a maioria deles já relatada no Brasil (KARLING, 1944a, 1945a,b, 1946a, 1947; BENEKE & ROGERS, 1962; UPADHYAY, 1967; ROGERS et al., 1970; MILANEZ & TRUFEM, 1981, 1984, MILANEZ, 1984a,b; PIRES-ZOTTARELLI, 1990; SCHOENLEIN-CRUSIUS et al., 1990, 1992; PIRES-ZOTTARELLI, 1996a; SCHOENLEIN-CRUSIUS & MILANEZ, 1998; ROCHA & PIRES-ZOTTARELLI, 2002; MILANEZ et al., 2003; OLIVEIRA, 2004; ROCHA, 2004; GOMES et al., 2003; GOMES & PIRES-ZOTTARELLI, 2006, 2008; SCHOENLEIN-CRUSIUS et al., 2006), com exceção de Karlingia curvispinosa Karling (Figuras 1 e 2). Dentre os táxons de Chytridiomycota obtidos pelo método de iscagem, em laboratório, destacaram-se nesse estudo Chytriomyces appendiculatus Karling, C. aureus Karling, Cladochytrium replicatum

Tabela 1. Fungos zoospóricos do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, Mogi das Cruzes (SP). S= Solo; A= Água. REINO FUNGI Filo Blastocladiomycota Táxons Blastocladiales Blastocladiaceae

Substrato de desenvolvimento

Blastocladia globosa Kanouse

Malus sp.

Compartimento A

Filo Chytridiomycota

Chytridiales Chytridiaceae

Cladochytriaceae

Endochytriaceae Monoblepharidales Gonapodyaceae

Spizellomycetales Spizellomycetaceae

Chytriomyces appendiculatus Karling

Exoesqueleto de camarão

A/S

Chytriomyces aureus Karling

Ecdise de cobra

Chytriomyces spinosus Fay

Epiderme de cebola/Palha de milho

A

Rhizophydium condylosum Karling

Ecdise de cobra

S

A

Rhizophydium elyense Sparrow

Ecdise de cobra

S

Cladochytrium replicatum Karling

Epiderme de cebola/Palha de milho

A

Cladochytrium setigerum Karling

Epiderme de cebola

Cladochytrium tenue Karling Nowakowskiella elegans (Nowak.) Schroeter Polychytrium aggregatum Ajello Diplophlyctis sarcoptoides (H. E. Petersen) Dogma Entophlyctis luteolus Longcore Gonapodya prolifera (Cornu) Fischer Karlingia curvispinosa Karling

Epiderme de cebola Epiderme de cebola/Palha de milho/Celofane Ecdise de cobra

Karlingia granulata Karling Karlingia rosea (de Bary & Woronin) Johanson Rhizophlyctis chitinophila (Karling) Sparrow

157

Exoesqueleto de camarão Epiderme de cebola/Palha de milho

S A/S A S A A/S

Malus sp.

A

Exoesqueleto de camarão Epiderme de cebola/Palha de milho/Celofane

S S

Palha de milho

A

Exoesqueleto de camarão

S


Carmen Lidia Amorim Pires-Zottarelli e Fabíola Fernandes Michelin

Tabela 1. (Continuação) REINO CHROMISTA Filo Oomycota Táxons Leptomitales Leptolegniellaceae

Substrato de desenvolvimento

Leptolegniella keratinophila Huneycutt

Ecdise de cobra

Pythium middletonii Sparrow Pythiales Pythiaceae

Rhipidiales Rhipidiaceae

Saprolegniales Saprolegniaceae

Pythium (zoosporângio filamentoso não inflado) Pythium (zoosporângio esférico, sem proliferação interna) Pythium (zoosporângio filamentoso inflado)

Celofane/Epiderme de cebola/ Semente de Sorghum sp. Ecdise de cobra/Semente de Sorghum sp. Palha de milho/Semente de Sorghum sp.

Compartimento S S A S

Semente de Sorghum sp.

S

Rhipidium interruptum Cornu

Malus sp.

A

Sapromyces

Malus sp.

A

Achlya apiculata de Bary

Semente de Sorghum sp.

S

Achlya cambrica (Trow) Johnson

Semente de Sorghum sp.

A/S

Achlya flagellata Coker

Semente de Sorghum sp.

A/S

Achlya klebsiana Pieters

Semente de Sorghum sp.

S

Achlya orion Coker & Couch

Semente de Sorghum sp.

S

Achlya radiosa Maurizio

Semente de Sorghum sp.

A/S

Aphanomyces stellatus de Bary

Ecdise de cobra

S

Aphanomyces helicoides Von Minden

Ecdise de cobra

S

Dictyuchus pseudodictyon Coker & Braxton ex Couch Leptolegnia eccentrica Coker & Matthews Phragmosporangium uniseriatum Seymour

Semente de Sorghum sp.

A/S

Semente de Sorghum sp.

S

Ecdise de cobra

S

Pythiopsis humphreyana Coker

Semente de Sorghum sp.

S

Saprolegnia diclina Humphrey

Semente de Sorghum sp.

A/S

Chytriomyces appendiculatus é uma espécie estritamente quitinofílica, tendo apresentado abundante crescimento em exoesqueleto de camarão utilizado como isca. A presença de zoosporângios operculados e apendiculados, de tamanho e formatos variáveis, caracteriza a espécie (Figura 3). Chytriomyces aureus (Figura 4), espécie de expressiva beleza por seus zoósporos com gotícula lipídica amarelo-ouro, ocorreu em substrato queratinoso (ecdise de cobra), juntamente com Polychytrium aggregatum, cuja presença de talo policêntrico com zoosporângios inoperculados tuberculados caracteriza a espécie (Figura 5). Chytriomyces spinosus se destacou em epiderme de cebola, cuja transparência revelou zoosporângios hialinos operculados com ornamentações espinhosas (Figura 6), que ao lado de Karlingia granulata, com zoosporângios exoperculados e rizoides constritos (Figura 7), e Cladochytrium replicatum, com

talo policêntrico provido de típicas células turbinadas e zoosporângios com zoósporos providos de gotícula lipídica amarelo-ouro, colonizaram grande parte desse substrato (Figuras 8 e 9). Karlingia rosea e Nowakowskiella elegans são espécies estritamente celulolíticas, a primeira destacando-se pela coloração alaranjada apresentada pelos seus zoosporângios monocêntricos, endoperculados (Figura 10) e, a segunda, por apresentar zoosporângios operculados num talo policêntrico, ocorrendo de forma abundante nos substratos (Figuras 11 e 12). O Filo Oomycota foi principalmente representado por Saprolegniaceae, a maior família dentro de Saprolegniales, com todos os seus representantes relatados para áreas de Mata Atlântica do Estado de São Paulo (ROGERS & BENEKE, 1962; ROGERS et al., 1970; SCHOENLEIN-CRUSIUS et al., 1990, 1992, 2006; MILANEZ et al., 1994; PIRES-ZOTTARELLI et al., 1996 a,b; SCHOENLEIN-CRUSIUS & 158


Fungos Zoospóricos da Serra do Itapeti

mentes usadas como iscas; entretanto, poucos isolados se tornaram férteis, permitindo sua identificação ao nível específico. D. pseudodictyon Coker & Braxton ex Couch ocorreu em algumas das amostras, com seus típicos zoosporângios, cujos zoósporos primários deixam seus cistos (Figura 18), e oogônios, anterídios e oósporos, foram facilmente visualizados (Figuras 19 e 20). Blastocladia globosa Kanouse e Gonapodya prolifera (Cornu) Fischer foram os táxons de Blastocladiomycota obtidos pelo método de iscagem por meio de frutos submersos, cujas colônias ocorreram juntamente com as de Rhipidium interruptum Cornu e Sapromyces sp., representantes de Oomycota, formando as denominadas pústulas (Figuras 21 e 22). Embora tenham sido realizadas apenas duas amplas amostragens no Parque, os resultados aqui obtidos são considerados preliminares, mas importantes, tendo em vista a riqueza em diversidade de fungos zoospóricos normalmente verificada em áreas de Mata Atlântica. Todos os táxons citados são primeiras referências para a área, com um deles sendo primeira citação para o Brasil, aumentando assim, o conhecimento da diversidade e da distribuição da micota zoospórica em áreas de Mata Atlântica do Estado de São Paulo e, consequentemente, do país.

MILANEZ, 1998; ROCHA & PIRES-ZOTTARELLI, 2002; GOMES & PIRES-ZOTTARELLI, 2006, 2008; SCHOENLEIN-CRUSIUS et al., 2006; entre outros). Os organismos incluídos neste filo, embora sejam morfologicamente similares e com mesmo modo nutricional, são reconhecidos como sendo diferentes dos do Reino Fungi, pois não possuem relações filogenéticas com os mesmos. Algumas características levaram à separação destes dos fungos verdadeiros, tais como a reprodução assexual por meio de zoósporos biflagelados, com um longo flagelo tipo tínsel (flagelo com mastigonemas) e um curto flagelo tipo chicote; várias características da ultraestrutura dos zoósporos; produção de talo diploide onde ocorre a meiose para o desenvolvimento dos gametângios; reprodução oogâmica por contato de gametângios; parede celular composta de b-glucanos, hidroxiprolinas, pequena quantidade de celulose, embora certa quantidade de quitina esteja presente em algumas espécies; mitocôndrias com cristas tubulares e várias características bioquímicas como a via de síntese da lisina e do triptofano (ALEXOPOULOS et al., 1996). Dentre os gêneros isolados neste estudo, Achlya foi o que se destacou, tendo sido Achlya apiculata de Bary, A. flagellata Coker e A. radiosa Maurizio, as espécies mais frequentes. Essas, normalmente, são iscadas com sementes de Sorghum sp., entretanto, costumam colonizar outros substratos utilizados no processo de iscagem múltipla. Achlya apiculata caracteriza-se por seus oogônios apiculados com oósporos subcêntricos e pedúnculos recurvados (Figuras 13 e 14). A espécie foi primeiramente isolada no Brasil por Upadhyay (1967) no Rio Grande do Norte, e isolada de áreas de Mata Atlântica do Estado de São Paulo (GOMES & PIRES-ZOTTARELLI, 2008). Achlya flagellata, espécie comum em estudos de biodiversidade no Brasil, apresenta oogônios providos de oósporos excêntricos, muitos deles abortivos e, anterídios diclinos, que ocorrem de maneira abundante na colônia (Figura 15). Achlya radiosa, espécie de delicada beleza, destacou-se durante as amostragens pelos seus oogônios providos de ornamentações mamiformes e anterídios andróginos (Figuras 16 e 17). Ainda dentro de Saprolegniaceae, Dictyuchus merece destaque pela constante ocorrência nas se-

Considerações finais Ressalta-se, nesse momento, a importância de estudos de biodiversidade, bem como, da preservação dos ecossistemas brasileiros, pois, embora esforços tenham sido realizados, por meio da formação de recursos humanos em Micologia conhecemos hoje somente cerca de 18% da micota zoospórica já relatada no mundo, faltando biólogos e pesquisadores na área da taxonomia de fungos para incrementar esse conhecimento.

Agradecimentos À Fapesp e ao CNPq pelo auxílio financeiro; ao Instituto de Botânica pela infraestrutura e à Universidade de Mogi das Cruzes pela oportunidade e facilitação das coletas na área.

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Carmen Lidia Amorim Pires-Zottarelli e Fabíola Fernandes Michelin

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Fungos Zoospóricos da Serra do Itapeti

Figura 1. Zoosporângio e esporo de resistência ornamentado de Karlingia curvispinosa.

Figura 2. Detalhe da ornamentação do esporo de resistência de Karlingia curvispinosa.

Figura 3. Zoosporângio apendiculado de Chytriomyces appendiculatus.

Figura 4. Zoosporângio extramical de Chytriomyces aureus em ecdise de cobra.

Figura 5. Zoosporângio de Polychytrium aggregatum liberando zoósporos posteriormente uniflagelados.

Figura 6. Talo monocêntrico de Chytriomyces spinosus em epiderme de cebola.

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Carmen Lidia Amorim Pires-Zottarelli e Fabíola Fernandes Michelin

Figura 7. Zoosporângio exoperculado de Karlingia granulata em epiderme de cebola.

Figura 8. Talo policêntrico de Cladochytrim replicatum.

Figura 9. Detalhes dos zoósporos de Cladochytrium replicatum.

Figura 10. Zoosporângio endoperculado de Karlingia rosea em palha de milho.

Figura 11. Zoosporângios de Nowakowskiella elegans em palha de milho.

Figura 12. Liberação de zoósporos de Nowakowskiella elegans evidenciando o opérculo.

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Fungos Zoospóricos da Serra do Itapeti

Figura 13. Aspecto geral de Achlya apiculata com oogônios com pedúnculo pendente

Figura 14. Oogônios apiculados com oósporos subcêntricos de Achlya apiculata.

Figura 15. Aspecto geral de Achlya flagellata com oôgonio maturando e anterídios díclinos.

Figura 16. Oogónios ornamentados de Achlya radiosa.

Figura 17. Oogônio com ornamentações mamiformes, oóspero subcêntrico e anterídio andrógeno de Achlya radiosa.

Figura 18. Detalhe da liberação de zoósporos de Dictyuchus pseudodictyon.

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Carmen Lidia Amorim Pires-Zottarelli e Fabíola Fernandes Michelin

Figura 19. Aspecto geral de Dictyuchus pseudodictyon evidenciando zoosporângios vazios, oogônios e ramos anteridiais.

Figura 20. Oogônios com oósporos excêntricos de Dictyuchus pseudodictyon.

Figura 21. Zoosporângios de Gonapodya prolifera.

Figura 22. Aspecto geral do talo de Rhipidium interruptum.

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Borboletas em Floresta Atlântica: métodos de amostragem e inventário de espécies na Serra do Itapeti Marcio Uehara-Prado Danilo Bandini Ribeiro

Resumo Borboletas são excelentes indicadores biológicos, muito sensíveis às mudanças ambientais provenientes de diferentes tipos de perturbação. Além de possuírem características favoráveis, como facilidade de amostragem e identificação, estudos recentes demonstraram que borboletas podem atuar como representantes de outros grupos de invertebrados e vertebrados em relação às suas respostas às perturbações antrópicas. No entanto, há grande carência de estudos básicos em relação às borboletas no Brasil, e informações sobre aspectos gerais da biologia e ecologia de borboletas ainda são muito escassas. Para se obter essas informações, outra mais básica ainda é necessária: saber quais espécies de borboletas ocorrem em determinada localidade. Neste capítulo, apresentamos técnicas específicas de amostragem voltadas a grupos taxonômicos ou funcionais de borboletas: Nymphalidae frugívoras (armadilhas com isca), Hesperiidae (técnica Ahrenholz), Ithomiinae (alcaloides pirrolizidínicos e bolsões de umidade), Papilionidae e borboletas do gênero Morpho (técnica do lenço). Em seguida, descrevemos o método de transectos, muito difundido para o estudo de populações e comunidades de borboletas, e o método de levantamento maximizado, particularmente útil para a execução de inventários locais. Por fim, apresentamos resultados preliminares do inventário conduzido no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. O Parque possui grande heterogeneidade estrutural de vegetação, que, associada à presença de riachos, brejos e topos de morro, propicia grande gama de ambientes para diversas espécies de borboletas, sendo uma área apropriada ao estudo desses insetos. De fato, com um pequeno esforço de amostragem (~40h), 245 espécies de borboletas foram registradas para o Parque, 60% das quais pertencentes às famílias Nymphalidae, Papilionidae e Pieridae. Com pouco investimento financeiro, alguns setores da área de visitação do Parque poderiam transformar-se em excelentes locais para observação de borboletas, que poderiam ser empregadas tanto na prática de educação ambiental como em estudos científicos. O Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello é uma unidade de conservação muito importante para Mogi das Cruzes e região e, por meio do estudo de borboletas, podemos associar conhecimento científico e educação à preservação, ampliando o alcance que esse Parque pode ter sobre a sociedade.

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Marcio Uehara-Prado e Danilo Bandini Ribeiro

Introdução

em ambientes tropicais e temperados (BROWN & FREITAS, 2000; KERR et al., 2000; RICKETTS et al., 2001). Borboletas são muito sensíveis às mudanças ambientais provenientes de diferentes tipos de perturbação antrópica (WOOD & GILLMAN, 1998; KITCHING et al., 2000; BROWN & FREITAS, 2000; SUMMERVILLE & CRIST, 2002), além de possuir características como facilidade de amostragem e identificação, que fazem delas um dos grupos de insetos mais práticos para ser utilizado como bioindicadores (DEVRIES et al., 1997; WOOD & GILLMAN, 1998; BROWN & FREITAS, 2000; KITCHING et al., 2000). Estudos recentes demonstraram ainda que borboletas podem representar outros grupos de invertebrados e vertebrados em relação às suas respostas às perturbações antrópicas (BARLOW et al., 2007; UEHARA-PRADO et al., 2009). A despeito de todas essas qualidades, ainda, há uma grande carência de estudos básicos desses insetos no Brasil (BROWN & FREITAS, 1999; UEHARA-PRADO et al., 2005; RIBEIRO et al., 2008, 2010). Informações sobre aspectos gerais da biologia e ecologia de borboletas ainda são escassas (UEHARA-PRADO et al., 2005; RIBEIRO & FREITAS, 2010), e para se obter essas informações, outra ainda mais básica é necessária: onde as espécies de borboletas podem ser encontradas? Há, atualmente, poucas localidades em áreas de Floresta Atlântica com listas completas de borboletas (BROWN & FREITAS, 1999, 2000; SANTOS et al., 2008). O Estado de São Paulo possui apenas três localidades com inventários relativamente completos publicados em áreas de Floresta Atlântica sensu latu: 1) Parque Estadual do Morro do Diabo, no município de Teodoro Sampaio, com 426 espécies (MIELKE & CASAGRANDE, 1998); 2) Serra do Japi, Jundiaí, 679 espécies (BROWN, 1992, atualizada em BROWN & FREITAS, 2003); 3) Baixada Santista, 520 espécies (FRANCINI et al., 2011). Algumas localidades possuem listas razoavelmente completas ainda não-publicadas que, juntamente com outros levantamentos parciais, podem ser encontradas no sistema SinBiota (http://sinbiota.cria.org.br): Mata de Santa Genebra, Campinas, 702 espécies (BROWN & FREITAS, 2003); Mata Ribeirão Cachoeira, Campinas, 567 espécies (BROWN & FREITAS, 2003); Parque Municipal da Gro-

A Floresta Atlântica apresenta alto grau de endemismo quando comparada a outras formações florestais, chegando a 95% em algumas regiões, além de grande diversidade de espécies (BROWN & BROWN, 1992). Desde a chegada dos europeus ao Brasil, cerca de 92% da Floresta Atlântica original foi destruída e as áreas remanescentes encontram-se distribuídas em fragmentos de diferentes tamanhos, que sofrem intensa pressão antrópica e correm sério risco de desaparecer (MORELLATO & HADDAD, 2000; RIBEIRO et al., 2009). Uma medida frequentemente adotada para a proteção de ecossistemas ameaçados é a criação de áreas protegidas. Essas áreas podem ser estabelecidas por ações governamentais ou por meio da aquisição de terras por pessoas físicas e organizações com fins conservacionistas (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). Áreas protegidas, como parques e reservas, são comprovadamente mais eficientes na proteção de ecossistemas ameaçados do que locais desprotegidos, porém essa eficiência varia de acordo com as condições das mesmas (BRUNER et al., 2001; MCKINNEY, 2002). Por exemplo, Tabanez & Viana (2000) verificaram que a degradação de fragmentos de Floresta Atlântica pode continuar mesmo quando estes se encontram protegidos da perturbação humana, de tal forma que sua conservação efetiva pode necessitar de medidas de manejo. Tendo em vista a impossibilidade de acessar toda a diversidade de um ecossistema, o uso de indicadores biológicos tornou-se uma ferramenta imprescindível em estudos de conservação (OOSTERMEIJER & VAN SWAAY, 1998). Bioindicadores são organismos cujas características podem ser usadas como um índice de atributos de outras espécies ou condições ambientais (LANDRES et al., 1988). Algumas das características que podem ser usadas para bioindicação incluem presença ou ausência dos táxons (riqueza e composição de espécies), densidade populacional, sucesso reprodutivo e aspectos comportamentais (LANDRES et al., 1988). Estudos que fornecem subsídios à seleção e uso de indicadores biológicos confiáveis deveriam ser considerados prioritários (POSSINGHAN et al., 2001). Dentre os insetos, borboletas são propostas como excelentes indicadores de perturbação 168


Borboletas em Floresta Atlântica: métodos de amostragem e inventário de espécies na Serra do Itapeti

ta Funda, Atibaia, 441 espécies (K.S. Brown, dados não-publicados); Reserva Florestal do Morro Grande, Cotia, 518 espécies (M. Uehara-Prado, dados não-publicados) dentre outros levantamentos parciais (SANTOS et al., 2008) ou não publicados. Os padrões de riqueza e composição de espécies de borboletas nas áreas de Floresta Atlântica do Estado de São Paulo ainda estão longe de serem compreendidos e merecem atenção especial em estudos futuros. Levantamentos de espécies de modo geral, e de borboletas em particular, deveriam, portanto, ser incentivados e facilitados nas Unidades de Conservação do Estado de São Paulo. Inventários locais são a base fundamental para o conhecimento da diversidade de espécies, a partir da qual estudos mais específicos, inclusive aqueles com viés conservacionista, podem ser desenvolvidos. Neste capítulo, descreveremos algumas técnicas e métodos de amostragem para a execução de estudos com borboletas, especialmente inventários locais. Em seguida, apresentaremos resultados preliminares do inventário conduzido no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello.

Papilionidae, Pieridae, Lycaenidae, Riodinidae e Nymphalidae. Uma característica deste grupo é a presença de clavas (expansões arredondadas) na ponta das antenas, diferente de Hesperioidea. Papilionidae – são borboletas grandes e coloridas que podem apresentar um prolongamento da asa posterior na forma de um “rabo”, sendo popularmente conhecidas como “rabo-de-andorinha” (Figura 2). As larvas dessas borboletas possuem osmetério, que é uma estrutura eversível em forma de V que se assemelha a uma língua de cobra e produz uma substância de defesa com cheiro de manteiga estragada. Pieridae – é constituída por espécies que variam de pequenas a grandes, geralmente com coloração amarela ou branca, com notáveis exceções principalmente em espécies miméticas (Figura 2). Algumas delas são comuns em parques urbanos e locais abertos e podem ser vistas pousadas em flores e areia molhada. Lycaenidae – borboletas pequenas com cores vibrantes, geralmente verde ou azul iridescente. Há muitas espécies desta família (principalmente da subfamília Theclinae) com manchas que simulam uma falsa cabeça na asa posterior, com a função de desviar a atenção e confundir os predadores. Algumas espécies apresentam associação com formigas, possuindo larvas mirmecófilas. Riodinidae – são borboletas normalmente pequenas e muito coloridas com linhas ou manchas metálicas nas asas. Geralmente, pousam no lado inferior das folhas e voam durante um curto período do dia. As larvas de algumas espécies apresentam associação obrigatória com formigas. Nymphalidae – todos os Nymphalidae possuem o primeiro par de pernas bastante reduzido e utilizam apenas quatro pernas para caminhar (Figuras 3 e 4). É uma família rica (mais de 2.400 espécies descritas nos neotrópicos) e muito diversificada em relação ao seu tamanho, aspecto, comportamento e hábitos alimentares. Existem desde organismos pequenos e de coloração inconspícua, como muitos Satyrinae, até borboletas grandes e coloridas como os Morphinae. Também se encontram borboletas de hábitos crepusculares e que se alimentam de frutos fermentados (e.g. Brassolinae) (Figura 3) e borboletas que voam nas horas mais quentes do dia e consomem néctar de flores (e.g. Nymphalinae) (Figura 4).

Classificação de borboletas Borboletas são insetos da ordem Lepidoptera, subordem Rhopalocera, divididas em seis famílias dentro de duas superfamílias: 1) Papilionoidea: Papilionidae, Pieridae, Lycaenidae, Riodinidae e Nymphalidae; 2) Hesperioidea: Hesperiidae (Tabela 1). Muitas das informações descritas, a seguir, podem ser encontradas com maiores detalhes em BROWN (1992) e LAMAS (2004). Hesperioidea – são conhecidos como “diabinhas” (em inglês recebem o nome coletivo de “skippers” pelo seu voo rápido e errático). É um grupo bastante diverso, com 2.365 espécies descritas para os neotrópicos (LAMAS, 2004). Esta superfamília é representada apenas pela família Hesperiidae. Hesperiidae – este grupo caracteriza-se pelo corpo robusto, três pares de pernas funcionais e antenas reflexas nas pontas, parecidas com tacos de golfe ou chifres (daí o nome “diabinhas”). Têm coloração, geralmente, inconspícua (com notáveis exceções), e formam um grupo bastante homogêneo em morfologia e hábitos. Papilionoidea – abrange todas as outras borboletas, sendo dividida em cinco famílias: 169


Marcio Uehara-Prado e Danilo Bandini Ribeiro

Tabela 1. Classificação das borboletas neotropicais segundo FREITAS & BROWN (2004), LAMAS (2004) e WARREN et al. (2009). Subordem

Superfamília

Família

Subfamília Eudaminae

Hesperioidea

Hesperiidae

Pyrginae Heteropterinae Hesperiinae

Papilionidae

Baroniinae Papilioninae Dismorphiinae

Pieridae

Pierinae Coliadinae Theclinae

Lycaenidae

Polyommatinae Lycaeninae

Riodinidae

Rhopalocera

Euselasiinae Riodininae Biblidinae

Papilionoidea

Brassolinae Apaturinae Satyrinae Morphinae Nymphalidae

Limenitidinae Charaxinae Nymphalinae Heliconiinae Danainae Ithomiinae Libytheinae

Hesperiidae (Figuras 2 e 4); 2) Frugívoras, que obtêm a maior parte de seus nutrientes de frutas fermentadas. Na região neotropical, esta guilda é composta principalmente pela linhagem satiroide de Nymphalidae (sensu FREITAS & BROWN, 2004), que compreende as subfamílias Satyrinae, Brassolinae, Morphinae, Charaxinae e Biblidinae, e pela tribo Coeini (Nymphalinae) (Figura 3). Borboletas frugívoras podem ser capturadas com armadilhas contendo frutas fermentadas como isca. A armadilha VSR (sigla para Van Someren e Rydon, autores que criaram independentemente a armadilha, DEVRIES, 1987), ou alguma versão modificada da mesma (e.g. SHUEY, 1997; FREITAS et al., 2003; UEHARA-PRADO et al., 2007; Figura 1). É o modelo mais usado para estudar essas borboletas. A fruta mais usada como isca é a banana, fermentada por pelo menos 48h. Em muitos estudos desenvolvidos do Brasil,

Amostragem de borboletas A amostragem de borboletas pode ser feita por meio de diversas técnicas e segundo diferentes métodos, dependendo dos objetivos, do tempo e da logística disponíveis para o estudo. Nesta seção, mencionaremos quatro técnicas que são eficientes para captura de grupos taxonômicos específicos e dois métodos bastante utilizados para estudos populacionais e inventários.

Borboletas frugívoras Borboletas são divididas, de modo geral em duas guildas, de acordo com os hábitos alimentares dos adultos (DEVRIES, 1987): 1) Nectarívoras, que se alimentam de néctar durante a vida adulta, composta por maior parte das espécies das famílias Papilionidae, Pieridae, Nymphalidae, Lycaenidae, Riodinidae e 170


Borboletas em Floresta Atlântica: métodos de amostragem e inventário de espécies na Serra do Itapeti

tamente inspecionada pelo pesquisador, mas podem ser instaladas rente ao chão ou no dossel da mata, de acordo com o objetivo do trabalho. A inspeção periódica das armadilhas deve ser feita para verificar a presença de indivíduos capturados e para troca de isca. Essa inspeção pode ser feita com maior ou menor frequência e os indivíduos capturados podem ser coletados ou soltos dependendo do objetivo do estudo ou da dificuldade de identificação. Um guia ilustrado das borboletas frugívoras da Reserva Florestal do Morro Grande, uma área de Floresta Atlântica localizada no município de Cotia (SP), é apresentado em Uehara-Prado et al. (2004) e pode auxiliar na identificação de gêneros e espécies, especialmente as de ampla distribuição.

Hesperiidae - técnica Ahrenholz Os hesperiídeos são componentes importantíssimos da fauna de borboletas em florestas tropicais (LAMAS et al., 1993; DEVRIES et al., 2009; WARREN et al., 2009), com mais de 900 espécies na região de Floresta Atlântica (BROWN, 1992). Essa família possui indivíduos fugidios e de voo extremamente rápido e espécies frequentemente raras em escala local, com populações ocorrendo em baixas densidades (LAMAS et al., 1993; BROWN & FREITAS, 2000). Esses fatores, aliados ao tamanho diminuto de várias espécies, tornam os Hesperiidae uma família muito difícil de ser amostrada (LAMAS et al., 1993; BROWN & FREITAS, 2000). De fato, poucos estudos até hoje exploraram aspectos da ecologia ou do comportamento dessas borboletas (DEVRIES et al., 2009). Sabe-se há muito tempo que diversas espécies de borboletas são atraídas por fezes frescas de pássaros (ZIKÁN, 1929 apud LAMAS et al., 1993), em busca de nitrogênio para formação de ovos (RAY & ANDREWS, 1980; DEVRIES, 1987). Assim, procurar tais excrementos quando da execução de um inventário local pode ajudar a adicionar algumas espécies à lista total de borboletas. No entanto, fezes de aves não são necessariamente fáceis de encontrar, nem são distribuídas em locais convenientes de se trabalhar. No início da década de 1990, uma técnica muito simples e criativa foi desenvolvida e testada em diferentes localidades da América do Sul, e foi batizada de técnica Ahrenholz em homenagem ao seu inventor, David Ahrenholz (detalhes em LAMAS et al., 1993). A técnica Ahrenholz consiste em colocar pequenos pedaços de lenço de papel branco ou papel higiênico (cerca de 1cm2) umedecido com sa-

Figura 1. Modelo ilustrativo de armadilha. (a) corpo da armadilha confeccionado em tule; (b) funil interno; (c) plataforma onde a isca é colocada. As medidas não estão proporcionais.

costuma-se adicionar caldo de cana à banana para fermentar, para aumentar a quantidade inicial de açúcar e água disponível para os microrganismos responsáveis pela fermentação. As armadilhas são penduradas na vegetação, normalmente, a uma altura que possa ser pron171


Marcio Uehara-Prado e Danilo Bandini Ribeiro

liva sobre folhas ou outra superfície conveniente onde os indivíduos possam ser capturados com facilidade. Papel seco ou umedecido com outros líquidos foram testados por LAMAS et al. (1993), mas não foram tão eficientes quanto saliva. Esses pequenos pedaços de papel assemelham-se grosseiramente às fezes de aves, e atraem os hesperiídeos (e algumas espécies de outras famílias), que aparentemente as localizam visualmente. Uma vez pousados sobre ou próximo ao papel, os indivíduos podem ser capturados com uma rede entomológica. Segundo DEVRIES et al. (2009), esses atrativos artificiais amostram alguns subgrupos taxonômicos de Hesperiidae (subfamília Eudaminae e algumas tribos de Hesperiinae) com maior eficiência que outros. Consequentemente, são mais adequados para quantificar a diversidade e testar padrões ecológicos e comportamentais desses subgrupos.

cores aposemáticas (MALLET & JORON, 1999). A impalatabilidade dos Ithominae é derivada da ingestão de alcaloides pirrolizidínicos (APs) provenientes da alimentação das lagartas nas espécies mais basais (nos neotrópicos: Aeria spp. e Tithorea spp.) e dos machos adultos nas demais espécies (BROWN, 1984; TRIGO, 2008). Os machos de Ithomiinae buscam ativamente esses compostos, visitando flores de plantas que possuem APs; eventualmente os adultos podem obter esses alcaloides ao raspar folhas murchas ou secas dessas plantas com as pernas (TRIGO, 2008). As fêmeas, ao receberem o espermatóforo no acasalamento, tornam-se impalatáveis, pois eles contêm APs (BROWN, 1984; TRIGO, 2008). Os alcaloides também são utilizados na síntese de feromônios sexuais dos machos (TRIGO, 2008). Muitas espécies de Ithomiinae podem ser atraídas utilizando-se ramalhetes de Heliotropium indicum (Boraginaceae) pendurados na vegetação. Os indivíduos podem ser facilmente capturados manualmente ou com uma rede entomológica quando pousados sobre o ramo. Outro modo fácil e eficiente de amostrar este grupo de borboletas é utilizando armadilhas VSR, com ramos inteiros ou macerados de H. indicum no seu interior (ARAÚJO, 2006). As borboletas são atraídas pela planta e ficam presas na armadilha. Outra maneira de amostrar Ithomiinae de modo eficiente é a coleta com rede entomológica em “bolsões” de umidade, principalmente durante a estação seca. Em áreas de Floresta Atlântica, alguns locais mais úmidos como córregos atraem muitos indivíduos, principalmente, pela alta concentração de recursos e de feromônios sexuais produzidos pelos machos, que podem ter efeitos transespecíficos (BROWN, 1992). Por essa essa grande concentração de indivíduos, nesses “bolsões” é possível capturar diversas espécies de machos e fêmeas de Ithomiinae.

Ithomiinae – alcaloides pirrolizidínicos e bolsões de umidade A subfamília Ithomiinae (Nymphalidae) compreende oito tribos com cerca de 370 espécies em 45 gêneros, totalmente restritos à região neotropical (LAMAS, 2004) (Figura 4 e Tabela 1). Os adultos de Ithomiinae alimentam-se principalmente do néctar das flores, porém as fêmeas eventualmente podem ser encontradas sobre fezes frescas de aves, em busca de nitrogênio para formação dos ovos (RAY & ANDREWS, 1980; DEVRIES, 1987). Essas borboletas são sensíveis à perturbação antrópica e são consideradas um bom grupo de bioindicadores (BROWN & FREITAS, 2000; UEHARA-PRADO & FREITAS, 2009). Os Ithomiinae são impalatáveis para diversos tipos de predadores e formam anéis miméticos com várias espécies de borboletas, principalmente com os Heliconiinae, compartilhando um padrão comum de

Tabela 1. Lista preliminar das espécies de borboletas do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. As borboletas marcadas com um asterisco (*) encontram-se ilustradas nas Figuras 2, 3 e 4.

Família

Papilionidae

Subfamília

Papilioninae

Espécie Battus polydamas Battus polystictus* Heraclides hectorides* Heraclides thoas Mimoides lysithous Mimoides protodamas Parides agavus Parides anchises Parides proneus* Protesilaus helios Pterouros menatius

172

Subespécie

brasiliensis*

nephalion

cleotas


Borboletas em Floresta Atlântica: métodos de amostragem e inventário de espécies na Serra do Itapeti

Tabela 1. (Continuação)

Família

Subfamília

Dismorphiinae

Pierinae

Pieridae

Coliadinae

Theclinae Lycaenidae

Polyommatinae

Riodinidae

Nymphalidae

Riodininae

Danainae

Espécie Dismorphia astyocha Dismorphia thermesia* Enantia lina Enantia melite Pseudopieris nehemia Anteos clorinde Anteos menippe Archonias brassolis Glutophrissa drusilla Melete lycimnia* Pereute antodyca Aphrissa statira* Eurema albula* Eurema deva Eurema elathea* Eurema phiale Leucidia elvina* Phoebis argante* Phoebis neocypris Phoebis philea* Phoebis sennae* Pyrisitia dina* Pyrisitia nise Rhabdodryas trite Arawacus meliboeus Celmia celmus Celmia uzza Cyanophrys remus Ostrinotes sophocles Pseudolycaena marsyas Strephonota elika Strymon astiocha Strymon ca. astiocha Strymon oreala Elkalyce cogina Hemiargus hanno Leptotes cassius Zizula cyna Adelotypa bolena Adelotypa malca Adelotypa zerna Ancyluris aulestes Ariconias glaphyra Caria plutargus Charis cadytis Chorinea licursis Emesis ocypore Eurybia pergaea Euselasia hygenius Euselasia thucydides Lemonias zygia Leucochimona icare Mesosemia odice Mesosemia rhodia Panara soana Riodina lycisca Symmachia menetas Danaus gilippus*

173

Subespécie

psamathe melite

tereas paulista

tulliola

zelotes occulta epona matatha


Marcio Uehara-Prado e Danilo Bandini Ribeiro

Tabela 1. (Continuação)

Família

Subfamília Danainae

Ithomiinae

Morphinae

Brassolinae

Nymphalidae

Satyrinae

Charaxinae

Apaturinae

Limenitidinae

Espécie Danaus plexippus Lycorea halia Aeria olena Dircenna dero Episcada clausina Episcada philoclea Epityches eupompe* Hipoleria adasa Hypothyris ninonia Ithomia agnosia Ithomia drymo Mechanitis lysimnia* Mechanitis polymnia Placidina euryanassa* Pseudoscada erruca Pteronymia sylvo Morpho aega Morpho anaxibia Morpho catenarius* Morpho helenor Morpho hercules Blepolenis batea* Caligo arisbe Caligo beltrao Caligo brasiliensis Dasyophthalma creusa Dasyophthalma rusina Eryphanis reevesi Opoptera syme Opsiphanes invirae Capronnieria galesus Eteona tisiphone Forsterinaria necys Forsterinaria quantius Godartiana muscosa* Hermeuptychia hermes* Manataria hercinia Moneuptychia griseldis Moneuptychia paeon* Moneuptychia soter Pareuptychia ocirrhoe Paryphthimoides phronius* Pierella nereis* Taygetis ypthima Yphthimoides ochracea Archaeoprepona amphimachus Consul fabius Fountainea ryphea Hypna clytemnestra Memphis appias* Memphis acidalia Zaretis isidora Doxocopa laurentia Adelpha iphiclus Adelpha lycorias Adelpha malea Adelpha mythra Adelpha plesaure Adelpha syma*

174

Subespécie cleobaea

daeta

casabranca

paulista*

interjecta*

phidile* huebneri


Borboletas em Floresta Atlântica: métodos de amostragem e inventário de espécies na Serra do Itapeti

Tabela 1. (Continuação)

Família

Subfamília

Biblidinae

Hesperiidae Nymphalinae

Acraeinae

Heliconiinae

Eudaminae Pyrginae

Espécie Biblis hyperia Callicore hydaspes Catonephele numilia Cybdelis phaesila Diaethria candrena Diaethria clymena Diaethria eluina Dynamine agacles Dynamine athemon Dynamine postverta Ectima thecla* Eunica margarita Eunica tatila Haematera pyrame Hamadryas amphinome Hamadryas arete Hamadryas epinome* Hamadryas februa Hamadryas feronia Hamadryas fornax Marpesia chiron Marpesia petreus Myscelia orsis* Pyrrhogyra neaerea Temenis laothoe Anartia amathea Chlosine lacinia Colobura dirce Eresia lansdorfi* Historis odius Hypanartia bella Hypanartia lethe* Junonia evarete* Ortilia ithra Siproeta epaphus Siproeta stelenes Tegosa claudina* Telenassa teletusa Vanessa myrinna* Actinote carycina Actinote dalmeidai Actinote pellenea Actinote rhodope Agraulis vanillae Dione juno Dryas iulia Eueides aliphera Eueides isabella Eueides pavana* Euptoieta hegesia Heliconius besckei* Heliconius erato Heliconius ethilla Heliconius sara Philaethria wernickei* Typhedanus undulatus Mimoniades versicolor Pyrrhopyge sp. Astraptes alardus Astraptes anaphus

175

Subespécie

penthia

meridionalis

maeon

bellaria

roeselia*

hyalina maculosa* alcionea*

phyllis* polychrous* apseudes*


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Tabela 1. (Continuação)

Família

Subfamília

Pyrginae

Hesperiidae

Hesperiinae

Espécie Astraptes creteus Astraptes elorus Autochton neis Autochton zarex Carrhenes canescens Gorgythion begga Helias phalaenoides Heliopetes alana Heliopetes arsalte Heliopetes omrina Heliopetes petrus Marela tamyris Mylon maimon Polythrix caunus Pyrgus communis Pyrgus oileus Pythonides lancea Sostrata cronion Staphylus ascalon Theagenes dichrous Trina geometrina Urbanus dorantes Urbanus esmeraldus Urbanus procne Urbanus proteus Urbanus simplicius Urbanus teleus Xenophanes tryxus Zera hyacinthinus Artines aquilina Callimormus rivera Callimormus sp. Carystus phorcus Conga chydaea Cynea trimaculata Enosis schausi Lamponia lamponia Lychnuchoides ozias Lychnuchus celsus Miltomiges cinnamomea Moeris striga Paracarystus hypargira Phanes rezia Psoralis stacara Remella remus Saturnus reticulata Saturnus sp. Sodalia coler Sodalia dimassa Thargella evansi Thespieus xarippe Thoon dubia Thracides cleantes Vehilius clavicula Vehilius stictomenes Vinius letis Zariaspes mys

176

Subespécie siges

tamyroides

orcynoides orcus

claudianus

tiberias


Borboletas em Floresta Atlântica: métodos de amostragem e inventário de espécies na Serra do Itapeti

Papilionidae e Morpho spp. – técnica do lenço

parecidas para realizar sua amostragem. Outra variável importante é a experiência do pesquisador, que pode influenciar na eficiência da amostragem. Assim, um treinamento prévio deve ser realizado para que haja “calibragem” mínima, especialmente em estudos onde mais de uma pessoa estiver envolvida na amostragem de transectos diferentes (CALDAS & ROBBINS, 2003). Deve-se ter claro também que o estabelecimento de transectos e horários fixos não impossibilitam que desvios de amostragem sejam cometidos. Espécies com hábitos e hábitats diferentes daqueles escolhidos pelo pesquisador para instalar seus transectos possivelmente nunca serão amostradas. Espécies com picos de atividade em horários diferentes da maioria dos grupos, como alguns Brassolinae (Nymphalidae) e Hesperiidae crepusculares (FREITAS et al., 1997), serão subamostrados se o trabalho for realizado apenas nas horas mais quentes do dia, como usualmente é feito. A amostragem por transecto tem a vantagem de ser muito barata, uma vez que o pesquisador precisa somente de uma rede entomológica para a execução do trabalho, e apenas com isso será capaz de amostrar representantes de borboletas de todas as famílias. Dado que a amostragem é feita em locais fixos, vários estudos com borboletas ou outros grupos taxonômicos podem ser conduzidos nos mesmos locais de modo comparável. Uma vez que essas contagens são padronizadas em termos de tempo gasto e área amostrada, análises estatísticas comparativas podem ser feitas entre trabalhos (ROYER et al., 1998). Segundo esses autores, essa delimitação de parâmetros que permite um monitoramento confiável em longo prazo é uma das características mais importantes da amostragem com transectos.

Algumas espécies de Papilionidae e muitas espécies de Morpho podem ser atraídas por uma técnica particularmente lúdica e bastante eficaz, já mencionada em artigos antigos (e.g. D’ALMEIDA, 1937). Essa técnica se vale do comportamento territorial de algumas espécies de borboletas, cujos machos possuem hábito agressivo, atacando qualquer coisa que se mova em sua área de voo, desde pequenos insetos até animais maiores, automóveis e pesquisadores. Para atrair essas espécies de modo eficiente, basta amarrar um pedaço de pano (um lenço, por exemplo) à extremidade de uma vareta fina, de modo que pedaços iguais do tecido sobrem de ambos os lados, como uma gravata borboleta. Isto feito, basta abanar a vareta de modo a imitar o voo de uma borboleta. Tecidos de cor branca ou azul têm se mostrado eficientes em atrair várias espécies, mesmo que elas sejam de outras cores. Os indivíduos vêm “brigar” com a falsa borboleta, e podem ser capturados com uma rede entomológica.

Transectos O método de transectos é o mais usado para o estudo de populações e comunidades de borboletas, bem como o seu monitoramento. Foi desenvolvido na Inglaterra pelo grupo de Ernest Pollard e tornou-se popular a partir da década de 1970 (POLLARD et al., 1975; POLLARD & YATES, 1993). Nesse método, as espécies de borboletas são contadas ao longo de trilhas fixas pré-determinadas (“transectos”), que são percorridas por um dado intervalo de tempo. As espécies visualizadas dentro de um certo limite ao lado da trilha (até 2m) são registradas ou, se necessário, capturadas para identificação (ISERHARD & ROMANOWSKI, 2004). Diversas modificações foram propostas a partir do método original para adaptá-lo a diferentes realidades (CALDAS & ROBBINS, 2003; WILLIAMS, 2008). Em áreas de Floresta Atlântica, dependendo da localidade (normalmente em grandes altitudes e locais mais frios), esse pode ser o único método eficiente para o estudo de borboletas. Esse método é fortemente influenciado pelas condições meteorológicas (em dias quentes e ensolarados haverá mais borboletas em atividade do que em dias frios e nublados) e, portanto, o pesquisador deve escolher dias com condições

Levantamentos maximizados Quando se tem como propósito efetuar um inventário de espécies de uma dada localidade, o método mais eficiente é por meio de amostragens maximizadas, que têm como objetivo a identificação do maior número possível de espécies no período de trabalho. Para tal, deve-se realizar uma busca contínua das espécies em recursos tanto dos adultos como das larvas, especialmente moitas de flores, plantas hospedeiras, excrementos de animais e exudato de plantas. Além dos recursos, os ambientes mais favoráveis ao encontro de borboletas, como manchas 177


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pelo menos 400 espécies (FREITAS, com. pess.). No entanto, o esforço de amostragem empregado até o momento foi pequeno (~40h), e a condução de um censo sistematizado no local certamente levará ao aumento substancial da lista de espécies. Na Tabela 2, comparamos a riqueza de espécies nas diferentes famílias registradas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello com áreas relativamente bem amostradas em sistemas florestais semelhantes. Nessas áreas, inventários maximizados foram conduzidos por diferentes pessoas em anos diferentes (BROWN, 1992; UEHARA-PRADO et al., dados não-publicados, BROWN, dados não-publicados). Assim, essa comparação pretende ser apenas exploratória. A família com maior número de representantes até o momento foi Nymphalidae, particularmente seus representantes grandes e/ou vistosos, que juntamente com Papilionidae e Pieridae totalizaram mais de 60% das espécies do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. De modo geral, essas três famílias (NPP) possuem os elementos mais facilmente amostrados da fauna de borboletas de uma localidade, apresentando um acúmulo inicial muito rápido de espécies “residentes”, seguido de um período de estagnação, em que eventualmente são adicionadas espécies ditas “transitórias” ou “turistas” (BROWN & FREITAS, 2000). De fato, as famílias do grupo NPP foram as relativamente mais bem amostradas, respectivamente com 55,3; 57,9 e 66,7% do número de espécies encontradas na localidade com maior riqueza (Serra do Japi) (Tabela 2). Por outro lado, as famílias com espécies mais difíceis de visualizar e/ou capturar, Riodinidae, Hesperiidae e Lycaenidae, encontram-se claramente subamostradas, com 36,5; 24,5 e 12,6% do número de espécies, respectivamente. A subamostragem relativa dessas famílias pode ser notada também nas áreas com maior esforço de coleta, especialmente para Lycaenidae. Esforços subsequentes para se completar a lista de espécies de borboletas da Serra do Itapeti devem dar atenção especial a esses grupos, inclusive com o emprego de técnicas específicas direcionadas à sua amostragem.

de sol na mata e locais com areia e/ou rocha úmida, devem ser procurados exaustivamente. O emprego conjugado das técnicas específicas descritas nas seções anteriores, e a cobertura do maior número possível de recursos e ambientes pelo(s) pesquisador(es) nos diferentes horários do dia garantirá a maximização da informação obtida num curto período de tempo. Para informações mais detalhadas do método, bem como dicas valiosas de trabalho no campo, veja BROWN (1972) e TYLER et al. (1994). Como no método de transectos, a experiência do pesquisador pode afetar diretamente a eficiência de amostragens maximizadas. Assim, um inventário maximizado conduzido por um pesquisador experiente atingirá um número alto de espécies em pouco tempo, podendo chegar até a 250-300 espécies em um único dia em áreas de Floresta Atlântica do Estado de São Paulo (A.V.L. Freitas e K.S. Brown com. pess. e observação pessoal dos autores). A diferença de eficiência e a ausência de um protocolo fixo de amostragem tornam o método maximizado pouco comparável, a não ser dentro de um mesmo grupo de pesquisa, se os pesquisadores tiverem bastante tempo de trabalho juntos. Por outro lado, uma vez que impõe poucas restrições metodológicas (como todo método de checklist, veja ROYER et al., 1998), o método de amostragem maximizada é muito flexível, permitindo a tomada rápida de decisões frente a situações inesperadas, como mudanças climáticas repentinas, abertura de clareiras por queda de árvores ou o corte das flores ruderais de uma trilha. A amostragem pode ser realizada sem um desenho amostral específico e ainda assim obter listas representativas da fauna de borboletas de uma localidade. Ademais, a ausência de amarras metodológicas e de uma rotina maçante torna o trabalho de campo mais prazeroso, especialmente no início do inventário, quando muitas espécies são adicionadas à lista.

Borboletas do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello Inventário das espécies Em cinco visitas realizadas entre maio de 2000 e janeiro de 2001, e uma visita realizada em abril de 2006, foram registradas por meio de levantamentos maximizados no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello 245 espécies de borboletas, pertencentes às seis famílias (Tabelas 1 e 2). Esse ainda é um número baixo para uma localidade que deve possuir

Borboletas frugívoras Vários trabalhos mostraram que a atividade humana pode afetar a riqueza, a diversidade e a composição de espécies da comunidade de borboletas frugívoras (e.g. DUMBRELL & HILL, 178


Borboletas em Floresta Atlântica: métodos de amostragem e inventário de espécies na Serra do Itapeti

Tabela 2. Riqueza de espécies nas diferentes famílias de borboletas do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, comparada às localidades com sistemas florestais semelhantes com maior esforço amostral. Para detalhes vide texto.

Parque Natural Municipal Parque Municipal Reserva Florestal Reserva Biológica MuniFrancisco Affonso de Mello da Grota Funda do Morro Grande cipal da Serra do Japi Município Esforço amostral (horas) Papilionidae

Mogi das Cruzes

Atibaia

11

18

Cotia 100 (maximizada) 800 (VSR) 16

~40 (maximizada)

~80 (maximizada)

Jundiaí

Pieridae

24

30

35

36

Nymphalidae

115

181

187

208

Lycaenidae

14

34

44

111

~600 (maximizada) 19

Riodinidae

19

28

49

52

Hesperiidae

62

150

187

253

Total

245

441

518

679

2005; VEDDELER et al., 2005; FREITAS et al., 2006; RIBEIRO et al., 2008; UEHARA-PRADO et al., 2007, 2009). Além de apresentar respostas consistentes à perturbação antrópica, essa guilda de borboletas apresenta alta correlação com a fauna total de borboletas em áreas de Floresta Atlântica (BROWN & FREITAS, 2000), o que as torna um grupo com grande utilidade para estudos de bioindicação e monitoramento. Da mesma forma feita para as famílias apresentadas na Tabela 3, comparamos as subdivisões taxonômicas da guilda de espécies frugívoras registradas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello com áreas relativamente bem amostradas. Nesse caso, foi adicionada à comparação uma área de Floresta Atlântica altamente fragmentada onde amostras sistematizadas com armadilhas VSR foram feitas (RIBEIRO et al., 2008). Como mencionado anteriormente, essas comparações pretendem ser apenas exploratórias. Assim, como a fauna de borboletas como um todo, os ninfalídeos frugívoros encontram-se subamostrados no Parque, em maior ou menor grau, dependendo da subfamília, quando comparado às áreas mais bem amostradas. Dentro das diferentes subfamílias de Nymphalidae, a proporção de borboletas frugívoras registradas até o momento alcançou de 45 a 83,3% do total de espécies da localidade com maior riqueza de cada grupo (Tabela 3). Cinco das seis espécies da subfamília Morphinae, que seriam esperadas para a localidade, já foram registradas no local, com exceção de Morpho menelaus. Da mesma for-

ma, apenas Smyrna blomfildia, dentre os Coeini (Nymphalinae), ainda não foi amostrada no Parque. Por serem grandes e vistosas, ambas espécies devem ser prontamente adicionadas à lista com o aumento do esforço de amostragem. A subfamília Biblidinae encontra-se relativamente bem amostrada, alcançando mais de 70% da quantidade de espécies que ocorreram em áreas com esforço de coleta muito maior (Tabela 3). Esse rápido acúmulo não é apenas importante para o inventário local, mas também ressalta a possibilidade e a facilidade de se usar as espécies desse grupo como indicadores biológicos de ambientes que sofreram perturbação antrópica, como sugerido por Uehara-Prado et al. (2007). Brassolinae, Charaxinae e Satyrinae foram as subfamílias com menor representatividade relativa, todas com menos de 50% da quantidade de espécies da localidade com mais espécies (Tabela 3). Os componentes dessas subfamílias são mais crípticos, “ariscos” e/ou ocorrem em locais (e.g. dossel, interior de mata) e horários (e.g. crepúsculo) menos frequentados pelos pesquisadores quando da execução de inventários. O emprego de armadilhas em um inventário de espécies, ou um estudo específico com borboletas frugívoras poderá aumentar rapidamente a representatividade dessas subfamílias na lista total de espécies. Cabe ressaltar que dentre os Satyrinae estão as espécies mais difíceis de identificar entre as borboletas frugívoras, e que uma atenção especial às espécies desse grupo deve ser dada.

179


Marcio Uehara-Prado e Danilo Bandini Ribeiro

Tabela 3. Riqueza de espécies de borboletas frugívoras amostradas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, comparada às localidades com sistemas florestais semelhantes com maior esforço amostral.

Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello

Proporção da localidade com mais espécies

Parque Municipal da Grota Funda

Reserva Florestal do Morro Grande

Reserva Fragmentos Biológica florestais em Municipal da São Luiz do Serra do Japi Paraitinga

Esforço amostral (horas)

~40 (maximizada)

~6,66%

~80 (maximizada)

100 (maximizada) 800 (VSR)

~600 (maximizada)

1040 (VSR)

Brassolinae

9

45%

9

20

14

10

Charaxinae

7

46,7%

14

14

15

11

Coeini

2

66,7%

3

3

3

2

Biblidinae

20

71,4%

25

27

28

18

Morphinae

5

83,3%

6

5

6

3

Satyrinae

15

48,4%

22

31

30

29

Frugívoros total

58

58%

79

100

96

73

transformar-se em excelentes locais para observação de borboletas, que serviriam para a prática de educação ambiental e estudos científicos, ou simplesmente para o deleite do visitante. Uma medida muito simples e efetiva seria plantar nesses setores plantas com flores atrativas, como Chorisia speciosa (paineira), Cordia spp. (louro, louro-pardo), Chromolaena spp. (cambarazinho, mata-pasto), Vernonia spp. (assa-peixe), Lantana camara (cambará) (veja lista extensa e recomendações em ACCACIO, 1997). Muitas espécies atrativas certamente ocorrem no Parque e poderiam ser aproveitadas em um viveiro de mudas, ou simplesmente evitando o seu corte nas beiradas das trilhas. O Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello é uma unidade de conservação muito importante para Mogi das Cruzes e região, proporcionando a preservação dos mananciais e da biodiversidade local. Unindo a facilidade de estudar borboletas ao carisma desses insetos junto ao público, podemos associar conhecimento científico e educação à preservação, ampliando o alcance que esse Parque pode ter para a sociedade.

Considerações finais O Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello possui grande heterogeneidade estrutural de vegetação, desde descampados e capoeiras nas áreas próximas ao centro de visitantes até uma mata relativamente bem estruturada nas áreas mais distantes. A presença de riachos, brejos e topos de morro associados a essa vegetação propicia uma grande gama de ambientes para diversas espécies de borboletas, suas plantas hospedeiras, recursos alimentares e territórios, sendo uma área apropriada ao estudo desses insetos. Baseando-se nos resultados obtidos até o momento, uma recomendação evidente é a finalização do inventário de espécies; ou que pelo menos algumas famílias fossem recenseadas em sua totalidade, como Nymphalidae, Papilionidae e Pieridae, que são relativamente fáceis de amostrar e identificar no campo, e que possuem subgrupos considerados informativos das condições de preservação em áreas de Floresta Atlântica (como as borboletas frugívoras e as Ithomiinae) (BROWN & FREITAS, 2000). As informações obtidas nessa fase serviriam de subsídio para a execução de uma série de estudos subsequentes, como a avaliação do estado de conservação nas diferentes áreas do Parque, avaliação de efeitos de perturbação antrópica (como efeitos de borda e de entorno), a condução de um monitoramento para avaliação dessas condições a longo prazo, entre outros. Com pouco investimento financeiro, alguns setores da área de visitação do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello poderiam

Post-scriptum Após o término da edição do capítulo, tivemos conhecimento do registro de Tithorea harmonia caissara (Nymphalidae, Ithomiinae) na Estação Ecológica de Itapeti, unidade de conservação também localizada na Serra do Itapeti. O registro foi feito por Debora Contente Batista, acadêmica do curso de Ciências Biológicas da Universidade Braz Cubas, 180


Borboletas em Floresta Atlântica: métodos de amostragem e inventário de espécies na Serra do Itapeti

orientada pela Profa. Vanda Trettel. Tithorea harmonia caissara consta na lista nacional de espécies ameaçadas, bem como nas listas de espécies ameaçadas de todos os Estados da região Sudeste. A sua ocorrência no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello é muito provável, ressaltando a importância dessa Unidade de Conservação e da Serra do Itapeti como um todo.

cas A. Kamiski e Gustavo Schwartz auxiliaram o trabalho de campo. Keith S. Brown, Marcelo Duarte, André V.L. Freitas e Lucas A. Kaminski ajudaram com informações sobre borboletas e na revisão do manuscrito. Gustavo Accacio, André V.L. Freitas, Cristiano Iserhard e Melissa O. Teixeira forneceram alguns exemplares de borboletas usadas nas figuras e Cristiane Matavelli auxiliou na separação dos exemplares do Museu de Zoologia da Unicamp. Este trabalho contou com o auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Biota Fapesp processo 98/05101-8). M.U.-P. agradece ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pela bolsa de doutoramento concedida (CNPq, processo 140116-2004-4).

Agradecimentos Os autores agradecem aos organizadores do livro pelo convite, e à Maria Santina de Castro Morini por facilitar o acesso de M.U.-P. ao Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Keith S. Brown, Artur N. Furegatti, Lu-

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Marcio Uehara-Prado e Danilo Bandini Ribeiro

Heraclides hectorides

Heraclides thoas

Parides proneus

Melete lycimnia

Phoebis philea

Battus polystictus Dismorphia thermesia

Phoebis argante

Phoebis argante

Phoebis sennae

Aphrissa statira

Eurema albula

Pyrisitia dina

Eurema elathea

Leucidia elvina

5 cm Figura 2. Papilionidae e Pieridae comumente encontrados em Floresta Atlântica, na zona de transição entre a Serra do Mar e o interior paulista. Foram ilustradas as faces dorsais de machos, exceto quando indicado: (v), face ventral e ♀, fêmea. Veja Tabela 1 para classificação taxonômica das espécies.

184


Borboletas em Floresta Atlântica: métodos de amostragem e inventário de espécies na Serra do Itapeti

Morpho catenarius

Morpho helenor

Fountainea ryphea

Fountainea ryphea

Blepolenis batea

Memphis appias Hermeuptychia hermes Pierella nereis Hermeuptychia hermes (v) Hamadryas epinome Pareuptychia ocirrhoe

Hamadryas epinome (v)

Paryphthimoides phronius

Ectima thecla Pareuptychia ocirrhoe (v) Paryphthimoides phronius (v)

Moneuptychia paeon (v)

Godartiana muscosa (v)

Myscelia orsis

Myscelia orsis 5 cm

Figura 3. Nymphalidae frugívoros comumente encontrados em Floresta Atlântica, na zona de transição entre a Serra do Mar e o interior paulista. Foram ilustradas as faces dorsais de machos, exceto quando indicado: (v), face ventral e ♀, fêmea. Veja Tabela 1 para classificação taxonômica das espécies.

185


Marcio Uehara-Prado e Danilo Bandini Ribeiro

Danaus gilippus

Placidina euryanassa

Agraulis vanillae

Agraulis vanillae (v)

Eptyches eupompe

Mechanitis lysimnia

Dryas iulia

Eueides pavana

Heliconius besckei

Heliconius ethila

Heliconius erato

Heliconius besckei (v)

Heliconius sara

Heliconius erato (v)

Philaethria wernickei

Adelpha syma

Eresia lansdorfi

Hypanartia lethe

Vanessa myrinna

Anartia amathea

Junonia evarete

Tegosa claudina

Adelpha syma (V)

5 cm Figura 4. Nymphalidae nectarívoros comumente encontrados em Floresta Atlântica, na zona de transição entre a Serra do Mar e o interior paulista. Foram ilustradas as faces dorsais de machos, exceto quando indicado: (v), face ventral e ♀, fêmea. Veja Tabela 1 para classificação taxonômica das espécies.

186


Aranhas de serapilheira da Serra do Itapeti Rafael Y. Lemos Paulo A. M. Goldoni Antonio D. Brescovit

Resumo Apresentamos o inventário da araneofauna de solo realizado no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, no município de Mogi das Cruzes (SP). As coletas ocorreram durante os anos de 2003 e 2004 com auxílio de armadilhas-de-queda e de extratores de Winkler. Foram capturadas 1.498 aranhas distribuídas entre 32 famílias, sendo as mais ricas em espécies as famílias Theridiidae (18 espécies), Linyphiidae (12), Corinnidae (8) e Salticidae (5). As famílias Anapidae, Araneidae, Dictynidae, Oxyopidae e Philodromidae apresentaram somente um exemplar adulto. Gnaphosidae, Miturgidae, Palpimanidae, Sparassidae e Tetragnathidae apresentaram apenas indivíduos imaturos. Foram identificadas 83 espécies, distribuídas em nove guildas. A espécie mais abundante foi Sphecozone castanea (Millidge, 1991), com 314 indivíduos, seguida por uma espécie de Linyphiidae (129 indivíduos), uma de Zoridae (51 indivíduos) e uma do gênero Chrysso (Theridiidae; 56 indivíduos). Foram registradas seis espécies novas, uma para cada um dos seguintes gêneros: Pseudanapis (Anapidae), Isoctenus (Ctenidae), Agalenocosa (Lycosidae), Mesabolivar (Pholcidae), Arnoliseus (Salticidae) e Epicratinus (Zodariidae). os mais estudados (SILVEIRA & CURE, 1993; RINALDI & FORTI, 1997; NEW, 1999; DIAS, 2001; DORVAL et al., 2004; ANTONINI et al., 2005; NOGUEIRA et al., 2006). As aranhas pertencem à ordem Araneae (Arachnida), que é dividida em duas subordens: Mesothelae e Opisthothelae. Mesothelae agrupa aranhas primitivas com espécies da família Liphistiidae, registradas somente para o continente asiático. A subordem Opisthothelae, por sua vez, é subdividida em duas infraordens, Mygalomorphae, com aranhas conhecidas popularmente como “caranguejeiras”, e Araneomorphae, em geral sem nome popular, e que incluem cerca de 90% das aranhas (PLATNICK & GERTSCH, 1976;

Introdução A devastação causada nas matas pela ocupação urbana descontrolada e ao uso intensivo da terra preocupa pesquisadores e ambientalistas. Como consequência tem-se uma paisagem florestal fragmentada com vários problemas oriundo do efeito de borda, da alteração de processos biológicos e da perda de biodiversidade (CERQUEIRA et al., 2005; GALINDO-LEAL et al., 2005; NOGUEIRA et al., 2006). Desse contexto, surge a urgência do registro das espécies que compõem essas florestas, em especial para subsidiar programas de conservação biológica. Os invertebrados receberam grande atenção da comunidade científica nas últimas décadas. Dentre esses animais, os insetos e as aranhas têm sido 187


Rafael Y. Lemos; Paulo A. M. Goldoni e Antonio D. Brescovit

CODDINGTON & LEVI, 1991). Atualmente, 41.253 espécies representam as aranhas, distribuídas entre 109 famílias (PLATNICK, 2010). No Brasil, há registros de 69 famílias e, no Estado de São Paulo, encontram-se mais de 700 espécies, distribuídas entre 46 famílias (BRESCOVIT & FRANCESCONI, 2002). Por serem observadas em diversas áreas e condições climáticas, possuírem considerável variedade de hábitos de vida e especializações ecológicas, as aranhas são, atualmente, alvo de trabalhos que visam incluí-las em programas de conservação (TURNBULL, 1973; NEW, 1999; SKERL, 1999). Prova disso são as diversas pesquisas envolvendo inventários (FOWLER & VENTICINQUE, 1995; BRESCOVIT et al., 2004; INDICATTI et al., 2005) e até as interações desses aracnídeos com o ambiente, seja em áreas de reserva florestal ou áreas agrícolas, e interações com outros animais, como formigas (NOONAN, 1982; FLÓREZ, 1999; HARWOOD et al., 2001; WHITMORE et al., 2002). A versatilidade nos estudos de aranhas não se limita apenas aos trabalhos que comprovam a sua importância ecológica, mas também seu valor econômico, como por exemplo, no uso como controle biológico de pragas (PROVENCHER & VICKERY, 1988; HARWOOD et al., 2001; RAJESWARAN et al., 2005), uma alternativa ao uso de pesticidas; pesquisas voltadas às neurotoxinas de sua peçonha em estudos neurobiológicos e na produção de bioinseticidas; além de pesquisas voltadas para a estrutura e composição da seda das teias (BLOOMQUIST et al., 1996; RASH & HODGSON, 2002; GUINEA et al., 2005). Também não se pode esquecer o interesse médico, uma vez que algumas aranhas podem representar perigo à vida humana e animais domésticos, como a “aranha-marrom” (Loxosceles spp., Sicariidae), a “aranha-armadeira” (Phoneutria spp., Ctenidae) e a “viúva-negra” (Latrodectus spp., Theridiidae). A araneofauna de várias localidades no Estado de São Paulo tem sido objeto de inventários, como é o caso da Ilha do Cardoso (FOWLER & VENTICINQUE, 1995), da Estação Ecológica Juréia-Itatins (BRESCOVIT et al., 2004), da Bacia do Reservatório do Guarapiranga e de florestas urbanas na cidade de São Paulo (CANDIANI et al., 2005; INDICATTI et al., 2005), sem contar outros inventários ainda em andamento. Em relação às áreas da Serra do Itapeti, este é o primeiro registro da fauna de aranhas. Neste trabalho, enfatizamos a fauna araneológica de solo presente no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, relacionando dados de sua biologia e história natural.

Metodologia As amostras analisadas neste trabalho provêm de coletas realizadas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello (23°28’S; 46°09’O) (Figura 1). Localizado no perímetro urbano, distante cerca de 5,5km do centro de Mogi das Cruzes (SP), o Parque faz parte da Mata Atlântica e possui uma vegetação em sua maioria em sucessão secundária (MANNA DE DEUS et al., 1995). Este Parque também é conhecido como Parque Natural Municipal da Serra do Itapeti (Figura 1). Por se tratar de uma Unidade de Conservação, as áreas do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello estão organizadas em zonas de uso, definidas pelo respectivo plano de manejo (MANNA DE DEUS et al., 1995), o qual permite definir as atividades que podem ou não ser desenvolvidas em cada localidade. Os pontos de coleta foram escolhidos em três zonas de uso: a de Uso Intensivo (Trilha do Ouriço), de Uso Extensivo (Trilhas Martim Pescador e Canela Branca) e de Uso Primitivo (Trilha do Esquilo) (Figura 2). Com base nessas zonas de uso, as armadilhas foram distribuídas pelas áreas do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, contando com excursões periódicas bimestrais entre março de 2003 e março 2004, e excursões pontuais em julho de 2000 e outubro de 2003. Para coletar as aranhas de serapilheira, optamos por utilizar dois métodos: armadilhas-de-queda e extrator de Winkler. Armadilhas de queda: método muito utilizado para capturas de pequenos animais que se deslocam na serapilheira. O material usado, montagem da armadilha e o tempo deixado no campo podem variar para cada trabalho, mas, ainda assim, é uma metodologia de baixo custo e fácil de ser aplicada em campo (LUFF, 1975). As armadilhas utilizadas neste trabalho consistiram de potes plásticos de 500mL com 10cm de diâmetro de boca, contendo aproximadamente 100mL de líquido conservante, etanol 70% com ¼ de formol 10% (Figura 3). Nas excursões bimestrais, as armadilhas foram instaladas em dois quadrantes de cada lado das trilhas Martim Pescador, Canela Branca, do Ouriço e do Esquilo, e distantes 10m da margem. Foram dispostas em nove fileiras com cinco potes em cada quadrante, totalizando 90 armadilhas por trilha/bimestre. Na coleta pontual de outubro de 2003, foram utilizadas 150 armadilhas, distribuídas 188


Aranhas de serapilheira da Serra do Itapeti

em 50 potes para as trilhas do Ouriço, Martim Pescador e Canela Branca. Em ambas as coletas, os potes foram separados entre si a uma distância de 1m. A captura ocorre quando os animais, ao se locomoverem, acabam caindo dentro dos potes, sendo preservados no líquido conservante. Os potes foram deixados no campo durante cinco dias, sendo então recolhidos. Ao passar desse tempo, pode ocorrer evaporação do líquido conservante, o que acarretaria na deterioração dos animais. Extrator de Winkler: criado a partir de uma variação do funil de Berlese, o extrator de Winkler passou a ser muito utilizado para amostrar a biodiversidade de serapilheira mais refinada do solo (OLSON, 1994; KRELL et al., 2005). Em geral, seu uso consiste de duas etapas. A primeira envolve a ida ao campo, onde é escolhida uma área, seja um transecto ou um quadrado, a fim de colher aproximadamente 1m² de serapilheira por amostra. Com auxílio de uma peneira (Figura 4) separa-se o material coletado das folhas e outras partículas maiores, que são descartadas. Na coleta de julho de 2000 foram selecionados 50 pontos de coleta de serapilheira em um transecto, sendo 25 pontos de cada lado da trilha, distantes 50m um do outro e 20m da borda da trilha para o interior da mata. Na coleta de outubro de 2003 foram selecionados 20 pontos de coleta de serapilheira, localizada num quadrante próximo a Trilha Martim Pescador. Cada ponto separado entre si a uma distância de 1m. A segunda etapa utiliza o extrator propriamente dito, composto por dois sacos. O interno, que é pequeno e perfurado, é onde se coloca todo material peneirado, que representa uma amostra. O externo, todo fechado, além de comportar o saco vazado possui na extremidade inferior um pote com líquido conservante, no caso, etanol 70% (Figura 5). Todo esse aparato fica suspenso, permanecendo montado durante 48h (Figura 6). Neste período, os animais que se encontram dentro do saco vazado começam a se locomover, pela escassez de alimento e ao ressecamento do substrato, e saem pelas perfurações caindo no pote contendo o líquido conservante. Triagem e Conservação do Material: envolveu a separação das aranhas dos outros artrópodes e material particulado, como folhas e barro. As amostras foram analisadas no Laboratório de Mirmecologia do Alto Tietê/UMC (LAMAT) e no Laboratório de Artrópodes no Instituto Butantan (IBSP). Em seguida, iniciou-se a determinação das famílias utilizando a chave de Brescovit et al.

(2002). Nesta etapa, as aranhas adultas foram separadas das imaturas. Somente as aranhas adultas foram determinadas em níveis taxonômicos mais exatos, uma vez que, para tanto, é necessário o exame das estruturas genitais, órgãos ainda não desenvolvidos em aranhas imaturas. Muitas aranhas, no entanto, foram determinadas apenas em nível de morfoespécie, uma vez que não existem trabalhos de revisão para diversos grupos, tornando impossível a identificação específica. Todos os indivíduos identificados foram incorporados no acervo da coleção do Laboratório Especial de Coleções Zoológica do Instituto Butantan.

Resultados No Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, foi possível coletar com as duas metodologias 1.498 aranhas, dentre adultas (34% machos e 24% fêmeas) e imaturas (42%). Foram identificadas 32 famílias, sendo que Gnaphosidae, Miturgidae, Palpimanidae, Sparassidae e Tetragnathidae apresentaram apenas indivíduos imaturos, enquanto que nas outras 27 famílias foram identificadas 83 espécies (Tabela 1). Dentre as famílias mais ricas em espécies estão Theridiidae, com 18 espécies, Linyphiidae (12) e Corinnidae (8). Dentre as espécies obtidas, Sphecozone castanea (MILLIDGE, 1991) foi a mais abundante, tendo apresentado 314 indivíduos (205 machos e 109 fêmeas). As outras duas espécies mais abundantes foram Linyphiidae sp.1, com 129 indivíduos (70 machos e 59 fêmeas), e Chrysso sp.1, com 56 (23 machos e 33 fêmeas) (Figura 7). A lista conta ainda com 32 espécies que apresentaram apenas um indivíduo.

Figura 7. Número total de espécies de acordo com as famílias coletadas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, usando armadilhas de queda e extratores de Winkler. 189


Rafael Y. Lemos; Paulo A. M. Goldoni e Antonio D. Brescovit

Tabela 1. Lista dos táxons coletados no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, de acordo com as armadilhas onde foram capturados. AQ = armadilha-de-queda; Wi = extrator de Winkler. Família

Táxon

Amaurobiidae

Amaurobiidae sp.1

Anapidae

Pseudanapis sp.1

Anyphaenidae Araneidae

Corinnidae

AQ

Wi

X

X X

Aysha aff. robusta

X

Patrera procera (Keyserling, 1891)

X

Araneidae sp.1

X

Castianeira sp.1

X

Castianeira sp.2

X

Corinna sp.1

X

Corinna sp.2

X

Tupirinna sp.1

X

Tupirinna sp.2

X

Corinnidae sp.1

X

Corinnidae sp.2

X

Isoctenus sp.1 Ctenidae

X

Itatiaya iuba Polotow & Brescovit, 2006 Ctenus ornatus (Keyserling, 1891)

Dictynidae

Hahniidae

X X

Dictyna sp.1

X

Hahniidae sp.1

X

X

Hahniidae sp.2

X

X

Hahniidae sp.3

X

X

Hahniidae sp.4 Idiopidae

Linyphiidae

X

Idiops camelus (Mello-Leitão, 1937)

X

Dubiaranea decurtata Millidge, 1991

X

Meioneta sp.1

X

Moyosi rugosa (Millidge, 1991)

X

Scolecura parilis Millidge, 1991

X

X

Sphecozone castanea (Millidge, 1991)

X

X

Vesicapalpus simplex Millidge, 1991

X

Linyphiidae sp.1

X

Linyphiidae sp.2

X

Linyphiidae sp.3

X

Linyphiidae sp.4

X

Linyphiidae sp.5

X

Linyphiidae sp.6

Lycosidae

Nemesiidae Nesticidae Ochyroceratidae

Oonopidae

Oxyopidae

X

X

X

Agalenocosa sp.1

X

Alopecosa moesta (Holmberg, 1876)

X

Hogna pardalina (Bertkau, 1880)

X

Lycosa erythrognatha Lucas, 1836

X

Prorachias bristowei Mello-Leitão, 1924

X

Rachias sp.1

X

Nesticus ramirezi Ott & Lise, 2002

X

Ochyroceratidae sp.1

X

Gamasomorphinae sp.1

X

Neoxyphinus sp.1

X

Orchestina sp.1

X

X

Orchestina sp.2

X

Oxyopes salticus Hentz, 1845

X

Philodromidae

Paracleocnemis sp.1

Pholcidae

Mesabolivar sp.1

X X

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Aranhas de serapilheira da Serra do Itapeti

Tabela 1. (Continuação) Família Pholcidae

Salticidae

Táxon

AQ

Pholcidae sp.1

Wi X

Pholcidae sp.2

X

Arnoliseus sp.1

X

Euophryinae sp.1

X

Euophryinae sp.2

X X

Salticidae sp.1

X

X

Salticidae sp.2

X

X

Scytodidae

Scytodes globula Nicolet, 1849

X

X

Segestriidae

Ariadna sp.1

X

X

Symphytognathidae

Anapistula sp.1 X

X

X

Chrysso sp.1 Euryopis sp.1

X

Euryopis sp.2

X

Euryopis sp.3

X

Guaraniella sp.1

X

Guaraniella sp.2

Theridiidae

X X

Steatoda sp.1

X

X

Stemmops sp.1

X

X

Styposis sp.1

X

X

Theridion sp.1

X

Theridion sp.2

X

Theridion sp.3

X

Thymoites sp.1

X

X X

Theridiidae sp.1

X

Theridiidae sp.2

X

Theridiidae sp.3

X

Theridiidae sp.4

X

Theridiidae sp.5

X

Tmarus sp.1

X

Tmarus sp.2

X

Titanoecidae

Goeldia sp.1

X

Zodariidae

Epicratinus sp.1

X

X

Zoridae sp.1

X

X

Zoridae sp.2

X

Zoridae

Para as amostras de armadilha-de-queda foram determinadas 24 famílias, dentre adultos e imaturos, sendo que Lycosidae, Oxyopidae, Sparassidae e Titanoecidae foram coletadas exclusivamente por este método. Dentre os adultos foram coletadas 666 aranhas, identificadas em 59 espécies. Destas, 36 foram encontradas somente com esta metodologia, enquanto que 28 apresentaram apenas um indivíduo. A espécie mais abundante foi novamente S. castanea (271 espécimes), seguida também por Linyphiidae sp.1 (106) e Chrysso sp.1 (52) (Figura 8). As famílias que apresentaram maior número de espécies foram Linyphiidae (11 espécies), Theridiidae (11) e Corinnidae (6).

Figura 8. Número total de espécies de acordo com as famílias coletadas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, usando armadilhas de queda.

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à infraordem Mygalomorphae, Prorachias bristowei Mello-Leitão, 1924 (Figura 10) e Rachias sp. (Figura 11), ambas da família Nemesiidae, e Idiops camelus (Mello-Leitão, 1937) (Figura 12), da família Idiopidae. As Nemesidae são conhecidas por construírem suas tocas, que utilizam para se refugiar e espreitar suas presas, escavando um buraco no solo, construindo ou não portas tipo alçapão (Figura 13). Já os idiopídeos foram encontrados em troncos de árvores ou buracos no solo, refúgios como os da família Nemesiidae, porém apresentando portas tipo alçapão. Entre as Araneomorphae amostradas, podemos destacar para esta guilda as aranhas da família Ctenidae com três espécies, Ctenus ornatus (Keyserling, 1891) (Figura 14), Isoctenus sp.1 e Itatiaya iuba Polotow & Brescovit, 2006, e da família Lycosidae, comumente denominada de “aranhade-jardim”, ou “aranhas-de-grama”, com quatro espécies Hogna pardalina (Bertkau, 1880), Alopecosa moesta (Holmberg, 1876), Lycosa erythrognatha Lucas, 1836 (Figura 15) e Agalenocosa sp. Essas aranhas têm como hábito espreitar suas presas e se refugiarem entre as folhas secas no solo e buracos ou espaços entre raízes e troncos de árvores.

Já com extrator de Winkler foi possível identificar um número maior de famílias (28), sendo as exclusivamente capturadas por este método Anapidae, Dictynidae, Gnaphosidae, Palpimanidae, Philodromidae, Symphytognathidae e Thomisidae. Com este método foi possível coletar 208 indivíduos adultos, distribuídos em 47 espécies. Destas, 20 apresentaram apenas um exemplar. As duas espécies mais abundantes foram S. castanea (43) e Linyphiidae sp.1 (23), porém a terceira espécie mais numerosa no extrator de Winkler foi Styposis sp.1, com 18 indivíduos (Figura 9). Quanto ao número de espécies, as famílias Theridiidae (14 espécies), Linyphiidae (4), Salticidae (4) e Hahniidae (4) foram as bem representadas (Tabela 1).

Predadoras cursoriais de solo: são aranhas que possuem hábitos noturnos e caçam suas presas perseguindo-as no solo, sem, no entanto, utilizar teias para capturá-las. Dentre as aranhas coletadas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, tem-se um representante de Zodariidae, uma espécie do gênero Epicratinus.

Figura 9. Número total de espécies de acordo com as famílias coletadas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, usando o extrator de Winkler.

Para conhecer melhor os hábitos das aranhas deste inventário, optamos por organizá-las em guildas alimentares, conforme proposta de Höfer & Brescovit (2001) refinada em Dias et al. (2010), incluindo apenas as famílias com exemplares adultos. O conceito de guildas tem sido muito explorado por aracnólogos, e, mesmo em se tratando somente de aranhas de solo e serapilheira, ainda podemos separá-las em grupos distintos, baseando-se, por exemplo, no método de captura de presas (UETZ, 1977). Ao todo foram reconhecidas oito guildas descritas a seguir.

Predadoras cursoriais noturnas: estão presentes nesta guilda, aranhas da família Oonopidae, representadas por quatro espécies, duas espécies da subfamília Gamasomorphinae e duas espécies da subfamília Oonopinae. Trata-se de pequenas aranhas, medindo apenas alguns milímetros, que têm como hábito perseguir ativamente suas presas por entre a serapilheira. Predadoras aéreas diurnas: apesar das armadilhas utilizadas no trabalho serem especialmente utilizadas para coletas de animais de solo, algumas aranhas que são comumente encontradas sobre a vegetação foram capturadas de forma ocasional. São exemplos desta guilda as aranhas das famílias Oxyopidae, aqui representada por Oxyopes salticus Hentz, 1845, Philodromidae, com uma espécie do gênero Paracleocnemis, e Thomisidae, com duas espécies do gênero Tmarus. De hábito diurno, as aranhas desta

Predadoras de espreita de solo: nesta guilda estão representadas as aranhas de hábitos noturnos, entre elas, sedentárias que vivem em tocas, como algumas migalomorfas fossoriais, ou aquelas que frequentemente mudam o local de seu refúgio. No Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello foram encontradas três espécies pertencentes 192


Aranhas de serapilheira da Serra do Itapeti

guilda têm o costume de caçar suas presas espreitando por entre as folhagens e flores. O corpo desses animais é diferenciado e possui cores e estruturas próprias para se confundir com o meio em que se encontram, facilitando a espreita. Como exemplo, podemos citar a espécie do gênero Paracleocnemis, que possui uma coloração críptica e vive entre as folhas ou ramos secos da vegetação (BRESCOVIT et al., 2004).

é Linyphiidae, sendo uma das famílias mais ricas em espécies identificadas neste trabalho. Dentre as espécies registradas estão Sphecozone castanea (Millidge, 1991) (Figura 19), Moyosi rugosa (Millidge, 1991), Vesicapalpus simplex (Millidge, 1991), Sculecura parilis Millidge, 1991 e mais seis morfoespécies. A espécie Dubiarenea decurtata Millidge, 1991, apesar de ser um linifídeo, pertence a uma outra guilda, e será mencionada adiante.

Predadoras cursoriais aéreas: novamente algumas aranhas que vivem sobre a vegetação foram coletadas, porém, ao contrário da guilda anterior, essas aranhas não ficam a espreita de sua presa, mas sim as perseguem ativamente sobre a vegetação. Fazem parte desta guilda as aranhas de famílias como Anyphaenidae, aqui representada por Aysha aff. robusta (Figura 16) e Patrera procera (Keyserling, 1891); Salticidae, com uma espécie do gênero Arnoliseus, duas espécies da subfamília Euophryinae, além de mais duas morfoespécies; Scytodidae, com a espécie Scytodes globula Nicolet, 1.849 (Figura 17); e Corinnidae, com oito espécies, dentre elas duas do gênero Castianeira, Corinna (Figura 18), Tupirinna, além de mais duas espécies identificadas ao nível de família. Desta guilda podemos destacar as aranhas da família Salticidae, que são popularmente conhecidas como “papa-moscas”, caracterizadas pelos grandes olhos médios anteriores e por apresentarem visão bem desenvolvida. As aranhas da família Scytodidae, também são denominadas de “aranhas-cuspideiras”, por possuírem um hábito de caça peculiar, que consiste em lançar uma secreção pegajosa com veneno sobre suas presas por meio de uma fenda encontrada na garra das quelíceras (NENTWIG, 1985).

Aranhas sedentárias com teias de lençol: essa guilda está representada por três espécies de Pholcidae, também conhecidas como “aranhastreme-treme”, pelo comportamento de vibrar o corpo quando perturbadas. Elas têm como características o corpo pequeno e as pernas longas, sendo na maioria diurnas, construindo suas teias como uma fina malha que utilizam para captura de suas presas. Tecedoras de teias não-orbiculares: as aranhas pertencentes a essa guilda elaboram teias irregulares e sem formas sobre a vegetação e têm por hábito serem diurnas. Nesta guilda está incluído o já mencionado linifídeo Dubiaranea decurtata Millidge, 1991, além das espécies da família Theridiidae, bem representadas neste trabalho. Esta família apresentou três espécies do gênero Euryopis e Theridion, duas espécies do gênero Guaraniella e uma espécie dos gêneros Chrysso, Steatoda, Stemmops, Styposis e Thymoites, além de cinco morfoespécies.

Discussão Considerando a fauna araneológica, o Estado de São Paulo e a Mata Atlântica são uma das áreas melhor amostradas no país, se comparadas aos demais Estados, assim como com as demais fitofisionomias, como caatinga e cerrado. Apesar disso, e por pertencerem a um grupo bastante diverso, o conhecimento da araneofauna ainda é escasso. A falta de revisões ou especialistas em algumas famílias dificulta a identificação dos indivíduos coletados como, por exemplo, as espécies da família Linyphiidae e Theridiidae, que tiveram a maioria de seus exemplares identificados apenas em gêneros ou, muitas vezes, apenas em morfoespécies. Essa é uma situação recorrente em inventários de aranhas neotropicais como atestam outros trabalhos, como FOWLER & VENTICINQUE (1995), CANDIANI et al. (2005) e INDICATTI et al. (2005), cujas amostragens também ocorreram no Estado São Paulo, utilizando armadilhas-de-queda.

Tecedoras noturnas de solo: foram coletadas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, e incluídas nesta guilda as aranhas das famílias Hahniidae, com quatro espécies, Ochyroceratidae, com uma espécie, e Titanoecidae, com uma espécie do gênero Goeldia. Essas aranhas são construtoras de teias rentes ao solo, cujas formas são irregulares. Tecedoras diurnas de solo: semelhante à guilda anterior, com a diferença que suas teias são orbiculares e seu hábito, diurno. As espécies Pseudanapis sp.1 (Anapidae) e Anapistula sp.1 (Symphytognathidae) são exemplos de aranhas capturadas nessa amostragem. Essas duas espécies têm como característica serem muito pequenas, medindo poucos milímetros. Outra família aqui representada, com grande número de indivíduos, 193


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Tanto na Bacia do Reservatório do Guarapiranga (INDICATTI et al., 2005) como nas florestas urbanas na cidade de São Paulo (CANDIANI et al., 2005), os indivíduos da família Linyphiidae foram tão numerosos quanto os observados no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. A espécie Sphecozone castanea (Millidge, 1999) foi a que apresentou maior número de indivíduos nos resultados dos trabalhos citados e neste inventário, comprovando o fato de que essa espécie é abundante na região metropolitana de São Paulo e amplamente distribuída no restante da Mata Atlântica do Estado. Foi possível detectar também, para a Serra do Itapeti, a ocorrência de pelo menos seis espécies ainda não descritas pela ciência: Pseudanapis sp.1 (Anapidae), Isoctenus sp.1 (Ctenidae), Agalenocosa sp.1 (Lycosidae), Mesabolivar sp.1 (Pholcidae), Arnoliseus sp.1 (Salticidae) e Epicratinus sp.1 (Zodariidae). Do total de 83 espécies coletadas, 28% ocorreram em ambas as metodologias, 29% foram coletadas exclusivamente pelo extrator de Winkler, enquanto que 43% pelas armadilhas-de-queda. Dentre as espécies registradas por armadilhas-de-queda, podemos notar a presença de espécies de maior porte e errantes, ou seja, que se movimentam tanto para a caça quanto para mudança de refúgio, por exemplo, as migalomorfas Idiops camelus (Mello-Leitão, 1937), Prorachias bristowei Mello-Leitão, 1924 e Rachias sp.1; os licosídeos Agalenocosa sp.1, Lycosa erythrognatha Lucas, 1836, Hogna pardalina (Bertkau, 1880) e Alopecosa moesta (Holmberg, 1876); e o ctenídeo Ctenus ornatus (Keyserling, 1891). Já no extrator de Winkler, pelas particularidades da técnica, amostram-se aranhas com características diferentes em relação às obtidas com armadilhas de queda. Nesse caso, os exemplares são na maioria sedentários, geralmente vivendo em teias, e apresentam tamanho bem menor. Assim, foram coletadas, por exemplo, as espécies Pseudanapis sp.1 (Anapidae), Anapistula sp.1 (Symphytognathidae), Ochyroceratidae sp.1 e Nesticus ramirezi Ott & Lise (Nesticidae).

contramos regiões cuja fauna araneológica ainda é desconhecida. Como podemos notar, o Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello apresentou a ocorrência de espécies ainda não descritas pela ciência, assim como uma grande incidência de espécies representadas na amostragem por um único indivíduo. Apesar das metodologias serem utilizadas para captura de animais de serapilheira, há uma predominância do uso das armadilhas-de-queda, em relação ao extrator de Winkler, em trabalhos que estudam diversidade de aranhas (CURTIS, 1980; BRESCOVIT et al., 2004; CANDIANI et al., 2005; INDICATTI et al., 2005). Porém, não é possível comprovar, neste estudo, a eficácia das metodologias utilizadas, tão pouco o impacto no ambiente, uma vez que não houve padronização dos métodos de coleta, inviabilizando qualquer abordagem estatística que implique na riqueza da área. Esperamos que este trabalho forneça subsídios para outros campos de pesquisas, que possam trazer informações sobre a biologia e a ecologia dessas aranhas. Além disso, que incentive a continuidade de inventários, como o aqui iniciado, com a inclusão de outros métodos de coleta e amostragens em outros estratos, como o arbóreo-arbustivo e as copas das árvores, não abordados neste trabalho.

Agradecimentos Gostaríamos de agradecer aos organizadores do livro, pela oportunidade. Aos pesquisadores do Laboratório Especial de Coleções Zoológica do Instituto Butantan, pela ajuda na elaboração e correção deste trabalho, ao Flávio U. Yamamoto, pelas fotos cedidas; ao Rafael P. Indicatti, pelas fotos adicionais e pela identificação das Mygalomorphae; à Daniele P. Geraldo, pela identificação das Ctenidae; ao Gustavo R. S. Ruiz, pela identificação das Salticidae e ao Éder Alvares pela identificação das Lycosidae; Fernanda Faria e Ricardo Pereira da Silva, pelo auxílio no trabalho de campo. E finalmente, ao apoio do CNPq e Fapesp (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo) (processos 98/14509-0 e 99/05546-8 – Biota/Fapesp).

Considerações finais Apesar do grande número de espécies e do fato de serem encontradas facilmente em qualquer ambiente, as aranhas ainda são pouco estudadas. Prova disto é o número de indivíduos não determinados em espécies ou até mesmo em gêneros, neste inventário. Além disso, por mais que o Estado de São Paulo e a Mata Atlântica sejam bem amostrados, ainda en194


Aranhas de serapilheira da Serra do Itapeti

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Rafael Y. Lemos; Paulo A. M. Goldoni e Antonio D. Brescovit

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Aranhas de serapilheira da Serra do Itapeti

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Figuras 1-6. (1) Mapa com a localização do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, Mogi das Cruzes com destaque para Serra do Itapeti; (2) Mapa do PNMFAM e as Zonas de Uso segundo plano de manejo; (3) Armadilhas-de-queda: distribuição em uma mata na área do PNMFAM; (4) Peneira do extrator de Winkler utilizada na separação da serapilheira; (5) Extrator de Winkler - componentes: a) pote amostrador, b) saco externo para transporte de serapilheira; c) saco vazado para armazenamento da serapilheira; (6) Extratores de Winkler em uso: a) vista geral e b) em detalhe o pote com líquido conservante. Fonte: (1 e 2) Manna de Deus et al., 1995; (3) Fotos por P.A.M. Goldoni; (3-6) Fotos por R.Y. Lemos.

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Rafael Y. Lemos; Paulo A. M. Goldoni e Antonio D. Brescovit

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Figuras 10-15. (10) Fêmea de Prorachias bristowei Mello-Leitão, 1924 (Nemesiidae); (11) Fêmea de Rachias sp.1 (Nemesiiidae); (12) Fêmea de Idiops camelus (Mello-Leitão, 1937) (Idiopidae); (13) Toca com porta tipo alçapão de P. bristowei (Nemesiidae); (14) Macho de Ctenus ornatus (Keyserling, 1891) (Ctenidae); (15) Macho de Lycosa erythrognatha Lucas, 1836 (Lycosidae). Fotos: (10-14) por R. P. Indicatti; (15) por F. U. Yamamoto.

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Aranhas de serapilheira da Serra do Itapeti

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Figuras 16-19. (16) Fêmea de Aysha aff. robusta (Anyphaenidae); (17) Macho de aranha-cuspideira, Scytodes globula Nicolet, 1849 (Scytodidae); (18) Fêmea de Corinna (Scytodidae) sp. (Corinnidae); (19) Fêmea de Sphecozone castanea (Millidge, 1991) (Linyphiidae). Fotos: (16, 18 e 19) por F. U. Yamamoto; (17) por R. P. Indicatti.

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A fauna de formigas da Serra do Itapeti M. Santina de C. Morini Rogério R. Silva Silvia S. Suguituru Renata Pacheco Marcia A. Nakano

Resumo Estudos sobre diversidade biológica são importantes ferramentas para a conservação e o uso de forma sustentável de determinadas áreas. O primeiro passo são os inventários biológicos que auxiliam na caracterização dos diferentes componentes da diversidade de um ecossistema. Esses estudos são fundamentais principalmente em áreas prioritárias para a conservação, como a Mata Atlântica. Assim, com o objetivo de implementar tais estudos, foram realizados levantamentos da fauna de formigas na Serra do Itapeti, que representa um importante remanescente de Mata Atlântica do Estado de São Paulo. As formigas foram coletadas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello e na Fazenda Santo Alberto. Na primeira área, foi empregado um esforço maior de coleta, utilizando quatro técnicas de amostragem (coleta manual, uso de iscas, extratores de Winkler e armadilhas de solo), em sete estratos diferentes da mata. Na segunda área, o estudo foi concentrado em um segmento da fauna de formigas considerado hiperdiverso (serapilheira), por meio do uso de extratores de Winkler. A utilização de variadas técnicas de coleta associadas a diversos estratos permitiu a amostragem de 164 morfoespécies, distribuídas em 11 subfamílias e 48 gêneros; incluindo uma espécie nova de Strumigenys. Apenas 42% desse material está identificado até espécie. Em comparação com outras áreas de Mata Atlântica do Estado de São Paulo, onde foram aplicadas o mesmo protocolo de coleta para formigas de serapilheira, o Parque Natural Francisco Affonso de Mello apresenta alta riqueza local de formigas. Diferentemente, na Fazenda Santo Alberto, foi detectada uma riqueza comparável às áreas de Mata Atlântica localizadas em Cubatão, sugerindo grande influência antrópica na região. Em ambas as áreas foram registradas espécies associadas a zonas urbanas. A alta taxa de troca de espécies entre as duas localidades (diversidade beta) sugere a importância da preservação de ambas as áreas para a conservação da fauna regional de formigas da Serra do Itapeti. Os resultados obtidos indicam que remanescentes naturais encontrados na periferia dos grandes centros urbanos, como a cidade de São Paulo, representam ainda importantes acervos da diversidade biológica. Dessa forma, são necessárias medidas que diminuam a influência antrópica nesses locais para preservar as características bióticas. complexas no reino animal, com algumas colônias chegando a agrupar até 300 milhões de indivíduos em um só ninho (CAETANO et al., 2002). Todas as espécies conhecidas são “eussociais”, caracterizadas pela sobreposição de gerações, castas esté-

Introdução As formigas são insetos pertencentes à ordem Hymenoptera, superfamília Vespoidea, família Formicidae. Suas sociedades estão entre as mais 201


M. Santina de C. Morini; Rogério R. Silva; Silvia S. Suguituru; Renata Pacheco e Marcia A. Nakano

reis e reprodutivas e cuidado cooperativo à prole (WILSON, 1971). As formigas são distribuídas por todos os ambientes terrestres, desde o Equador até latitudes de 50 graus, do nível do mar a altitudes de cerca de 3.000m (BRANDÃO, 1999). Atualmente, estão descritas cerca de 12.000 espécies pertencentes a 21 subfamílias, sendo que, aproximadamente, 14 subfamílias e aproximadamente 3.100 espécies são encontradas na região neotropical (BOLTON, 2003; FERNÁNDEZ, 2003; FERNÁNDEZ & SENDOYA, 2004). Especificamente no Brasil ocorrem cerca de 2.000 espécies (KEMPF, 1972; BRANDÃO, 1991). Embora as formigas constituam somente 2% da fauna de insetos descrita, podem representar mais de 30% da biomassa animal das florestas tropicais, savanas, campos e outros ambientes importantes do planeta (ELLWOOD & FOSTER, 2004; WILSON & HÖLLDOBLER, 2005). Pela alta abundância relativa e interações com muitos outros organismos, os formicídeos participam de forma significativa dos processos funcionais dos ecossistemas, tais como a regulação da abundância de outros artrópodes (LASALLE & GAULD, 1993), a ciclagem de nutrientes (HÖLLDOBLER & WILSON, 1990), promovendo modificações na estrutura física do solo (FOLGARAIT, 1998), o fluxo de energia e de materiais dos ecossistemas (GILLER, 1996). As formigas da tribo Attini (cultivadoras de fungo), por exemplo, representam os principais herbívoros da região neotropical (WIRTH et al., 1997). Ainda, algumas espécies influenciam ativamente a distribuição espacial das populações de plantas (LEAL, 2003), pois atuam como dispersoras de sementes, inclusive repovoando áreas degradadas (MOUTINHO et al., 1983). Uma das aplicações do estudo das comunidades de formigas é a sua utilização como bioindicadoras para o monitoramento de áreas em processo de regeneração (SILVESTRE, 2005). Características como abundância e riqueza de espécies local e global alta, táxons especializados, serem facilmente amostradas e separadas em morfoespécies e, também, por serem sensíveis às mudanças nas condições do ambiente, fazem com que as formigas possam ser usadas como indicadores (MAJER, 1983; ANDERSEN & MAJER, 2004; MAJER et al., 2007) ambientais ou de diversidade biológica (LEAL, 2005). O aumento da pressão exercida pelo crescimento da população humana tem resultado em acelerado declínio da diversidade global em quase todos os biomas e/ou ecossistemas do planeta (Convention on Biological Diversity, 1992). O cum-

primento dos objetivos gerais da Convenção da Diversidade Biológica, em particular os do programa da Iniciativa Global de Taxonomia (UNEP/CDB/ COP/6/20/VI/8) e das metas de biodiversidade para 2010, exige conhecimento sólido de quantas espécies existem, onde vivem e como se relacionam umas com as outras (SALLES, 2006). Dessa forma, estudos em determinados biomas/ecossistemas, como a Mata Atlântica, que apresentam grande diversidade biológica, sofrem grande perda de hábitat e/ou que possuem alta taxa de endemismo são fundamentais. Consequentemente, é necessário identificar áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade dos principais ecossistemas e/ou biomas, elaborando também programas de monitoramento daqueles ameaçados ou em fase de recuperação (LEWINSOHN & PRADO, 2002), como é o caso, por exemplo, do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, localizado na Serra do Itapeti. O primeiro passo para a conservação de determinadas áreas, ou o seu uso de forma sustentada, são os estudos sobre a diversidade biológica e consequentemente uma base confiável de conhecimentos sobre a ecologia e sistemática dos organismos e dos ecossistemas (SCOTT et al., 1987). Santos (2003) ressalta ainda que sem um conhecimento mínimo sobre quais organismos ocorrem no local e sobre quantas espécies podem ser encontradas nele, é praticamente impossível desenvolver qualquer projeto de preservação. Estudos sobre assembleias de formigas podem embasar programas de avaliação e conservação de ecossistemas (ANDERSEN, 1991; ANDERSEN et al., 2002; ANDERSEN & MAJER, 2004; MAJER et al., 2007), sendo os inventários ferramentas importantes para o início dos trabalhos. A utilização dos inventários biológicos também auxilia no entendimento das eventuais alterações dos diferentes componentes da diversidade de um ecossistema ao longo de gradientes abióticos naturais ou em resposta a perturbações locais naturais ou resultantes de atividades humanas (LEWINSOHN et al., 2001). Entretanto, os resultados dos inventários devem gerar dados de riqueza que possibilitem comparações e, para que isso ocorra, é prioritário o uso de métodos de coletas padronizados (SANTOS, 2003). Uma questão importante é o destino dos espécimes coletados, pois é necessária a existência de uma infraestrutura para receber e manter o material biológico por tempo indeterminado. As coleções biológicas originárias desse tipo de trabalho 202


A fauna de formigas da Serra do Itapeti

são fontes de estudos taxonômicos (KURY et al., 2006) e de informações fundamentais para o uso de recursos genéticos e de uma grande parcela de recursos biológicos (GUEDES et al., 1998). As coleções compõem a infraestrutura básica de suporte para o desenvolvimento científico e para a inovação tecnológica nas áreas de saúde, agricultura, biodiversidade, meio ambiente e indústria (KURY et al., 2006). Entretanto, o Brasil detém apenas 1% do acervo biológico científico do mundo, mesmo possuindo cerca de 20% da biodiversidade do planeta (FERNANDES, 2006). Apesar da dimensão e da importância da biodiversidade brasileira e dos esforços empregados para o seu conhecimento, ainda há muitas regiões em nosso país insuficientemente inventariadas e que contam com poucas coleções regionais. Nesse caso, a Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, formada em parte pela Serra do Itapeti, é uma região cuja fauna é pouco conhecida. Em relação aos Formicidae da Serra do Itapeti, os únicos dados conhecidos até recentemente eram três subfamílias (Myrmicinae, Formicinae e Ponerinae), coletadas por Manna de Deus et al. (1995). Entretanto, a partir de 1999, com o apoio inicial da Fapesp (Processo N. 98/14509-0) e posteriormente pela FAEP/UMC, iniciamos diversos inventários nas áreas de Mata Atlântica da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, buscando gerar dados taxonômicos sobre a mirmecofauna por ser uma região prioritária nos programas de conservação do Estado de São Paulo pelas suas extensas áreas de Floresta Ombrófila Densa e aos seus ricos mananciais. Neste capítulo, apresentamos os resultados dos estudos realizados na Serra do Itapeti ao longo dos últimos dez anos, aplicando ampla variedade de técnicas de coletas para caracterizar a riqueza e a composição de espécies de formigas em diferentes estratos.

Vegetação Estrato arbustivo As coletas foram realizadas em uma trilha pré-existente na área primitiva do PNMFAM, onde a composição florística da mata encontra-se melhor preservada (TOMASULO & CORDEIRO, 2000). As formigas foram coletadas utilizando iscas de sardinha conservada em óleo comestível e colocada em pequenas porções sobre guardanapos de papel. Foram distribuídas 30 iscas a intervalos de 20m na vegetação arbustiva que se encontrava ao longo de uma trilha e permaneceram no local por 90min, tanto no período diurno (a partir das 9h) como no noturno (a partir das 20h). Em seguida foram recolhidas, junto a fragmentos de vegetação onde o material atrativo estava exposto. A coleta foi efetuada a cada dois meses, durante 12 meses.

Estrato arbóreo e herbáceo Para a amostragem em estrato arbóreo foram selecionadas as espécies mais frequentes no local, segundo Tomasulo & Cordeiro (2000): Fabaceae: Schizolobium parahyba (Vell.) Blak, Piptadenia gonoacantha (Mart.) Macbr, Arecaceae: Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassm., Melastomataceae: Tibouchina granulosa Cogn. T. mutabilis Cogn., Myrtaceae: Eugenia sp., Euphorbiaceae: Croton floribundus Spreng e Alchornea sidifolia Müll Arg.; no estrato herbáceo foi amostrada apenas a espécie Canistrum cyathiforme (Vellozo) Mez. (Bromeliaceae). Foram escolhidos 15 indivíduos de cada espécie do estrato arbóreo, equidistantes pelo menos 20m. Durante 12 meses, os troncos dessas plantas, desde a base até 2m de altura, foram vistoriados por 15min a partir das 14h. As formigas foram coletadas com um pincel e colocadas em vidros contendo etanol 70%. Já no estrato herbáceo foram marcadas 30 plantas, a intervalos de 20m e mensalmente, durante um ano, foi retirado todo o material orgânico acumulado entre as folhas. A matéria orgânica foi analisada sob microscópio estereoscópico para a retirada de todas as formigas, que em seguida foram mantidas em etanol 70%.

Material e métodos As técnicas de coleta descritas a seguir foram empregadas exclusivamente no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello (PNMFAM) (230 29’ 22”S; 460 11’ 55”O; 800m acima do nível do mar) (Figura 1). Em adição, a fauna de serapilheira foi amostrada na Fazenda Santo Alberto (230 25’ 05”S; 460 10’ 48”O; 690m acima do nível do mar), utilizando apenas extratores do tipo mini-Winkler (BESTELMEYER et al., 2000). 203


M. Santina de C. Morini; Rogério R. Silva; Silvia S. Suguituru; Renata Pacheco e Marcia A. Nakano

Figura 1. Localização do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello e da Fazenda Santo Alberto, ambos remanescentes da Serra do Itapeti (SP). (Fonte: Google Earth, modificado por Morini, 2006).

b) Extratores mini-Winkler: a metodologia de coleta segue a do protocolo do projeto Temático (BIOTA/Fapesp) “Riqueza e diversidade de Hymenoptera e Isoptera ao longo de um gradiente latitudinal de Floresta Atlântica – a floresta pluvial leste do Brasil” (BRANDÃO et al., 2004), para permitir comparações a posteriori, com os dados desse projeto. Assim, em cada remanescente de Mata Atlântica da Serra do Itapeti estudado, foram coletadas 50 amostras de 1m2 de serapilheira, preferencialmente nas áreas mais preservadas da floresta. Inventários sistemáticos sobre a fauna de formigas em áreas tropicais mostram que esse número de amostras é o adequado para uma estimativa local da fauna de formigas de serapilheira (DELABIE et al., 2000 a, b). As coletas foram realizadas no período da manhã demarcando-se 25 pontos, distantes 200 metros da borda da mata e espaçados 50m entre si. A partir de cada ponto, adentrou-se na mata 15 a 20m para a esquerda e para a direita. Nesses locais, uma fôrma de ferro de 1m² foi colocada em cada ponto para demarcar o espaço e a serapilheira foi raspada da periferia para o centro e, em seguida, peneirada vigorosamente. O material obtido em cada ponto

Formigas associadas a frutos A cada 15 dias, todas as formigas que se encontravam forrageando nos frutos caídos de S. romanzoffiana foram coletadas manualmente, no período de amadurecimento dos frutos. Esse procedimento foi realizado durante 12 meses em frutos predados por esquilos (Sciurus ingrami) ou inteiros, sob a copa de 30 indivíduos de S. romanzoffiana, distribuídos a intervalos de 20m, sempre no período da tarde.

Formigas de serapilheira Para a coleta da fauna de serapilheira foram adotadas duas técnicas (veja BESTELMEYER et al., 2000). a) Iscas de sardinha: foi utilizado como material atrativo sardinha conservada em óleo comestível, amassada e distribuída em pequenas porções sobre guardanapos de papel, a cada 20m ao longo de uma trilha. Esse procedimento foi realizado a cada dois meses, durante 12 meses, nos períodos da noite e da manhã. O material atrativo permaneceu por 90min em cada local de amostragem e, em seguida, foi retirado inclusive com a serapilheira que estava em contato com a isca. 204


A fauna de formigas da Serra do Itapeti

& De Andrade (2007) e Lapolla et al. (2010) e, em seguida, em morfoespécies, comparando os espécimes com os da coleção de Formicidae do Alto Tietê. O espécime assim preparado foi depositado no acervo da coleção regional da Mirmecofauna do Alto Tietê, bem como o restante do material que ainda estava conservado em etanol 70%. O acervo da coleção da Mirmecofauna do Alto Tietê, que inclui também o material coletado na Serra do Itapeti, tem sido inserido no speciesBase (PAIVA & MARINO, 2006), que é um banco de dados elaborado com o propósito de integrar os dados taxonômicos à rede speciesLink.

de amostragem foi acondicionado em sacos de tecido, levados para o Laboratório de Mirmecologia da Universidade de Mogi das Cruzes (Mogi das Cruzes, SP), e instalados nos extratores mini-Winkler. As formigas e os outros invertebrados presentes nas amostras foram recolhidos, após 48h, em copos coletores contendo etanol 70%.

Formigas de solo As formigas subterrâneas foram amostradas usando armadilhas confeccionadas com embalagens de filmes fotográficos, perfurados com orifícios de 3mm de diâmetro (Figura 2). Foram escavados 20 buracos de 30cm de profundidade distantes 20m e em cada buraco foram colocadas três armadilhas contendo um tipo de isca cada uma: mel, sardinha conservada em óleo comestível e salsicha do tipo Viena. As armadilhas foram cobertas com terra e ficaram no campo por 24 horas, conforme a metodologia proposta por Morini et al. (2004).

Riqueza total de formigas No total, foram amostradas 164 morfoespécies, 48 gêneros e 11 subfamílias, sendo uma delas pertencente a um táxon não-descrito (Strumigenys). Do total das morfoespécies, 42% foram identificadas até espécie (ver Anexo 1). As figuras 3 e 4 ilustram um espécime característico de cada subfamília registrada na Serra do Itapeti. A subfamília Myrmicinae foi a mais rica em todas as técnicas de coletas empregadas, seguida por Ponerinae e Formicinae (Tabela 1). Os táxons pertencentes a essas duas subfamílias são mais diversos em áreas de mata, quando comparado a outros biomas da região neotropical (WARD, 2000). Em especial, as diferentes síndromes comportamentais, estratégias de alimentação e nidificação (Figura 5), fazem de Myrmicinae a mais rica e abundante subfamília na serapilheira das florestas tropicais (FOWLER et al., 1991; WILSON & HÖLLDOBLER, 2005). Além dos Ponerinae, têm-se também representantes das subfamílias Ectatomminae, Heteroponerinae, Amblyoponinae e Proceratiinae (Tabela 1). Apenas Paraponerinae não foi registrada, porque no território brasileiro, Paraponera clavata, o único táxon atual desse grupo de formigas, é encontrado somente em áreas de cerrado e da Floresta Amazônica. A terceira subfamília mais rica em espécies foi Formicinae, que apresenta espécies que podem ser observadas forrageando em árvores, como Camponotus e Myrmelachista (Figura 5), ou em praticamente todos os estratos amostrados, como Paratrechina e Brachymyrmex. Considerando-se os gêneros, Pheidole apresentou a maior riqueza de espécies (39 espécies), seguido por Hypoponera (13), Strumigenys (10), Camponotus (9), Crematogaster (8), além de Solenopsis (6) e

Processamento das amostras e identificação das espécies Cada amostra recebeu um rótulo contendo a data, nome do coletor, técnica empregada e o local da coleta e foi conservada em etanol 70% até os procedimentos laboratoriais. No Laboratório de Mirmecologia da Universidade de Mogi das Cruzes, as formigas foram separadas em morfoespécies sob microscópio estereoscópico. Pelo menos três exemplares de cada morfoespécie, quando disponíveis, foram separados para montagem a seco. Esses exemplares foram colados com cola branca em pequenos triângulos de cartolina, que, por sua vez, foram espetados na ponta de um alfinete entomológico tamanho 2. As formigas foram montadas individualmente com a cabeça sempre voltada para o mesmo lado e coladas no triângulo de papel, entre o primeiro e segundo pares de pernas. Cada alfinete recebeu etiquetas contendo as mesmas informações contidas nas amostras. As diferentes morfoespécies dentro de um mesmo gênero foram listadas e, quando possível, foi atribuído nome usando chaves de identificação disponíveis, ou por comparação com o material existente no Museu de Zoologia da USP. O material foi inicialmente classificado em subfamílias de acordo com a proposta de Bolton (2003), identificado em nível de gêneros e nomeados de acordo Bolton (1994), Baroni-Urbani 205


M. Santina de C. Morini; Rogério R. Silva; Silvia S. Suguituru; Renata Pacheco e Marcia A. Nakano

Tabela 1. Riqueza de espécies de formigas na Serra do Itapeti de acordo com as subfamílias e o estrato amostrado. Morfoespécies Subfamílias

Myrmicinae

Arbustiva

Arbórea

Herbácea

Associada ao fruto

Total Winkler

Isca

Subsolo

27

53

36

32

68

26

16

95

Ponerinae

-

6

8

4

16

3

4

22

Formicinae

9

17

12

Ecitoninae

4

7

15

5

3

21

4

2

3

1

06

Dolichoderinae

2

4

3

2

4

2

2

06

Ectatomminae

1

1

1

1

4

2

1

04

Heteroponerinae

1

2

1

2

2

-

-

04

Pseudomyrmecinae

1

3

1

2

2

1

1

03

Amblyoponinae

-

-

-

-

1

-

-

01

Proceratiinae

-

-

-

-

1

-

-

01

Cerapachyinae

-

-

-

1

-

-

1

01

41

90

62

55

115

42

29

Total

desconhecida (SCHULTZ & McGLYNN, 2000), é outro exemplo de táxon amostrado usando duas técnicas de coleta não comumente empregadas: coleta manual e armadilhas de subsolo. Durante a coleta manual, Carebara sp.1 foi encontrada apenas uma vez em Canistrum cyathiforme, juntamente com ovos e larvas. Entretanto, essa espécie foi frequente nas amostras de armadilhas de subsolo, principalmente visitando iscas atrativas de sardinha. Em C. cyathiforme também foram coletados ovos e larvas de Pheidole sp.6 e Solenopsis (Diplorhoptrum) sp.1 (Myrmicinae), Brachymyrmex pictus (Formicinae) e Hypoponera sp.14 (Ponerinae).

Myrmelachista (6) (ver Anexo 1). Todos esses gêneros são amplamente distribuídos na região Neotropical (FERNÁNDEZ, 2003). Dentre as morfoespécies, apenas 3% foram amostradas em todos os estratos; enquanto que 5,5% foram encontradas em seis estratos; 7,3% em cinco; 12,2% em quatro; 17% em três; 18,3% em dois e 36,6% em apenas um tipo de estrato. Esse resultado indica a importância de diversificar as técnicas de coletas empregadas e os estratos amostrados quando o objetivo é inventariar as espécies de formigas de um ecossistema. Acanthostichus quadratus (Cerapachyinae), predadora especializada de larvas e pupas de outras formigas (WILSON, 1958), por exemplo, é raramente coletada e sua biologia é pobremente conhecida. Entretanto, indivíduos foram amostrados usando duas técnicas de coleta (manual em frutos caídos na serapilheira e armadilhas de subsolo), incluindo parte de uma colônia, com operárias adultas, recém-emergidas e larvas (Figura 5). Neivamyrmex, cuja biologia também é pouco conhecida, pois possui hábito de vida nômade e vive em galerias subterrâneas (DELABIE et al., 2007), foi coletada usando duas formas de amostragem. A coleta de Labidus mars (Ecitoninae), considerada rara, também deve ser ressaltada, porque representou o primeiro registro deste táxon para o Estado de São Paulo (ZARA et al., 2003). Entretanto, essa espécie em sido amplamente coletada em áreas de cerrado com a utilização de armadilhas de subsolo (Pacheco, observação pessoal). Carebara (Myrmicinae), cuja biologia é

Classificação das espécies em guildas Além da realização de inventários da fauna de uma determinada área, é interessante classificar os táxons encontrados, quando possível, em guildas. A determinação de guildas em uma comunidade tem por objetivo representar a sua estrutura ecológica, o que, por sua vez, permite previsões a um nível mais prático e mais geral (BEN-MOSHE et al., 2001), uma vez que não se conhece a biologia e ecologia de todas as espécies. Para as formigas de serapilheira da região neotropical, Delabie et al. (2000a) e Brandão et al. (2009) propuseram duas classificações complementares: a primeira baseada em informações disponíveis sobre forrageamento e alimentação, enquanto a segunda tem uma abordagem morfológica, utilizando atributos funcionais como variáveis para 206


A fauna de formigas da Serra do Itapeti

al., 2001). Em contrapartida, o Parque Natural Municipal da Francisco Affonso de Mello que, apesar de ter sido muito frequentado pela população na década de 80, foi reservado para visitas monitoradas apenas em determinadas áreas consideradas antropizadas. Além disso, o Parque não sofreu a ação de indústrias muito poluidoras a partir dos anos 90. Possivelmente, essas condições contribuíram para o processo de regeneração da vegetação e da manutenção da fauna local.

classificar em grupos de espécies de biologia desconhecida. De acordo com a primeira proposta, a fauna pode ser classificada em nove guildas, sendo que na Serra do Itapeti foram amostradas sete (Tabela 2). Somente os predadores crípticos de solo (Pachycondyla holmgreni, Tranopelta e Centromyrmex) e espécies subterrâneas dependentes de cochonilhas (Acropyga, Tranopelta) não foram observadas. Aplicando a classificação de Brandão et al. (2009), todas as guildas descritas estão representadas na Serra do Itapeti (Tabela 3). O contraste observado nos dois remanescentes deve estar relacionado ao intenso e contínuo uso da terra por parte dos pequenos sitiantes da região para o plantio, e também pelo surgimento de novos bairros rurais na região. Da mesma forma, no entorno da Barragem de Biritiba Mirim ocorre uma pressão antropogênica bem acentuada em direção às áreas de mata. Comparativamente, Cubatão também apresenta baixa riqueza de espécies de formigas (Tabela 4). Dados de vegetação da Mata Atlântica dessa região indicam um número reduzido de espécies, especialmente de Magnoliophyta, provavelmente relacionado com a grande quantidade de poluentes lançados na região desde 1955, com a instalação da Refinaria Artur Bernardes (TARGA et

Comparações entre as áreas Na Tabela 4, apresentamos a comparação da fauna de formigas entre as duas áreas avaliadas, com base no protocolo padronizado aplicado durante as coletas com os extratores de mini-Winkler. Em adição, incluímos valores de riqueza de espécies para trabalhos que empregaram um protocolo semelhante para a fauna de formigas de serapilheira, em outras áreas de Mata Atlântica, na Serra do Mar do Estado de São Paulo. Apesar de as duas áreas amostradas serem remanescentes da Serra do Itapeti, na Fazenda Santo Alberto registramos a menor riqueza, enquanto que no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, foi amostrado o dobro de espécies.

Tabela 2. Caracterização das guildas de formigas de serapilheira da Serra do Itapeti de acordo com Delabie et al. (2000a).

Guildas

Gêneros

Onívoros de serapilheira e necrófagos

Lachnomyrmex Basiceros Solenopsis Megalomyrmex Pheidole

Predadores especializados de serapilheira

Acanthostichus Hylomyrma Discothyrea Gnamptogenys Prionopelta Basiceros Strumigenys

Predadores generalistas de serapilheira

Hypoponera Gnamptogenys Anochetus

Formigas de correição

Eciton Neivamyrmex Labidus

Onívoros arborícolas dominantes que podem forragear no solo

Azteca Crematogaster

207


M. Santina de C. Morini; Rogério R. Silva; Silvia S. Suguituru; Renata Pacheco e Marcia A. Nakano

Tabela 2. (Continuação)

Guildas

Gêneros Generalistas Odontomachus Ectatomma

Dominantes do solo e serapilheira que podem forragear na vegetação

Cultivadores de fungo que nidificam no solo e na serapilheira

Onívoras Brachymyrmex Camponotus Paratrechina Solenopsis Wasmannia Mycetosoritis Cyphomyrmex Trachymyrmex Mycetarotes Atta Acromyrmex Apterostigma

Tabela 3. Caracterização das guildas de formigas de serapilheira da Serra do Itapeti de acordo com Brandão et al. (2009).

Guildas

Espécies Mandíbula triangular Ectatomma edentatum

Predadoras epigeicas grandes

Mandíbula linear Odontomachus meinerti, O. affinis, O. chelifer, Anochetus altisquamis

Predadoras epigeicas médias

Heteroponera mayri, H. dentinodis, H. dolo, Gnamptogenys striatula, Hylomyrma reitteri, Basiceros discigera, Megalomyrmex silvestrii

Predadoras hipogeicas médias

Hypoponera spp.

Predadoras hipogeicas pequenas com olhos vestigiais

Hypoponera spp.

Predadoras especializadas

Prionopelta sp.1, Gnamptogenys sp.1, G. reichenspergeri, Acanthostichus quadratus

Generalistas

Mirmicíneas generalistas Pheidole spp., Lachnomyrmex plaumanni, Oxyepoecus rastratus, Wasmannia sp. Formicíneas generalistas Pheidole spp., Paratrechina sp., Linepithema sp. Mandíbula estática Strumigenys crassicornis, P. appretiatus, Basiceros stenognathum, Basiceros rugiferum

Predadoras Dacetini Mandíbula cinética Acanthognathus rudis, Strumigenys denticulata, Strumigenys louisianae Generalistas hipogeicas de tamanho mínimo

Carebara sp., Solenopsis spp.

Attini crípticas

Cyphomyrmex pr. strigatus, Cyphomyrmex pr. rimosus, C. strigatus

208


A fauna de formigas da Serra do Itapeti

Tabela 4. Dados comparativos de riqueza de Formicidae em diferentes remanescentes de Floresta Ombrófila Densa, no Estado de São Paulo, para estudos que aplicaram o mesmo esforço (N = 50 amostras 1m2 de serapilheira) e protocolo de coleta.

Trabalhos

Local

O presente estudo

Serra do Itapeti

Suguituru et al. (2007) e Suguituru et al. (2011) Silva (2004) Nascimento et al. (2003) e Pacheco et al. (2009) Figueiredo (2002)

Serra do Mar

Tavares (2002) Yamamoto (1999)

Remanescentes PNMFAM

Riqueza de espécies 107

Faz. Sto. Alberto

51

Parque das Neblinas

89

Tapiraí

110

Barragem de Ponte Nova

82

Barragem de Biritiba Mirim

69

Cubatão

69

Cunha

79

Juréia

73

Estação Biológica de Boracéia

94

Atualmente, o que se observa nos limites desse remanescente de Mata Atlântica é preocupante em termos de conservação. Há um avanço contínuo da malha urbana e industrial, o que deve deixar a área mais suscetível à invasão por espécies generalistas e características de áreas mais abertas que podem eventualmente alterar a composição da fauna nativa de formigas. Entretanto, apenas uma espécie altamente generalista (Nylanderia fulva) foi registrada nesse levantamento, porém com baixa frequência de ocorrência. Como resultado geral do presente estudo concluímos que, apesar da Serra do Itapeti estar próxima a regiões muito urbanizadas, ainda é caracterizada por uma rica mirmecofauna. Nesse sentido, é necessário destacar que os valores de diversidade beta entre os dois locais amostrados foram altos, e isso tem importantes consequências para a biologia da conservação na Serra do Itapeti. Como medidas de diversidade beta quantificam mudanças em composição de espécies entre áreas, é um conceito central no delineamento de políticas para Unidades de Conservação (McKNIGHT et al., 2007), definindo qual deve ser o arranjo espacial ótimo para a conservação da fauna de uma região.

dias atuais, já que qualquer projeto ligado à conservação, ou ao uso sustentável, exige conhecimentos de ecologia e sistemática dos organismos. A maioria dos táxons amostrados já foi registrado em outras áreas de Mata Atlântica, porém, o encontro de um táxon não-descrito na região mostra que o número de levantamentos faunísticos realizados até então ainda é insuficiente para permitir o conhecimento de toda a fauna de formigas da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê. O conjunto de espécies de formigas que habita a Serra deve ser merecedor de ações de conservação mais eficientes Dentre os raros inventários realizados sobre a fauna na Serra do Itapeti, acreditamos que os dados apresentados neste capítulo possam ajudar nos planos de conservação em áreas que são consideradas prioritárias para conservação da Mata Atlântica no Estado de São Paulo. Os resultados alcançados constatam alta riqueza de espécies de Formicidae, ainda que o remanescente fique tão próximo à cidade de São Paulo. Mensurar a riqueza de um determinado grupo taxonômico em um local não é uma tarefa fácil e simples, e muitas vezes pouco reconhecida, porém, é uma ação fundamental para o aumento de conhecimento sobre a diversidade biológica que existe em nosso país, que, apesar de ser considerado megadiverso, ainda possui imensas lacunas nesse aspecto.

Considerações finais A Serra do Itapeti representa o divisor de águas de nascentes das Bacias Hidrográficas dos Rios Tietê e Paraíba do Sul e, também, um dos mais importantes fragmentos de Mata Atlântica do Estado de São Paulo. Entretanto, mesmo com esses aspectos naturais relevantes, pouco se sabe sobre a diversidade biológica da região. Ao mesmo tempo, o estudo da biodiversidade nunca foi tão importante quanto nos

Agradecimentos Agradecemos à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo; Processos: n. 98/14509-0 e n.05/58556-8), à FAEP (Fundação de Amparo ao Ensino e à Pesquisa), à Universidade de 209


M. Santina de C. Morini; Rogério R. Silva; Silvia S. Suguituru; Renata Pacheco e Marcia A. Nakano

Mogi das Cruzes e à Prefeitura de Mogi das Cruzes. Em especial, os autores agradecem ao Dr. Carlos Roberto F. Brandão (Museu de Zoologia/USP) e ao Dr.

Jacques H. Delabie (CEPLAC), por terem dado todo o apoio necessário aos trabalhos realizados na Serra do Itapeti.

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A fauna de formigas da Serra do Itapeti

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213


M. Santina de C. Morini; RogĂŠrio R. Silva; Silvia S. Suguituru; Renata Pacheco e Marcia A. Nakano

Figura 2. Foto demonstrativa das armadilhas de subsolo, colocadas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Foto: C.J. Figueiredo.

A

B

C

1 mm

D

E

1 mm

F

1 mm

1 mm

Figura 3. (A) Strumigenys sp.9 (Myrmicinae); (B) Odontomachus meinerti (Ponerinae); (C) Gnamptogenys

continua (Ectatominae); (D) Pseudomyrmex gracilis (Pseudomyrmecinae); (E) Dolichoderus wedervaldti (Dolichoderinae); (F) Heteroponera mayri (Heteroponerinae). Fotos E.C. Batista.

214


A fauna de formigas da Serra do Itapeti

1 mm

A

E

1 mm

C

1 mm

B

D

1 mm

F

1 mm

1 mm

Figura 4. (A) Labidus mars (Ecitoninae); (B) Neivamyrmex pilosus (Ecitoninae); (C) Acanthostichus quadratus (Cerapachyinae); (D) Discothyrea sexarticulata (Proceratlinae); (E) Prionopelta sp.1 (Amblyoponini); (F) Myrmelachista catharinae (Formicinae). Fotos E.C. Batista.

215


M. Santina de C. Morini; RogĂŠrio R. Silva; Silvia S. Suguituru; Renata Pacheco e Marcia A. Nakano

B

A

C

E

D

G

F

Figura 5. Exemplo de nidificação de Myrmelachista em pequenos galhos na serapilheira. (A) M. arthuri; (B) M. catharinae (mesossoma marrom); (C, D e E) M. catharinae (mesossoma negro); (F) Myrmelachista sp.4; (G) M. ruszkii; (C) mostra rainha e (E) machos alados. Escala 5mm. Fotos: M. A. Nakano.

216


A fauna de formigas da Serra do Itapeti

Anexo 1. Gêneros e morfoespécies/espécies amostrados em diferentes estratos da Mata Atlântica, localizados na Serra do Itapeti (SP), de acordo com as subfamílias.

Amblyoponinae Cerapachyinae

Dolichoderinae

Acanthostichus quadratus Emery, 1895 x

Dolichoderus sp.1

x

Dorymyrmex sp.1 x

x

Linepithema iniquum (Mayr, 1870)

x

x

Eciton quadriglume (Haliday, 1836)

x

Labidus coecus (Latreille, 1802)

x

x

x

x

Labidus mars (Forel, 1912)

30cm de profundidade

isca

x

x

x

x

x

x

x

x

x

Labidus praedator (Smith F., 1858)

x

x

x x

Gnamptogenys continua (Mayr, 1887)

x*

Gnamptogenys reichenspergeri (Santschi, 1929)

x

Gnamptogenys striatula Mayr, 1884

x

x

Camponotus crassus Mayr, 1862

x

x x

x

x

Camponotus sp.2

x x

Camponotus sp.8

x x

x* x

x

x

x x

x x

x

x x

x

x

x

x

x

x

x

x

x

x*

x

Brachymyrmex incisus Forel, 1912

x

x

x

x*

x

Brachymyrmex luederwaldti Santschi, 1923

x x

x

x*

Camponotus sp.12 Brachymyrmex heeri Forel, 1874

x

x

Brachymyrmex micromegas Emery, 1923 x

Myrmelachista catharinae Mayr, 1887

x

x x

x

x

Myrmelachista arthuri Forel, 1903

x

x

x

Myrmelachista sp.4

x

x

x

Myrmelachista ruszkii Forel 1903

x x

Heteroponera dentinodis (Mayr, 1887)

x x

Heteroponera dolo (Roger, 1860)

x

x*

x

x*

x

x

x

x

Acanthoponera sp.1

x

Acanthognathus rudis Brown e Kempf, 1969

x

Acromyrmex niger ( Smith F., 1858)

x

217

x

x

Heteroponera mayri Kempf, 1962

Acromyrmex crassispinus (Forel, 1909)

x

x*

Brachymyrmex pictus Mayr, 1887

Nylanderia fulva (Mayr)

x

x

x x

x x

x

Camponotus (Taenamyrmex) sp.1

Camponotus sp.10

x

x *

Camponotus sp.6

x

x

Gnamptogenys sp.6

Camponotus sericeiventris ((Guérin-Méneville, 1838)

Myrmicinae

x

x

Camponotus rufipes (Fabricius, 1775)

Heteroponerinae

Winkler

fauna associada ao fruto

x

Azteca sp.1

Neivamyrmex pilosus (Smith F., 1858)

Formicinae

Solo

x

Neivamyrmex bohshi (Emery, 1896)

Ectatomminae

Serapilheira

Prionopelta antillana Forel, 1909

Linepithema neotropicum Wild, 2007

Ecitoninae

herbácea

Espécie

arbórea

Subfamília

arbustiva

Vegetação

x

x x

x

x

x* x

x

x

x

x


M. Santina de C. Morini; Rogério R. Silva; Silvia S. Suguituru; Renata Pacheco e Marcia A. Nakano

Anexo 1. (Continuação)

Apterostigma sp.1

x

*

Atta sexdens (Linnaeus, 1758)

x*

Basiceros disciger (Mayr, 1887)

30cm de profundidade

isca

x

x x

Cephalotes sp.1

x

Cephalotes attratus (Linnaeus, 1758)

x

Crematogaster sp.1 (Gr. Orthocrema)

Solo

x

Apterostigma sp.3

Carebara sp.1

x

Crematogaster sp.2 (Gr. Orthocrema) Crematogaster sp.3

x

Crematogaster (Neocrema) magnifica Santschi, 1925

x

*

x

x

x

x

x

x

x

x

Crematogaster sp.5

x

Crematogaster sp.7

x

Crematogaster sp.8

x

Crematogaster sp.9

x

Cyphomyrmex pr strigatus

x

x

x

x

*

x

Cyphomyrmex pr. rimosus

x* x

Cyphomyrmex strigatus Mayr, 1887

x

Cyphomyrmex major Forel, 1901

x

x

x

Hylomyrma reitteri (Mayr, 1887)

x*

Hylomyrma balzani (Emery, 1894) Myrmicinae

Winkler

Serapilheira fauna associada ao fruto

herbácea

Espécie

arbórea

Subfamília

arbustiva

Vegetação

x

Lachnomyrmex plaumanni Borgmeir, 1957

x

Nesomyrmex sp.2

x

x

x* x

Megalomyrmex goeldii Forel, 1912

x*

Mycetarotes senticosus Kempf, 1960

x

Mycetosoritis sp.1

x*

Basiceros stenognathum (Brown e Kempf, 1960)

x

x

x*

Basiceros rugiferum (Mayr, 1887) Oxyepoecus sp.2

x

x

x* x

x

x

Oxyepoecus rastratus (Mayr, 1887)

x

x

Oxyepoecus vezezyii (Forel, 1907)

x

Pheidole aberrans Mayr, 1868

x

Pheidole fallax Mayr, 1870

x

x x

x

x x

Pheidole sp.2 Pheidole sp.3

x

x

Pheidole sp.4

x

x

Pheidole sp.5

x

x

x

Pheidole sp.6

x

x

x

x

x*

x x

Pheidole sp.7

x

x

x

x

x*

x

Pheidole sp.8

x

Pheidole sp.9

x

Pheidole sp.10 Pheidole sp.11

x

x

x

x

x

x

x

x x

x

Pheidole sp.12

x

218

x


A fauna de formigas da Serra do Itapeti

Anexo 1. (Continuação)

x

x

x

x*

Pheidole sp.14

x

Pheidole sp.15

x

x x

Pheidole sp.16

x x

x

x

x

x

x

x

x*

x

x

x*

x

x

x

Pheidole sp.22

x

x

x

Pheidole sp.23

x

Pheidole sp.19 Pheidole sp.20

x*

x

x x

x

Pheidole sp.21

x*

Pheidole sp.24 Pheidole sp.25

x

Pheidole sp.26 Pheidole sp.27

x

Pheidole sp.28

x

Pheidole sp.29

x

x*

x

x

x

x

x

x

x

x

x

x

x

x

x

x x x

x*

x

x x

x

Pheidole sp.30

x

x

x

x

x

x

Pheidole sp.31

x

Pheidole sp.32

x

Pheidole sp.33 Myrmicinae

x

x*

Pheidole sp.17 Pheidole sp.18

30cm de profundidade

Winkler

x

Solo isca

fauna associada ao fruto

Pheidole sp.13

herbácea

Espécie

arbórea

Subfamília

Serapilheira

arbustiva

Vegetação

x x

x

Pheidole sp.34

x

x

x

x

x

Pheidole sp.35

x

Pheidole sp.36 Pheidole sp.38

x

x x

x

Pheidole sp.39

x

Procryptocerus pr. schmalzi

x x

x

Procryptocerus sp.2

x

Procryptocerus sp.3

x

x

x

x

x

Strumigenys appretiata (Borgmeier, 1954)

x*

Strumigenys crassicornis Mayr, 1887 Strumigenys denticulata Mayr, 1887

x x

x

x

Strumigenys elongata Roger, 1863 Strumigenys schmalzi Emery, 1906

x* x*

x

x*

x

x

Strumigenys sp.11

x

Strumigenys louisianae Roger, 1863

x

Solenopsis saevissima (Smith, 1855)

x

x x

Solenopsis wasmannii Emery, 1894

x

x

Solenopsis (Diplorhoptrum) sp.1

x

x

Solenopsis sp.4

x

x

Solenopsis sp.5

x

x

x

X

x

x

x*

x

x

x*

x

x

x* x

x x

Solenopsis sp.6

x

Trachymyrmex (Gr. Septentrionales) sp. Wasmannia sp.2

x x

219

x

x x

x

x*

x

x


M. Santina de C. Morini; Rogério R. Silva; Silvia S. Suguituru; Renata Pacheco e Marcia A. Nakano

Anexo 1. (Continuação)

Anochetus altisquamis Mayr, 1887 x

x

Hypoponera sp.2 x

30cm de profundidade

isca

x*

Hypoponera sp.4

x*

Hypoponera sp.5

x*

Hypoponera sp.6

x

x*

Hypoponera sp.7

x

x*

Hypoponera sp.8

x

x*

Hypoponera sp.9

x

x*

Hypoponera sp.11

x

x

Hypoponera sp.12

*

Hypoponera sp.13

x

x

Odontomachus meinerti Forel, 1905

x*

Odontomachus affinis Guérin-Méneville, 1844

x x

x

Pachycondyla constricta (Mayr, 1884)

x

x

x

Pachycondyla striata Smith, 1858

x

x

x

x

x

x

x

Discothyrea sexarticulata Borgmeier, 1954 x

Pseudomyrmex pallidus (Smith, 1855)

x

x

90

61

39

220

x

x

x

x* x

Pseudomyrmex oculatus (Smith, 1855)

* Táxon coletado na Fazenda Santo Alberto.

x

x

Pachycondyla mesonotalis (Santschi, 1923)

Total

x

x*

Odontomachus chelifer (Latreille, 1802)

Pseudomyrmex gracilis (Fabricius, 1804) Pseudomyrmecinae

x* x*

Hypoponera sp.3

Proceratiinae

Solo

x

Hypoponera sp.1

Ponerinae

Winkler

Serapilheira fauna associada ao fruto

herbácea

Espécie

arbórea

Subfamília

arbustiva

Vegetação

x x

54

114

42

29


Culicídeos da Serra do Itapeti Douglas Mascara Eurípedes de Sousa Costa Filho Eliane Batista Silvana Pereira da Silva

Resumo Foram usadas diferentes armadilhas (CDC, BG-sentinel, aspiradores, “ovitraps”) e vários atrativos para efetuar o monitoramento da fauna de mosquitos culicídeos em distintos sítios no interior do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. As coletas foram realizadas mensalmente durante dois anos (2008/09). A composição da fauna do Parque foi comparada a outras localidades do município de Mogi das Cruzes, nas quais existem padrões de alteração ambiental distintos, sobretudo associados à ocupação humana. Os resultados indicaram que a fauna de culicídeos do Parque é significativamente diversificada, sendo típica de ambientes florestados. Todavia, nas proximidades, existem alterações ambientais que favoreceram a fixação de uma fauna de transição, nas quais mosquitos vetores de patógenos urbanos coexistem com espécies transmissoras de arboviroses exóticas.

Apesar da fama alcançada pelos mosquitos como perturbadores do homem (antropofílicos), sugadores de sangue (hábito hematofágico) e transmissores de patógenos graves seja procedente para algumas espécies, a semelhança morfológica de certos táxons e o seu comportamento podem ser confundidos com as formas inofensivas pouco interessadas no repasto sanguíneo oferecido pelo ser humano, uma vez que se alimentam de néctar. É o caso dos tipulídeos, que são falsos mosquitos eminentemente silvestres. Embora algumas espécies possam ser encontradas próximas ou no interior de residências (endofílicos), não são hematófagas. Os tipulídeos (Tipulidae) e os verdadeiros mosquitos (Culicidae) fazem parte da ordem denomina-

Introdução Mosquitos e pernilongos são denominações amplas e popularmente dadas a diversos insetos. Apesar da aparente similaridade, alguns desses mosquitos pertencem a grupos taxonômicos muito diferentes. O reconhecimento desses insetos pelo leigo, segundo a tradição mais popular, baseia-se em características que se referem principalmente ao seu comportamento, muitas vezes impertinente. Os incômodos causados por esses mosquitos – o seu zunido, ou o seu voo insistente ao redor do indivíduo são, para muitos, indicações suficientes para o reconhecimento. Outras vezes, são distinguidos de outros insetos pela morfologia macroscópica: um corpo esguio, com pernas muito finas e asas muito delicadas. 221


Douglas Mascara; Eurípedes de Sousa Costa Filho; Eliane Batista e Silvana Pereira da Silva

da Diptera, que inclui uma variedade muito grande de insetos, dentre os quais se reconhecem os mosquitos e as moscas. Os mosquitos são agrupados em uma subordem conhecida como Nematocera; já a subordem Brachycera inclui as moscas e outros táxons afins. Em respeito à noção mais popular, pode-se afirmar que os mosquitos hematófagos são classificados em diferentes famílias dentro da subordem Nematocera. Assim, destacam-se inicialmente os psicodídeos (Psychodidae), grupo que contém insetos hematófagos de hábitos predominantemente silvestres, mas que podem ser capturados em residências com alguma frequência, sobretudo quando as casas estão localizadas próximas a reservas de mata. Normalmente são atraídos pela presença de alguns animais de criação caseira como galinhas, porcos, cães e, mais raramente, gatos. Assim, aproximam-se das habitações e atingem, por consequência, o próprio homem. Conhecidos como mosquito-palha, alguns gêneros como Lutzomyia e Phlebotomus são vetores importantes de leishmanias, agentes da leishmaniose tegumentar ou visceral. As larvas se desenvolvem no solo ou em qualquer substrato úmido rico em matéria orgânica. O grupo que melhor representa a imagem popular dos mosquitos consiste na infraordem Culicimorpha, que inclui duas superfamílias Chironomoidea e Culicoidea. Em ambas podemos encontrar diversos gêneros de mosquitos com hábitos hematofágicos, alguns exclusivamente silvestres. Porém, outros gêneros se apresentam adaptados ao ambiente urbano, pois ajustaram seu mecanismo de oviposição para criadouros artificiais, muitos deles proporcionados pelo próprio homem. Essa proximidade, o denominado hábito antropofílico, justifica-se pelo aproveitamento humano como repasto sanguíneo das fêmeas. A necessidade de consumo de sangue pelas fêmeas é uma condição necessária para o desenvolvimento ovariano como um todo e, posteriormente, na oviposição. O período da ação hematofágica de algumas espécies pode ser noturna, crepuscular ou mesmo diurna. Os atrativos que possibilitam às fêmeas desses mosquitos localizarem o homem variam conforme as espécies: alguns são inicialmente atraídos pela luz e pelo calor irradiado pela residência ou mesmo pelo corpo humano. Muitos são atraídos pelo dióxido de carbono (CO2) eliminado por meio da respiração humana, e, finalmente, algumas substâncias voláteis eliminadas pela pele humana podem atrair esses mosquitos. É o caso do ácido

láctico, do ácido caproico e da amônia. Todos esses elementos são importantes porque podem constituir-se em formas artificiais de atração desses insetos para armadilhas de controle e monitoramento das espécies em determinados hábitats. Posteriormente, serão mostradas as armadilhas utilizadas durante os nossos estudos e os diversos modos de captura empregados. Devido ao hábito hematofágico, muitas espécies são vetoras de diferentes famílias de vírus (arbovírus), bactérias e protozoários patogênicos e até mesmo de formas larvárias de vermes. Entre os gêneros mais representativos do ponto de vista epidemiológico, destacam-se os gêneros Culex e Aedes. Isso não significa que os demais gêneros não sejam importantes, porém, pela maior adaptação de algumas espécies destes gêneros ao ambiente peridomiciliar e a associação com a transmissão de microrganismos responsáveis por doenças de caráter epidêmico, eles merecem destaque. É o caso do Ochlerotatus. Esse táxon foi tratado aqui como gênero devido à recenteodificação de sua nomenclatura (REINERT, 2000; REINERT et al., 2004; SAVAGE & STRICKMAN, 2004; SHEPARD et al., 2006), porém alguns taxonomistas ainda o consideram como subgênero do genêro Aedes. Na Tabela 1 é mostrada, de forma resumida, aspectos da biologia de alguns gêneros e espécies de mosquitos. Pela grande resistência ao dessecamento dos ovos dos táxons apresentados na Tabela 1, ou em razão da sobrevivência de larvas e de animais adultos em ambientes modificados, há considerável disseminação de espécies entre países e continentes. O impacto sobre a fauna nativa em razão da introdução de espécies exóticas e os reflexos sobre os ecossistemas, sobretudo os mais frágeis, são temas de grande interesse da biologia. Em especial, os culicídeos, quando são introduzidos em novas localidades, podem acarretar o surgimento de focos de transmissão e se constituírem em sérias epidemias nacionais. O exemplo mais representativo e atual desse fenômeno foi a reintrodução do mosquito A. aegypti urbano no continente americano. No Brasil, o mosquito A. aegypti foi erradicado na década de 1950. Entretanto, é possível que tenha sido transportado em porões de navios vindos da Ásia e, assim, reintroduzido na década de 1970. Desde os anos 1980 o país sofre, a cada verão, com as epidemias da febre da dengue. O transporte de 222


Culicídeos da Serra do Itapeti

Tabela 1. Relação de algumas espécies de mosquitos Culicimorpha associadas a hábitos e fatores atrativos. SV = substância volátil; (+) = intensidade de preferência. (*) Resultados obtidos a partir de estudos realizados pelo nosso grupo de pesquisa. Táxons

Antropofílico

Silvestre

Urbano

Atrativos

+

+++

+

CO2

Aedes (*) A. aegypti A. albopictus

+++++ ++++

+

+++++ +++

CO2, SV CO2,, SV

Culex (*) C. chidesteri C. quinquefasciatus

+++ +++++

++ -

+++ +++++

CO2 CO2

++ ++

+++ +++

++ ++

CO2 CO2

Ochlerotarus (*) O. serratus

Psorophora (*) P. ferox P. lanei

pneus e carcaças da Ásia trouxe em 1986 para o Brasil a espécie A. albopictus, outro vetor potencial da dengue. Aproximadamente 20 anos se passaram e a espécie é encontrada em 22 Estados do país. Além da dengue, diversas formas de encefalite equina, que acometem também o homem, podem ter seus vírus transmitidos por diferentes espécies do mosquito Culex. Em especial C. quinquefasciatus, tipicamente urbana, pode transmitir formas larvárias do verme da filariose humana. Por essas e outras razões é importante conhecer e monitorar a fauna de mosquitos de uma região. Mudanças súbitas na estrutura e na composição dessa fauna poderão antecipar possíveis indicadores da iminência de epidemias locais. Além disso, a própria fauna nativa pode apresentar variações, as quais poderão indicar que alterações importantes no ecossistema local estão em curso. Por razões anteriormente justificadas, o monitoramento da fauna de mosquitos no ambiente urbano é de competência dos órgãos municipais e estaduais. Áreas limítrofes, onde residências são construídas próximas às reservas de mata nativa, apresentam características particulares e podem ser ocupadas por espécies típicas do ambiente urbano, bem como por espécies silvestres. A. albopictus, por exemplo, é particularmente adaptado a essas áreas marginais. Outro aspecto importante está relacionado com a dinâmica de expansão da área urbana. Por intermédio de licenças ambientais, ou por meio de invasões clandestinas, domicílios multiplicam-se em direção a reservas de mata circunvizinhas às cidades. Condomínios de luxo, casas de veraneio e construções modestas criam novos ambientes que favorecem a migração de espécies urbanas de mosquitos para essas áreas, como também expõem o homem

ao contato com espécies de mosquitos silvestres. Tanto a primeira como a segunda podem resultar em consequências inesperadas e, na maioria das vezes, nocivas para todos. Nossa equipe de trabalho, entre outros estudos que realizou, identificou, descreveu e monitorou a fauna de culicídeos em vários ecossistemas da região do Alto Vale do Rio Tietê. Em especial na Serra do Itapeti, no interior do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, onde ocorreram inúmeras coletas de mosquitos hematófagos. Foram empregados diversos tipos de armadilhas e padrões de coleta em diferentes sítios do Parque, e em diferentes estações do ano. Entretanto, ainda não se pode afirmar em absoluto que conhecemos a fauna de culicídeos da Serra. Para que isso seja possível, é necessário ampliar a área de coleta, diversificar ao máximo os sítios, coletar larvas em bromeliáceas, próximas ao chão, à meia altura e no dossel, dentre outros. Enfim, um esforço de coleta gigantesco. Todavia já foram obtidos resultados interessantes nas coletas efetuadas na Serra do Itapeti, como a amostragem de espécies descritas uma única vez na Venezuela e na Argentina. A diversidade exuberante e a abundância desses mosquitos têm sido reveladoras. A seguir, estão descritos alguns resultados do nosso estudo.

Métodos de monitoramento das populações de mosquitos Uma vez que um de nossos objetivos foi monitorar a diversidade de espécies de mosquitos hematófagos da região, caracterizando as espécies mais frequentes em cada área e aquelas que ocorrem nas áreas de recente urbanização, diversificamos e pa223


Douglas Mascara; Eurípedes de Sousa Costa Filho; Eliane Batista e Silvana Pereira da Silva

anteriores, pela sua elevada Ec. A utilização de BG-Sentinel® possui moderada especificidade; foram coletadas espécies de dois gêneros Aedes (2) e Culex (3). Todavia, o atrativo empregado nas armadilhas BG-Sentinel® é de difícil obtenção, o que prejudica a rotina de coleta. Assim, foi adotada como metodologia padrão para o monitoramento as armadilhas CDC adaptadas com atrativos de CO2 (gelo seco) ligadas a três baterias em série de 6V, com as quais se obteve autonomia de aproximadamente 36h. Essas armadilhas foram colocadas em horário crepuscular (16h) e retiradas 24h depois. Durante o processo de montagem das armadilhas foi aplicado um esforço de coleta de aproximadamente 30min, utilizando os aspiradores entomológicos. O desempenho de captura analisado em relação a Ef e Ec para as armadilhas CDC está na Figura 2. De acordo com os valores relativos e absolutos apresentados foi possível verificar que a utilização de armadilhas CDC possibilitou a amostragem de sete gêneros de mosquitos culicídeos, sendo que Mansonia, e especialmente Coquellettidia, são de ocorrência predominante em ambientes silvestres. Todavia, por meio das CDCs amostrou-se, durante o período de padronização da metodologia, 256 exemplares (58%) do gênero Culex, com 24 espécies; 75 exemplares do gênero Aedes, com quatro espécies; 50 Ochlerotatus, com sete espécies e 65 Psorophora, com cinco espécies. Posteriormente, durante as etapas rotineiras de coleta, foram observados exemplares de duas famílias, dez gêneros e 40 espécies. Embora a diversidade verificada por meio de aspiradores entomológicos seja consideravelmente menor (Figura 3), não houve seletividade no processo de coleta. Os gêneros Anopheles, Mansonia e

dronizamos as coletas por meio de uma análise de eficiência: abundância (quantidade de exemplares coletados das várias espécies) e especificidade (número relativo de exemplares de cada espécie), segundo o protocolo de Fávaro et al. (2006). A padronização dos métodos inicialmente foi necessária para a obtenção de uma maior riqueza na amostragem. Assim, foram aplicados cinco diferentes métodos de coleta (Figura 1) com o objetivo de: a) evitar a seletividade de linhagens nas amostras, assegurando a coleta de populações distintas; b) evitar a seletividade de espécies, e c) obter a maior representatividade geográfica das espécies de mosquitos, com o objetivo de estimar a diversidade local dos culicídeos. As armadilhas utilizadas possuem atrativos (Tabela 2) com diversos graus de seletividade para os diferentes gêneros de mosquitos culicídeos (KRÖCKEL et al., 2006). A padronização da metodologia de coleta foi baseada em resultados preliminares, muitas vezes incompatíveis com aqueles indicados pelas referências consultadas ou pelos dados apresentados pelo fabricante das armadilhas. A seguir serão relatados os resultados relativos à eficiência (Ef) e especificidade (Ec) das armadilhas, que apresentaram níveis de eficiência e especificidade significativamente diferentes. As armadilhas Mosquitrap® foram utilizadas nas diversas localidades de coleta e apresentaram maior Ec para A. albopictus. “Ovitraps” foram as armadilhas com maior Ef em áreas urbanas, contudo apresentaram significativa Ec para as espécies do gênero Aedes. Nas “Ovitraps” foram coletadas três espécies A. albopictus, A. aegypti e O. fluviatilis; algumas vezes ocorreram exemplares do gênero Limatus. Uma vez que o presente estudo se propôs a um monitoramento da diversidade da fauna, excluímos a utilização das duas armadilhas

Tabela 2. Armadilhas entomológicas e os atrativos utilizados para captura de mosquitos culicídeos. Armadilhas

Atrativos

Referências

BG-Sentinel®

Ácido lático, amônia e ácido caproico

MACIEL-DE-FREITAS et al. (2006)

Infusão de Panicum maximum exclusivo para mosquitos do gênero Aedes

FÁVARO et al. (2006)

Mosquitrap®

CDC (“Center for Disease Control”)

CO2 (gelo seco)

TISSOT & NAVARRO-SILVA (2004)

Aspirador entomológico

Nenhum

KAKITANI et al. (2003)

“Ovitrap”

Suplementado com ração de peixe (0,1%)

LIMA et al. (1989)

224


Culicídeos da Serra do Itapeti

Coquellettidia não foram amostrados por esse método, possivelmente pelo período do dia em que a coleta com os aspiradores foi efetuada. O número total de exemplares capturados até o momento em todas as localidades de acordo com o tipo de armadilha utilizada é apresentado na Figura 4. É possível verificar que a eficiência das CDCs é muito superior às demais armadilhas.

Municipal Francisco Affonso de Mello em comparação com três outras áreas: 1. Área de ocupação clandestina próxima ao parque; 2. Condomínio vizinho à Serra do Itapeti e 3. Área estritamente urbana do município de São Paulo. Durante o período de estudo não foram observadas espécies dominantes. Frequentemente, esse comportamento foi detectado em áreas de estudo fora do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Áreas vizinhas ao Parque possuem grande diversidade de espécies, contudo há uma mistura tipicamente associada com ambientes florestados e espécies sinantrópicas. Aedes albopictus, C. chidesteri, C. dolosus e C. quinquefasciatus são algumas das espécies frequentemente associadas com áreas urbanas. As espécies silvestres típicas, tais como as do gênero Mansonia e as espécies O. serratus e O. scapularis, foram coletadas nas áreas vizinhas ao Parque. Todavia, a fauna de mosquitos hematófagos do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello é representada por exemplares associados a espécies típicas de floresta. A ausência de qualquer espécie com maior ou menor grau de domicialização indica que a fauna local não apresenta qualquer alteração significativa ou modificação provocada pelo homem. Isso não quer dizer que a preservação das espécies silvestres está garantida, pois as localidades vizinhas, alteradas pela construção de residências, estão introduzindo espécies urbanas que podem competir e até extinguir as espécies da fauna nativa.

Diversidade de mosquitos hematófagos no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello Durante nosso estudo, realizado entre 2007 e 2009, foram coletados aproximadamente 10 mil exemplares de mosquitos hematófagos, muitos dos quais não foram completamente identificados pela perda de caracteres diagnósticos. Entretanto, foram identificados um total de 2.781 exemplares, sendo distribuídos em duas famílias, dez gêneros e 40 espécies. As coletas registraram picos de densidade das populações de mosquitos hematófagos, durante estação chuvosa. Esses picos representam 73% do total de culicídeos coletados: 30% no primeiro pico (dezembro de 2007 a março de 2008) e 43% no segundo pico (outubro de 2008 a março de 2009) (Figura 5). Os valores de riqueza e de abundância relativa dos táxons hematófagos estão descritos na Tabela 3. Nessa tabela, são apresentados os resultados referentes a espécies coletadas no Parque Natural

Tabela 3. Riqueza e abundância relativa de espécies hematófagas monitoradas em quatro diferentes áreas. Táxons Aedes aegypti

Ocupação clandestina na Serra do Itapeti

Condomínio na Serra do Itapeti

Área urbana da cidade de São Paulo

Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello

-

-

0,113

-

Aedes albopictus

0,055

0,009

0,153

-

Anopheles deaneorum

0,055

-

-

-

Brunettia sp.

0,009

-

-

-

-

0,019

-

-

0,227

0,204

0,220

0,217

-

-

-

0,065

0,005

0,019

-

0,054

Coquellettidia sp. Culex sp. Culex acharistus Culex (Allimanta) sp. Culex (Anoedioporpa) sp.

-

-

-

0,033

Culex brethes ou C. latisclaspes

-

0,019

-

0,011

Culex brevispinosus

-

0,009

-

-

Culex (Carrollia) sp.

-

0,019

-

-

Culex carcinoxenus

0,005

0,028

-

0,109

Culex chidesteri

0,055

0,056

0,040

-

225


Douglas Mascara; Eurípedes de Sousa Costa Filho; Eliane Batista e Silvana Pereira da Silva

Tabela 3. (Continuação) Ocupação clandestina na Serra do Itapeti

Condomínio na Serra do Itapeti

Área urbana da cidade de São Paulo

Natural Municipal Francisco Affonso de Mello

-

0,028

0,020

-

Culex (Culex) sp.

-

0,037

-

-

Culex declarator

0,018

0,028

0,060

0,015

Táxons Culex coronator

Culex dyplophyllum

-

0,019

0,007

0,007

Culex dolosus

0,005

0,009

0,027

-

Culex foliaceus

-

-

-

0,051

Culex habilitator

0,018

0,028

0,013

0,004

-

-

0,013

0,004

Culex interrogator Culex lahillei

-

-

0,007

0,007

Culex (Micraedes) sp.

0,009

0,009

-

0,054

Culex (Microculex) sp.

0,005

-

-

-

-

-

-

0,033

Culex (Neoculex) sp. Culex (Phenacomya) sp.

0,009

-

-

0,011

Culex quinquefasciatus

0,059

0,074

0,207

-

Culex saltanensis

-

0,056

0,067

0,033

0,014

0,019

0,013

-

-

0,009

-

0,011

Culex (Tinolestes) sp.

0,018

0,009

-

-

Haemagogus leucocelaenus

0,009

-

-

-

Mansonia sp.

0,055

0,222

-

0,054

Mansonia flaveola

0,005

0,009

-

0,007

Mansonia humeralis

0,005

-

-

0,004

-

-

-

0,011

Mansonia quimeralis

0,005

-

-

0,007

Mansonia wilsoni

0,032

-

-

0,007

Ochlerotatus sp.

Culex scimitar Culex stenolepsis

Mansonia indubitans ou M. dyari

0,018

-

-

-

Ochlerotatus fluviatilis

-

-

0,007

-

Ochlerotatus jacobinae

-

-

-

0,018

Ochlerotatus rhyacophilus

0,005

-

0,007

-

Ochlerotatus scapularis

0,041

0,009

0,007

0,040

Ochlerotatus serratus

0,018

0,019

0,007

0,033

-

0,009

-

-

Ochlerotatus serratus ou O. aenigmaticus Psorophora albigenus

-

-

-

0,036

0,159

-

-

0,004

Psorophora ferox

-

0,028

-

0,043

Psorophora lanei

0,082

-

-

0,062

Psorophora discrucians

Psorophora saeva Telmatoscopus niger Total Riqueza

-

-

-

0,004

0,005

-

-

-

1.000 (N = 660)

1.000 (N = 324)

1.000 (N = 450)

1.000 (N = 276)

29

27

18

31

226


Culicídeos da Serra do Itapeti

culicídeos é típica de ambientes florestados, o que ressalta o estado de preservação da mata do Parque. Todavia, nas áreas circunvizinhas ao Parque foram detectadas alterações substanciais na composição da fauna desses insetos. Essas alterações são indicadoras de áreas modificadas, quer seja pelos condomínios ou áreas de invasão ilegal, nas proximidades da Unidade de Conservação. A proximidade entre as áreas favorece a existência de uma fauna de transição, na qual coexistem espécies urbanas e silvestres, o que requer atenção, quer seja em relação à progressão da deterioração ambiental ou ainda em relação à expansão de focos de transmissão de patógenos urbanos ou exóticos.

Considerações finais A diversidade da fauna de mosquitos culicídeos constitui um elemento dinâmico e profundamente associado às variações estruturais do meio ambiente. Certas espécies estão adaptadas aos ambientes urbanos, ou naturais, porém, profundamente modificados pela ação humana. Outras espécies podem ser exclusivas de ambientes silvestres ou ainda associadas a ambientes de transição. Desse modo, o monitoramento dos culicídeos pode indicar os níveis de modificação ambiental, de acordo com a composição da fauna local. Além dos aspectos relacionados à estrutura dos ecossistemas, o monitoramento das espécies possui caráter epidemiológico, uma vez que poderá indicar a presença de espécies vetoras de patógenos, sobretudo em áreas de ocupação recente. Os estudos desenvolvidos no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello indicam que a fauna de

Agradecimentos Agradecemos à Fapesp (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo), pelo auxílio financeiro (Processo N. 05/04520-2).

Referências FAVARO, E. A.; DIBO, M. R.; MONDINI, A.; FERREIRA, A. C.; BARBOSA, A. A. C.; EIRAS, A. E.; BARATA, E. A. M. F.; CHIARAVALLOTI-NETO, F. Physiological state of Aedes (Stegomyia) aegypti mosquitoes captured with MosquiTRAPstm in Mirassol, São Paulo, Brazil. Journal of Vector Ecology, v. 31, n. 2, p. 285-291, 2006. KAKITANI, I.; UENO, H. M.; FORATTINI, O. P. Paridade e influência do vento sobre a freqüência de Anopheles marajoara, São Paulo. Revista Saúde Pública, v. 37, n. 3, p. 280-4, 2003. KRÖCKEL, U.; ROSE, A.; EIRAS, A. E.; GEIER, M. New tools for surveillance of adult yellow fever mosquitoes: Comparasion of trap catches with human landing rates in an urban environment. Journal of the American Mosquito Control Association, v. 22, n. 2, p. 229-238, 2006. LIMA, M. M.; AMARAL, R. S.; ARAGÃO, M. B. Estudo comparativo da eficácia de armadilha para Aedes aegypti. Cadernos de Saúde Pública, v. 5, n. 2, p. 143-150, 1989. MACIEL-DE-FREITAS, R.; EIRAS, A. E.; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, R. Field evaluation of effectiveness of the BGSentinel, a new trap for capturing adult Aedes aegypti (Diptera: Culicidae). Memorias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 101, p. 4-16, 2006. REINERT, J. F. New classification for the composite genus Aedes (Diptera: Culicidae: Aedini), elevation of subgenus Ochlerotatus to generic rank, reclassification of the other subgenera, and notes on certain subgenera and species. Journal of the American Mosquito Control Association v. 16, p. 175-188, 2000. —————.; HARBACH, R. E.; KITCHING, I. J. Phylogeny and classification of Aedini (Diptera: Culicidae), based on morphological characters of all life stages. Zoological Journal of the Linnean Society, v. 142, p. 289-368, 2004. SAVAGE, H. M.; STRICKMAN, D. The genus and subgenus categories within Culicidae and placement of Ochlerotatus as a subgenus of Aedes. Journal of the American Mosquito Control Association, v. 20, p. 208-214, 2004. SHEPARD, J. J.; ANDREADIS, T. G.; VOSSBRINCK, C. R. Molecular phylogeny and evolutionary relationships among mosquitoes (Diptera: Culicidae) from the northeastern United States based on small subunit ribosomal DNA (18S rDNA) sequences. Journal of Medical Entomology, v. 43, n. 3, p. 443-54, 2006. TISSOT, A. C.; NAVARRO-SILVA, M. A. Preferência por hospedeiro e estratificação de Culicidae (Diptera) em área de remanescente florestal do Parque Regional do Iguaçu, Curitiba, Paraná, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, v. 21, n. 4, p. 877-886, 2004.

227


Douglas Mascara; Eurípedes de Sousa Costa Filho; Eliane Batista e Silvana Pereira da Silva

A

B

C

D

E

Figura 1. Armadilhas utilizadas nos pontos estratégicos para captura de mosquitos culicídeos. (A) CDC (“Center for Disease Control”); (B) Mosquitrap®; (C) Aspirador entomológico à bateria 12V; (D) BG - Sentinel® e (E) “Ovitrap”.

228


Culicídeos da Serra do Itapeti

1; 0,02

50; 0,10

6; 0,13

12; 0,02

A

B 65; 0,13

4; 0,08

256; 0,5

24; 0,50 8; 0,17

75; 0,15 2; 0,01

1; 0,02

Culex

Psorophora

Aedes

Ochlerotatus

Mansonia

Coquellettidia

Anopheles

Figura 2. (A) Número relativo de exemplares capturados em cada gênero e (B) frequência relativa do número de espécies capturadas para cada gênero em armadilhas CDC. O par de números indicados corresponde aos números absoluto e relativo, respectivamente.

32; 0,40

23; 0,28

3; 0,30

2; 0,20

26; 0,32

Culex

5; 0,50

Psorophora

Aedes

Figura 3. (A) Número relativo de exemplares capturados em cada gênero e (B) frequência relativa do número de espécies capturadas para cada gênero por meio de aspiradores entomológicos. O par de números indicados corresponde aos números absoluto e relativo, respectivamente.

229


Douglas Mascara; Eurípedes de Sousa Costa Filho; Eliane Batista e Silvana Pereira da Silva

Número de espécimes

10000 1000 100 10 1 CDC

Ovitrap

Aspirador

BG-Sentinel Mosquitrap

Figura 4. Número de espécimes coletados usando diferentes armadilhas entomológicas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello.

Mosquito Density Densidade

0,04

0,03

0,02

0,01

.A pr /0 9

.F ev /0 9

.D ec /0 8

.O

ct /0 8

/0 8 .A go

/0 8 .J un

.A pr /0 8

.F ev /0 8

.D ec /0 7

0

Figura 5. Variação da densidade de coleções de mosquitos hematófagos obtidas entre dezembro de 2007 e março de 2009. Quadrado negro: área de ocupação clandestina próxima ao Parque; Círculo branco: condomínio vizinho a Serra do Itapeti; Quadrado branco: área estritamente urbana do município de São Paulo; Círculo negro: interior do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello.

230


Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti Rosana Martins Marcelo R. F. Borges Rodnei Iartelli Giuseppe Puorto

Resumo Estudos multidisciplinares sobre fauna de determinada área são raríssimos, principalmente pela pesada logística envolvida nos procedimentos metodológicos. O objetivo aqui foi inventariar as espécies da masto, avi, herpeto, aracno e miriapodofauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti, no município de Mogi das Cruzes, São Paulo, como subsídio para a elaboração de seu Plano de Manejo. Para tanto, os inventários foram realizados entre dezembro de 2008 e junho de 2009, e abrangeram a estação chuvosa e a seca. Os registros foram efetuados por meio de metodologias específicas para cada grupo estudado. Foram identificadas 40 espécies de mamíferos, 106 de aves, 13 de répteis, 25 de anfíbios, cinco ordens de aracnídeos e quatro ordens de miriápodes. Além de espécies raras e endêmicas de Mata Atlântica, destacam-se 17 espécies ameaçadas de extinção e 26 espécies ainda não registradas para a Serra do Itapeti. Os resultados permitiram compreender o estado de conservação da biota da área, bem como eventuais desequilíbrios causados pela elevada antropização outrora fixada no local. Além disso, permitem afirmar que a manutenção de maciços florestais nativos na Serra do Itapeti é estrategicamente relevante para a garantia da perpetuação do fluxo gênico de espécies.

de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, interligados por cadeias montanhosas da Serra do Mar e da Serra da Mantiqueira (MESQUITA, 2004). No Estado de São Paulo, o bioma de Mata Atlântica está extremamente fragmentado, formando um grande mosaico de remanescentes compostos basicamente por mata secundária e grandes áreas de cultivos diversos. As maiores extensões desses fragmentos no estado estão situadas em Unidades de Conservação, como: Parque Estadual da Cantareira, Parque Estadual da Serra do Japi, Reserva Florestal do Morro Grande, Parque Estadual do Jurupará, Parque Estadual da Serra do Mar, Parque

Introdução O conhecimento e a conservação da diversidade biológica da terra continuam sendo motivo de preocupação política e científica, principalmente pelo destino das florestas tropicais. Ações antrópicas intensas ameaçam a destruição dos hábitats e, nas últimas décadas, conduziram à redução drástica da vegetação original da Mata Atlântica (MITTERMEIER et al., 1982). Atualmente, a Mata Atlântica abrange dois grandes corredores de biodiversidade: o Corredor Central, que é formado pelo sul da Bahia e pelo Estado do Espírito Santo e o Corredor da Serra do Mar, que envolve os Estados 231


Rosana Martins; Marcelo R. F. Borges; Rodnei Iartelli e Giuseppe Puorto

porção sudeste, uma área brejosa e um lago. A vegetação nativa apresenta remanescentes de floresta submontana de Mata Atlântica, com cobertura desde capoeira aberta até talhões de eucalipto e mata em estágio inicial e médio de regeneração. Essa diversidade de hábitats abriga diferentes fitofisionomias, além de uma fauna característica e de extrema importância na regeneração da floresta (BORGES et al., 2009).

Nascentes do Rio Tietê, Estação Ecológica do Itapeti e nas APA - Áreas de Proteção Ambiental. O município de Mogi das Cruzes, integrante da Região Metropolitana de São Paulo, está inserido no Planalto Atlântico, com cobertura vegetal caracterizada como Floresta Ombrófila Densa (IBGE, 1992). A Serra do Itapeti abriga alguns dos maciços arbóreos e fragmentos de vegetação nativa remanescentes mais significativos do Estado de São Paulo (IBGE, 1992). O sentido noroeste-sul da Serra é entrecortado pela Rodovia SP-88, que divide o maciço arbóreo em duas porções: a sudoeste, de menor extensão, e a nordeste, de maior extensão (veja capítulo 1). A Pedreira Itapeti, pertencente à Embu S.A. Engenharia e Comércio, está inserida na Serra do Itapeti e faz parte do maciço menor a sudoeste. A cobertura vegetal da propriedade, em sua maior parte, recobre a face sudeste que está voltada para a Bacia do Alto Tietê e sua jazida para a face noroeste da Serra. Essa área é contígua à Estação Ecológica de Itapeti, que protege cerca de 90ha de vegetação nativa. Juntas, as duas áreas garantem a perpetuação de quase 200ha de floresta tropical. Diante desse fato, a empresa destinou 104,19ha de Mata Atlântica em diversos estágios sucessionais e solicitou sua averbação como Reserva Legal. Segundo a Lei Federal Nº. 4.771/65, para a categoria de Reserva Legal são propostas a conservação e reabilitação dos processos ecológicos, da biodiversidade e proteção da fauna e flora, além da área de preservação permanente obrigatória. Desse modo, com o diagnóstico ambiental obtido a partir da avaliação do grau de conservação, é possível estabelecer as diretrizes para a utilização da área. O objetivo deste estudo foi conhecer a fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti, Mogi das Cruzes (SP), a fim de reunir informações que possam futuramente subsidiar a elaboração de seu Plano de Manejo.

Mastofauna A Mata Atlântica tem sido considerada uma das três áreas prioritárias para a conservação no mundo pela alta taxa de endemismo e atual situação de degradação desse bioma (MIRANDA & MATTOS, 1992). Com a maior diversidade de mamíferos do mundo, o Brasil possui 646 espécies registradas (REIS et al., 2006), sendo que 250 ocorrem na Mata Atlântica (COSTA et al., 2005). Dessas, 69 espécies são consideradas endêmicas e 42 estão ameaçadas de extinção, sendo que 24 ocorrem no Estado de São Paulo (Ministério do Meio Ambiente, http://www. mma.gov.br). No entanto, a caça, a fragmentação e a degradação de hábitats, causadas por ações humanas, constituem uma das maiores ameaças aos mamíferos (CULLEN JR et al., 2000). As florestas úmidas são primordiais para a habitação de pequenos mamíferos, pois permitem a distribuição de várias espécies. Pequenos mamíferos podem ser então considerados indicadores de qualidade ambiental, pois atestam o grau de alteração em que se encontra o seu hábitat (BONVICINO et al., 2002). Os mamíferos de maior porte talvez sofram ainda mais com as modificações de seu hábitat, relacionadas ao tamanho da área de uso e à disponibilidade de recursos (CHIARELLO, 1999; 2000). Além disso, a abundância das espécies desse grupo é bastante afetada por pressões antrópicas, como a caça, levando a extinções locais, principalmente em espécies com ciclos de vida longos e com baixas taxas intrínsecas de crescimento (BODMER et al., 1997).

Área de estudo A Reserva Legal da Pedreira Itapeti compreende uma área de 104,19ha. Está localizada entre duas unidades estaduais de conservação: a Estação Ecológica de Itapeti e a Área de Proteção Ambiental (APA) da Várzea do Rio Tietê, além de áreas com características rurais sob forte pressão pela inevitável expansão urbana. No interior da Reserva há um córrego com cerca de 1m de largura que forma, na

Os registros dos mamíferos foram efetuados por meio das seguintes metodologias Armadilhas de intercepção e queda – pitfall trap (PF): as armadilhas foram instaladas em cinco estações de coleta, contendo dez baldes plásticos (30L) 232


Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti

em cada uma, enterrados ao nível do solo (CORN, 1994) e distantes 10m entre si. Em cada estação de coleta, as armadilhas foram interligadas por uma barreira perpendicular (drift fence) construída com lona plástica de 1m de altura. As armadilhas foram abertas no início de cada período de coleta e vistoriadas pela manhã.

trap modelo Tigrinus digital 6.0 D, com sensor passivo para detecção de calor e/ou movimento. As armadilhas foram instaladas em trilhas já existentes, e permaneceram em funcionamento 24h, durante cinco dias consecutivos/fase de coleta. Os pontos escolhidos foram cevados com: bacon, banana, sardinha e milho.

Armadilhas live trap (LT): as armadilhas foram instaladas ao longo de cursos d’água. Foram utilizadas 58 armadilhas, sendo 29 pequenas (8 x 8 x 24cm) e 29 médias (18 x 18 x 50cm). Essas armadilhas foram distribuídas alternadamente no estrato inferior (chão) e superior (arbóreo/arbustivo). Em cada fase de coleta, as armadilhas foram iscadas com banana e pasta de amendoim e permaneceram instaladas durante quatro noites consecutivas. Os animais capturados, tanto pelas armadilhas de intercepção e queda como pelas armadilhas live trap, foram identificados e soltos próximo à estação de captura, sendo registrados dados biométricos e ecológicos. Quando não foi possível a identificação do animal em campo, o indivíduo (espécime-testemunha) foi coletado e taxidermizado pelos métodos usuais para posterior análise taxonômica.

Análise de vestígios (AV): hábitos noturnos e grandes áreas de vida são algumas dificuldades que aparecem no decorrer dos trabalhos. Portanto, a busca ativa por vestígios diretos ou indiretos, como fezes, regurgitos, carcaças, ossadas, rastros, tocas e vocalizações ao longo dos corpos d’água, trilhas, estradas e vicinais existentes, auxiliam na identificação de um número maior de espécies da região. Procurou-se caracterizar a fauna de mamíferos presentes na área de estudo, bem como estabelecer um padrão de distribuição, levando em consideração parâmetros de diversidade, riqueza e abundância das espécies.

Resultados Neste estudo foram realizadas seis campanhas de cinco dias consecutivos, entre janeiro e junho de 2009. O inventário de mamíferos na Reserva Legal da Pedreira Itapeti resultou na identificação de 40 espécies pertencentes a oito ordens, 17 famílias e 34 gêneros (Tabela 1). Das 40 espécies, 25 já haviam sido registradas por outros autores nessa região. Entretanto, a comparação com estudos de localidades próximas evidenciou a alta diversidade da área em estudo. MANZATTI et al. (1992), realizaram um levantamento da mastofauna do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, onde foram identificadas sete ordens e 24 espécies, em um período de 12 meses. Na mesma região, MARTINS et al. (1996) constataram 11 espécies pertencentes a duas ordens de pequenos mamíferos. Ainda na região, MANZATTI & FRANCO (ver capítulo 19) registraram 24 espécies de mamíferos de médio e grande porte. Em outra área próxima, num estudo sobre a biota das Bacias dos Rios Biritiba-Mirim e Paraitinga, foram registrados sete ordens e 31 espécies, em período similar a este estudo (NICOLAU et al., 2001). Foram identificadas 22 espécies de pequenos mamíferos (sete espécies da ordem Didelphimorphia, 13 da ordem Rodentia e dois da ordem Chiroptera) e 18 espécies de mamíferos de médio e grande porte.

Transectos lineares (TL): a utilização de transectos caracteriza-se pela divisão da área em linhas longitudinais e transversais, visando à plena cobertura da área (BUCKLAND et al., 1993). Nesse estudo foram realizadas amostragens diurnas e noturnas, percorrendo-se as trilhas já existentes no local. Armadilhas de pegadas (AP): a nitidez das pegadas em floresta é precária, dificultando a identificação das espécies. A colocação de pequenas porções de areia ao longo das trilhas supre essa deficiência (DIRZO & MIRANDA, 1990) e tem auxiliado nos levantamentos de mamíferos (NEGRÃO & VALLADARES-PADUA, 2006). No presente estudo, foram utilizadas duas linhas com seis parcelas e uma linha com oito parcelas, todas distantes 20m entre si. Cada parcela de 50 x 50cm foi preenchida com areia fina, úmida e cevada com banana e bacon. Armadilhas fotográficas - camera trap (AF): essa técnica tem sido amplamente utilizada para a obtenção de dados qualitativos da mastofauna (TROLLE & KÉRY, 2003; SRBEK-ARAUJO & CHIARELLO, 2005, 2007; TOBLER et al., 2008). Na Reserva Legal foram utilizadas quatro camera 233


Rosana Martins; Marcelo R. F. Borges; Rodnei Iartelli e Giuseppe Puorto

Tabela 1. Diversidade de mamíferos da Reserva Legal da Pedreira Itapeti, localizada na Serra do Itapeti, no município de Mogi das Cruzes (SP). Táxons

Método1

Nome Popular

Amb.2

Stat.3

Ordem Didelphimorphia Didelphidae Didelphis aurita (Wied-Neuwied, 1826) Micouerus paraguayanus (Tate, 1931) Marmosops incanus (Lund, 1840) Gracilinanus microtarsus (Wagner,1842) Gracilinanus agilis (Burmeister, 1854) Monodelphis americana (Müller, 1776) Monodelphis sorex (Hensel, 1872)

gambá-de-orelha-preta cuíca marmosa guaiquica guaiquica cuíca-de-três-listras catita

AP/LT LT LT LT LT PF PF

FL FL FL FL FL FL FL

end/LC LC NT end/LC NT NT LC

tatu-galinha tatu-de-rabo-mole

AF/AP/AV-Pg/Tc AV-Pg/Tc

AB/FL FL

LC DD

preguiça-marmota

TL-Od

FL

LC

sagui-da-serra-escuro

TL-Od/AV-Vc

FL

end/VU

cachorro-do-mato

AF/AP/TL-Od/ AV –Pg/F

AB/FL

LC

sussuarana gato-morisco

AV-Pg/F AV-Pg/TL-Od

AB AB

VU LC

jaguatirica gato-do-mato

AV-Pg AP/AV-Pg/TL-Od

AB AB

VU VU

quati

AP/AV-Pg

FL

LC

irara

AP/AV-Pg

FL

LC

veado-mateiro veado-catingueiro

AF/AV-Pg AF/AP/TL-Od/ AV-Pg

AB/FL AB/FL

VU LC

esquilo

Tl-Od/AV-Pg

AB/FL

LC

rato-silvestre rato-silvestre rato-fossorial rato-silvestre rato-silvestre rato-silvestre rato-silvestre rato-d’água rato-silvestre rato-silvestre rato-silvestre rato-silvestre

PF/LT PF/LT PF PF PF/LT PF PF/LT LT PF PF/LT PF/LT LT

FL FL FL FL FL FL FL FL FL FL FL FL

LC LC end/DD end/LC end/LC end/LC VU LC VU LC end/LC LC

preá

AV-Pg

AB

LC

capivara

AV-Pg

AB

LC

paca

AV-Pg

FL

NT

Ordem Xenarthra Dasypodidae Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758) Cabassous tatuoay (Desmarest, 1804) Bradypodidae Bradypus variegatus (Schinz, 1825) Ordem Primates Callithrichidae Callithrix aurita (É. Geoffroy, 1812) Ordem Carnivora Canidae Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Felidae Puma concolor (Linnaeus, 1771) Puma yagouaroundi (É. Geoffroy e Saint-Hilre,1803) Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) Família Procyonidae Nasua nasua (Linnaeus, 1766) Família Mustelidae Eira barbara (Linnaeus, 1766) Ordem Artiodactyla Cervidae Mazama americana (Erxleben, 1777) Mazama gouazoubira (Fisher, 1814) Ordem Rodentia Sciuridae Guerlinguetus ingrami (Thomas, 1901) Cricetidae Akodon sp.1 (Meyen, 1833) Akodon sp.2 (Meyen, 1833) Blarynomys breviceps (Winge, 1887) Bibimys labiosus (Winge, 1887) Brucepattersonius sp. (Herhkovitz, 1998) Delomys sp. (Thomas, 1917) Euryoryzomis cf. russatus (Wagner, 1848) Nectomys squamipes (Brants, 1827) Thaptomys nigrita (Lichtenstein, 1829) Olygoryzomys cf. nigripes (Olfers, 1818) Juliomys sp. (Gonzáles, 2000) Oecomys sp. Caviidae Cavia sp. Pallas, 1766 Hydrochaeridae Hydrochaeris hidrochaeris (Linnaeus, 1766) Cuniculidae Cuniculus paca (Linnaeus, 1758)

234


Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti

Tabela 1. (Continuação) Táxons Erethizontidae Sphigurus villosus (F. Cuvier, 1823) Ordem Lagomorphae Família Leporidae Sylvilagus brasiliensis (Linnaeus, 1758)

Método1

Nome Popular

Amb.2

Stat.3

ouriço

TL-Od,

FL

LC

tapiti

TL-Od/AV-Pg

AB/FL

LC

morcego morcego

AF LT

FL FL

LC LC

Ordem Chiroptera Phyllostomidae Artibeus litturatus (Olfers, 1818) Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758)

1. A nomenclatura e a classificação seguem: Bonivicino, Oliveira & D’Andrea (2008); Reis et al. (2006), Eisenberg & Redford (1999); Oliveira & Cassaro (1999); Emmons & Feer (1990); Becker & Dalponte (1991). Método: PF= armadilha de intercepção e queda (pitfall trap); LT= armadilha live trap; TL= transecto linear: Od= observação direta; AV= análise de vestígios: Pg= pegadas; Tc= tocas; F=fezes; Vc= vocalização; AP= armadilha de pegada; AF= armadilha fotográfica. 2. Ambientes: AB – áreas abertas, várzeas e lago; FL – áreas florestas secundárias. 3. Status- Categoria de Ameaça está de acordo com SMA (2009): EP - Em Perigo, VU-Vulnerável, PA – Provavelmente Ameaçado, NT – Quase Ameaçado, LC – Não Ameaçado; end=endêmico de Mata Atlântica.

De janeiro a junho, em armadilhas de intercepção e queda, e de abril a junho, em armadilhas live trap, foi obtido um esforço de 1.200 pitfalls-dia e 696 armadilhas-dia, respectivamente, com 200 capturas. O sucesso da ação correspondeu a 12,5% em pitfall trap e 7,18% em armadilhas live trap. O sucesso de captura foi de 24,5% em pitfall-dia e 14% em armadilhas live trap. A comunidade de pequenos mamíferos na Reserva Legal demonstrou maior riqueza e abundância de roedores (N=13; 79%) do que em marsupiais (N=7; 21%), como era esperado. As espécies dominantes foram: Akodon sp.1 (31,5%), Olygoryzomys cf. nigripes (15,5%) e Monodelphis americana (8,5%), o que equivale a 55,5% das capturas (Figura 1). Onze espécies (12,5%) foram raras, correspondendo individualmente a uma abundância menor que 3%. As espécies arborícolas, como Oecomys sp. e a maioria dos marsupiais (Micouerus paraguayanus, Gracilinanus agilis e G. microtarsus (Figura 2)) estão na categoria rara, porém a pequena amostragem em armadilhas live trap pode ter influenciado o resultado. Blarynomys breviceps (Figura 3), espécie essencialmente terrestre, foi rara durante o período de coleta, resultando em apenas uma captura em pitfall trap. As espécies terrestres: Marmosops incanus, Monodelphis sorex, Bibimys labiosus, Delomys sp. e Euryoryzomis cf. russatus também foram raras neste estudo. As demais espécies: Didelphis aurita, Akodon sp.2, Thaptomys nigrita, Brucepattersonius sp., Juliomys sp. e O. cf. nigripes foram consideradas intermediárias, com abundância entre 3% e 8% (Figura 1). As duas espécies de morcegos foram registradas por meio de captura em armadilha live trap (Carollia perspicillata, N=02) e em armadilha fotográfica (Artibeus sp., N=01).

Dos mamíferos de médio e grande porte foram registrados 18 espécies (Tabela 1). Dessas, quatro espécies foram registradas por meio de armadilha fotográfica: Dasypus novencinctus (Figura 4), Mazama gouazoubira, M. americana e Cerdocyon thous (Figura 5); sete por armadilha de pegadas: Dasypus novemcinctus, M. gouazoubira, Cerdocyon thous, Eira barbara, Nasua nasua, Leopardus tigrinus e Cuniculus paca; seis por observação direta em transectos lineares: Bradypus variegatus, M. gouazoubira, C. thous, Puma yaugoroundi, L. tigrinus e Callithrix aurita (Figura 6); e 14, pela análise de vestígios (Tabela 1). Mazama gouazoubira, L. tigrinus e C. thous foram constantemente registrados na área, principalmente por meio de rastros. No Brasil ocorrem oito espécies de felinos, das quais quatro foram identificadas para a Reserva Legal, indicando que a área exibe condições estruturais com recursos suficientes para manter essas espécies. Destacam-se também a ocorrência de 11 espécies ameaçadas de extinção, oito endêmicas de Mata Atlântica e 12 espécies ainda não registradas para a Serra do Itapeti. Cabe ressaltar ainda que a P. concolor (sussuarana) foi registrada somente no início do mês de julho de 2009. As observações foram feitas por meio de pegadas (Figura 7) e fezes devido à relevância de sua ocorrência na área, as observações foram incluídas nos resultados dessa fase do estudo. O primeiro registro de P. concolor para a Serra do Itapeti ocorreu em 2006 com um único rastro obtido por meio de armadilha de pegadas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello (L. Manzatti, com. pess.). A presença de P. concolor na Reserva Legal é, então, o segundo registro dessa espécie para a região, com provavelmente dois indivíduos que utilizam a área intensamente por 15 dias. 235


Rosana Martins; Marcelo R. F. Borges; Rodnei Iartelli e Giuseppe Puorto

De maneira geral, a Reserva Legal apresentou alta diversidade de espécies com grande abundância de indivíduos em suas populações, principalmente em pequenos mamíferos, demonstrando alta capacidade de sustentação confirmada pela presença de mamíferos de topo de cadeia.

Para a amostragem das aves silvestres foram realizadas coletas de dados que usaram os seguintes métodos: Observação direta e vocalização: foram anotadas todas as espécies observadas e/ou ouvidas. As observações foram realizadas por três dias consecutivos, todos os meses, percorrendo-se trilhas e caminhos já existentes e predeterminados na área, amostrando-se todos os ambientes que compõem a reserva.

Avifauna Apesar da fragmentação, a Mata Atlântica apresenta uma fauna rica e algumas espécies possuem ampla distribuição, podendo ser encontradas em outras regiões, como é o caso de alguns papagaios, corujas, gaviões e muitos outros. Porém, o que mais impressiona é a grande quantidade de espécies endêmicas (CAPOBIANCO, 2007). Conforme Sick (1997), as espécies endêmicas ou autóctones formam o núcleo das espécies residentes que, por razões históricas, têm sua ocorrência restrita, vivendo em um certo hábitat, no qual podem ser comuns. De acordo com Develey (2006), entre os diferentes grupos animais, as aves se destacam na Mata Atlântica. Das quase 1.800 espécies que ocorrem no Brasil, 1.020 podem ser encontradas no domínio desse bioma, e 188 são espécies endêmicas. No Estado de São Paulo, ocorrem cerca de 700 espécies de aves, representando aproximadamente 45% de toda a avifauna brasileira. Trata-se do grupo com maior número de espécies ameaçadas, com 163 espécies na lista estadual. As aves são vítimas de diversas ameaças, incluindo-se a destruição de seus hábitats, a caça para alimentação e para o uso de plumas em ornamentos, a captura e o aprisionamento de pássaros canoros e a exportação clandestina para suprir o mercado internacional de animais de estimação (SMA, 1998). Em relação ao número de espécies de aves ameaçadas de extinção, 112 encontram na Mata Atlântica seu último refúgio, dependendo da conservação desses remanescentes para a sobrevivência (DEVELEY, 2006). A avifauna tem sido amplamente utilizada como biomonitora de ambientes (BAILLIE, 1991; FURNESS et al., 1993). Vários países estão estabelecendo programas de monitoramento ambiental baseados em parâmetros ecológicos de comunidades de aves (GREENWOOD et al., 1993). Nesses programas, as aves desempenham papel fundamental, já que, entre os vertebrados, é o grupo com maior número de informações sobre sua ecologia, taxonomia e distribuição geográfica (POUGH et al., 1999).

Captura com redes de neblinas: foram utilizadas cinco redes de 12m, malha 36mm, abertas dois dias consecutivos por mês, verificadas a cada hora. As aves capturadas foram retidas em sacos de pano e, após serem identificadas, foram marcadas com uma anilha de alumínio numerada, fornecida pelo CEMAVE. Em seguida, os dados biométricos, ecológicos e fotográficos foram coletados e as aves, liberadas no mesmo local da captura. Para as análises foram utilizados: Índice de abundância (IA): corresponde ao número de indivíduos de cada espécie registrado em cada 100h de observação. Frequência de ocorrência (FO): corresponde ao número de campanhas em que determinada espécie foi observada em relação ao número de campanhas de observação. Taxa de captura (TC): corresponde ao número de indivíduos capturados a cada hora/rede de captura.

Resultados As amostragens foram realizadas entre dezembro de 2008 e maio de 2009, e foram empregadas 62h de observação e 240 horas/redes de capturas com redes de neblinas. Foram identificadas 106 espécies de aves, divididas em 35 famílias e 13 ordens (Tabela 2). Iartelli (veja capítulo 18) registrou 185 espécies na Serra do Itapeti (especialmente no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello) e, das 106 espécies do presente trabalho, 12 são novas para a Serra, aumentando-se assim a lista para 197 espécies de aves. Das espécies registradas, 21 são endêmicas de Mata Atlântica e cinco sofrem alguma ameaça de extinção; já Sporophila frontalis (pixoxó) é um táxon considerado “criticamente ameaçado” em São Paulo e consta na lista brasileira do IBAMA; Pyroderus scutatus (pavó) e Cathartes burrovianus (urubu-de-cabeça236


Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti

Tabela 2. Diversidade de aves da Reserva Legal da Pedreira Itapeti, localizada na Serra do Itapeti, no município de Mogi das Cruzes (SP). Táxons

Ambiente1

Nome popular

Status2

Tinamiformes Huxley, 1872 Tinamidae Gray, 1840 Crypturellus obsoletus Temminck, 1815 Crypturellus tataupa Temminck, 1815 Galliformes Linnaeus, 1758 Cracidae Rafinesque, 1815 Penelope obscura Temminck, 1815 Cathartiformes Seebohm, 1890 Cathartidae Lafresnaye, 1839 Coragyps atratus Bechstein, 1793 Cathartes burrovianus Cassin, 1845 Falconiformes Bonaparte, 1831 Accipitridae Vigors, 1824 Rupornis magnirostris Gmelin, 1788 Buteo albicaudatus Vieillot, 1816 Falconidae Leach, 1820 Micrastur ruficollis Vieillot, 1817 Caracara plancus Miller, 1777 Herpetotheres cachinnans Linnaeus, 1758 Columbiformes Latham, 1790 Columbidae Leach, 1820 Columbina talpacoti Temminck, 1811 Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 Leptotila rufaxilla Richard & Bernard, 1792 Patagioenas picazuro Temminck, 1813 Zenaida auriculata Des Murs, 1847 Geotrygon montana Linnaeus, 1758 Psittaciformes Wagler, 1830 Psittacidae Rafinesque, 1815 Pionus maximiliani Kuhl, 1820 Aratinga leucophthalma Statius Muller, 1776 Cuculiformes Wagler, 1830 Cuculidae Leach, 1820 Cuculinae Leach, 1820 Piaya cayana Linnaeus, 1766 Crotophaginae Swainson, 1837 Crotophaga ani Linnaeus, 1758 Strigiformes Wagler, 1830 Tytonidae Mathews, 1912 Tyto alba Scopoli, 1769 Caprimulgiformes Ridgway, 1881 Nyctibiidae Chenu & Des Murs, 1851 Nyctibius griseus Gmelin, 1789 Caprimulgidae Vigors, 1825 Nyctidromus albicollis Gmelin, 1789 Apodiformes Peters, 1940 Apodidae Olphe-Galliard, 1887 Chaetura meridionalis Hellmayr, 1907 Trochilidae Vigors, 1825 Phaethornithinae Jardine, 1833 Phaethornis eurynome Lesson, 1832 Trochilinae Vigors, 1825 Thalurania glaucopis Gmelin, 1788 Florisuga fusca Vieillot, 1817 Amazilia fimbriata Gmelin, 1788 Amazilia lactea Lesson, 1832 Chlorostilbon lucidus Shaw, 1812 Eupetomena macroura Gmelin, 1788

inhambu-guaçu inhambu-chintã

mata mata

LC LC

jacu-guaçu

mata

NT

urubu urubu-de-cabeça-amarela

euc/ea euc/mata/ea

LC VU

gavião-indaié gavião-do-rabo-branco

euc/mata/ea euc

LC LC

gavião-caburé carcará acauã

mata euc/ea mata

LC LC LC

rolinha juriti gemedeira asa-branca avoante pariri

euc mata mata mata/euc euc mata

LC LC LC ? LC LC

maitaca maracanã

mata ea

LC LC LC

alma-de-gato

mata/euc

anu-preto

mata/euc

suindara

LC LC

mata

urutau curiango

tapera

mata

LC

euc

LC

ea

LC

mata

end/LC

mata mata mata mata mata euc

end/LC LC LC LC LC LC

rabo-branco

beja-flor-fronte-violácea beija-flor-preto-e-branco beija-flor-verde beija-flor-de-garganta-verde besourinnho tesoura

237


Rosana Martins; Marcelo R. F. Borges; Rodnei Iartelli e Giuseppe Puorto

Tabela 2. (Continuação) Táxons

Nome popular

Ambiente

Status

Galbuliformes Fürbringer, 1888 Bucconidae Horsfield, 1821 Malacoptila striata Spix, 1824 Nystalus chacuru Vieillot, 1816

joão-bobo joão-bobo

mata euc

LC LC

Piciformes Meyer & Wolf, 1810 Ramphastidae Vigors, 1825 Ramphastos dicolorus Linnaeus, 1766

Tucano-do-bico-verde

mata

end/LC

pica-pau-do-campo pica-pau-verde pica-pau-cabeça-vermelha pica-pau-anão pica-pau-loiro pica-pau-branco

euc mata mata mata mata euc

LC LC LC LC LC LC

choca choca-olivacea papa-formiga-de-escamas olho-de-fogo

mata mata mata mata

LC LC end/LC end/LC

mata

LC

benterere joão-terere joão-botina aredio-pálido capitão-da-porcaria limpa-folha-de-olho-branco limpa-folha-de-cabeça-preta bico-virado-miúdo

mata euc mata mata mata mata mata mata

end/LC LC end/LC end/LC LC LC end/LC LC

arapaçu subideira

mata mata

end/LC LC

abre-asa-de-cabeça-cinza cabeçudo tororó teque-teque tiririzinho-do-mato

mata mata mata mata mata

end/LC LC LC end/LC end/LC

mosquiteiro-da-serra risadinha bico-chato patinho

mata mata/euc mata mata

end/NT LC LC LC

assanhadinho papa-mosca-pardo joão-gibão maria-preta-de-topete

mata mata euc euc

LC LC LC LC

bem-te-vi-bico-chato bem-te-vi suiriri

mata mata/euc euc

LC LC LC

caneleiro dançador-verde

mata mata

LC end/LC

tangará

mata

end/LC

pavó

mata

VU

Picidae Leach, 1820 Colaptes campestris Vieillot, 1818 Veniliornis spilogaster Wagler, 1827 Dryocopus lineatus Linnaeus, 1766 Picumnus cirratus Temminck, 1825 Celeus flavescens Gmelin, 1788 Melanerpes candidus Otto, 1796 Passeriformes Linné, 1758 Thamnophilidae Swainson, 1824 Thamnophilus caerulescens Vieillot, 1816 Dysithamnus mentalis Temminck, 1823 Myrmeciza squamosa Pelzeln, 1868 Pyriglena leucoptera Vieillot, 1818 Grallariidae Sclater & Salvin, 1873 Grallaria varia Boddaert, 1783 Furnariidae Gray, 1840 Synallaxis ruficapilla Vieillot, 1819 Synallaxis spixi Sclater, 1856 Phacellodomus erythrophthalmus Wied, 1821 Cranioleuca pallida Wied, 1831 Lochmias nematura Lichtenstein, 1823 Automolus leucophthalmus Wied, 1821 Philydor atricapillus Wied, 1821 Xenops minutus Sparrman, 1788 Dendrocolaptidae Gray, 1840 Xiphorhynchus fuscus Vieillot, 1818 Sittasomus griseicapillus Vieillot, 1818 Tyrannidae Vigors, 1825 Pipromorphinae Bonaparte, 1853 Mionectes rufiventris Cabanis, 1846 Leptopogon amaurocephalus Tschudi, 1846 Poecilotriccus plumbeiceps Lafresnaye, 1846 Todirostrum poliocephalum Wied, 1831 Hemitriccus orbitatus Wied, 1831 Elaeniinae Cabanis & Heine, 1856 Phylloscartes difficilis Ihering & Ihering, 1907 Camptostoma obsoletum Temminck, 1824 Tolmomyias sulphurescens Spix, 1825 Platyrinchus mystaceus Vieillot, 1818 Fluvicolinae Swainson, 1832 Myiobius barbatus Gmelin, 1789 Lathrotriccus euleri Cabanis, 1868 Hirundinea ferruginea Gmelin, 1788 Knipolegus lophotes Boie, 1828 Tyranninae Vigors, 1825 Megarynchus pitangua Linnaeus, 1766 Pitangus sulphuratus Linnaeus, 1766 Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 Tityridae Gray, 1840 Pachyramphus validus Lichtenstein, 1823 Schiffornis virescens Lafresnaye, 1838 Pipridae Rafinesque, 1815 Chiroxiphia caudata Shaw & Nodder, 1793 Cotingidae Bonaparte, 1849 Pyroderus scutatus Shaw, 1792

tovacuçu

238


Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti

Tabela 2. (Continuação) Táxons Hirundinidae Rafinesque, 1815 Pygochelidon cyanoleuca Vieillot, 1817 Troglodytidae Swainson, 1831 Troglodytes musculus Naumann, 1823 Turdidae Rafinesque, 1815 Turdus rufiventris Vieillot, 1818 Turdus amaurochalinus Cabanis, 1850 Turdus albicollis Vieillot, 1818 Turdus leucomelas Vieillot, 1818 Turdus flavipes Vieillot, 1818 Vireoniadae Swainson, 1837 Cyclarhis gujanensis Gmelin, 1789 Vireo olivaceus Linnaeus, 1766 Coerebidae d’Orbigny & Lafresnaye, 1838 Coereba flaveola Linnaeus, 1758 Parulidae Wetmore, Friedmann, Lincoln, Miller, Peters, van Rossem, Van Tyne & Zimmer 1947 Basileuterus culicivorus Deppe, 1830 Basileuterus leucoblepharus Vieillot, 1817 Thraupidae Cabanis, 1847 Thraupis sayaca Linnaeus, 1766 Thraupis palmarum Wied, 1823 Tachyphonus coronatus Vieillot, 1822 Pipraeidea melanonota Vieillot, 1819 Tangara cayana Linnaeus, 1766 Tangara cyanoventris Vieillot, 1819 Dacnis cayana Linnaeus, 1766 Habia rubica Vieillot, 1817 Trichothraupis melanops Vieillot, 1818 Conirostrum speciosum Temminck, 1824 Ramphocelus bresilius Linnaeus, 1766 Piranga flava Vieillot, 1822 Emberezidae Vigors, 1825 Zonotrichia capensis Statius Muller, 1776 Sporophila caerulescens Vieillot, 1823 Sporophila frontalis Verreaux, 1869 Haplospiza unicolor Cabanis, 1851 Volatinia jacarina Linnaeus, 1766 Cardinalidae Ridgway, 1901 Saltator similis d’Orbigny & Lafresnaye, 1837 Fringillidae Leach, 1820 Carduelis magellanica Vieillot, 1805 Euphonia pectoralis Latham, 1801 Euphonia chlorotica Linnaeus, 1766

Nome popular

Ambiente

Status

andorinha-azul-e-branca

ea

LC

corruíra

euc

LC

sabiá-laranjeira sabiá-poca sabiá-coleira sabiá-barranco sabiá-una

mata/euc mata mata mata mata

LC LC LC LC LC

pitiguari juruviara

mata/euc mata

LC LC

cambacica

mata/euc

LC

mariquita pula-pula-assobiador

mata/euc mata

LC LC

sanhaço sanhaço-do-coqueiro tié-preto saíra-viúva saíra-amarela saíra-dourada saí-azul tié-da-mata tié-de-topete figurinha tiê-sangue sanaço-de-fogo

euc euc mata mata mata/euc mata mata/euc mata mata euc euc euc

LC LC end/LC LC LC end/LC LC LC LC LC end/LC LC

tico-tico coleirinha pixoxó catatau tiziu

euc euc mata mata euc

LC LC CR LC end/LC

picharro

mata

LC

pintassilgo gaturano-serrador vivi

euc mata mata

LC end/LC LC

1. Ambiente: Mata= Floresta Ombrófila; Euc= Eucalipto; EA= registrado em espaço aéreo. 2. Status- Categoria de Ameaça está de acordo com São Paulo (2009): EP - Em Perigo, VU-Vulnerável, PA – Provavelmente Ameaçado, NT – Quase Ameaçado, LC – Não Ameaçado; end=endêmico de Mata Atlântica.

-amarela) são considerados “vulnerável” de extinção em São Paulo, Penelope obscura (jacu) e Phylloscartes difficilis (mosquiteiro-da-serra) constam na categoria de “quase ameaçado” em São Paulo. Analisando-se os índices de abundâncias (IA) constatou-se que as espécies mais recorrentes foram: Basileuterus culicivorus (mariquita, Figura 8) com IA de 74,1, seguida por Chiroxiphia caudata (tangará, Figura 9) com IA de 56,4, Chaetura meridionalis (tapera) com IA de 51,6, Pygochelidon cyanoleuca (andorinha-azul-e-branca) com IA de

48,4, Zonotrichia capensis (tico-tico) com IA de 45,2, e Haplospiza unicolor (catatau, Figura 10) com IA de 40,3. Já 13 espécies foram registradas apenas uma única vez e apresentaram índice de abundância de 1,6; entre elas Philydor atricapillus (limpa-folha-de-cabeça-preta), Lochmias nematura (capitão-da-porcaria), Amazilia fimbriata (beijaflor-verde) e Geotrygon montana (pariri). Baseando-se em Almeida et al. (1999), constata-se que espécies com frequência de ocorrência acima de 75% são residentes do local. Já espécies com fre239


Rosana Martins; Marcelo R. F. Borges; Rodnei Iartelli e Giuseppe Puorto

quência de ocorrência abaixo de 25%, ou com apenas um registro de ocorrência, podem ter densidade populacional baixa, são migratórias ou permanecem pouco tempo no local (vagantes), ocupando ocasionalmente a área. Segundo Aleixo & Vielliard (1995), podem ainda ser espécies de vocalização e/ou visualização pouco conspícuas, o que torna difícil sua identificação. Apesar do período muito curto para se determinar a frequência de ocorrência no presente trabalho, constatou-se que 35 espécies apresentaram esse índice acima de 75% e 26 espécies tiveram frequência de ocorrência abaixo de 25% (Figura 14). Verificando-se a utilização do hábitat, 67 espécies foram registradas na mata, 23 no eucalipto, dez na mata e no eucalipto, três no espaço aéreo, dois no eucalipto e no espaço aéreo, e apenas uma na mata, no eucalipto e no espaço aéreo. Ocorreu uma sazonalidade no registro de espécies durante os meses de estudos: março de 2009 foi o mês com maior número de registros, com a identificação de 76 espécies. Já no mês de maio do mesmo ano houve o menor numero de registros, sendo catalogadas apenas 45 espécies (Figura 15). Foram capturados 28 indivíduos de 17 espécies diferentes em 240 horas/redes, com uma taxa de captura de 0,12, o que é bem próximo da taxa de captura registrada por Iartelli (veja capítulo 18) no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Ocorreu apenas uma recaptura de um individuo de Thalurania glaucopis (beija-flor-de-fronte-violácea) (Figura 11), capturado em abril e recapturado em maio no mesmo local. Duas espécies foram registradas por camera trap: Grallaria varia (tovacuçu, Figura 12) e Caracara plancus (carcará, Figura 13).

Quanto aos répteis, ocorrem no Brasil 705 espécies, sendo 371 espécies de serpentes (SBH, 2009) e 134 espécies distribuídas ao longo da Mata Atlântica (RODRIGUES, 2005). No Estado de São Paulo, ocorrem 40% das espécies de répteis conhecidas para o Brasil, o que corresponde a 3% da diversidade mundial do grupo. A elevada riqueza de répteis no Estado de São Paulo se deve à grande diversidade de ambientes e, para muitas espécies, a sua distribuição vai até os limites do estado. Além disso, algumas espécies são endêmicas do Estado de São Paulo e várias apresentam sérios riscos de extinção, principalmente em consequência da destruição de seu hábitat (MARQUES et al., 1998). Quanto aos lagartos, a Mata Atlântica é um dos mais ricos biomas da América do Sul, sendo esse grupo um dos mais especiosos da herpetofauna (CARVALHO & ARAUJO, 2004). Apesar de muito rica em diversidade, a herpetofauna do Estado de São Paulo é pouco amostrada. Portanto, levantamentos e inventariamentos da herpetofauna são de suma importância para a ampliação da área de ocorrência das espécies e até mesmo para o registro de novas outras (VERDADE & RODRIGUES, 2003). A conservação da herpetofauna da Mata Atlântica, assim como a de outros grupos, depende da manutenção dos fragmentos do ecossistema e da interconexão entre eles. Dessa forma, poderá haver o fluxo gênico necessário à continuidade da diversidade genética das comunidades. Assim, a conservação desse importante grupo de animais requer não só a criação de um maior número de unidades de conservação, mas também ações de planejamento do uso do solo e medidas de manejo das populações (HADDAD et al., 2008). O inventário da herpetofauna foi realizado, usando-se quatro metodologias de amostragem:

Herpetofauna Os estudos que abordam a composição e a organização da fauna neotropical de répteis e anfíbios têm aumentado nos últimos anos, pois são fundamentais para o conhecimento, manejo e planejamento de ações que visem à conservação da biodiversidade nacional (MEZZETTI et al., 2007). No mundo, são conhecidas cerca de 5.350 espécies de anfíbios anuros. No Brasil, país com maior diversidade do grupo, vivem aproximadamente 760 espécies. A Mata Atlântica abriga mais de 400 espécies de anfíbios anuros e a maior riqueza ocorre nos ambientes de florestas úmidas (HADDAD et al., 2008).

Procura visual ou observação direta (OD): consistiu em caminhadas lentas por trilhas e áreas próximas, tanto no período diurno como noturno, com o uso de lanternas e gancho (CAMPBELL & CHRISTMAN, 1982; MARTINS & OLIVEIRA, 1999). A procura foi feita em todos os micro-hábitats visualmente acessíveis, incluídos buracos, tocas, vegetação, sob pedras e troncos. Procura auditiva ou vocalização (VC): com auxílio de lanternas e gravador digital, foram realizadas procuras por anfíbios anuros vocalizando próximo a cursos d´água, no início do período 240


Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti

crepuscular (CORN, 1994; GERHARDT, 1994; HEYER et al., 1994).

de 2009, totalizando-se um esforço de 30 dias de trabalho. O inventário da herpetofauna na Reserva Legal da Pedreira Itapeti resultou na identificação de 12 espécies de répteis, incluídas em quatro famílias, 12 gêneros (Tabela 3) e 25 espécies de anfíbios, pertencentes a nove famílias e 15 gêneros (Tabela 4). Os registros de répteis são inéditos para a Serra do Itapeti. Entretanto, 14 dos anfíbios identificados na Reserva Legal já haviam sido registrados para a Serra do Itapeti (GARCIA et al., veja capítulo 17). A maior frequência mensal da herpetofauna ocorreu no período chuvoso-quente, com pico em fevereiro, em que o maior número de espécies e de indivíduos foram registrados (Figura 16). Consequentemente, no decorrer das campanhas, observou-se uma diminuição dos indivíduos e das espécies amostradas, o que era esperado. De acordo com outros trabalhos realizados na região do Domínio Mata Atlântica (GIARETTA et al., 1997 e 1999; HADDAD et al., 2008), do período quente para o mais frio, esses animais, por serem ectotérmicos, procuram refúgios com micro-hábitat menos propensos a variações térmicas, o que dificulta seu encontro.

Encontros ocasionais ou procura aleatória (PA): consistiu do aproveitamento de animais encontrados mortos (EM) e encontro de espécies vivas em estradas durante os trajetos entre os pontos amostrais ou durante outras atividades (DUELMAN, 1978; DIXON & SOINI, 1986; HEYER et al., 1994; MARTINS, 1994). Armadilha de interceptação e queda, pitfall trap (PF): esta técnica foi utilizada conjuntamente para a captura de pequenos mamíferos, conforme descrito anteriormente. Após o registro fotográfico e respectivas anotações referentes aos espécimes, os mesmos foram soltos no local do encontro. Foram coletados e preservados somente os indivíduos que não puderam ser identificados no local ou os encontrados mortos.

Resultados Neste estudo, foram realizadas seis campanhas de cinco dias consecutivos, entre janeiro e junho

Tabela 3. Diversidade de répteis da Reserva Legal da Pedreira Itapeti, localizada na Serra do Itapeti, no município de Mogi das Cruzes (SP). Táxons

Nome popular

Método1

Status3

Ambiente2

Ordem Squamata Família Amphisbaenidae Amphisbaenia sp.

anfisbenia

PA

AC

LC

Bothrops jararaca

jararaca

Od/PA/PF

FL

LC

Crotalus durissus terrificus

cascavel

PA/EM

AB

LC

cobra-cipó

Od

AC

LC

Família Viperidae

Família Colubridae Chironius bicarinatus Echinanthera affinis

--

PF

FL

LC

Echinanthera melanostigma

--

PF

FL

LC

Liophis miliaris

cobra-d’água

Od/PA

AB

LC

Oxyrhopus guibei

coral-falsa

PF

AB

LC

Spilotes pullatus

caninana

OD

FL

LC

Thamnodynastes strigatus

corredeira

PA/EM

AB

LC

Tropidodryas striaticeps

cobra-cipó

OD/PA

FL

LC

Xenodon neuwiedii

quiriripitá

PA/PF

FL

LC

papa-vento

Od/PF

FL

LC

Família Leiosauridae Enyalius iheringii

1. Método: Od= observação direta; Vc= vocalizações; PA= procura aleatória; EM= encontrados mortos; PF= armadilhas de intercepção e queda “pitfall trap”, 2. Ambientes: AB – áreas abertas, várzeas e lagos; FL – áreas florestadas; AC= áreas com plantio Eucalyptus sp. 3. Status- Categoria de Ameaça segue SMA (2009): EP - Em Perigo, VU-Vulnerável, PA – Provavelmente Ameaçado, NT – Quase Ameaçado, LC – Não Ameaçado.

241


Rosana Martins; Marcelo R. F. Borges; Rodnei Iartelli e Giuseppe Puorto

Tabela 4. Diversidade de anfíbios da Reserva Legal da Pedreira Itapeti, localizada na Serra do Itapeti, no município de Mogi das Cruzes (SP). Táxons

Nome popular

Método1

Ambiente2

Status3

AB/FL

LC

Brachycephalus ephippium

sapinho-pingo-de-ouro

Od

Ischnocnema guentheri

rã-do-folhiço

Od/Vc/PF

AB/FL

LC

Rhinella icterica

sapo-cururu

Od/PA

AB/FL/AC

LC

Rhinella ornata

sapo-cururuzinho

Od/PA/VC

AB/FL

LC

Centrolenidae

Hyalinobatrachium uranoscopum

rã-de-vidro

Craugastoridae

Haddadus binotatus

rã-do-folhiço

Od/PA/PF

AB/FL

LC

Proceratophrys boiei

sapo-de-chifres

Od/PA

AB/FL

LC

Proceratophrys appendiculata

sapo-de-chifres

Od/PA

AB/FL

LC

Brachycephalidae Bufonidae

Cycloramphidae

Hylidae

Hylodidae

Leiuperidae

Leptodactylidae

LC

Aplastodiscus albosignatus

perereca-flautinha

VC

FL/AC

LC

Aplastodiscus arildae

perereca

VC

FL/AC

LC

Aplastodiscus leucopygius

perereca-verde

VC

FL

LC

Bokermannohyla luctuosa

perereca-da-mata

Od

FL

LC

Dendropsophus werneri

pererequinha-do-brejo

Od

FL

LC

Hypsiboas faber

sapo-martelo

Od/PA

AB

LC

Hypsiboas prasinus

perereca

VC

AB

LC

Scinax argyreornatus

pererequinha-de-bromélia

VC

FL

LC

Scinax euridice

perereca

VC

FL

LC

Scinax fuscomarginatus

pererequinha-do-brejo

Od

FL

LC

Scinax perereca

perereca-de-banheiro

Od

AB

LC

Crossodactylus caramaschii

rãzinha-do-riacho

Od

AB

LC

Hylodes sazimai

rã-de-banheiro

Od

AB

LC

Physalaemus barrioi

rãzinha-da-serra

Od

AB

NT

Physalaemus maculiventris

rãzinha-de-barrigamanchada

Od

AB/FL

LC

Physalaemus olfersii

rãnzinha-rangedora

Od

FL

LC

Leptodactylus ocellatus

rã-manteiga

Od

AB

LC

1. Método: Od= observação direta; Vc= vocalizações; PA= procura aleatória; EM= encontrados mortos; PF= armadilhas de intercepção e queda pitfall trap 2. Ambientes: AB – áreas abertas, várzeas e lagos; FL – áreas florestadas; AC= áreas com plantio Eucalyptus sp. 3. Status- Categoria de Ameaça está de acordo com SMA (2009) (Decreto N. 53.494): EP - Em Perigo, VU-Vulnerável, PA – Provavelmente Ameaçado, NT – Quase Ameaçado, LC – Não Ameaçado.

das as campanhas, principalmente nos período chuvoso-quente. Registrou-se uma espécie da família Craugastoridae representada por Haddadus binotatus, que juntamente com I. guentheri apareceram durante toda a fase de estudo, mesmo no período seco-frio. Essa espécie apresenta ampla distribuição em áreas de Mata Atlântica do sudeste do Brasil (FROST, 2009). Procerathophrys boiei (Figura 18) foi encontrado apenas nos meses de janeiro e fevereiro, semelhante aos dados obtidos por Giaretta et al. (1999). Esses autores estudaram anfíbios ocorrentes em área do Domínio Morfoclimático da Mata Atlântica com altitude similar ao encontrado na região da Serra do Itapeti e sugerem a diferenciação de espécies conforme a variação altitudinal (GIARETTA et al., 1997).

Entre os anfíbios, a maior abundância ocorreu com a espécie Rhinella ornatus (N=70), da família Bufonidae, e com duas espécies da família Brachycephalidae: Ischnocnema guentheri (N=68) e Brachycephalus ephippium (N=36). Durante todo o período de estudo, R. ornatus foi coletada e observada, além de vocalizações serem constatadas em maio e junho. Apesar de possuir ampla distribuição (FROST, 2009), R. icterica teve menor representatividade no local amostrado, com apenas 16 indivíduos registrados. Ischnocnema guentheri foi coletada e observada em todas as estações, sendo uma das espécies mais frequentes em pitfall úmido (originalmente utilizados para aracnofauna), observação direta, procura aleatória e vocalização. Espécimes de B. ephippium (Figura 17) foram encontrados em to242


Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti

Os anfíbios anuros arborícolas, encontrados em abundância na área, foram Hypsiboas prasinus e H. faber, cujas vocalizações foram registradas nos quatro primeiros meses de trabalho. Nos córregos, foram identificadas duas espécies de hylodideos: Crossodactylus caramashii e Hylodes sazimai, de janeiro a maio. É importante ressaltar que este é o primeiro registro de ocorrência de C. caramaschii para a região. É provável ainda que o único indivíduo de Amphisbaenia coletado na Reserva corresponda a uma espécie ainda não descrita. Entretanto, mais indivíduos dessa espécie deverão ser coletados para análise e confirmação. Entre os répteis, apenas a família de lagartos Leiosauridae com um único representante Enyalius iheringii (Figura 19) foi registrada. Essa espécie foi mais abundante no período chuvoso-quente (janeiro a março), com predominância de fêmeas. Apesar de possuírem hábitos arborícolas, a espécie foi capturada principamente em armadilhas de queda instaladas em áreas florestadas, corroborando os resultados de Bertolotto (2008). As serpentes encontradas na área estão de acordo com as espécies registradas para o bioma e, principalmente, para a região (FRANCO et al., 2002). Das 13 espécies registradas na Reserva Legal, 11 eram esperadas para a região. Essas serpentes pertencentes a duas famílias: Viperidae, com duas espécies e Colubridae, com nove. Oxyrhopus guibei (Colubridae) foi considerada espécie invasora, ocorrendo naturalmente em ambientes de cerrado. No entanto, nos últimos anos, O. guibei tem sido apresentada em listas de ofiofauna em regiões de Mata Atlântica (FRANCO et al., 2002), muito provavelmente em consequência de alterações ambientais. O colubrídeo Xenodon neuwiedii foi encontrado com frequência e registrado em quatro campanhas. Duas outras espécies pertencentes à família Colubridae foram: Thamnodynastes strigatus (Figura 20), um indivíduo capturado no córrego dentro da reserva e outro indivíduo atropelado em área próxima; e, Tropidodryas striaticeps, dois indivíduos identificados no entorno da Reserva. Da família Viperidae, duas espécies de interesse em saúde foram registradas na área de amostragem: Bothrops jararaca (Figura 21), de ocorrência natural na Mata Atlântica, e Crotalus durissus terrificus (Figura 22), encontrada na Reserva e em áreas próximas. A última é típica de locais abertos e, eventualmente, aparece em ambientes florestados modificados por ação antrópica.

Apesar do curto período de estudo, pode-se considerar uma alta diversidade da herpetofauna na Reserva Legal. Essa área, apesar de pequena se comparada às outras maiores, mostra-se relativamente bem preservada e importante para registro regional de espécies. Entre as espécies encontradas na Reserva, apenas o anfíbio Physalaemus barrioi (rãzinha-da-serra) está citado na Lista da Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo (SMA, 2009).

Aracno e Miriapodofauna A proteção da biodiversidade continua sendo uma das questões mais importantes deste século. Entretanto, o conhecimento disponível sobre a diversidade biológica nos ecossistemas, tanto na taxonomia quanto sobre a distribuição geográfica e dinâmica das comunidades, é extremamente escasso (HAWKSWORTH, 1995). O conhecimento taxonômico dos aracnídeos ainda é pequeno, porém esses animais são abundantes em todos os biomas e relativamente fáceis de serem coletados (veja capítulo 13), que facilita os estudos (SANTOS et al., 2007). Na classe Arachnida estão incluídas 11 ordens, das quais Acari, Araneae e Opiliones são as mais abundantes e com maior diversidade na região neotropical. Outras ordens: Amblypygi, Uropygi, Solifugae, Palpigradi, Schizomida e Ricinulei estão representadas por poucas espécies na região Neotropical. A ordem Pseudoscorpiones possui cerca de 3.000 espécies descritas em 24 famílias (HARVEY, 1992), porém são pouco coletadas em inventários. Araneae é a segunda maior ordem entre os aracnídeos com 41.253 espécies descritas em 109 famílias (PLATNICK, 2010). São artrópodes com grande plasticidade que se adaptam a praticamente todos os ambientes naturais (TURNBULL, 1973). A subordem Opisthothelae está dividida em duas infraordens: Araneomorphae, com 93% das espécies descritas em 94 famílias (PLATNICK, 2010) e Mygalomorphae, com 15 famílias (RAVEN, 1985). No Brasil existem 4.000 espécies de aranhas e, entre elas, 700 ocorrem no Estado de São Paulo (BRESCOVIT, 1999). A ordem Scorpiones está representada por cerca de 1.600 espécies descritas em 14 famílias (FET et al., 2000). Destas 100 espécies em cinco famílias ocorrem no Brasil (LOURENÇO, 2002; SOLEGLAD & FET, 2003). Opiliones estão representados por cerca de 5.500 espécies (KURY, 2003) e são muito mais abundantes e diversificados nas florestas úmidas que nas 243


Rosana Martins; Marcelo R. F. Borges; Rodnei Iartelli e Giuseppe Puorto

formações vegetais mais secas e abertas (PINTO-DA-ROCHA, 1999). No Brasil, ocorrem cerca de 1000 espécies, sendo que 300 ocorrem no Estado de São Paulo (PINTO-DA-ROCHA, 1999). Os miriápodes, conhecidos por piolhos-de-cobra ou diplópodes (Diplopoda), e lacraias ou centopeias (Chilopoda) ocorrem em regiões tropicais, subtropicais e temperadas. Os diplópodes estão representados por 8.000 espécies (HOFFMAN et al., 1996). No Brasil, os táxons não estão bem definidos, porém são conhecidas 20 famílias (HOFFMAN et al., 1996). Entre os quilópodes, são conhecidas 2.500 espécies (NEGREA & MINELLI, 1995), sendo que 150 ocorrem no Brasil (KNYSAK & MARTINS, 1999). Neste estudo, o uso de diferentes métodos permitiu uma estimativa quantitativa e qualitativa das espécies de aracnídeos e miriápodes existentes na região. As amostras foram obtidas, usando-se os seguintes métodos: •

tidos vivos, acondicionando-os em frascos com tampa perfurada.

Resultados Entre dezembro de 2008 e junho de 2009 o esforço de captura foi de 35 dias/coleta, resultando em 2.531 espécimes pertencentes a dois grupos zoológicos: Arachnida (95%) e Myriapoda (5%). Da classe Arachnida foi obtido um total de 2.410 espécimes das seguintes ordens: Acari (N=71), Araneae (N=2.096), Opiliones (N=235), Scorpiones (N=1) e Pseudoescorpiones (N=7). A frequência de indivíduos de cada grupo taxonômico (Figura 23) foi maior em fevereiro, março e maio/2009, que corresponderam às campanhas em que o clima foi mais seco. A classe Araneae foi representada por 94% de Araneomorphae e 6% de Mygalomorphae. Dentre as Araneomorphae (Figuras 24 e 25) foram identificadas 33 famílias (Tabela 5), sendo as mais abundantes Theridiidae (22%), Araneidae (16%) e Salticidae (13%). Já entre as Mygalomorphae foram identificadas quatro famílias (Tabela 5), cuja espécie mais abundante foi Homoeomma montanum (Figura 26), com 33,5% dos indivíduos capturados deste grupo. De forma geral, obteve-se um número expressivo de indivíduos de algumas famílias, as quais muitas vezes se repetem mesmo em localidades diferentes. Essas famílias são representadas por grande número de táxons, o que torna a identificação específica mais difícil, pois nem sempre há literatura disponível sobre o assunto, nem aracnólogos especializados na identificação dos mesmos. Poucos epécimes foram coletados da ordem Pseudoescorpiones e Scorpiones. Técnicas direcionadas à captura desses animais são necessárias, pois costumam se refugiar em locais de pouco acesso, o que dificulta o seu encontro. Um único escorpião da família Buthidae (Ananteris sp.) foi coletado em armadilha de queda (Tabela 5). Os opiliões apresentam atividade no período diurno e/ou noturno e foram comumente encontrados na Reserva Legal, representados pelas famílias Gonyleptidae e Sclerosomatidae (Tabela 5 e Figura 27). Entre os miriápodes foram coletados 121 espécimes, sendo 12 pertencentes aos Chilopoda e 109 aos Diplopoda. Os diplópodos, representados pelas ordens Juliformia e Polidesmida (Tabela 5 e Figura 28), foram mais abundantes, quando coletados aleatóriamente. Apenas quatro espécies de lacraias

Armadilhas de queda pitfall trap (PF): foram instaladas 30 armadilhas de recipiente plástico (15 x 20cm), protegidas por um suporte apoiado num tripé, que continha líquido conservante. Essas armadilhas foram dispostas em transectos paralelos equidistantes 2m. Extrator de Winkler (EW): foi coletado o folhiço contido em uma área de 1m2 e colocado sobre uma peneira, onde as folhas foram separadas preliminarmente do material. O conteúdo foi, então, depositado em saco de tecido vazado dentro de uma armação, também de tecido, em forma de funil. Um recipiente plástico que continha líquido conservante (etanol 80%) foi preso na base inferior da armação. Batedor de vegetação (BV): essa técnica permite coletar aracnídeos sistematicamente por meio de uma armação de madeira em forma de X com aproximadamente 1m2 coberto com tecido de cor branca. O batedor é colocado sob arbustos e/ ou vegetação herbácea, que são agitados com um bastão de madeira para que os animais sejam derrubados de seus abrigos, sobre o tecido. Em seguida, são coletados com auxílio de tubos de vidro e transferidos para um frasco com etanol 70%. Coleta aleatória diurna e noturna (CA): os animais são coletados com auxílio de pinças, potes plásticos e lanterna, explorando-se seus refúgios, como exemplo: sob troncos caídos, em teias e em folhagens. Os animais coletados são transferidos para frascos que contêm etanol a 70% ou man244


Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti

foram registradas, as quais foram capturadas por coleta aleatória e por armadilha de queda (Tabela 5 e Figura 29). O número reduzido, tanto de espécies como de espécimes, demonstra a necessidade de se utilizar técnicas direcionadas à coleta deste grupo e com maior esforço amostral. Inventários sobre aracnídeos e miriápodes são de suma importância para o conhecimento dessa

fauna e de sua distribuição. No entanto, a maior dificuldade está na identificação dos espécimes coletados, pela ausência de estudos taxonômicos. Apesar de coletas intensivas terem sido realizadas em áreas de Mata Atlântica, muitas delas não possuem registros sobre a fauna de aracnídeos e miriápodes ou, quando os têm, são raros e esparsos, como é o caso da região estudada.

Tabela 5. Diversidade de aracnídeos e miriápodes da Reserva Legal da Pedreira Itapeti, localizada na Serra do Itapeti, no município de Mogi das Cruzes (SP). Classificação Classe

Ordem

Família

Espécie

Acari

ácaro, carrapato

Método PF, BV

Amaurobiidae

sp.1

aranha

PF

Anyphaenidae

sp.1

aranha

BV

Alpaida sp.1 Alpaida sp.2 Alpaida sp.3

aranha aranha aranha

BV, CA BV, CA BV, CA

Araneus sp. Argiope argentata (Fabricius, 1775) Ciclosa sp. Eustala sp. Gastheracantha cancriformis (Linnaeus, 1758) Micrathena sp. Parawixia sp. Verrucosa sp. Castianeira sp. Corinna capito (Lucas, 1856) Corinna sp. Paradiestus cf. giganteus (Karsch, 1880) Xeropigo sp. sp. 1 Ancylometes sp. Ctenus medius (Keyserling, 1891) Ctenus ornatus (Keyserling, 1891) Isoctenus sp. Nothroctenus sp. Phoneutria nigriventer (Keyserling, 1891) Acanthocteninae (subfamília)

aranha

CA

aranha-prata aranha aranha

CA CA, BV BV

aranha aranha aranha aranha aranha aranha aranha

CA, BV CA CA, BV CA PF CA PF, CA

aranha aranha aranha aranha

CA CA PF, CA CA

aranha

CA

aranha aranha aranha

CA, PF PF CA

aranha-armadeira aranha

CA PF

Araneidae

Corinnidae

Arachnida

Nome Popular

Araneae, Araneomorphae Ctenidae

Deinopidae

Deinops sp.

aranha

CA

Fislistatidae

sp.1

aranha

PF

Gnaphosidae

sp.1

aranha

PF

sp.1 sp.2 Ypipuera crucifera (Vellard, 1924) sp.1 sp.2 sp.3 sp.4 Lycosa erythrognatha Lucas, 1836 Hogna sp. sp.1 sp.2

aranha aranha

PF, EW PF, EW

aranha

CA

aranha aranha aranha aranha

PF PF PF PF

aranha-de-grama aranha aranha aranha

CA CA, PF PF PF

Hahniidae Hersiliidae

Linyphiidae

Lycosidae

245


Rosana Martins; Marcelo R. F. Borges; Rodnei Iartelli e Giuseppe Puorto

Tabela 5. (Continuação) Classificação Classe

Ordem

Família

Araneae, Mygalomorphae

sp.1

aranha

CA

sp.1

aranha

CA

aranha-de-teia

CA

aranha aranha

PF PF CA, PF

Nephila clavipes (Linnaeus, 1767) Neoxyphinus sp. Orchestina sp.

Oxyopidae

Oxyopes sp.

aranha

Philodromidae

sp.1

aranha

Pholcidae

Mesabolivar sp. Metagonia sp. sp.1

aranha treme-treme aranha treme-treme aranha treme-treme

Pisauridae

sp.1

aranha

CA

Salticidae

sp.1 sp.2 sp.3 sp.4

aranha papa-mosca

BV, PF BV, PF BV, PF PF

Scytodidae

Scytodes sp.

aranha-cuspideira

BV, CA

Segestriidae

Ariadna sp.

aranha

CA, PF

Selenopidae

Selenops sp.

aranha

CA

Sparassidae

Olios sp. Polybetes sp.

aranha aranha

CA CA

Tetragnathidae

Leucauge spp.

aranha

PF

Theridiidae

Achaearanea sp. Argyrodes sp. Crysso sp. Steatoda sp. Theridion sp. sp.1 sp.2 sp.3 sp.4 sp.5 sp.6

aranha aranha aranha aranha aranha aranha aranha aranha aranha aranha aranha

CA BV PF CA, PF PF PF BV, BV BV BV BV

Theridiosomatidae

sp.1

aranha

PF

Família Thomisidae

Epicadus heterogaster (Guérin, 1829) aranha-caranguejo Misumenops sp. aranha Tmarus sp. aranha

CA CA, PF PF

Trechaleidae

Trechalea sp.

aranha

CA

Uloboridae

sp.1

aranha

PF

Zodariidae

sp.1

aranha

PF

Zoridae

sp.1

aranha

PF

Dipluridae

Diplura sp.

aranha-de-funil

PF, CA

Dipluridae

Trechona rufa Vellard, 1924

caranguejeira

CA

Idiopidae

Idiops sp.1 Idiops sp.2

aranha-alçapão aranha-alçapão

PF, CA PF

Prorachias sp.

aranha-buraqueira

PF, CA

Rachias sp.

aranha-buraqueira

PF, CA

Stenoteromata sp.

aranha-caranguejeira

PF, CA

aranha-caranguejeira

PF, CA

aranha-caranguejeira

PF, CA

opilião, aranha-bode

PF, CA PF, CA

Nemesiidae

Theraphosidae

Opiliones

Método

Miturgidae

Oonopidae

Arachnida

Nome Popular

Mimetidae

Nephilidae

Araneae, Araneomorphae

Espécie

Homoeomma brasilianum (Chamberlin, 1917) Homoeomma montanum (Mello-Leitão, 1923)

Gonyleptidae Sclerosomatidae

246

CA, BV CA, BV CA, PF


Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti

Tabela 5. (Continuação) Classificação Classe Arachnida

Diplopoda

Ordem

Família

Pseudoescorpiones

Método

falso-escorpião

PF

escorpião

PF

Juliformia

diplópodo, gôngolo

PF, CA

Polidesmida

diplópodo, gôngolo

PF, CA

lacraia

PF

lacraia

PF

lacraia

CA

lacraia

CA

Scorpiones

Geophilomorpha

Buthidae

Scolopendromorpha

Ananteris sp.

Schendilidae Cryptopidae

Chilopoda

Nome Popular

Espécie

Scolopendridae Scolopendropidae

Cryptops iheringi Brölemann, 1902 Otostigmus scabricauda Humbert & Saussure, 1870 Scolopocryptops sp.

1. Método: PF= armadilhas de queda pitfall trap; EW= extrator de winkler; BV= batedor de vegetação; CA= coleta aleatória diurna/noturna.

Considerações finais

Agradecimentos

Considerando-se o isolamento do maciço florestal estudado e a inevitável pressão urbana, entende-se que a Reserva Legal da Pedreira Itapeti tem importância fundamental para a conservação da biodiversidade na Serra do Itapeti. A Reserva, somada à Estação Ecológica de Itapeti, compreende cerca de 200ha de área preservada. Entretanto, a maior preocupação é a fragmentação da vegetação nessa região. Tal fato exige que estudos relacionados à formação de corredores ecológicos seja prioridade, a fim de se minimizar os impactos. Apesar de raras no Brasil, iniciativas como a da Embu S.A. Engenharia e Comércio devem ser incentivadas para a criação de áreas que serão plenamente protegidas, permitindo-se a sobrevivência nos remanescentes.

Agradecemos ao Hércio Akimoto da MGA – Mineração e Geologia Aplicada e sua equipe pelo constante apoio durante todo o período de estudo. Ao Fabio Luna de Camargo Barros da Embu S.A. Engenharia e Comércio pela idealização do projeto. Ao Marcio Gonçales pelo apoio logístico na área de estudo. Aos assistentes de campo Eduardo Morell, Tatiana R. Diniz, Marcelo S.B. Lucas e Ricardo S. de Mendonça, pelo apoio e dedicação. Ao Marcos Francisco Santos e Paulo Sergio Pereira dos Santos pela valiosa ajuda nos trabalhos de campo. Ao Rogério Bertani pela identificação das Mygalomorphae. Ao IBAMA (Instituto Brasileiro de Apoio ao Meio Ambiente), pelas licenças concedidas sob os números 213/08, 18549-1/08 e 18583-1/08.

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250


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Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti

70 35

60 30

50 25

40 20

30 15

20 10

10 5

0 0

in T.

gr

nº captura total

251

ita

Abundância

Figura 1. Captura total e abundância de pequenos mamíferos da Reserva Legal da Pedreira Itapeti, localizada na Serra do Itapeti, município de Mogi das Cruzes (SP).


Rosana Martins; Marcelo R. F. Borges; Rodnei Iartelli e Giuseppe Puorto

2

3

4

5

6

7

Figuras 2-7. Mastofauna: (2) Gracilinanus microtarsus (guaiquica); (3) Blarynomys breviceps (rato-fossorial); (4) Dasypus novemcinctus (tatu-galinha, camera trap); (5) Cerdocyon thous (cachorro-do-mato, camera trap); (6) Callithrix aurita (sagui-da-serra-escuro); (7) Pegada de Puma concolor (sussuarana). Fotos: (2) Giuseppe Puorto; (3) Rosana Martins; (6) Rodnei Iartelli; (7) Marcelo Borges.

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Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti

8

9

10

11

12

13

Figuras 8-13. Avifauna: (8) Basileuterus culicivorus (mariquita); (9) Chiroxiphia caudata (tangarรก); (10) Haplospiza unicolor (catatau); (11) Thalurania glaucopsis (beija-flor-de-fronte-violรกcea); (12) Grallaria varia (tovacuรงu, camera trap) ; (13) Caracara plancus (carcarรก, camera trap). Fotos: (8-11) Rodnei Iartelli.

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Rosana Martins; Marcelo R. F. Borges; Rodnei Iartelli e Giuseppe Puorto

40

Número deEspécies Espécies Numero de

35 30 25 20 15 10 5 0 > 25%

26 a 49%

50 a 74%

75 a 100%

Frequência de Frequência de Ocorrencia Ocorrência Figura 14. Frequência de ocorrência das espécies de aves na Reserva Legal da Pedreira Itapeti, localizada na Serra do Itapeti, município de Mogi das Cruzes (SP).

80

Número de de Espécies Espécies Numero

70 60 50 40 30 20 10 0 dez/08

jan/09

fev/09

mar/09

abr/09

mai/09

Figura 15. Sazonalidade mensal das espécies de aves na Reserva Legal da Pedreira Itapeti, localizada na Serra do Itapeti, município de Mogi das Cruzes (SP).

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Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti

80 70 60 50 s erpentes

40

lagartos

30

anfíbios

20 10 0 janeiro

fevereiro

março

abril

maio

junho

Figura 16. Frequência e número total de capturas mensais das espécies de répteis (serpentes e lagartos) e anfíbios na Reserva Legal da Pedreira Itapeti, localizada na Serra do Itapeti, município de Mogi das Cruzes (SP).

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Rosana Martins; Marcelo R. F. Borges; Rodnei Iartelli e Giuseppe Puorto

17

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Figuras 17-22. Herpetofauna: (17) Brachycephalus ephippium (sapinho-pingo-de-ouro); (18) Procerathophrys boiei (sapo-de-chifres); (19) Enyalius iheringii (papa-vento); (20) Thamnodynastes strigatus (corredeira); (21) Bothrops jararaca (jararaca); (22) Crotalus durissimus terrificus (cascavel). Fotos: (17-22) Giuseppe Puorto.

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Fauna da Reserva Legal da Pedreira Itapeti

500 450

Frequência mensal

400 350 300 250 200 150 100 50 0 Dezembro Janeiro Fevereiro Março Março Janeiro Fevereiro Dezembro

Araneae

Scorpiones

Opiliones

AbrilAbril

Acari

MaioMaio

Junho Junho

Pseudoescorpiones

Figura 23. Frequência mensal de indivíduos da classe Arachnida, na Reserva Legal da Pedreira Itapeti, localizada na Serra do Itapeti, município de Mogi das Cruzes (SP).

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Rosana Martins; Marcelo R. F. Borges; Rodnei Iartelli e Giuseppe Puorto

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Figuras 24-29. Aracno e Miriapodofauna: (24) Verrucosa sp. (aranha); (25) Ctenus ornatus (aranha); (26) Homoeomma montanum (caranguejeira); (27) Gonyleptidae (opili達o); (28) Polidesmida (piolho-de-cobra); (29) Otostigmus scabricauda (lacraia). Fotos: (24-27) Giuseppe Puorto; (28-29) Rosana Martins.

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Anfíbios anuros da Serra do Itapeti Paulo Christiano de Anchietta Garcia Bianca von Müller Berneck Natacha Yuri Nagatani Dias Carolina Ortiz Rocha da Costa Luis Felipe Silveira Marcos Yamamoto

Resumo O Brasil é o país com a maior diversidade mundial de anfíbios. Ainda assim, só nos últimos dois anos, pelo menos uma nova espécie foi descrita por mês, o que demonstra nosso desconhecimento acerca da riqueza de anfíbios brasileiros e mais ainda da história natural da maioria das espécies. A realização de inventários que abordem aspectos da história natural de anfíbios é fundamental e é o primeiro passo para aumentar o conhecimento do grupo. Assim, reunimos aqui o resultado de dois inventários realizados no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello em períodos distintos, o que proporcionou o levantamento de aspectos reprodutivos e novos registros para o local. Foram identificadas 32 espécies de anuros, sendo uma delas exótica. Uma comparação de similaridade de composição com outras localidades próximas indicou que a Serra do Itapeti apresenta sua composição de anuros mais relacionada à da Serra da Mantiqueira do que à da Serra do Mar.

ção particular, sua capacidade de produzir sons ou pela sua distribuição quase cosmopolita (DUELLMAN & TRUEB, 1986). Neste capítulo, trataremos apenas da riqueza e composição dos anfíbios da ordem Anura, popularmente chamados de sapos, rãs ou pererecas. Alguns aspectos sobre esses animais precisam ser abordados para melhor entendimento do que será tratado mais adiante. Como os outros anfíbios, a maioria dos anuros possui duas fases em suas vidas, separadas por um processo de metamorfose. A primeira fase é caracterizada por uma larva aquática (girino). A segunda consiste em um adulto terrestre. Porém, a diversidade dos anuros é tamanha que existem muitas exceções a essa regra. Por exemplo, mais de 800 espécies (de diversas famílias, incluindo-se

Introdução Os anfíbios são animais de pele nua, permeável a líquidos e gases, que dependem de ambientes úmidos para evitar a dessecação e facilitar a respiração cutânea. A maioria das espécies depende ainda da água para promover sua reprodução (POUGH et al., 1999). A alta permeabilidade da pele e o fato de ocuparem tanto o contexto aquático quanto terrestre os tornam muito sensíveis às alterações do ambiente, sendo assim considerados ótimos bioindicadores de qualidade ambiental (GARCIA & VINCIPROVA, 2003). Os anfíbios atuais são divididos em três ordens: Caudata; Gymnophiona e Anura (FROST et al., 2010). Os anuros são os anfíbios mais conhecidos, provavelmente por causa do seu modo de locomo259


Paulo Christiano de Anchietta Garcia; Bianca von Müller Berneck; Natacha Yuri Nagatani Dias; Carolina Ortiz Rocha da Costa; Luis Felipe Silveira e Marcos Yamamoto

corresponde ao conhecimento atual sobre anuros da Serra do Itapeti, município de Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo.

Brachycephalidae) não apresentam a vida bifásica. Os ovos são depositados em solo úmido ou retidos com um dos parentais e, por serem ricos em vitelo, nutrem o embrião até que este desenvolva completamente. Após esse período, eclode uma miniatura do adulto sem estágio larval. Esse processo é conhecido como desenvolvimento direto. Atualmente quase 40 modos reprodutivos são conhecidos para os anuros (HADDAD & PRADO, 2005), que variam principalmente quanto ao local de deposição dos ovos, tipo de cuidado parental e ambiente de desenvolvimento dos girinos. Esse número ainda pode aumentar, uma vez que não conhecemos os hábitos de todas as espécies e muitas delas ainda estão sendo descritas. Devido à conspicuidade da vocalização, e sua importância na reprodução, os aspectos reprodutivos compõem grande parte do que se conhece sobre anuros. Os machos vocalizam para atrair as fêmeas para a reprodução. Quando a fêmea localiza o macho, poderá ocorrer um abraço chamado amplexo. A fecundação é externa e o macho ficará abraçado à fêmea por horas ou dias até que os óvulos sejam fecundados. Existem estratégias alternativas, mas essa é a mais difundida em Anura (POMBAL & HADDAD, 2005). São conhecidas outras funções para a vocalização (ver compilação em HADDAD, 1995). Em algumas espécies ela é um importante mecanismo territorial de espaçamento entre os machos durante o coro reprodutivo. Quando o espaçamento entre os machos não pode ser definido somente pelo canto, podem ocorrer combates físicos. Nesses combates algumas espécies de pererecas podem utilizar uma estrutura óssea em formato de espinho, o pré-pólex, correspondente ao primeiro dedo da mão, para agredir o adversário. São reconhecidos 6.638 anfíbios no mundo (FROST, 2010). O Brasil é o país com o maior número de espécies, 875 (SBH, 2010). A maior parte delas foi descoberta a partir da última metade do século 20 e, desde a década de 1960, foram descobertas mais de 310 espécies de anfíbios (SILVANO & SEGALLA, 2005), o que representa um aumento de 50% em relação aos 200 anos anteriores. Só nos últimos dois anos foram descritas 37 espécies que ocorrem no território brasileiro (três espécies a cada mês; FROST, 2010). Por esse número tão expressivo de espécies novas, é de se imaginar o nosso desconhecimento sobre a biologia e distribuição dos anuros. Nesse contexto, reunimos aqui o resultado de dois inventários realizados no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, que

Material e métodos A partir de dois levantamentos da anurofauna, realizados no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, o primeiro em 1995, como parte do plano de manejo do Parque, e o segundo de agosto de 2003 a julho de 2004, com periodicidade mensal e visitas esporádicas durante o ano de 2005, nós compilamos uma lista de espécies para o local e fornecemos informações sobre a história natural de cada uma. Os critérios de identificação foram canto, visualização direta ou, ainda, comparação direta com material depositado nas coleções de Zoologia da Universidade de Mogi das Cruzes e Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP). As coletas foram autorizadas pelo Instituto Brasileiro de Apoio ao Meio Ambiente – IBAMA (licença Nº. 198/05). Os exemplares testemunhos encontram-se tombados na Coleção de Anfíbios do MZUSP. Buscou-se ativamente por anuros em toda a área do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello e em suas áreas de entorno, principalmente nos ambientes descritos a seguir. A trilha martim-pescador foi percorrida durante todas as campanhas. No término dessa trilha se encontra uma poça permanente de fundo lodoso, cercada por gramíneas. Pequenos córregos que abastecem a poça foram igualmente amostrados. Próximo ao centro de visitantes se encontra uma lagoa permanente abastecida por um riacho ao lado de uma capela de alvenaria. Esses dois últimos ambientes também foram visitados em todas as campanhas. A lista final foi confrontada com outras oito localidades no Estado de São Paulo: Serra do Japi, Jundiaí (HADDAD & SAZIMA, 1992; RIBEIRO et al., 2005); Ribeirão Branco (POMBAL & HADDAD, 2005); Fazenda São Sebastião, Pindamonhangaba (YAMAMOTO, 1996); Estação Biológica da Boraceia, Salesópolis (HEYER et al., 1990; BERTOLUCI, 2002), Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba, Santo André (VERDADE et al., 2009), Parque Estadual de Intervales (BERTOLUCI, 2001; BERTOLUCI & RODRIGUES, 2002), Pilar do Sul (OLIVEIRA, 2004); Estação Ecológica do Bananal (ZAHER et al., 2005). Para comparação da composição de espécies entre essas localidades, aplicamos o índice de similaridade de Jaccard e o método de 260


Anfíbios anuros da Serra do Itapeti

Ischnocnema guentheri (Steindachner, 1864) “rãzinha”

agrupamento WPGMA (média de pares de grupos com peso; SNEATH & SOKAL, 1973), usando o aplicativo Biodiversity Pro, versão 2.0. Para cada espécie encontrada foram fornecidas informações sobre tamanho, coloração, morfologia, período de atividade (anual e diário), hábitat, vocalização, modo reprodutivo, abundância no local, distribuição geográfica e atual situação de ameaça na IUCN.

Espécie de pequeno porte, os machos medem aproximadamente 3,5cm de CRC e as fêmeas 5cm. Coloração variada, o dorso pode ser marrom-escuro ou verde, com manchas claras em tons de verde, ouro ou creme. As cores do ventre e das laterais variam entre amarelo e cinza. O primeiro e segundo dedos são de tamanhos semelhantes, na parte externa da tíbia está presente uma faixa negra que pode ser contínua ou segmentada. Espécie predominantemente crepuscular, porém pode ser observada em atividade de vocalização durante o dia ou noite nos meses mais úmidos. Habita florestas e foi encontrada entre a serapilheira. Vocaliza no fim da tarde e início da noite e seu canto consiste em um trinado metálico emitido em intensidade baixa. Segundo Haddad & Prado (2005), os ovos são depositados na serapilheira e o desenvolvimento é direto (modo 23). Foi registrada apenas no mês de novembro, com poucas vocalizações. Possui ampla distribuição no sul e sudeste do Brasil, do Estado do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul (HEYER, 1984, IUCN, 2006). Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006).

Resultados e discussão Foram registradas 32 espécies de anfíbios anuros, sendo uma delas exótica, o que corresponde (excluindo-se a espécie exótica) a 13,5% das espécies conhecidas para o Estado de São Paulo (cerca de 230 spp. sensu Araújo et al., 2009). Nove famílias compõem a fauna observada de anuros: Brachycephalidae (5 spp.); Bufonidae (2 spp.); Craugastoridae (1 sp.); Cycloramphidae (1 sp.); Hylidae (17 spp.); Hylodidae (1 sp.); Leiuperidae (2 spp.); Leptodactylidae (2 spp.); e Ranidae (1 sp.).

Família Brachycephalidae Brachycephalus ephippium (Spix 1824) “sapinho-pingo-de-ouro” (Figura 2A)

Ischnocnema holti (Cochran, 1948) “rãzinha”

Espécie de pequeno porte, mede cerca de 2cm de CRC (Comprimento Rostro-Cloacal). Sua coloração é bastante característica, podendo ser amarela intensa ou amarelo-alaranjada. É o único anuro do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello que apresenta apenas três dedos nas mãos. Além da sua coloração singular, apresenta protuberâncias ósseas dorsais e olhos grandes e negros. De hábitos diurnos, é facilmente encontrado nos meses quentes e úmidos (novembro a março). Vive no solo, sobre a serapilheira, onde forrageia, se reproduz e se esconde. A vocalização consiste numa série de notas baixas e agudas, repetidas rapidamente. A desova é depositada no solo e consiste em ovos despigmentados e ricos em vitelo (modo 23, HADDAD & PRADO, 2005). Bastante abundante nas áreas florestais da Serra do Itapeti, principalmente nas manhãs quentes e úmidas. Pode ser encontrado nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais (RIBEIRO et al., 2003). Não é considerada espécie ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006).

Pequena, os machos medem aproximadamente 1,5cm de CRC. Dorso castanho com manchas creme. Os hábitos reprodutivos são desconhecidos, mas para o gênero o desenvolvimento é direto (modo 23, HADDAD & PRADO, 2005). Na Serra do Itapeti, essa espécie foi encontrada somente por Yamamoto (1995), após esse período não foi mais observada. Também ocorre na Serra do Itatiaia, nos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Situação de ameaça: Dados deficientes (Data Deficient, IUCN, 2006). Ischnocnema juipoca (Sazima & Cardoso, 1978) “rãzinha” Espécie de pequeno porte, podendo atingir cerca de 3cm de CRC. A coloração varia entre branco, tons de verde, marrom e vermelho. As expansões digitais são quase imperceptíveis, no dorso apresentam uma série de granulações e seu focinho é truncado. Espécie de hábito crepuscular e noturno, que vive em capoeiras e áreas de borda de mata. Não foi registrada sua vocalização. O desenvolvimento é 261


Paulo Christiano de Anchietta Garcia; Bianca von Müller Berneck; Natacha Yuri Nagatani Dias; Carolina Ortiz Rocha da Costa; Luis Felipe Silveira e Marcos Yamamoto

direto (HADDAD & PRADO, 2005). Somente Yamamoto (1995) registrou essa espécie, que ocorre também em áreas do planalto do sudeste do Brasil, em regiões de morros ou de relevo ondulado, nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Goiás (IUCN, 2006). Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006).

dos várias vezes. Os ovos e girinos exotróficos são depositados em água lêntica (modo 1, HADDAD & PRADO, 2005). Pouco abundante, foi encontrada próxima à Lagoa da Capela. Distribuição geográfica do sudeste do Brasil, leste do Paraguai e Missiones na Argentina (IUCN, 2006). Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006).

Ischnocnema parva (Girard, 1853) “rãzinha” (Figura 2B)

Rhinella ornata (Spix, 1924) “sapo-cururu” (Figura 2C)

Os machos podem atingir 1,5cm de CRC e as fêmeas, 2,1cm. A coloração do dorso pode variar entre creme, dourado, marrom, preto, ferrugem e laranja. O terceiro dedo é maior que os outros três, e todos possuem as pontas arredondadas e pontiagudas na extremidade, com a ponta do terceiro dedo sendo mais larga que as demais. Alguns indivíduos possuem duas faixas dorso-laterais. Os indivíduos apresentam uma mancha negra ao redor da cloaca, bastante característica. Hábito crepuscular e diurno; ocorre durante todo o ano, porém é mais abundante entre os meses de outubro a março. Neste trabalho, essa espécie foi encontrada sempre na serapilheira. A vocalização consiste em um chamado metálico de baixa intensidade. O desenvolvimento é direto (HADDAD & PRADO, 2005). Espécie abundante, muitos indivíduos podem ser encontrados no mesmo dia. Tem ampla distribuição no sudeste do Brasil, nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo (IUCN, 2006). Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006).

Espécie menor do que a anterior, mas também de porte grande. Mede aproximadamente 8cm de CRC. Varia entre verde-escuro, marrom-claro e acinzentado. Também apresenta dimorfismo sexual. Os machos possuem uma faixa escura longitudinal e as glândulas parotoides são menos desenvolvidas do que em R. iciterica e em formato pontiagudo. Espécie de hábitos noturnos. Habita predominantemente áreas florestadas, mas pode ser encontrada na borda de mata. A vocalização é muito parecida com a da espécie anterior, mas o som das notas é mais agudo (HEYER et al., 1990). Os ovos e girinos exotróficos são depositados em água parada (modo 1, HADDAD & PRADO, 2005). Pouco abundante no local. Ocorre do sul do Espírito Santo, no Rio de Janeiro e São Paulo, até o norte do Paraná (IUCN, 2006). Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006).

Família Craugastoridae Haddadus binotatus (Spix, 1824) “rãzinha”

Família Bufonidae

Tamanho médio, machos atingem cerca de 4cm e fêmeas, até 5cm de CRC. Coloração marrom-alaranjada, frequentemente com uma linha escura sobre o focinho e duas pequenas manchas negras arredondadas na região sacral. O primeiro dedo da mão é maior que o segundo e membranas interdigitais ou dilatações na ponta dos dedos são ausentes. São animais de hábitos diurnos, crepusculares e noturnos (POMBAL & GORDO, 2004), sendo encontrados mais facilmente nos períodos de outubro a março. Foi visualizada no solo, sobre a serapilheira na borda e no interior da mata. Seu canto é muito baixo, difícil de ouvir. Durante o período estudado, nunca foi ouvida vocalizando. O modo reprodutivo é desconhecido, porém acredita-se que o desenvolvimento seja direto, com ovos depositados em solo úmido, de onde eclodem os jovens (modo 23, HADDAD & PRADO, 2005). Pouco abundante no local, foi encontrada eventualmente nas regiões

Rhinella icterica (Spix, 1824) “sapo-cururu” Tamanho grande. A maior espécie de anuro nativo da Serra do Itapeti. Machos medem até 13cm e fêmeas, 15cm de CRC. Apresenta dimorfismo entre machos e fêmeas. Os machos são de cor verde-oliva e as fêmeas apresentam manchas escuras no dorso, separadas por uma larga faixa longitudinal clara. Possui um par de glândulas parotoides atrás dos olhos, extremamente desenvolvidas e em formato ovoide. Membranas entre os dedos são ausentes e sua pele é extremamente rugosa. Reproduz-se ao longo do ano e pode ser encontrada principalmente durante a noite, mas também durante o dia. A vocalização consiste numa série de notas altas repetidas rapidamente, podendo ser ouvida a longas distâncias. Contudo, raramente foi ouvida durante o estudo, embora seus girinos tenham sido encontra262


Anfíbios anuros da Serra do Itapeti

exotróficos seguem para o riacho onde completam a metamorfose (HADDAD & SAWAYA, 2000; HADDAD & PRADO, 2005). É encontrada somente às margens do riacho próximo à Lagoa da Capela. Distribuição geográfica para as Serras do Mar e Mantiqueira em São Paulo (CRUZ & PEIXOTO, 1985, IUCN, 2006). Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006).

florestadas. Apresenta ampla distribuição geográfica, ocorrendo nas áreas costeiras da Mata Atlântica desde o sul da Bahia até o nordeste do Rio Grande do Sul (IUCN, 2006). Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006)

Família Cycloramphidae Proceratophrys boiei (Miranda-Ribeiro, 1926) “sapo-folha” ou “sapo-de-chifres”

Aplastodiscus leucopygius (Cruz & Peixoto, 1984) “perereca-flautinha” (Figura 2E)

Espécie de porte médio, atingindo cerca de 5cm de CRC. Apresenta tons de marrom e marrom-alaranjado, camuflando-se em meio às folhas secas. Os indivíduos possuem longos apêndices sobre as pálpebras, que lembram chifres, o que lhes permite camuflarem-se entre as folhas. Hábito diurno e noturno, mais ativo nos meses de novembro, dezembro e janeiro. Sua ocorrência está diretamente relacionada a períodos de fortes chuvas. Vive na serapilheira, em meio às folhas no chão da mata, sua vocalização lembra um “motor” e é emitida continuamente. Os ovos e os girinos se desenvolvem em ambientes lênticos (modo 1, HADDAD & PRADO, 2005). Foi encontrada apenas em duas ocasiões, após fortes chuvas de verão. Distribuição geográfica ampla, ocorre do nordeste ao sul do Brasil (IUCN, 2006). Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006).

Tamanho médio, cerca de 4cm de CRC e sua coloração é verde-folha. Possui muitos pontos brancos pelo dorso e apresenta uma série de pequenas protuberâncias brancas ao redor da abertura cloacal e uma franja branca na margem do braço, do pé e no lábio inferior (CRUZ & PEIXOTO, 1984). Espécie noturna que se reproduz ao longo de todo o ano, mesmo em noites mais frias, porém é mais abundante nos meses mais quentes e úmidos. Habita o interior da floresta e vocaliza próximo a riachos permanentes. Aos ouvidos humanos sua vocalização é similar à da espécie anterior, porém um pouco mais grave, lembrando um sopro na boca de uma garrafa. Os ovos e girinos desenvolvem-se em tocas subterrâneas; posteriormente, os girinos exotróficos seguem para o riacho onde completam a metamorfose (HADDAD & SAWAYA, 2000; HADDAD & PRADO, 2005). Mais abundante no local do que A. arildae. Ocorre principalmente às margens dos riachos próximos à Lagoa Martim-pescador, Lagoa da Capela e nos riachos que abastecem os alagados próximos à recepção do antigo prédio administrativo do Parque. Distribuição geográfica para as Serras do Mar e da Mantiqueira em São Paulo, Rio de Janeiro, norte do Paraná e sul de Minas Gerais (IUCN, 2006). Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006).

Família Hylidae Aplastodiscus arildae (Cruz & Peixoto, 1985) “perereca-flautinha” (Figura 2D) Mede cerca de 4cm de CRC e sua coloração é verde-folha, camuflando-se facilmente com a folhagem. Possui uma série de pontos escuros concentrados próximos às narinas, além de alguns pontos escuros ao longo do dorso. Apresenta uma linha pós-orbital branca e outra linha branca entre o olho e a narina. Espécie noturna, durante o dia pode ser encontrada repousando sobre a folhagem. Sua temporada reprodutiva parece estar ligada aos meses mais quentes e úmidos (outubro a fevereiro). Habita ambientes florestais próximos a riachos permanentes. A vocalização consiste de uma nota repetida regularmente, lembrando um gotejar (ver ZINA & HADDAD, 2006). O modo reprodutivo, acredita-se ser o mesmo descrito para outras espécies do gênero: ovos e girinos desenvolvem-se em tocas subterrâneas; posteriormente, os girinos

Bokermannohyla luctuosa (Pombal & Haddad, 1993) “perereca” (Figura 2F) Tamanho médio, cerca de 6cm de CRC. De coloração marrom-clara, com manchas mais escuras ao longo do corpo. A parte interna das coxas é roxo clara com faixas escuras transversais. O tímpano é parcialmente coberto por uma prega, e entre os olhos pode se ver um traço escuro e fino que se inicia entre as narinas e finda no centro do corpo. A íris é de um amarelo vivo e os antebraços são robustos. Espécie noturna, porém é facilmente en263


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contrada durante o dia, sobre a vegetação ou solo. Vocaliza em todos meses do ano, menos de junho a agosto. Encontrada em várzeas de solo lodoso, próxima à água corrente. A vocalização é alta e grave, lembrando o som de uma cabra. Seu modo reprodutivo é desconhecido, mas acredita-se ser o mesmo de B. circumdata, cujos os ovos e girinos desenvolvem-se em “piscinas” construídas pelos machos; posteriormente completam o desenvolvimento na lagoa ou riacho adjacente (modo 4, HADDAD & PRADO, 2005). Não é muito abundante no local, mas pode ser vista vocalizando próxima à lagoa martim-pescador. Essa espécie é conhecida apenas no Estado de São Paulo, para a Serra do Japi, Serra da Mantiqueira e Serra de Paranapiacaba (IUCN, 2006). Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006).

do no alagado adjacente à poça Martim-pescador. Habita várzeas e margens de corpos d’água lênticos em ambientes florestais e abertos. O repertório de vocalização é variado, os cantos são formados por várias notas agudas. Os ovos e girinos exotróficos são depositados em água parada (modo 1, HADDAD & PRADO, 2005). Apresenta ampla distribuição: a leste dos Andes na Colômbia, Venezuela e Trinidad, e ao sul ocorre no Equador, Peru, Bolívia, Uruguai, Argentina e Brasil. Pode ocorrer em áreas de baixada até 2.000m de altitude (IUCN, 2006). Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006). Comentários: por usa sua ampla distribuição e a sua variação morfológica, pode tratar-se de um complexo de espécies.

Dendropsophus elegans (Wied-Neuwied, 1824) (Figura 3A)

Tamanho médio, cerca de 5cm de CRC. Varia entre tons de marrom, com regiões amarelo-ouro próximas ao ventre. Estão presentes pontos amarelos nas coxas e nas laterais do corpo. O corpo é alongado, apresenta uma faixa logo abaixo das narinas que segue até o braço, passando pelos olhos. Apresenta uma linha branca sobre o lábio inferior e uma estrutura denominada pré-pólex, que consistem em um espinho ósseo na base do primeiro dedo. Hábito noturno, se reproduz durante a maior parte do ano. Habita várzeas e poças permanentes das áreas abertas. A vocalização grave e alta é emitida sobre a vegetação. Espécie abundante na Lagoa Martim-pescador. Ocorre no sul, sudeste, e região central do Brasil, até o Estado de Rondônia e extremo oriente da Bolívia. Também foi registrada para localidades na Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai (IUCN, 2006). Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006). Comentários: por sua extensa distribuição geográfica, pode tratar-se de mais de uma espécie.

Hypsiboas albopunctatus (Spix, 1824)

Tamanho pequeno, 2,5cm de CRC para machos e 3cm para fêmeas. Apresenta um retângulo amarelo vivo sobre o dorso, envolto por uma larga faixa branca, que também está presente nas coxas e pernas. O focinho é bastante reduzido, principalmente se comparado aos outros hilídeos do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Ocorre principalmente nos meses mais quentes e úmidos, seus hábitos são noturnos. Foi encontrada em abundância na margem da lagoa próxima à trilha Martim-pescador. A vocalização consiste em uma série de notas pulsadas. Os ovos são depositados em ambiente lêntico (modo 1, HADDAD & PRADO, 2005). Espécie facilmente encontrada na margem da lagoa Martim-pescador, onde se reproduz. Distribuição geográfica ampla, ocorrendo na Floresta Atlântica do leste do Brasil, desde o Estado do Rio Grande do Norte ao sul do Paraná (IUCN, 2006) Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006). Dendropsophus minutus (Peters, 1872)

Hypsiboas faber (Wied-Neuwied, 1821) “Sapo-ferreiro” (Figura 3B)

É uma perereca de tamanho pequeno, medindo cerca de 2cm de CRC. Sua coloração varia entre castanho, castanho-alaranjado e bege, com uma mancha mais escura no dorso. Espécie de difícil caracterização. Os padrões de coloração e tamanho podem ser utilizados para sua diagnose (LUTZ, 1973). Na Serra do Itapeti foi encontrada apenas em uma única ocasião, no final da tarde, vocalizan-

Tamanho grande. Pode medir até 9,5cm de CRC. As fêmeas medem até 11cm. Coloração bege-claro na maioria dos indivíduos, podendo ser também castanho muito claro. Muitos indivíduos apresentam uma linha medial que se inicia no centro do focinho e finda atrás dos olhos. O pré-pólex é bastante desenvolvido e de fácil visualização nessa espécie. Perereca noturna que ocorre na 264


Anfíbios anuros da Serra do Itapeti

maioria dos meses do ano, sendo mais abundante nos meses chuvosos. Habita lagoas permanentes de áreas abertas e é muito comum nas duas lagoas estudadas e nas várzeas permanentes das proximidades. Sua vocalização lembra um martelo batendo numa superfície metálica. Os ovos e girinos desenvolvem-se em “piscinas” construídas pelos machos e posteriormente completam o desenvolvimento na lagoa ou riacho adjacente (modo 4, HADDAD & PRADO, 2005). Espécie abundante no local. Distribuição geográfica para o Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Bahia. Também é registrada para localidades na Argentina e Paraguai. Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006).

Phyllomedusa sp. (aff. rohdei) “perereca-macaco” (Figuras 5B e 5C) Tamanho médio, de 4 a 5cm de CRC. Coloração muito característica. As partes internas das coxas e braços formam padrões nas cores roxa e vermelha. Morfologia parecida com a espécie anterior, porém não possui a glândula parotoide. Também é noturna, sua ocorrência aparentemente está relacionada aos meses mais quentes e úmidos, pois foi registrada em novembro e dezembro sobre a vegetação herbácea e arbustiva às margens da poça da capela. O chamado é rouco e baixo e o tempo entre uma nota e outra também é relativamente longo. Modo reprodutivo desconhecido. Não é muito abundante, foi encontrada em duas ocasiões. Comentários: essa espécie trata-se de um táxon ainda não descrito.

Phyllomedusa burmeisteri Boulenger, 1882 “perereca-macaco” (Figura 5A)

Família Hylodidae Hylodes sazimai Haddad & Pombal, 1995

Espécie de médio porte, com machos atingindo 6cm de CRC. Dorso verde-intenso com áreas azuis nas coxas e flancos, onde se destacam manchas circulares de cor amarela (IZECKSOHN & CARVALHO-E-SILVA, 2001). Discos digitais brancos (LUTZ, 1950) e pequenos, membranas interdigitais ausentes. O primeiro dedo do pé é mais comprido e mais robusto que o segundo. Glândulas parotoides presentes, porém menores que as das espécies de Rhinella. Espécie noturna e arborícola, que caminha muito bem, sendo encontrada principalmente entre dezembro e fevereiro. Encontrada empoleirada em ramos pendentes acima da água. Seu canto é grave e alto. O tempo entre um chamado e outro é relativamente longo. Os ovos são depositados em ninhos sobre folhas acima do nível d’água. Após eclodirem, os girinos caem na água de ambiente lêntico (modo 24, HADDAD & PRADO, 2005). Só foi encontrada em três ocasiões às margens da poça próxima à capela. Distribuição geográfica no leste do Brasil, desde o Sergipe até o Estado de São Paulo (IUCN, 2006). Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006). Comentários: A pele de espécies de Phyllomedusa contém polipeptídeos complexos (DUELLMAN & TRUEB, 1986), aparentemente tóxicos, que podem estar associados à coloração de advertência das partes ocultas das pernas e flancos (LUTZ, 1966). Quando tocada ou apanhada com a mão, P. burmeisteri encolhe-se e fica imóvel (tanatose), um comportamento defensivo conhecido para outras espécies de Phyllomedusa.

Tamanho pequeno, 2,5cm de CRC. Dorso de castanho-escuro a claro, avermelhado, com uma linha clara que se inicia nos olhos e se estende até a região inguinal. Possui dois sacos vocais dispostos lateralmente. Hábitos diurnos, se reproduz ao longo do ano nos riachos com pedras no interior da mata. Vocaliza sobre as pedras ou nas fendas ou ainda nos espaços formados pela disposição das pedras dos riachos. Seu canto lembra o de um passarinho, tal a sua complexidade. Os ovos são depositados em câmaras subaquáticas, os girinos são exotróficos e se desenvolvem nos riachos (modo 3, HADDAD & PRADO, 2005). Não é uma espécie abundante, mas é facilmente encontrada nas tardes quentes e úmidas ao longo de um dos riachos próximos à poça Martim-pescador. Ocorre na Serra das Cabras no Estado de São Paulo, Parque Nacional do Itatiaia, Rio de Janeiro, e Itamonte, Minas Gerais. Situação de ameaça: Dados Deficientes (Data Deficient, IUCN, 2006).

Família Leiuperidae Physalaemus cuvieri (Fitzinger, 1826) “rã-cachorro” Espécie de porte pequeno, medindo aproximadamente 4cm de CRC. O dorso varia entre marrom, preto, cinza e bronze. Apresenta coloração laranja ou avermelhada na região inguinal. Os machos possuem embaixo do primeiro dedo da mão um par de 265


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almofadas nupciais marrons (SILVA et al., 2000). De hábito noturno, mais ativa nos meses mais quentes e úmidos. Vive em áreas abertas, com vegetação herbácea e solo bem úmido. Sua vocalização lembra um latido de cachorro, repetido continuamente e de forma melancólica. Desova em ninho de espuma flutuante, que costuma ficar exposto ao sol. Os girinos se desenvolvem em ambientes lênticos (modo 11, HADDAD & PRADO, 2005). Embora seja muito abundante nos locais de ocorrência, foi registrada apenas durante a elaboração do Plano de Manejo (YAMAMOTO, 1995). Distribuição geográfica ampla, ocorrendo nas regiões nordeste, centro-oeste, sudeste e sul do Brasil, em Misiones na Argentina e Entre Rios, e no leste do Paraguai. Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006).

da vegetação, seu canto é agudo e alto. O tempo entre um chamado e outro é muito curto. Deposita seus ovos, ricos em vitelo, em um ninho de espuma dentro de uma câmara subterrânea cavada pelo macho (modo 32, HADDAD & PRADO, 2005). Muito abundante em todas as áreas florestadas, inclusive nas capoeiras. Ocorre desde o Estado do Rio de Janeiro até Santa Catarina. Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006). Comentários: mais de uma espécie está sendo chamada de L. marmoratus ao longo de sua distribuição. Leptodactylus latrans (Steffen, 1815) “rã-manteiga” Tamanho grande, os machos medem até 9,6cm e as fêmeas, até 10,5cm de CRC. Marrom-esverdeada, por todo o dorso encontram-se manchas circulares escuras que lembram ocelos. Apresenta uma mancha triangular na cabeça e cerca de seis pregas no dorso. Hábito noturno, sua temporada é entre os meses de setembro e março. Espécie que habita áreas abertas, várzeas ou poças permanentes. A vocalização é um chamado grave e baixo, que lembra “uuupe”. A desova é colocada em ninhos flutuantes de espuma formada por albumina (modo 11, HADDAD & PRADO, 2005). Muito comum no local. Ampla distribuição geográfica, ocorrendo do norte ao sul do Brasil até a Argentina. Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006). Comentários: há cuidado parental pelas fêmeas, que cuidam do ninho e dos girinos (RODRIGUES & FILHO, 2004).

Physalaemus olfersii (Lichtenstein & Martens, 1856) “rã” (Figura 4D) Pequeno porte, podendo atingir 4cm de CRC. O dorso é creme ou cinza-claro com manchas bem pequenas na cor verde. A lateral tem uma faixa castanho-escura, que vai dos olhos até a região inguinal, margeada por uma linha branca que vai dos olhos até a axila. Os machos possuem almofada nupcial marrom, como na espécie anterior, porém em P. olfersii apenas uma almofada é encontrada (SILVA et al., 2000). De hábito noturno, que ocorre entre os meses de novembro e janeiro. Habita áreas florestais ou borda de mata. Sua ocorrência está associada a corpos d’água lênticos. Sua vocalização lembra o mugir de um bezerro, o macho vocaliza no solo, próximo à água. A desova é depositada em ninhos de espuma flutuante, e os girinos se desenvolvem em água parada (modo 11, HADDAD & PRADO, 2005). Espécie comum no local. Anuro endêmico da Mata Atlântica do sudeste e sul do Brasil. Situação de ameaça: Não ameaçada (Least Concern, IUCN, 2006).

Família Ranidae Lithobates catesbeianus (Shaw, 1802) “rã-touro” Espécie exótica de origem norte-americana. Tamanho grande. Adultos medem até 20cm de CRC. A coloração do dorso é verde com manchas claras e escuras da mesma cor e a da garganta é amarela. Possui uma dobra na pele que sai do olho e rodeia o tímpano, sendo este muito maior que o olho. Muito bem adaptada ao Brasil, se reproduz ao longo de todo o ano, mesmo nas noites mais frias. Habita poças, alagados, lagos, reservatórios, várzeas, margem de riachos e tubulação de irrigação. A vocalização lembra um touro mugindo, o som é alto e pode ser ouvido a longas distâncias. Seus ovos e girinos se desenvolvem em ambientes lênticos (modo 1, HADDAD & PRADO, 2005). Um único indivíduo foi encontrado durante o período estudado, mas, por sua grande capacidade colonizadora, essa espécie poderá ser en-

Família Leptodactylidae Leptodactylus marmoratus Fitzinger, 1867 “rãzinha” Tamanho pequeno, os machos medem 1,9cm e as fêmeas 2cm de CRC. Coloração marrom-clara com duas faixas dorso-laterais largas e alaranjadas. Apresentam uma linha interorbital clara. Hábito crepuscular e diurno, se reproduz por todo o ano. Espécie terrestre e que aparentemente se adapta muito bem a locais antropizados, como plantações de Eucalyptus spp. Vocaliza no solo embaixo 266


Anfíbios anuros da Serra do Itapeti

contrada mais frequentemente no futuro. Trata-se de uma espécie invasora que preda a fauna nativa. Foi introduzida no Brasil em 1935. Essa espécie merece atenção especial, e programas de monitoramento e controle populacional devem ser realizados na Serra do Itapeti para que a invasão seja contida.

melhantes. Segundo Pombal (1995), também deve ser levado em consideração que o esforço amostral raramente é comparável entre duas áreas e os pesquisadores podem classificar a mesma espécie diferentemente. Dessa forma, a comparação entre a anurofauna da Serra do Itapeti e outros locais próximos na Mata Atlântica deve ser observada com cuidado. Algumas espécies, como Brachycephalus ephippium e Hylodes sazimai, merecem uma atenção especial, pois são consideradas bons indicadores de qualidade ambiental. A primeira é muito abundante na área, sendo facilmente vista quando se percorre as trilhas do Parque. Até há pouco tempo essa espécie era considerada para a Serra do Mar em São Paulo (ZAHER et al., 2005; DIXO & VERDADE, 2006; VERDADE et al., 2009), mas estudos recentes sugerem que as espécies citadas nesses trabalhos referem-se a outros táxons, ainda em descrição. A segunda é uma espécie que apresenta pequenas populações ao longo de córregos de pequeno volume. Ambas vêm sendo consideradas bons indicadores de qualidade ambiental. No entanto, a presença de espécies exóticas como Lithobates catesbeianus, espécie competidora, predadora e potencial disseminadora de doenças, pode vir a representar uma ameaça para a anurofauna local. Sendo assim, são urgentes medidas que visem conter essa invasão.

Anuros do Itapeti em comparação com outras localidades Em sua composição de espécies, a Serra do Itapeti apresenta elementos de ampla distribuição geográfica, com ocorrência em mais de um bioma como Dendropsophus minutus, Hypsiboas faber, Hypsiboas albopunctatus, Physalaemus cuvieri, e Ischnocnema juipoca, além de apresentar elementos de distribuição mais restrita, como Aplastodiscus arildae, Bokermannohyla luctuosa e Scinax hiemalis. Embora apresente espécies comuns em áreas baixas, como Itapotihyla langsdorffii e Phyllomedusa sp. (aff. rohdei), a maioria das espécies é de ambientes de altitudes mais elevadas (A. arildae, A. leucopygius, Brachycephalus ephippium, Bokermannohyla luctuosa, H. prasinus e Phyllomedusa burmeisteri). Espécies como Brachycephalus epphipium, Hylodes sazimai, Bokermannohyla luctuosa e Scinax hiemalis parecem estar restritas à Serra da Mantiqueira, enquanto que Hypsiboas sp. (aff. polytaenius), Phyllomedusa burmeisteri, Phyllomedusa sp. (aff. rohdei) e Proceratophrys boiei transitam entre as Serras do Mar e Mantiqueira. A análise de similaridade faunística (Figura 1) agrupou a fauna da Serra do Itapeti com a da Serra do Japi e de Pindamonhangaba, todas localidades na Serra da Mantiqueira, o que demonstra a importância do Rio Tietê como divisor de fauna de anfíbios entre a Serra do Mar e Serra da Mantiqueira. Esses resultados são similares aos apresentados em outros trabalhos (e.g., DIXO & VERDADE, 2006). É importante observar que a comparação entre duas composições de fauna é tarefa que requer cuidado. Em primeiro lugar, as composições podem não ser comparáveis entre si, sendo importante assegurar-se que os locais apresentam áreas fitogeográficas se-

Agradecimentos Agradecemos Saulo de Souza e Kelly Spena pela valiosa ajuda no campo. Ao IBAMA/RAN (Instituto Brasileiro de Apoio ao Meio Ambiente) pela licença número 198/05. Ao Magno Segalla pelas fotos. PCAG agradece à PROPPGE/FAEP-UMC pela bolsa de pesquisa e à Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) pelo apoio financeiro (05/56228-3) e BVMB agradece ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, processos PIBIC/2004 e 131250/2006-0) e à Fapesp pela bolsa de doutorado (2008/55235-4).

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Paulo Christiano de Anchietta Garcia; Bianca von Müller Berneck; Natacha Yuri Nagatani Dias; Carolina Ortiz Rocha da Costa; Luis Felipe Silveira e Marcos Yamamoto

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Paulo Christiano de Anchietta Garcia; Bianca von Müller Berneck; Natacha Yuri Nagatani Dias; Carolina Ortiz Rocha da Costa; Luis Felipe Silveira e Marcos Yamamoto

Figura 1. Dendrograma da análise de agrupamento resultante da presença de espécies de anuros de nove taxocenoses de áreas de Mata Atlântica no Estado de São Paulo. Índice de Jaccard e método de agrupamento WPGMA (média de agrupamento com peso; ver detalhes no texto).

A

B

C

D

E

F

Figura 2. Anfíbios anuros observados na Serra do Itapeti. (A) Brachycephalus ephippium; (B) Ischnocnema parva; (C) Rhinella ornata; (D) Aplastodiscus arildae; (E) Aplastodiscus leucopygius; (F) Bokermannohyla luctuosa.

270


AnfĂ­bios anuros da Serra do Itapeti

A

B

C

D

E

F

Figura 3. AnfĂ­bios anuros observados na Serra do Itapeti. (A) Dendropsophus elegans; (B) Hypsiboas faber; (C) Hypsiboas pardalis; (D) Hypsiboas prasinus; (E) Hypsiboas sp. (aff. polytaenius); (F) Scinax crospedospilus.

271


Paulo Christiano de Anchietta Garcia; Bianca von Müller Berneck; Natacha Yuri Nagatani Dias; Carolina Ortiz Rocha da Costa; Luis Felipe Silveira e Marcos Yamamoto

A

B

C

D

E

F

Figura 4. Anfíbios anuros observados na Serra do Itapeti. (A) Scinax crospedospilus, em atividade de vocalização; (B) Scinax fuscovarius; (C) Scinax hayii; (D) Scinax hiemalis; (E) Casal de Scinax hiemalis em amplexo; (F) Scinax hiemalis, note a mancha na cabeça em formato de triângulo (ver no texto).

272


Anfíbios anuros da Serra do Itapeti

A

B

C

D

Figura 5. Anfíbios anuros observados na Serra do Itapeti. (A) Phyllomedusa burmeisteri; (B) Phyllomedusa sp. (aff. rohbei); (C) Phyllomedusa sp. (aff. rohbei) note o padrão de colorido na parte interna das coxas; (D) Physalaemus olfersii.

273



Avifauna da Serra do Itapeti Rodnei Iartelli

Resumo O presente trabalho teve como objetivos inventariar a avifauna da Serra do Itapeti, além de comparar as comunidades de aves em dois ambientes com diferentes graus de conservação. O estudo foi realizado no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello e os levantamentos qualitativos foram feitos por observações diretas, identificação por vocalização e algumas capturas com rede de neblina. Já para os levantamentos quantitativos foram escolhidas duas trilhas, onde foram estabelecidos seis pontos de escuta em cada local; e armadas dez redes de neblina, por três dias consecutivos, alterando-se os meses em cada trilha. Entre os anos de 1999 a 2004, foram identificadas 185 espécies divididas em 37 famílias e 16 ordens. Das espécies registradas, 37 são endêmicas de Mata Atlântica e dez sofrem algum tipo de ameaça de extinção. Nos levantamentos quantitativos que usam pontos de escuta, Basileuterus culicivorus, Chiroxiphia caudata foram as espécies mais abundantes. Foram empregadas 1.830 horas/redes, com um total de 178 indivíduos anilhados de 38 espécies, sendo C. caudata a espécie mais capturada (N=16). Uma das informações mais importantes deste levantamento foi o encontro de 50 espécies que ainda não constavam na lista oficial do Parque. Esse aumento provavelmente é o resultado da diminuição das perturbações antrópicas na área.

(MARTINI et al., 2007; CARNAVAL et al., 2009; METZGER et al., 2009), com muitas espécies ainda não coletadas e outras já depositadas em coleções, mas ainda não formalmente descritas (GOERCK, 1997; LEWINSOHN & PRADO, 2005; LAMBAIS et al., 2006). A modificação na estrutura e composição vegetal altera as comunidades de aves como um todo, pois expõe as espécies à ação de predadores, diminui a disponibilidade de recursos alimentares, locais para abrigo e nidificação (PACHECO et al., 1994). A floresta, com suas diferentes estratificações, oferece recursos variados para manter uma alta diver-

Introdução O Estado de São Paulo possui atualmente cerca de 3,5 milhões de hectares de cobertura vegetal natural, o que corresponde a 13,94% de sua superfície (XAVIER et al., 2008). A Mata Atlântica, que já cobriu cerca de um milhão e duzentos mil quilômetros quadrados, está reduzida a 12% de sua área original (RIBEIRO et al., 2009) e apenas 1% está protegida (LAURANCE, 2009). É considerada um dos hotspots em biodiversidade mais ameaçados do planeta (SOS Mata Atlântica, 1998; MYERS et al., 2000), com fauna e flora que apresentam adicionalmente níveis relativamente altos de endemismo 275


Rodnei Iartelli

sidade de aves, e sua alteração causa a substituição de espécies de aves frugívoras e insetívoras, que são mais especializadas, por espécies onívoras, que são generalistas e se adaptam a vários tipos de ambientes (MOTTA JUNIOR, 1990). A avifauna tem sido amplamente utilizada como bioindicadora para se avaliar a qualidade ambiental (BAILLIE, 1991; FURNESS et al., 1993). Vários países estão estabelecendo programas de monitoramento ambiental baseados em parâmetros ecológicos de comunidades de aves (GREENWOOD et al., 1993). Para esses programas, as aves desempenham papel fundamental e representam o grupo, dentre todos os vertebrados, com maior número de informações sobre sua ecologia, taxonomia e distribuição geográfica.

proposta do plano de manejo, 119 espécies de aves, sendo as espécies mais comuns: rolinha (Columbina talpacoti), anu-branco (Guira guira) e tangará (Chiroxiphia caudata). Como espécies ameaçadas de extinção foram identificadas: jacu-guaçu (Penelope obscura), tesourinha (Phibalura flavirostris) e macuco (Tinamus solitarius) (MANNA DE DEUS et al., 1994). A mata do Parque é classificada como floresta Ombrófila Densa Montana, apresenta vegetação secundária em diferentes estágios de regeneração, com espécies arbóreas que atingem até 25m de altura, como a canela-ferrugem (Nectandra opposifolia), a pera-glabrata (Dalbergia brasiliensis) e o jacarandád’espinho (Machaerium nictitans). Já nos arredores das edificações, na região das antigas represas, atualmente drenadas, e nos limites do Parque se encontram arbustos com até 2m de altura e algumas pequenas árvores que chegam a 4m, tais como a canela-podre (Piptocarpha axillaris) e a bracatinga (Mimosa scabrela). No sub-bosque encontra-se uma grande quantidade de formações herbáceas e arbustivas, a exemplo dos caetês (Ctenanthe lanceolata), os bicos-de-papagaios (Heliconia velloziana) e a erva-de-rato (Psychotria suterella) (TOMASULO & CORDEIRO, 2000). O Parque está dividido em: Zona Primitiva, onde a intervenção humana foi mínima e a conservação do ambiente natural é conciliada com atividades de pesquisas científicas; Zona de Uso Intensivo, constituída por áreas alteradas, onde o objetivo geral do manejo é facilitar a recreação intensiva e a educação ambiental; Zona de Uso Extensivo, constituída por áreas naturais com alguma alteração humana e que oferece acesso para fins educativos; Zona de Uso Especial, formada por áreas necessárias à administração, manutenção e serviços e que abrange habitações, oficinas e outras; e Zona de Recuperação, que são áreas consideradas alteradas pelo homem, cujo objetivo geral de manejo é deter a degradação dos recursos naturais e de restauração (MANNA DE DEUS et al., 1995).

Objetivos Este trabalho teve como objetivo inventariar a avifauna do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Especificamente foram comparadas as comunidades de aves em dois ambientes, com diferentes graus de conservação.

Métodos Área de estudo O trabalho foi realizado no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello (23º 28’S, 46º 09’O), e, esporadicamente, ao longo da Serra do Itapeti, ambos situados no município de Mogi das Cruzes, Estado de São Paulo. O Parque possui uma área de 352,3ha, e localiza-se na face centro sul da Serra do Itapeti, com altitudes que variam de 807 a 1.141m, e está situado em perímetro urbano a uma distância de 5,5km do marco de fundação da cidade. Até o ano de 1989 o Parque era uma das principiais áreas de lazer para a população de toda a região, recebendo um grande aporte de visitantes sem controle e essa elevada quantidade de pessoas causava grande perturbação antrópica (muito barulho, grande quantidade de lixo e depredação do ambiente). A partir de 1995, após a elaboração da proposta de plano de manejo, foi estabelecido que o Parque poderia receber no máximo 120 visitantes por dia, sendo as visitas monitoradas e conciliadas com educação ambiental (MANNA DE DEUS et al., 1995). Atualmente, um dos principais problemas do Parque é a pressão causada pelas propriedades particulares que o circundam. Na área do Parque haviam sido registradas, durante a elaboração da

Protocolo de coleta de dados Os dados foram obtidos por meio de observação direta, vocalização e capturas com rede de neblina. Foram escolhidas duas áreas para o estudo quantitativo: Zona de Recuperação e Zona de Uso Extensivo. A observação direta e o registro de vocalizações foram realizados ao longo de um transecto de 1.000m, em cada ambiente, estabelecendo-se seis pontos distantes um do outro 200m; foram gastos 20min de observações em cada ponto. Nos anos de 1999 e 2000 foram realizadas, esporadicamente, observações dire276


Avifauna da Serra do Itapeti

tas no Parque e ao longo da Serra e algumas capturas com redes de neblina no Parque. Já entre outubro de 2001 e setembro de 2002 foram realizadas observações em pontos de escuta, com uma visita mensal em cada local de estudo. Durante esses 12 meses de estudos foram gastas 72h de observações divididas igualmente nos dois locais. Para a identificação das aves foram utilizados guias de campo tais como Souza (1998) e Sick (1997). Todas as aves avistadas e ou ouvidas, conforme metodologia proposta por Vielliard & Silva (1990), foram anotadas. As observações foram realizadas um dia por mês em cada ambiente, do amanhecer até aproximadamente às 9h30. Para a captura com rede de neblina foram utilizadas dez redes de malha 36mm, abertas três dias consecutivos por mês, verificadas a cada hora, alternando-se as campanhas de campo em cada ambiente. As aves capturadas foram retidas em sacos de pano e, após identificadas, foram marcadas com uma anilha de alumínio numerada, fornecida pelo CEMAVE (ICMBIO - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Depois da obtenção dos dados biométricos, ecológicos e fotográficos, as aves foram liberadas no mesmo local da captura. O cálculo dos parâmetros de abundância utilizou os seguintes referenciais: a) Índice de abundância (IA): que corresponde ao número de indivíduos de cada espécie registrada a cada 100h de observação. b) Frequência de ocorrência (FO): que corresponde ao número de dias em que determinada espécie foi observada em relação ao número de dias de observação. c) Índice de similaridade de Jaccard (IJ): esse índice mede o quanto os locais se assemelham. d) As observações e capturas feitas esporadicamente ao longo da Serra do Itapeti foram utilizadas apenas para o levantamento qualitativo, não entrando para os cálculos de parâmetros de abundância. e) Analisando-se os padrões ecológicos das espécies e de acondo com D’ Ângelo Neto et al. (1998), as espécies foram agrupadas em 15 guildas: 1) Frugívoras; 2) Onívoras de dossel; 3) Onívoras de sub-bosque; 4) Onívoras de borda; 5) Insetívoras do sub-bosque, que procuram sua presa na folhagem; 6) Insetívoras do sub-bosque que procuram sua presa no solo

7) 8) 9) 10) 11) 12) 13) 14) 15)

Insetívoras de borda; Insetívoras de estrato médio; Insetívoras de dossel; Insetívoras das cascas das árvores; Insetívoras de área aberta; Nectarívoras; Granívoras; Carnívoras; Piscívoras.

Resultados e discussão As amostragens se estenderam de 1999 a 2004 e possibilitaram a identificação de 185 espécies divididas em 37 famílias e 16 ordens. Das espécies registradas, 37 são endêmicas de Mata Atlântica e dez sofrem algum tipo de ameaça de extinção (Tabela 1). Hofling & Lencioni (1992) registraram na Serra do Mar, na região de Salesópolis, 220 espécies. Dessas, 128 também foram encontradas na Serra do Itapeti. Esse maior número de espécies na Serra do Mar é explicado pela melhor conservação da área e maior conectividade da vegetação. Já Willis (1996) catalogou 142 espécies na Serra da Mantiqueira, em altitudes acima de 1.400m: dessas, 68 são comuns também para a Serra do Itapeti. A diferença na riqueza das espécies também pode estar relacionada à altitude, já que a área do presente estudo está em torno de 1.140m. Especificamente no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello foram registradas 109 espécies, sendo 94 (86,2% das espécies) na Zona de Recuperação e 66 (60,5% das espécies) na Zona de Uso Extensivo (Tabela 2). Na Zona de Recuperação, as espécies com maiores índices de abundância foram: Basileuterus culicivorus (mariquita: 194,4), Chiroxiphia caudata (tangará: 191,7), Pygochelidon cyanoleuca (andorinha-azul-e-branca: 155,5), Tachyphonus coronatus (tié-preto: 141,7) e Pionus maximiliani (maitaca: 113,9). Já na Zona de Uso Extensivo as espécies com maiores índices de abundância foram: Basileuterus culicivorus (213,9), Chiroxiphia caudata (155,5), Patagioenas picazuro (asa-branca: 66,7), Pionus maximiliani (55,5) e Dysithamnus mentalis (choca-olivácea: 55,5). Na Zona de Recuperação, 16 espécies (17%) apresentaram frequência de ocorrência acima de 75%; já na Zona de Uso Extensivo apenas seis espécies (9,1%). A maioria das espécies apresentou uma frequência de ocorrência abaixo de 25%, ou seja, 40 espécies (42,5%) na Zona de Recuperação e 33 (50%) na Zona de Uso Extensivo (Tabela 3).

277


Rodnei Iartelli

Tabela 1. Lista total das espécies de aves do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Ordem/Família/Subfamília Tinamiformes

Ciconiiformes

Tinamidae

Ardeidae

Nome Científico Crypturellus obsoletus

inhambu-guaçu

Tinamus solitarius7

macucu

Nothura maculosa

codorna

Butorides striata

socozinho

Bubulcus ibis Ardea alba

Anseriformes

Anatidae

Accipitridae Falconiformes Falconidae Galliformes Gruiformes

Cracidae Rallidae

5, 8

garça-vaqueira

8

garça-branca

Dendrocygna viduata

irerê

Amazonetta brasiliensis

marreca-ananai

Rupornis magnirostris

gavião-indaié

Accipiter poliogaster

1

tauató

Leptodon cayanensis

gavião-de-cabeça-cinza

Elanoides forficatus

gavião-tesoura

Micrastur semitorquatus

falcão-do-mato

Caracara plancus

carcará

Penelope obscura2

jacu

Aramides cajanea

saracura-três-potes

Aramides saracura

3

saracura-do-brejo

Rallus nigricans Charadriformes

Columbiformes

saracura-preta

8

Jacanidae

Jacana jacana

Charadriidae

Vanellus chilensis8

quero-quero

Columbina talpacoti

rolinha

Leptotila rufaxilla

gemedeira

Leptotila verreauxi

juriti

Patagioenas picazuro

asa-branca

Columbidae

Brotogeris tirica

Psittaciformes

Psittacidae

jaçanã

3

periquito-verde

Brotogeris chiriri4

periquito

Forpus xanthopterygius

tuim

Pionus maximiliani

maitaca

Aratinga leucophthalma

maracanã

Diopsittaca nobilis

4

arara-nanica

Amazona aestiva4 Tytonidae Stringiformes

Caprimulgiformes

Cuculiformes

Tyto alba

papagaio-verdadeiro

8

suindara

Megascops choliba Stringidae

corujinha-do-mato

Aegolius harrisii

caburé-canela

Athene cunicularia8

coruja-buraqueira

Nyctibiidae

Nyctibius griseus8

urutau

Caprimulgidae

Nyctidromus albicollis

curiango

Guira guira

anu-branco

Crotophaga ani

anu-branco

Cuculidae

Piaya cayana Coccyzus americanus

Apodidae Apodiformes

Nome Vernáculo

Trochilidae

alma-de-gato 8

Chaetura meridionalis

papa-lagarta-norte-americana tapera

Phaethornis pretrei

rabo-branco-da-mata

Phaethornis eurynome3

rabo-branco-da-mata

Phaethornis squalidus3

rabo-branco-da-mata

Thalurania glaucopis3

beija-flor-fronte-violácea

278


Avifauna da Serra do Itapeti

Tabela 1. (Continuação) Ordem/Família/Subfamília

Apodiformes

Trochilidae

Nome Científico

Nome Vernáculo

Florisuga fusca

beija-flor-preto-e-branco

Chlorostilbon lucidus

besourinnho

Leucochloris albicollis

papo-branco

Eupetomena macroura

tesoura

Amazilia fimbriata

beija-flor-garganta-verde

Amazilia lactea Amazilia versicolor

beija-flor-verde 8

beija-flor-de-banda-branca

Hylocharis sapphirina8 Lophornis chalybeus

Coraciiformes

Piciformes

Alcedinidae

Bucconidae

beija-flor-de-garganta-rubi

8

tufinho-verde

Lophornis magnificus8

torpetinho

Ceryle torquata

martim-pescador-grande

Chloroceryle amazona

matim-pescador-verde

Chloroceryle americana

martim-pescador

Chloroceryle aenea2

martim-pescador-anão

Malacoptila striata3

joão-bobo

Nystalus chacuru8

joão-bobo

Ramphastos dicolorus

3

tucano-do-bico-verde

Colaptes campestris

pica-pau-do-campo

Colaptes melanochloros

Ramphastidae

Picidae

Thamnophilidae

8

picapauzinho-verde-barrado

Melanerpes candidus

pica-pau-branco

Celeus flavescens

pica-pau-loiro

Veniliornis spilogaster

pica-pau-verde

Campephilus robustus6

pica-pau-rei

Dryocopus lineatus

pica-pau-de-cabeça-vermelha

Piculus aurulentus

pica-pau-dourado

Picumnus cirratus

picapauzinho-dourado

Picumnus temminck

pica-pau-anão

Thamnophilus caerulescens

choca

Thamnophilus ruficapillus

choca-da-mata

Dysithamnus mentalis

choca-olivácea

Myrmeciza squamosa

3

papa-formiga-de-escamas

Pyriglena leucoptera3 (Fig. 1D)

olho-de-fogo

Mackenziaena leachii3

borralha

Batara cinerea

matracão

Herpsilochmus rufimarginatus Passeriformes

8

chororozinho-de-asa-vermelha

Conopophagidae

Conopophaga lineata

chupa-dente

Formicariidae

Chamaeza campanisona

tovaca

Furnarius rufus

joão-de-barro

Furnariidae

Synallaxis spixi

joão-tenenêm

Synallaxis ruficapilla3

bentererê

Cranioleuca pallida3

joão-de-pau

Lochmias nematura

capitão-da-porcaria

Phacellodomus erythrophthalmus3 Certhiaxis cinnamomeus

8

joão-botina curutiê

Anabazenops fuscus3

trepador-de-coleira

Automolus leucophthalmus

limpa-folha-de-olho-branco

279


Rodnei Iartelli

Tabela 1. (Continuação) Ordem/Família/Subfamília

Furnariidae

Nome Científico

Nome Vernáculo

Philydor atricapillus3

limpa-folha-de-cabeça-preta

Cichlocolaptes leucophrus3

limpa-folha-ferrugíneo

Xenops minutus

bico-virado-miúdo

Sclerurus scansor3

Passeriformes

vira-folhas

Xiphorhynchus fuscus Dendrocolaptidae

Elaenninae

3

arapaçu

Lepidocolaptes squamatus

arapaçu-de-escamas

Sittasomus griseicapillus

subideira

Camptostoma obsoletum

risadinha

Tolmomyias sulphurescens

bico-chato

Elaenia flavogaster

guaracava

Elaenia parvirostris

guaracava-de-bico-pequeno

Platyrinchus mystaceus

patinho

Serpophaga subcristata

alegrinho

Mionectes rufiventris3

abre-asa-de-cabeça-cinza

Leptopogon amaurocephalus

cabeçudo

Hemitriccus orbitatus3

tiririzinho-do-mato

Phylloscartes difficilis6

mosquiteiro-da-serra-do-mar

Myiophobus fasciatus

felipe

Lathrotriccus euleri

papa-mosca-pardo

Arundinicola leucocephala Fluvicolinae

8

Fluvicola nengeta8

lavandeira

Pyrocephalus rubinus8 Knipolegus lophotes

Tyrannidae

8

Pipridae

Megarynchus pitangua

bem-te-vi-bico-chato

Pitangus sulphuratus

bem-te-vi

Myiozetetes similis

bentevizinho

3

capitão-da-saíra

Attila phoenicurus

capitão-castanho

Tyrannus melancholicus

suiriri

Myiarchus ferox

maria-cavaleira 8

bem-te-vi-rajado

Legatus leucophaius

bem-te-vi-ladrão

Pachyramphus validus (Fig. 2C)

caneleiro

Pachyramphus polychopterus

caneleiro-preto

Tityra inquisitor

araponguinha

Schiffornis virescens3

dançador-verde

Chiroxiphia caudata3

tangará

Manacus manacus

rendeira

Pyroderus scutatus

Hirundinidae

maria-cavaleira

Myiodynastes maculatus

Ilicura militaris3 Cotingidae

maria-preta-de-topete suiriri-pequeno

Myiarchus tyrannulus

Tityrinae

verão

Satrapa icterophrys8

Attila rufus Tyranninae

freirinha

tangarazinho 1

pavó

Procnias nudicollis7

araponga

Phibalura flavirostris1

tesourinha

Stelgidopteryx ruficollis

andorinha-serrador

Pygochelidon cyanoleuca

andorinha-azul-e-branca

Progne chalybea

andorinhão

Riparia riparia

andorinha-do-barranco

280


Avifauna da Serra do Itapeti

Tabela 1. (Continuação) Ordem/Família/Subfamília Tyrannidae

Nome Científico Tachycineta leucorrhoa

andorinha-morena

Troglodytidae

Troglodytes musculus

corruíra

Turdus rufiventris

sabiá-laranjeira

Turdus amaurochalinus

sabiá-poca

Turdus albicollis

sabiá-coleira

Turdinae

Mimidae Vireoniade

Parulidae Coerebidae

Turdus leucomelas

sabiá-branca

Turdus flavipes

sabiá-una

Mimus saturninus8

sabiá-do-campo

Cyclarhis gujanensis

pitiguari

Vireo olivaceus

juruviara

Hylophilus poicilotis

juruviara-cabeça-castanha

Basileuterus culicivorus

mariquita

Basileuterus leucoblepharus

mariquita-de-sobrancelha

Geothlypis aequinoctialis

pia-cobra

Coereba flaveola

cambacica

Thraupis sayaca8

sanhaço

Thraupis palmarum8

sanhaço-do-coqueiro

Thraupis ornata

8

sanhaço-de-encontro

Thraupis cyanoptera3 Tachyphonus coronatus

Thraupidae

Emberezidae

Icterinea

Fringillidae Estrildidae

sanhaço-azul 3

tié-preto

Pipraeidea melanonota

saíra-viúva

Tangara cayana

saíra-amarela

Tangara cyanoventris Muscicapidae

Nome Vernáculo

Hirundinidae

3

Tangara preciosa6, 8 Tangara seledon

saíra-dourada saíra-preciosa

3, 8

saíra-sete-cores

Dacnis cayana

saí-azul

Habia rubica

tié-da-mata

Trichothraupis melanops (Fig. 1E)

tié-de-topete

Hemithraupis ruficapilla

saíra-da-mata

Conirostrum speciosum

figurinha

Ramphocelus bresilius3, 8

tié-sangue

Thlypopsis sordida8

canário-sapé

Saltator similis

picharro

Zonotrichia capensis

tico-tico

Sporophila caerulescens

coleirinha

Sporophila lineola

bigodinho

Haplospiza unicolor

3

catatau

Ammodramus humeralis8

tico-tico-do-campo

Sicalis flaveola8

canário-da-terra

Gnorimopsar chopi

pássaro-preto

Molothrus bonariensis

chupim

Sporagra magellanica

pintassilgo

Euphonia pectoralis 3

gaturamo-serrador

Euphonia chlorotica

vivi

Estrilda astrild

5, 8

bico-de-lacre

Obs: (1) espécie vulnerável em São Paulo, (2) espécie provavelmente ameaçada em São Paulo, (3) espécie endêmica de Mata Atlântica, (4) escape de cativeiro, (5) espécie introduzida no Brasil, (6) espécie endêmica provavelmente ameaçada em São Paulo, (7) espécie endêmica ameaçada em São Paulo, (8) fora dos limites do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. 281


Rodnei Iartelli

Tabela 2. Espécies de aves com índice de abundância (IA) e frequência de ocorrência (FO), entre outubro de 2001 e setembro de 2002, nas duas áreas estudadas do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Táxon Crypturellus obsoletus

Zona de Recuperação IA

FO

IA

FO

72,2

100

44,4

66,7

_

_

2,8

8,3

5,5

16,7

_

_

Tinamus solitarius Butorides striata

Zona de Uso Extensivo

Dendrocygna viduata

5,5

8,3

_

_

Rupornis magnirostris

11,1

33,3

8,3

16,7

Accipiter superciliosus

2,8

8,3

_

_

Penelope obscura

25

41,7

31,6

41,7

Aramides cajanea

41,7

58,3

11,1

16,7

Rallus nigricans

5,5

16,7

_

_

Columbina talpacoti

11,1

16,7

_

_

Leptotila rufaxilla

22,2

41,7

5,5

16,7

Leptotila verreauxi

22,2

33,3

11,1

16,7

Patagioenas picazuro

41,7

66,7

66,7

58,3

Brotogeris tirica

100

66,7

11,1

8,3

113,9

91,7

55,5

58,3

_

_

8,3

8,3

Pionus maximiliani Aratinga leucophthalma Guira guira

8,3

8,3

_

_

Piaya cayana

27,8

58,3

5,5

8,3

Chaetura meridionalis

44,4

25

_

_

Phaethornis pretrei

41,7

75

25

58,3

Phaethornis eurynome

11,1

25

11,1

33,3

Phaethornis squalidus

_

_

2,8

8,3

41,7

75

27,8

75

Florisuga fusca

8,3

16,7

_

_

Chlorostilbon lucidus

27,8

58,3

5,5

16,7

Leucochloris albicollis

5,5

16,7

2,8

8,3

Eupetomena macroura

2,8

8,3

_

_

Amazilia fimbriata

2,8

8,3

_

_

Ceryle torquata

2,8

8,3

_

_

Malacoptila striata

11,1

16,7

_

_

Colaptes campestris

77,8

75

_

_

Melanerpes candidus

13,9

16,7

_

_

Celeus flavescens

8,3

25

16,5

50

Veniliornis spilogaster

5,5

16,7

_

_

Campephilus robustus

8,3

16,7

2,8

8,3

Dryocopus lineatus

5,5

16,7

_

_

Piculus aurulentus

2,8

8,3

_

_

_

_

5,5

8,3

Thalurania glaucopis

Picumnus temmincki Picumnus exilis

_

_

2,8

8,3

Thamnophilus caerulescens

25

58,3

16,7

25

Thamnophilus ruficapillus

2,8

8,3

_

_

Dysithamnus mentalis (Fig. 2D)

27,8

58,3

55,5

27,8

Myrmeciza squamosa (Fig. 1B)

_

_

50

66,7

_

_

5,5

16,7

5,5

8,3

8,3

16,7

Pyriglena leucoptera Conopophaga lineata (Fig. 2E)

282


Avifauna da Serra do Itapeti

Tabela 2. (Continuação) Táxon

Zona de Recuperação

Zona de Uso Extensivo

IA

FO

IA

FO

Synallaxis spixi

44,4

75

8,3

25

Synallaxis ruficapilla

33,3

33,3

41,7

75

Cranioleuca pallida

2,8

8,3

8,3

16,7

Lochmias nematura

_

_

36,1

75

Phacellodomus erythrophthalmus

_

_

2,8

8,3

Anabazenops fuscus

_

_

5,5

16,7

Automolus leucophthalmus

16,7

33,3

19,4

33,3

Xiphorhynchus fuscus

11,1

33,3

16,7

25

Sittasomus griseicapillus

8,3

25

11,1

16,7

Camptostoma obsoletum

11,1

25

_

_

Tolmomyias sulphurescens

5,5

16,7

25

66,7

Elaenia flavogaster

5,5

16,7

_

_

Platyrinchus mystaceus (Fig. 2A)

8,3

25

16,7

41,7

Serpophaga subcristata

2,8

8,3

_

_

Leptopogon amaurocephalus

5,5

8,3

5,5

8,3

Mionectes rufiventris

5,5

8,3

5,5

16,7

Hemitriccus orbitatus

_

_

2,8

8,3

Myiophobus fasciatus

2,8

8,3

_

_

Megarynchus pitangua

13,9

25

11,1

25

Pitangus sulphuratus

61,11

100

11,1

16,7

Myiozetetes similis

30,5

58,3

_

_

Attila rufus

22,2

33,3

_

_

Attila phoenicurus

2,8

8,3

_

_

Tyrannus melancholicus

61,1

66,7

_

_

Myiarchus ferox

2,8

8,3

_

_

Myiodynastes maculatus

33,3

41,7

_

_

Legatus leucophaius

2,8

8,3

_

_

8,3

16,7

_

_

Chiroxiphia caudata

Pachyramphus validus

191,7

91,7

155,5

91,7

Manacus manacus

2,8

8,3

13,9

41,7

Schiffornis virescens

_

_

8,3

16,7

Ilicura militaris (Fig. 1A)

_

_

8,3

25

Pyroderus scutatus

_

_

2,8

8,3

Stelgidopteryx ruficollis

11,1

8,3

_

_

Pygochelidon cyanoleuca

155,5

58,3

_

_

Troglodytes musculus

55,5

100

_

_

Turdus rufiventris

55,5

91,7

16,7

33,3

Turdus amaurochalinus

66,7

91,7

11,1

33,3

Turdus albicollis

8,3

25

13,9

33,3

Turdus leucomelas

8,3

16,7

_

_

Turdus flavipes

5,5

16,7

2,8

8,3

Cyclarhis gujanensis (Fig. 1C)

83,3

91,7

25

41,7

Vireo olivaceus

11,1

25

_

_

_

_

2,8

8,3

194,4

91,7

213,9

100

Hylophilus poicilotis Basileuterus culicivorus

283


Rodnei Iartelli

Tabela 2. (Continuação) Zona de Recuperação

Táxon

IA

Zona de Uso Extensivo

FO

IA

FO

Basileuterus leucoblepharus

8,3

25

22,2

66,7

Geothlypis aequinoctialis

2,8

8,7

_

_

Coereba flaveola

38,9

58,3

2,8

8,3

Thraupis sayaca

61,1

58,3

_

_

Tachyphonus coronatus

141,7

91,7

25

33,3

Pipraeidea melanonota

19,4

41,7

_

_

Tangara cayana (Fig. 2B)

50

75

47,2

58,3

Tangara cyanoventris

8,3

16,7

30,5

33,3

Dacnis cayana

94,4

58,3

19,4

16,7

Habia rubica

11,1

16,7

50

75

Trichothraupis melanops

19,4

41,7

5,5

16,7

Euphonia pectoralis

2,8

8,3

2,8

8,3

Euphonia chlorotica

_

_

8,3

16,7

Conirostrum speciosum

19,4

25

_

_

Zonotrichia capensis

33,3

50

_

_

Sporophila caerulescens

11,1

25

_

_

Volatinia jacarina

2,8

8,3

_

_

Molothrus bonariensis

5,5

8,3

_

_

Saltator similis

80,5

83,3

44,4

66,7

Tabela 3. Porcentagem de espécies por frequência de ocorrência durante as observações, nas duas áreas estudadas do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. FO (%)

Zona de Recuperação (%)

Zona de Uso Extensivo (%)

< 25

42,5

50

25-49

24,5

25,7

50-74

16

15,2

75-99

13,8

7,6

100

3,2

1,5

Tabela 4. Número e porcentagem (%) de espécies por guilda amostrada, entre outubro de 2001 e setembro de 2002, para cada ambiente estudado no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Guilda

Recuperação

Extensivo

Frugívoras

4 (4,2)

6 (9,1)

Onívoras de dossel

6 (6,4)

4 (6,1)

Onívoras de sub-bosque Onívoras de borda Insetívoras do sub-bosque que procuram sua presa na folhagem Insetívoras do sub-bosque que procuram sua presa no solo

6 (6,4)

10 (15,1)

15 (15,9)

7 (10,6)

8 (8,5)

7 (10,6)

4 (4,2)

7 (10,6)

11 (11,7)

4 (6,1)

Insetívoras de estrato médio

5 (5,3)

4 (6,1)

Insetívoras de dossel

2 (2,2)

_

Insetívoras das cascas das árvores

9 (9,6)

7 (10,6)

Insetívoras de área aberta

4 (4,2)

_

Nectarívoras

8 (8,5)

6 (9,1)

Granívoras

8 (8,5)

3 (4,5)

Carnívoras

2 (2,2)

1 (1,5)

Piscívoras

2 (2,2)

_

Insetívoras de borda

284


Avifauna da Serra do Itapeti

Tabela 5. Espécies e número de indivíduos capturados nos dois locais estudados no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. Recuperação

Extensivo

Leptotila rufaxilla

Nome Científico

gemedeira

Nome Vernáculo

3

0

Thalurania glaucopis

beija-flor-da-fronte-violácea

5

3

Phaethornis eurynome

rabo-branco-da-mata

3

1

Malacoptila striata

joão-bobo

3

0

Picumnus cirratus

pica-pau-anão

2

0

Veniliornis spilogaster

pica-pau-verde

1

0

Celeus flavescens

pica-pau-loiro

1

0

Dysithamnus mentalis

choca-olivácea

2

3

Myrmeciza squamosa

papa-formiga-de-escamas

0

2

Pyriglena leucoptera

olho-de-fogo

4

5

Batara cinerea

matracão

1

0

Conopophaga lineata

chupa-dente

4

0

Lochmias nematura

capitão-da-porcaria

2

0

Automolus leucophthalmus

limpa-folha-de-olho-branco

3

1

Xenops minutus

bico-virado-miúdo

1

1

Sclerurus scansor

vira-folhas

0

1

Xiphorhynchus fuscus

arapaçu

3

5

Sittasomus griseicapillus

subideira

2

4

Camptostoma obsoletum

risadinha

1

0

Platyrinchus mystaceus

patinho

4

4

Mionectes rufiventris

abre-asa-de-cabeça-cinza

1

2

Leptopogon amaurocephalus

cabeçudo

6

1

Hemitriccus orbitatus

tiririzinho-do-mato

1

2

Lathrotriccus euleri

papa-mosca-pardo

5

1

Myiarchus ferox

maria-cavaleira

1

0

Myiodynastes maculatus

bem-te-vi-rajado

2

0

Chiroxiphia caudata

tangará

7

9

Schiffornis virescens

dançador-verde

0

3

Ilicura militaris end.

tangarazinho

0

4

Turdus rufiventris

sabiá-laranjeira

1

0

Turdus albicollis

sabiá-coleira

3

5

Cyclarhis gujanensis

pitiguari

1

1

Basileuterus culicivorus

mariquita

5

2

Tachyphonus coronatus

tié-preto

8

4

Trichothraupis melanops

tié-de-topete

2

5

Habia rubica

tié-da-mata

3

0

Haplospiza unicolor

catatau

2

9

Saltator similis

picharro

6

1

As Zonas de Recuperação e de Uso Extensivo apresentam uma similaridade de 46,8%, sendo que 51 espécies foram comuns para os dois ambientes, 43 exclusivas para a Zona de Recuperação e 15 exclusivas para a Zona de Uso Extensivo. Esses resultados indicam uma semelhança relativamente alta

entre os ambientes, com um grande número de espécies pouco sensíveis à alteração da vegetação. Ao se verificar as porcentagens das guildas para cada ambiente, conclui-se que na Zona de Recuperação há maior número de onívoros de borda, seguido por insetívoros de borda. Já na Zona de Uso 285


Rodnei Iartelli

Extensivo existe grande porcentagem de onívoros de sub-bosque (Tabela 4). Quanto às guildas tróficas para cada ambiente, as espécies insetívoras foram as mais abundantes, seguidas pelas onívoras. Na Zona de Uso Extensivo houve maior porcentagem (mais que o dobro) de frugívoras em relação à Zona de Recuperação, sendo observado o oposto em relação às granívoras. Em março de 2003, iniciou-se o anilhamento, que se estendeu até janeiro de 2004, totalizando 1.830 horas/rede, sendo 1.030 horas/rede na Zona de Recuperação e 800 horas/rede na Zona de Uso Extensivo, com um total de 178 indivíduos anilhados de 38 espécies (Tabela 5). Durante os trabalhos de anilhamento, 23 indivíduos foram recapturados, sendo sete deles, duas vezes e dois, três vezes. O restante foi recapturado uma única vez. Praticamente todas as recapturas foram realizadas no mesmo local das capturas, com exceção do Schiffornis virescens (dançador-verde), que foi anilhado dia 7/04/2003 na Zona de Uso Extensivo, recapturado dia 30/05/2003 na Zona de Recuperação e no dia 18/06/2003 novamente recapturado, porém na Zona de Uso Extensivo. Essa espécie alimenta-se de uma grande variedade de frutos e atua como dispersor de sementes, por isso é de extrema importância para a restauração da vegetação da Zona de Recuperação, transportando sementes de áreas mais conservadas. Ocorreram quatro recuperações de anilhas, duas na Zona de Uso Extensivo e duas na Zona de Recuperação, sendo que todos os indivíduos foram anilhados na trilha do teleférico no ano de 2000 (Tabela 6). Durante as campanhas de campo ocorreu certa sazonalidade no número de indivíduos e de espécies capturadas. Alguns indivíduos apresentaram fidelidade ao ambiente, sendo recapturados mais de uma vez no mesmo local. Pelo pouco tempo de anilhamento não foi possível determinar a área de vida e o deslocamento de muitas espécies dentro do Parque. Foram identificadas 50 espécies novas para a lista oficial do Parque. Esse aumento se dá provavel-

mente pelo fato de, após a diminuição das perturbações antrópicas na área, essas espécies se deslocaram e povoaram a área. No entanto, 24 espécies que constavam no plano de manejo (MANNA DE DEUS et al., 1995) não foram registradas. Provavelmente esse resultado pode estar relacionado à densidade populacional baixa para a área, pois as espécies podem ser vagantes (permanecem pouco no local) ou migratórias ou ainda espécies de vocalização e/ou visualização pouco conspícuas ou passíveis de erros no momento da identificação.

Considerações finais Apesar da maior parte do levantamento ter sido realizada no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, muitas espécies foram registradas exclusivamente fora dessa localidade, o que demonstra a importância das áreas particulares que circundam a Unidade de Conservação e a necessidade da realização de mais levantamentos quantitativos. Além disso, a realização de estudos mais específicos, tais como dispersão de sementes, polinização, autoecologia, efeito de borda, entre outros, também são fundamentais para programas que envolvam a preservação da Serra do Itapeti, já que ela abriga grande número de espécies endêmicas de Mata Atlântica. Ainda nas considerações finais, é necessário ressaltar que em um levantamento recente realizado na Reserva Legal da Pedreira Itapeti (veja capítulo 16), com o objetivo de subsidiar a elaboração do plano de manejo da Unidade de Conservação, foram registradas 122 espécies. Dentre essas, 21 são novas para a Serra do Itapeti (veja Tabela 7). Assim, é possível afirmar que na Serra do Itapeti podem ser observadas 206 espécies, sendo 36 endêmicas de Mata Atlântica e 11 com alguma ameaça de extinção no Estado de São Paulo. Esses resultados demonstram a importância de se inventariar áreas que não estão inclusas dentro das categorias de Unidade de Conservação, mas que fazem parte da Serra do Itapeti como um todo.

Tabela 6. Anilhas recuperadas com as datas de anilhamento e de recuperação. Táxon

Anilha

Anilhamento

Recuperação

Local

Schiffornis virescens

E39345

26/05/2000

09/04/2003

Zona de Uso Extensivo

Xenops minutus

D33270

27/07/2000

17/06/2003

Zona de Uso Extensivo

Sittasomus griseicapillus

E39350

27/07/2000

15/10/2003

Zona de Recuperação

Turdus rufiventris

H36533

28/07/2000

13/01/2004

Zona de Recuperação

286


Avifauna da Serra do Itapeti

Tabela 7. Espécies de aves registradas exclusivamente na Reserva Legal da Pedreira Itapeti. Ordem/Familia Tinamiformes Cathartiformes

Tinamidae Cathartidae Accipitridae

Falconiformes

Gruiformes

Falconidae

Cariamidae

Nome Científico

Nome Vernáculo

Crypturellus tataupa

inhambu-chintã

Coragyps atratus

urubu

Cathartes burrovianus

urubu-de-cabeça-amarela

Buteo albicaudatus

gavião-do-rabo-branco

Micrastur ruficollis

gavião-caburé

Herpetotheres cachinnans

acauã

Falco femoralis

falcão-de-coleira

Milvago chimachima

carrapateiro

Cariama cristata

seriema

Zenaida auriculata

avoante

Geotrygon montana

pariri

Columbiformes

Columbidae

Cuculiformes

Cuculidae

Tapera naevia

sací

Stringiformes

Stringidae

Pulsatrix koeniswaldiana

murucututu

Grallariidae

Grallaria varia

tovacuçu

Myiobius barbatus

assanhadinho

Hirundinea ferruginea

joão-gibão

Cyanocorax cristatellus

gralha-de-topete

Tyrannidae Passeriformes

Corvidae

Sporophila frontalis

1

pixoxó

Emberezidae

Arremon semitorquatus

tico-tico-do-mato

Volatinia jacarina

tiziu

Cardinalidae

Piranga flava

sanaço-de-fogo

(1) Ameaçada de extinção.

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287


Rodnei Iartelli

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288


Avifauna da Serra do Itapeti

B

A

C

E

D

Figura 1. (A) Ilicura militaris (macho); (B) Myrmeciza squamosa (macho); (C) Cyclarhis gujanensis; (D) Pyriglena leucoptera (macho); (E) Trichothraupis melanops (macho).

289


Rodnei Iartelli

A

B

C

E

D

Figura 2. (A) Platyrinchus mystaceus; (B) Tangara cayana (fêmea); (C) Pachyramphus validus (fêmea); (D) Dysithamnus mentalis (fêmea); (E) Conopophaga lineata.

290


Mamíferos de médio e grande porte da Serra do Itapeti Lucila Manzatti Iris Martins Franco

Resumo Estudos sobre a ecologia de mamíferos de médio e grande porte nos remanescentes florestais da região leste de São Paulo ainda são escassos, apesar da riqueza de espécies citadas para a Mata Atlântica. As principais dificuldades relacionam-se às características próprias do grupo, que prejudicam sua observação em ambientes naturais. Assim, o objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento preliminar das espécies de mamíferos de médio e grande porte no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, que é um remanescente de Mata Atlântica, localizado no município de Mogi das Cruzes (SP). Para tanto, foram utilizados vários métodos: observação direta, parcelas de areia como armadilhas de pegadas, armadilhas fotográficas e entrevistas com a comunidade. Foram registradas sete ordens e 24 espécies; classificadas em quatro categorias de dieta, sendo oito onívoras, sete herbívoras, cinco carnívoras e quatro frugívoras. Três das espécies ocorrentes no Parque são endêmicas de Mata Atlântica e nove encontram-se em diferentes categorias das listas oficiais da fauna ameaçada. Os resultados encontrados reafirmam a importância do Parque como um local de abrigo para uma rica fauna e a necessidade de medidas que favoreçam a sua conservação.

degradação de hábitats causadas por ações humanas (CULLEN JR. et al., 2000). Mamíferos neotropicais de grande e médio porte, principalmente os terrestres, têm sido pouco abordados em estudos de composição, estrutura e dinâmica de comunidades (PARDINI et al., 2003), apesar de sua importância em vários processos nos ecossistemas florestais, por exemplo, na predação e dispersão de sementes, na predação de plântulas e na regulação do tamanho de diversas populações (EMMONS, 1984; DIRZO & MIRANDA, 1990). Trabalhos de campo com mamíferos podem se tornar difíceis pelo fato de algumas espécies agruparem características que inviabilizam a observação em ambiente natural, por exemplo, hábitos noturnos,

Introdução O Brasil é o país que possui a maior diversidade de mamíferos do mundo, com mais de 530 espécies descritas até recentemente, das quais aproximadamente 250 ocorrem na Mata Atlântica (FONSECA et al., 1996; COSTA et al., 2005). Entretanto, pela realização de novos estudos, o número de espécies nativas elevou-se para 646 (REIS et al., 2006). A Lista das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção relaciona 66 espécies de mamíferos, dos quais 18% distribuem-se na Mata Atlântica (IBAMA, 2003; COSTA et al., 2005). Nesse bioma, as principais causas de ameaças aos mamíferos terrestres são: a pressão de caça, a fragmentação e a 291


Lucila Manzatti e Iris Martins Franco

zes, pelos, armadilha fotográfica e entrevistas. Negrão & Valladares-Pádua (2006) identificaram 18 espécies de mamíferos de maior porte na Reserva Florestal do Morro Grande, município de Cotia (SP). Os autores utilizaram amostragem em transecto linear e parcelas de areia como armadilhas de pegadas, além de outros vestígios indiretos (fezes, carcaças, ossadas, etc.). Estudos sistematizados sobre os mamíferos na Serra do Itapeti são escassos, apesar de relatos frequentes de avistamentos de várias espécies, especialmente aquelas de médio e grande porte. Assim, o objetivo deste trabalho foi listar as espécies de mamíferos de médio e grande porte do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, visando contribuir para futuros programas de conservação.

grandes áreas de vida e baixa densidade (PARDINI et al., 2003; SCOSS et al., 2004). Sendo assim, métodos de observação indireta tornam-se muitas vezes indispensáveis em levantamentos de mamíferos de determinado local (BECKER & DALPONTE, 1991). Scoss et al. (2004) consideram eficaz a identificação de mamíferos com o uso de pegadas, pois, além da possibilidade de um registro bastante preciso, existe a vantagem de se evitar stress, por vezes desnecessário, ao animal. Diversos autores têm utilizado esse método, associado a outros, em diferentes ecossistemas (CALOURO, 1999; CHIARELLO, 1999a; CHIARELLO, 1999b; SILVA, 2001; BONAVIGO & MESSIAS, 2003; SILVEIRA et al., 2003; DOTTA, 2005; SILVEIRA, 2005; PASSAMANI et al., 2005; NEGRÃO & VALLADARES-PÁDUA, 2006). Armadilhas fotográficas também são bons exemplos de métodos de observação indireta, pois funcionam de forma autônoma, usando sensores infravermelhos que conseguem fotografar o animal por meio de sua temperatura corpórea, interferindo o mínimo no ambiente em que este encontra (TOMAS & MIRANDA, 2003; ARAÚJO & CHIARELLO, 2005). De acordo com Carbone et al. (2001), a armadilha fotográfica é um método prático e eficiente principalmente para registrar espécies de mamíferos críticas, raras, arredias à presença humana, que possuem uma grande área de vida, ocorrem em baixas densidades, são solitárias e/ou vivem em pequenos grupos. Esse método traz outras vantagens que podem levar à identificação correta do animal, assim como a possibilidade de se avaliar idade, sexo e estrutura da população (SILVEIRA et al., 2003). Santos-Filho & Silva (2002) analisaram o uso de hábitats por mamíferos em três diferentes áreas do cerrado, na Estação Ecológica Serra das Araras, Mato Grosso. A amostragem foi realizada, utilizando-se armadilhas fotográficas iscadas com milho, banana, mandioca e carne. Foram registrados 17 táxons, sendo a maioria pertencente à ordem Carnivora. Araújo & Chiarello (2005) realizaram um levantamento de mamíferos, utilizando somente armadilhas fotográficas na Estação Biológica de Santa Lúcia, no Estado do Espírito Santo. Os resultados mostraram que armadilhas fotográficas geram dados satisfatórios para inventários de médios e grandes mamíferos, no entanto, pequenos mamíferos ou espécies arborícolas foram pouco registrados, havendo a necessidade de se utilizar outros métodos para o levantamento desses grupos. No Horto Florestal de Itatinga (SP), Silveira (2005) registrou 27 espécies de mamíferos de médio e grande porte por meio de visualizações, rastros, fe-

Material e métodos O Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello ocupa uma área de 352,3 hectares, com altitudes que variam entre 807 e 1.140m. De acordo com a classificação do IBGE (1992), as encostas da Serra do Itapeti são recobertas por Floresta Ombrófila Densa, sendo que, nas áreas onde houve grande perturbação, essa fitofisionomia florestal é substituída por capoeiras em diversos estágios sucessionais. Para identificar as espécies de mamíferos foram utilizados os seguintes métodos: observação direta, parcelas de areia, armadilhas fotográficas e entrevistas com funcionários e vizinhos do Parque. As espécies foram classificadas quanto à dieta e ao hábito, de acordo com Fonseca et al. (1996) e Eisenberg & Redford (1999).

Observação direta A visualização e registro de mamíferos ocorreram de forma não sistematizada, durante caminhadas em trilhas previamente estabelecidas, nos períodos diurno e noturno, não havendo estimativas do esforço amostral empregado.

Identificação de rastros Os registros e a identificação de pegadas em trilhas, margens de córregos e áreas alagadas já eram feitos desde 1989, porém de forma não sistematizada. Entretanto, entre julho e dezembro de 2006 foram utilizadas 50 parcelas de areia em intervalos de 50m de distância, baseando-se na metodologia proposta por Pardini et al. (2003). Cada parcela compreendeu uma área de 50 x 50cm preenchida com areia fina, peneirada e úmida com aproximadamente 3cm de altura. A areia foi colocada sem pressionar, para que 292


Mamíferos de médio e grande porte da Serra do Itapeti

local. As entrevistas foram abertas e estruturadas, com o intuito de obter informações sobre as espécies de mamíferos ocorrentes na área, a frequência e o local de observação. Essa metodologia visa adicionar dados complementares à pesquisa, gerando informações tanto relacionadas à riqueza, quanto à etnozoologia das espécies, mostrando-se satisfatória quando utilizada juntamente a outras técnicas de amostragem, por permitir integração dos dados coletados e aumentar o grau de fidedignidade das informações obtidas na entrevista.

a impressão das pegadas fosse nítida, o que facilita a visualização de pegadas de animais mais leves, como ratos e gambás. As parcelas de areia foram distribuídas próximas às trilhas pré-existentes e aos cursos de água, e foram utilizados quatro tipos de iscas: banana, bacon, sal grosso e uma mistura de fubá com sardinha. As pegadas foram identificadas segundo Becker & Dalponte (1991).

Armadilhas fotográficas Entre julho e dezembro de 2006 foram utilizadas duas câmeras fotográficas (Trapa Câmera®), distribuídas na área (Figura 1), em alturas que variaram de 45cm a 2m em relação ao solo, conforme sugerido por Kierulff et al. (2004), Araújo & Chiarello (2005) e Silver (2005).

Apresentação dos resultados Foram identificadas 24 espécies de mamíferos no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, pertencentes a sete ordens: Didelphimorphia, Xenarthra, Primates, Carnivora, Artiodactyla, Rodentia e Lagomorpha (Figura 2). A ordem Carnivora apresentou o maior número de espécies, com 9 representantes distribuídos em quatro famílias (Tabela 1).

Entrevistas com a comunidade Foram realizadas dez entrevistas com vizinhos do Parque e guardas-municipais que trabalham no

Tabela 1. Lista das espécies de mamíferos registradas no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, apresentando o nome vernáculo, a dieta (On - onívoro, Fr - frugívoro, In - insetívoro, He - herbívoro, C - carnívoro) e o hábito (Ter - terrestre, Arb - arborícola, Aqu - aquático) segundo Fonseca et al. (1996) e Eisenberg & Redford (1999) o tipo de registro (p - rastros, v - visualização, af - armadilha fotográfica, e - entrevistas). Táxons Didelphimorphia Didelphidae Xenarthra Dasypodidae Bradypodidae Primates Callithrichidae Carnivora Canidae Felidae

Mustelidae

Procyonidae Artiodactyla Cervidae Rodentia Sciuridae

Nome vernáculo

Didelphis aurita1 (Wied-Neuwied, 1826) Philander frenatus1 (Olfers, 1818) Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758)

gambá-de-orelha-preta cuíca-de-quatro-olhos tatu-galinha

Dieta principal

Hábito

Tipo de registro

On

Ter/Arb

P/V/AF/E

On/In

Ter/Arb

P/AF

On/In

Ter

P/V/E

Bradypus variegatus

bicho preguiça

He

Arb

V/E

Callithrix aurita1 (E. Geoffroy, 1812)

sagui-da-serra-escuro

On

Arb

V, E

Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766)

cachorro-do-mato

On

Ter

P/V/AF/E

Leopardus sp.

gato-do-mato

Car

Ter

E

Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758)

jaguatirica

Car

Ter

P, E

Puma concolor (Linnaeus, 1771)

onça-parda

Car

Ter

P, E

Eira barbara (Linnaeus, 1758)

irara

On

Ter/Arb

V/AF/E

Galictis cuja (Molina,1782)

furão

Car

Ter

V/E

Lontra longicaudis2 (Olfers, 1818)

lontra

Car

Aqu

E

Nasua nasua (Linnaeus, 1766)

quati

On

Ter/Arb

P/E

Procyon cancrivorus (G.Cuvier, 1798)

guaxinim

On

Ter

P/V/AF/E

Mazama americana (Erxleben, 1777)

veado-mateiro

He

Ter

P/V/E

Mazama gouazoubira (Fischer, 1814)

veado-catingueiro

He

Ter

P/V/E

Sciurus ingrami (Thomas, 1901)

esquilo

Fr

Arb

V/E

Erethizontidae

Sphigurus villosus (F. Cuvier, 1823)

ouriço-cacheiro

Fr

Arb

V/E

Caviidae

Cavia aperea (Erxleben, 1777)

preá

He

Ter

V/E

293


Lucila Manzatti e Iris Martins Franco

Tabela 1. (Continuação) Táxons

Nome vernáculo

Hydrochaeridae

Hydrochaeris hydrochaeris2 (Wetzel, 1890)

capivara

Dasyproctidae

Dasyprocta azarae2 (Lichtenstein, 1823)

Agoutidae

Agouti paca2 (Linnaeus, 1766)

Myocastoridae

Myocastor coypus (Molina, 1782) Sylvilagus brasiliensis (Linnaeus, 1758)

Lagomorpha Leporidae

Dieta principal

Tipo de registro

Hábito

He

Ter/Aqu

E

cutia

Fr/He

Ter

E

paca

Fr/He

Ter

E

ratão-do-banhado

He

Aqu

P/V/E

tapiti

He

Ter

V/E

(1) espécie endêmica de Mata Atlântica. (2) espécies informadas pelos entrevistados cuja ocorrência é duvidosa ou necessita de confirmação para a área de estudo. Tabela 2. Categoria de ameaça em que se encontram nove espécies de mamíferos do Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, nas listas oficiais do PROBIO-SP (SMA, 1998), IBAMA (2003) e IUCN (2004). Espécie

PROBIO – SP

IBAMA

IUCN EP

EP

VU

Leopardus pardalis

Callithrix aurita

A – VU

A

Puma concolor

A – VU

A

Procyon cancrivorus

NT

PA

Lontra longicaudis

A – VU

DD

Mazama americana

DD

Mazama gouazoubira

DD

Dasyprocta azarae

A-VU

Agouti paca

A-VU

VU

A – ameaçada; EP – em perigo; VU – vulnerável; PA – provavelmente ameaçada; VU – vulnerável; NT – quase ameaçada; DD – dados insuficientes; EP – em perigo

Tabela 3. Riqueza de espécies de mamíferos de médio e grande porte de quatro áreas de Mata Atlântica do Estado de São Paulo. Tamanho da área (hectares)

Nº de espécies (espécies comuns ao PMFAM)

Referência

Reserva do Morro Grande, Cotia

10.870

18 (12)

Negrão & Valladares Pádua (2006)

Horto Florestal de Itatinga

2.200

27 (16)

Silveira (2005)

400

14 (9)

Pianca (2001)

2.250

28 (19)

Silva (2001)

Local

Parque do Zizo, São Miguel Arcanjo Fazenda João XXIII

(jerivá). Miranda (2005) destaca a importância de Syagrus romanzoffiana na dieta não só de esquilos, mas também de outros mamíferos, entre eles o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), identificado na área de estudo por meio de rastros, armadilhas fotográficas, visualização e entrevistas (Figura 5). O grupo trófico com maior número de espécies foi o de onívoros (N=8), seguido pelos herbívoros (N=7), carnívoros (N=5) e frugívoros (N=4). De acordo com Dotta (2005), as dietas pouco específicas possibilitam que algumas espécies de mamíferos possam viver em hábitats mais simplificados ou perturbados, onde podem explorar diversos

Entre os métodos de amostragem utilizados, cinco espécies foram registradas somente com base nos dados de entrevistas: Leopardus sp., Lontra longicaudis, Hydrochaeris hydrochaeris, Dasyprocta azarae e Agouti paca. Suas ocorrências são pouco prováveis na área, necessitando de confirmação, apesar de diversos relatos de avistamentos dessas espécies em várias partes da Serra do Itapeti. A Figura 2 traz uma comparação descritiva dos métodos utilizados no trabalho e a Figura 3 mostra a espécie (Sciurus ingrami) mais frequentemente avistada no Parque, principalmente em áreas de borda onde se alimenta de frutos e sementes de Syagrus romanzoffiana 294


Mamíferos de médio e grande porte da Serra do Itapeti

de espécies de mamíferos de médio e grande porte do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, quando comparada a outros remanescentes de Mata Atlântica do Estado de São Paulo, é muito representativa (Tabela 3).

recursos. Por outro lado, carnívoros especialistas (gato-do-mato, jaguatirica, onça-parda e lontra), animais do topo da cadeia alimentar, necessitam de maiores requerimentos ambientais. Para esse grupo, a fragmentação e perturbação dos hábitats resultam em áreas pequenas demais para manter uma população viável, ou insuficientes para o território necessário para um indivíduo (CROOKS, 2002; TIGAS et al., 2002), podendo levar, inclusive, a conflitos entre as espécies de fauna e as atividades antrópicas exercidas ao redor do remanescente florestal. Entre as 24 espécies de mamíferos registradas no Parque, três são endêmicas de Mata Atlântica (Didelphis aurita, Philander frenatus e Callithrix aurita) e nove encontram-se em diferentes categorias das listas oficiais da fauna ameaçada (Tabela 2). Callithrix aurita merece destaque por ser uma espécie frequentemente observada na área do Parque e seu entorno. Muito pouco é conhecido sobre seu comportamento e biologia reprodutiva na natureza (COUTINHO, 1996), porém, entre os critérios adotados para enquadrar esta espécie como ameaçada de extinção estão a destruição de seu hábitat, o declínio populacional, a distribuição restrita e a introdução de espécies exóticas invasoras (RYLANDS, 1994; BRANDÃO & DEVELEY, 1998; RYLANDS & CHIARELLO, 2003; COSTA et al., 2005) (veja capítulo 16). Apesar de os resultados de diferentes estudos de levantamento de mamíferos dificilmente poderem ser comparados (SANTOS, 2003), dada à variedade de métodos utilizados, o esforço empregado e as características fitofisionômicas, históricas e de usos de cada área serem bastante peculiares, a riqueza

Considerações finais Diante dos resultados preliminares apresentados, fica clara a importância do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello nas estratégias de conservação dos fragmentos de Mata Atlântica da Região Metropolitana de São Paulo. Os dados aqui reunidos reafirmam a importância da Unidade de Conservação como um local de abrigo para uma rica fauna de mamíferos. Já ficou constatada a presença de representantes da maioria das ordens e espécies ameaçadas de extinção. Para a conservação das mesmas é necessário, entre outras medidas, que o Parque possa assegurar suas características, que as propriedades de seu entorno respeitem seus limites e mantenham a vegetação original, minimizando impactos como caça, fogo, extração e fragmentação.

Agradecimentos Muitas pessoas contribuíram nas diversas etapas deste trabalho, entre elas: Maria de Fátima de Oliveira, Mônica de Souza, Rosana Martins, Mônica J. Nishie, Suzana Y. Shimomaebara, Fernanda F. Costa, Tiago Vasconcelos, J.R.Manna de Deus, Jacks Griberg Jr., Edson Carlos e Alexandre Souza Franco.

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Lucila Manzatti e Iris Martins Franco

Figura 1. Armadilha fotográfica posicionada na Zona de Uso Intensivo do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello.

Figura 3. Contribuição de cada método de amostragem (pegadas, visualização, armadilha fotográfica e entrevistas com a comunidade) na identificação da mastofauna do Parque Municipal Francisco Affonso de Mello.

Figura 2. Número de espécies de mamíferos registrados no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, de acordo com as ordens.

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Mamíferos de médio e grande porte da Serra do Itapeti

Figura 4. Esquilo (Sciurus ingrami), espécie de hábito diurno mais frequentemente avistada no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. (Foto: L. Manzatti).

Figura 5. Registro de Cerdocyon thous, proveniente de armadilha fotográfica instalada na área próxima as represas (Zona de Uso Intensivo) do Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. (Foto: L. Manzatti).

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Formigas em áreas urbanizadas da Serra do Itapeti Débora R. de Souza Catarina de B. Munhae Cíntia M. Kamura Nilo da Silva Portero M. Santina de C. Morini

Resumo O impacto das atividades humanas nas áreas de mata pode ser indicado pela presença de espécies de formigas introduzidas, antes que qualquer efeito sobre o ambiente seja observado. Assim, algumas áreas urbanizadas localizadas na Serra do Itapeti tiveram a sua fauna de formigas inventariada. Essas áreas foram divididas em residenciais e não residenciais. As coletas foram efetuadas com pitfall nas áreas não residenciais e manualmente nos quintais das residências, sendo capturadas, respectivamente, 65 e 51 espécies. No geral, nas áreas não residenciais foram coletadas espécies mais especialistas e nas residenciais espécies generalistas. Dentre essas, notadamente chama a atenção Paratrechina longicornis, uma espécie exótica, que tem o potencial de competir e reduzir a fauna nativa. Assim, as áreas residenciais precisam ser monitoradas ao longo do tempo para que haja o controle populacional desse táxon, e de outros, que possam ocasionar prejuízos às espécies nativas.

A modificação da paisagem durante o processo de urbanização, incluindo a construção de ruas, parques, áreas residenciais e comerciais (YAMAGUCHI, 2004), ocasiona várias consequências, como, por exemplo, mudança climática, compactação do solo, introdução, intencional ou não de espécies exóticas, emissão de gases resultantes da queima de combustíveis fósseis e alteração do ciclo hidrológico (RICKMAN & CONNOR, 2003). Essas consequências se refletem, em parte, na modificação da estrutura, composição e densidade das comunidades de plantas e animais que precisam se adaptar com êxito às novas condições. Na grande maioria das vezes, o ambiente urbano se torna aberto a espécies que se aproveitam de algumas vantagens, como a oferta de alimentos, a ausência de competidores e de predadores naturais (McGLYNN, 1999).

Introdução A destruição dos ambientes naturais pela ação humana ocorre de maneira particularmente imprudente na região tropical, onde a perda da diversidade é maior e os seus efeitos são muito severos (FLOREN et al., 2001). Esse processo pode ser observado em todas as regiões compostas por Mata Atlântica, já que sua fragmentação se deu de forma desordenada desde a época do descobrimento do Brasil, para o estabelecimento, principalmente, de áreas urbanas (SOS MATA ATLÂNTICA, 2005). A Serra do Itapeti é exemplo desse tipo de situação, pois é importante remanescente de Mata Atlântica e, ao mesmo tempo, apresenta grande desenvolvimento industrial e populacional (CETESB, 1995, 1999). 301


Débora R. de Souza; Catarina de B. Munhae; Cíntia M. Kamura; Nilo da Silva Portero e M. Santina de C. Morini

por exemplo, as formigas andarilhas, ou tramp-ants, como indicadores negativos da diversidade de um local. Esses indicadores são definidos como organismos oportunistas e estreitamente relacionados à perturbação humana. Quando esses animais aparecem, é sinal de que a integridade ecológica e a biota nativa estão alteradas (ARCILA & LOZANO-ZAMBRANO, 2003), pois são, em sua maioria, invasores, e expulsam as espécies nativas por meio da predação e da competição (PASSERA, 1994; McGLYNN, 1999). Apesar da importância dos formicídeos para a avaliação dos impactos ocasionados pela urbanização sobre os ambientes naturais, poucos estudos têm sido feitos no Brasil nesse sentido. No presente capítulo apresentamos os resultados de inventários realizados em áreas urbanizadas que se instalaram e estão crescendo na Serra do Itapeti, para que possam servir de embasamento para futuros programas de conservação desse remanescente de Mata Atlântica.

Os artrópodes, especialmente as formigas, têm sido considerados importantes organismos em estudos sobre a destruição do meio ambiente, ocasionada pelo processo de urbanização (McINTYRE et al., 2001; HOLWAY et al., 2002; LÓPEZ-MORENO et al., 2003). Isso se deve, em parte, ao fato de esses insetos ocorrerem em todos os ambientes terrestres, exceto nos polos (HÖLLDOBLER & WILSON, 1990; LÓPEZ – MORENO et al., 2003). O estudo de comunidades locais de formigas tem-se mostrado relevante na avaliação das condições ambientais de áreas degradadas, monitoramento de regeneração de áreas florestais e savanas pós-fogo, e também dos diferentes padrões de uso do solo (SILVA & BRANDÃO, 1999). Numerosos atributos fazem com que esses insetos sejam importantes nas pesquisas sobre biodiversidade e bioindicadores, uma vez que apresentam abundância local relativamente alta, riqueza de espécies local e global altas, muitos táxons especializados, facilmente amostrados e separados em morfoespécies, além de serem sensíveis a mudanças nas condições ambientais (MAJER, 1983; ALONSO & AGOSTI, 2000). A grande maioria dos trabalhos que utilizam formigas como bioindicadores foi realizada em áreas de mata (FLOREN et al., 2001; CARPINTERO et al., 2003; HOLWAY, 2005), poucos estudos foram feitos em áreas urbanas (YAMAGUCHI, 2004; 2005). Segundo Schultz & McGlynn (2000), o impacto das atividades humanas pode ser indicado pela presença de espécies de formigas introduzidas, antes que qualquer efeito sobre o ambiente seja observado. Feinsinger (2001) descreve determinadas espécies,

Materiais e métodos Áreas de estudo As áreas de coletas foram divididas em dois tipos: residencial e não residencial (Tabela 1). O Bairro Central e o Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello (PNMFAM) foram introduzidos no capítulo, para que os dados obtidos das localidades do entorno da Serra pudessem ser comparados dentro de seus respectivos tipos de área.

Tabela 1. Caracterização das áreas de estudo no entorno da Serra do Itapeti, Mogi das Cruzes (SP). Tipos

Áreas Condomínio Aruã

Residencial

Vila Oroxó Bairro Central

ABECAR

Perimetral Não residencial

PNMFAM

Caracterização Área residencial construída na Serra do Itapeti, após desflorestamento parcial do local. Área residencial construída na encosta da Serra do Itapeti de forma desordenada. Área residencial do centro da cidade de Mogi das Cruzes. Apresenta urbanização e tráfego intenso. É composta por pouca vegetação nativa, sendo, em sua maioria, vegetação rasteira, além de espécies exóticas. Localiza-se próximo ao Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello. É caracterizada por vegetação rasteira, em sua grande maioria Poaceae. Está localizada próximo à estrada da perimetral Mogi-Bertioga. Possui 352,5ha e atualmente é um ponto de referência para a comunidade científica, pois é caracterizado por grande riqueza de espécies da fauna e flora nativas de Mata Atlântica. Possui vegetação em diferentes níveis de regeneração (PMMC, 2009). Quando comparado aos demais sítios, o PNMFAM é o que menos recebe interferência antrópica.

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Comunidades de formigas em áreas urbanizadas da Serra do Itapeti

está na lista de espécies apresentada no capítulo, segue a sequência que consta na coleção de referência.

Coletas Área residencial

Análise dos dados

Em cada área residencial foram escolhidas aleatoriamente 20 casas. A cada dois meses, durante um ano, as mesmas casas foram visitadas e as formigas coletadas. A captura foi efetuada apenas manualmente (Figura 2A) na parte externa (quintal e garagem), durante 15min, sendo o espaço total de coleta dividido em quatro quadrantes, com a permanência de apenas uma pessoa em cada quadrante.

Os dados obtidos foram submetidos ao método de escalonamento multidimensional não métrico (NMDS) e, posteriormente, foi calculado o valor de ANOSIM, que indica se há diferença significativa entre os pontos em estudo. Para análise dos resultados da área residencial, foi elaborada uma planilha de presença e ausência, considerando-se a junção dos dados obtidos nas 20 casas em cada uma das seis coletas. Para a área não residencial também foi elaborada uma planilha de presença e ausência, considerando-se os 20 pontos amostrados em cada uma das três áreas. Todas as análises foram realizadas a partir do software R.

Área não residencial As formigas foram coletadas com armadilha do tipo pitfall, que é uma das mais utilizadas em estudos de formigas de solo. O modelo de armadilha utilizado possui 9cm de diâmetro por 11cm de altura, sendo enterrada com a borda em nível do solo (Figuras 2B e C). Cada armadilha foi preenchida até a sua metade com água, duas gotas de detergente neutro e formalina (3%), e na sua borda foi passado óleo vegetal de sardinha em conserva. Foram colocadas 20 armadilhas em cada ponto de amostragem, separadas entre si por 20m. Foram realizadas quatro coletas durante um ano, e as armadilhas permaneceram no campo por sete dias. Os artrópodes capturados foram peneirados e transferidos para recipientes que continham etanol 70%, devidamente etiquetados (Figura 3).

Resultados e discussão Foi amostrado um total de 87 espécies, distribuídas em sete subfamílias. A área residencial apresentou 50 espécies, enquanto que a não residencial, 65. De uma maneira geral, costuma-se observar baixa riqueza em área urbana, especialmente em áreas residenciais (PIVA & CAMPOS-FARINHA, 1999). As subfamílias mais ricas foram Myrmicinae, seguida por Formicinae e Ponerinae (Tabela 2), que, segundo Ward (2000), são as mais diversificadas na região neotropical, inclusive em ecossistemas urbanos (DELABIE et al., 1995; LOPEZ- MORENO et al., 2003). Myrmicinae apresenta inúmeras adaptações ecológicas (HÖLLDOBLER & WILSON, 1990; CAETANO et al., 2002), e é considerada a mais amplamente distribuída. Gêneros dessa subfamília, como Atta, Acromyrmex, Wasmannia e Pheidole, coletados tanto na área residencial quanto não residencial, são considerados pragas (CAMPOS – FARINHA et al., 2002). Os formicíneos são, na grande maioria, generalistas, podendo também apresentar relação de mutualismo com homópteros (LONGINO, 1994), tais como as espécies de Camponotus, que foram amplamente amostradas nas áreas não residenciais (Tabela 2). Por outro lado, Paratrechina longicornis foi coletada apenas no Condomínio Aruã, mas como é uma espécie caracterizada como exótica (BUENO & CAMPOS-FARINHA, 1999) e também como tramp ant (ULLOA-CHACON, 2003), pode competir com táxons nativos tanto por recursos alimentares como por hábitats (HOFFMANN, 2010). Segundo Samways et al. (1997), a simples presença do gênero

Identificação dos Formicidae As formigas coletadas e triadas foram identificadas após a montagem de três exemplares de cada táxon em pequenos triângulos de papel transpassados por alfinete entomológico. O material foi inicialmente identificado em gêneros e em morfoespécies. A identificação em espécies foi efetuada por comparação com exemplares depositados na coleção de referência do Alto Tietê, devidamente conferidos com exemplares do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, e também por intermédio de literatura pertinente. O material foi inicialmente classificado em subfamílias de acordo com a proposta de Bolton (2003), identificado em nível de gêneros e nomeado de acordo com Bolton (1994), Baroni-Urbani & De Andrade (2007) e Lapolla et al. (2010) e, em seguida, em morfoespécies, comparando os espécimes com os da coleção de Formicidae do Alto Tietê. Os vouchers estão depositados na coleção de referência da Mirmecofauna do Alto Tietê. A numeração de cada morfoespécie, que 303


Débora R. de Souza; Catarina de B. Munhae; Cíntia M. Kamura; Nilo da Silva Portero e M. Santina de C. Morini

Tabela 2. Táxons de Formicidae amostrados nas áreas de entorno da Serra do Itapeti (Mogi das Cruzes, SP). Área residencial Área não-residencial Condomínio Vila Oroxó Abecar Perimetral Aruã

Táxons

Dolichoderinae

Ecitoninae

Ectatomminae

Formicinae

Myrmicinae

Dorymyrmex sp.1 Linepithema neotropicum Wild, 2007 Linepithema iniquum (Mayr, 1870) Tapinoma melanocephalum (Fabricius, 1793) Labidus praedador (Fr. Smith, 1858) Ectatomma brunneum (Fr. Smith,1858) Ectatomma edendatum Roger, 1863 Gnamptogenys striatula (Mayr, 1884) Gnamptogenys sp.6 Thypholomyrmex rogennoferi (Mayr, 1862) Brachymyrmex heeri (Forel, 1874) Brachymyrmex pictus Mayr, 1887 Brachymyrmex incisus Forel, 1912 Brachymyrmex luederwaldti (Santschi, 1923) Camponotus rufipes (Fabricius, 1775) Camponotus (Myrmaphaenus) sp.2 Camponotus crassus Mayr, 1862 Camponotus (Taemyrmex) sp.5 Camponotus (Myrmaphaenus) novogranadensis Camponotus sp.7 Camponotus sp.8 Camponotus sp.11 Camponotus sp.12 Camponotus atriceps (Smith) Camponotus sp.16 Nylanderia fulva Mayr Paratrechina longicornis (Latreille) Myrmelachista bettinae (Forel, 1903) Myrmelachista ruszkii (Forel, 1903) Acromyrmex crassispinus (Forel, 1909) Acromyrmex disciger (Mayr, 1887) Acromyrmex niger (Fr. Smith, 1858) Apterostigma sp.1 Atta sexdens (Forel, 1908) Mycetarotes parallelus (Emery, 1906) Mycetosoritis sp.1 Trachymyrmex (Gr. Septentrionales) sp.4 Wasmannia auropunctata (Roger, 1863) Wasmannia sp.3 Cephalotes sp.3 Procryptocerus (Gr. Pr. Schmalzi) Crematogaster (Orthocrema) sp.1 Crematogaster sp.2 Crematogaster sp.7 Crematogaster sp.9 Strumygenys schmalzi Emery, 1906 Leptothorax sp.1 Pheidole sp.1 Pheidole sp.4 Pheidole sp.6 Pheidole sp.9 Pheidole sp.13 Pheidole sp.14 Pheidole sp.15

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Comunidades de formigas em áreas urbanizadas da Serra do Itapeti

Tabela 2. (Continuação) Área residencial Área não-residencial Condomínio Vila Oroxó Abecar Perimetral Aruã Pheidole sp.16 X Pheidole sp.17 X X X Pheidole sp.18 X Pheidole sp.20 X X X X Pheidole sp.22 X X X Pheidole sp.23 X Pheidole sp.24 X X Pheidole sp.26 X Pheidole sp.28 X Pheidole sp.30 X X Pheidole sp.34 X Pheidole sp.36 X X X Pheidole sp.38 X X X Pogonomyrmex sp.1 X X Megalomyrmex sp.4 X Monomorium pharaonis (Linnaeus) X Oxypoecus sp.2 X X Solenopsis saevissima (Smith) X X X X Solenopsis sp.2 X X Solenopsis sp.3 X X Solenopsis sp.4 X Solenopsis sp.8 X Anochetus altisquamis (Mayr, 1887) X X X X Hypoponera sp.1 X X X X Hypoponera sp.6 X Hypoponera sp.8 X Odontomachus affinis (Guérin-Méneville, 1844) X X X Odontomachus meinerti (Forel, 1905) X X X Odontomachus chelifer (Latreille, 1802) X X Pachycondyla striata Smith, 1858 X X X X Pseudomyrmex gracilis (Fabricius, 1804) X X X Pseudomyrmex pallidus (Smith) X Pseudomyrmex phyllophylus (Smith, F. 1858) X Táxons

Myrmicinae

Ponerinae

Pseudomyrmecinae

Riqueza total

42

indica que a área está perturbada e com uma baixa diversidade (FEINSINGER, 2001). Por suas características comportamentais, a espécie exótica pode invadir facilmente a mata nativa de entorno. A terceira subfamília mais rica, Ponerinae, é composta por espécies geralmente especializadas em sua dieta alimentar e predominantemente predadoras. Ocorrem em locais mais estruturados e sensíveis às modificações ambientais (DELABIE et al., 2000). Em relação ao número de espécies, as áreas residenciais e não residenciais apresentam uma riqueza semelhante. Nas áreas residenciais, a presença de Odontomachus e Pachycondyla, que possuem operárias predadoras epígeas de grande tamanho (RAMOS-LACAU et al., 2008), que dependem de presas, em especial artrópodes, de tamanho compatível com elas

30

48

55

(BRANDÃO et al., 2009), demonstra que esse local apresenta, até o momento, condições bióticas e abióticas para manter suas espécies. Os gêneros Pheidole e Camponotus foram os mais ricos, com 20 e 11 espécies, respectivamente. Pheidole é um táxon caracterizado como oportunista, patrulhando ativamente o ambiente em busca de alimento, além de apresentar ninhos populosos com indivíduos agressivos e competitivos. É muito diversificado, inclusive na área urbana. Camponotus, por sua vez, é composto por cerca de 200 espécies descritas em toda região neotropical (CAMPOSFARINHA & BUENO, 1999) e sua grande diversidade é atribuída à alta capacidade de adaptação aos ambientes e a uma dieta flexível (RAMOS et al., 2003). Apesar de possuir hábito de ocupar estruturas, como 305


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rogennoferi, Strumygenys schmalzi e Hylomyrma reitteri. De forma geral, as espécies observadas tanto na ABECAR como na região da Perimetral são encontradas também nas áreas de Mata Atlântica, o que é corroborado pela análise das comunidades (Figura 5).

forros de madeira, batentes de portas e janelas, e até mesmo aparelhos eletrônicos, e liderar as reclamações por parte de donas de casa, dos administradores de fábricas de alimento e de hospitais (CAMPOSFARINHA et al., 2002), os levantamentos realizados em áreas urbanas têm evidenciado baixa ocorrência de formigas do gênero Camponotus (SOARES et al., 2006). Porém, não é o caso do presente estudo. No geral, os táxons de hábitos mais generalistas foram amostrados particularmente na área residencial. Dentre esses, se destacam aqueles que já foram evidenciados por Campos-Farinha et al. (2002) como sendo característicos dos ambientes urbanos de todo o Brasil, ou seja, P. longicornis, Nylanderia fulva, Tapinoma melanocephalum, Solenopsis spp., Pheidole spp. e Camponotus spp.. Por outro lado, também foram amostrados gêneros que são característicos de áreas de mata, especificamente da serapilheira, como é o caso de Hypoponera (BRANDÃO et al., 2009). Assim, nas áreas residenciais que surgiram após desflorestamento da mata nativa, observa-se um mosaico composto por espécies características de ambientes de mata e urbano, evidenciando-se o histórico dos locais. Porém, mesmo assim, as comunidades de formigas que compõem o Condomínio Aruã e a Vila Oroxó ainda não são similares àquelas do Bairro Central da cidade de Mogi das Cruzes (Figura 4). Possivelmente, esse resultado está relacionado à presença da mata da Serra do Itapeti no entorno dos bairros. Áreas com vegetação nativa ao redor da malha urbana são importantes locais de refúgio para plantas e animais não adaptados ao ambiente urbano (RODRIGUES et al., 1993), mas, por outro lado, a ocupação desordenada da população, como é o caso da Vila Oroxó, pode representar uma ameaça à biodiversidade da Serra do Itapeti pela introdução de espécies que são consideradas tramp ants, como é o caso de N. fulva e Wasmannia auropunctata (ULLOA-CHACON, 2003). Já na área não residencial, uma parte das espécies exclusivas possui hábito especialista, como: Labidus coecus, Ectatomma edendatum, Thypholomyrmex

Considerações finais O conhecimento básico sobre a fauna proporciona o alicerce necessário para compreendemos a relação entre as espécies e seu ambiente, bem como indica os mecanismos e os processos que limitam a biodiversidade, cuja descrição é fundamental para a elaboração de programas de conservação. Trabalhos que envolvam a conservação dos fragmentos de Mata Atlântica que ainda restam na Serra do Itapeti se defrontam com o crescimento acentuado da malha urbana de entorno. A Vila Oroxó é um exemplo desse crescimento, e agravado por ser de forma desordenada. Já o Condomínio Aruã, apesar de apresentar número elevado de habitantes, mantém as áreas de mata nativa de entorno relativamente conservadas, possibilitando a manutenção da biodiversidade. De qualquer forma, tanto uma localidade como outra possuem espécies de formigas que são consideradas tramp ants, que, por sua biologia, representam uma ameaça às espécies nativas. Programas que visem à conservação das áreas de Mata Atlântica da Serra do Itapeti necessariamente precisam contemplar o monitoramento de espécies que possuem potencial de competir e até mesmo causar a extinção local da fauna nativa.

Agradecimentos Os autores agradecem à Fapesp (proc. 06/524096), à FAEP pelo apoio financeiro, ao CNPq pela bolsa mestrado concedida à primeira autora e à Universidade de Mogi das Cruzes.

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Comunidades de formigas em áreas urbanizadas da Serra do Itapeti

Serra do Itapeti Serra do Itapeti

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Figura 1. (A) Vista geral das áreas de estudo: Condomínio Aruã; (B) Vila Oroxó; (C) Bairro Central; (D) ABECAR; (E) Perimetral; (F) PNMFAM.

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A

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Figura 2. Técnicas empregadas na coleta de formigas das áreas de entorno da Serra do Itapeti: (A) Coleta manual; (B) Armadilha do tipo pitfall, confeccionada com garrafa pet; (C) Enterrada no mesmo nível da superfície do solo. Fotos: D. R. Souza. (Adaptado de YPTE, 2009).

B

A

Figura 3. (A) Material sendo peneirado; (B) Material acondicionado em frascos com etanol 70%. Fotos: D.R. Souza.

Figura 4. Escalonamento multidimensional não-métrico (NMDS) para as áreas residenciais localizadas na Serra do Itapeti (Stress = 14,6). ANOSIM = 0,85 p < 0,001.

Figura 5. Escalonamento multidimensional não-métrico (NMDS) para as áreas não residenciais localizadas na Serra do Itapeti (Stress = 25,11). ANOSIM = 0,27 p < 0,001.

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Biodiversidade na Serra do Itapeti: pesquisa para o ensino1 Moacir Wuo Catarina de B. Munhae M. Santina de C. Morini Vitor Fernandes O. de Miranda Débora Clivati Luiz R. Nunes Regina L. B. da Costa de Oliveira

Resumo1 As diferentes utilizações, aplicações, interesses e significados atribuídos ao termo biodiversidade constituem obstáculos e dificuldades para a construção de um conceito significativo e coerente na área educacional. A extensão e as implicações imputadas à biodiversidade extrapolam a área das Ciências Biológicas, pois incorporam elementos afetivos, históricos, culturais e valores sociais, exigindo uma estratégia de ensino que conduza a um processo de construção mais consistente dos conceitos. No processo de ensino-aprendizagem, essas construções conceituais tornam-se desafiantes, uma vez que exigem uma alfabetização científica e ecológica a partir de contextos específicos que possibilitem análises e avaliações da biodiversidade num ambiente real e significativo. Essas considerações orientaram o desenvolvimento de um programa de ensino dentro do ambiente e do contexto da Serra do Itapeti, no qual a flora e a fauna são analisadas sob a ótica integradora da biodiversidade. As estratégias de ensino incluíram os passos e etapas propostas por Wals (2001) nas quais os desafios tornam-se oportunidades de ganhos de aprendizagens. Os alunos foram incluídos no processo e atuaram com e ao lado de pesquisadores, participando ativamente no planejamento de ações, coletas em campo, identificação, classificação e documentação de material biológico de fauna e flora assim como dos registros das ocorrências dos mesmos. Os procedimentos didático-científicos permitiram aos alunos o acesso sistemático e metódico às riquezas da biodiversidade dos ambientes da Serra do Itapeti. As técnicas e os procedimentos adquiridos pelos alunos ao longo do processo de ensino permitiram orientar o aprendizado para análise das diversas e delicadas relações entre organismos, na manutenção da exuberância do segmento restante da Mata Atlântica representada em seus contextos de vida. As identificações, classificações e análises das relações entre elementos da flora e da fauna ocorreram ao mesmo tempo e praticamente nos mesmos locais. As relações entre a diversidade dos representantes e das características específicas de serapilheira, formadas a partir da diversidade da flora local, constituíram contextos específicos para análises de biodiversidade, possibilitando, de maneira concreta, a compreensão da multitude de habitats e nichos, das interdependências dos organismos na manutenção do bioma na Serra do Itapeti, assim como as influências antrópicas. 1 Dados parcialmente publicados em Oliveira et al. (2010). 311


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e remete, na maioria das vezes, a reflexões, a questionamentos e a preocupações com a conservação e o meio ambiente nos mais diversos campos do conhecimento humano. Biodiversidade, portanto, assume um caráter e um significado dinâmico e multidisciplinar, um processo no qual as variedades ou diversidades de organismos e formas de vida são criadas, mantidas que se relacionam nos mais diversos ambientes. Incluem-se nesse processo as variações individuais dos organismos nas populações, a diversidade de espécies nas comunidades, assim como a extensão de suas relações ecológicas nos ecossistemas. É o resultado de processos evolutivos ao longo de milhões de anos nos quais milhares de organismos interagem dinamicamente em relações complexas, proliferam, diversificam-se, adaptam-se, distribuem-se numa infinidade de habitats e nichos, sob a ação de fatores abióticos. Nessa interpretação, a biodiversidade envolve todos os níveis de conhecimentos das Ciências Biológicas, dos genes aos ecossistemas, como indica Sarkar (2005). A despeito das controvérsias e das possíveis demarcações conceituais, a biodiversidade tem sido, na Universidade de Mogi das Cruzes, tema e objeto de estudos e investigações e ações educacionais nos Cursos de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas, Pós-Graduação em Biotecnologia e nos Núcleos de Pesquisas. Os estudos e investigações têm sido desenvolvidos sobre processos biológicos moleculares, interações ambientais, diversidade genética, identificação, classificação e distribuição de espécies de diversos organismos. As ações educacionais ocorrem na formação de professores de Biologia e em estudos sobre contextos e praxes de ensino nas escolas, cujos objetivos são os de promover aprimoramento do profissional docente nos processos de transposição didática de conteúdos científicos e metacientíficos sobre biodiversidade, visando à melhoria da prática educacional tanto na sala de aula como em possíveis trabalhos de campo. O processo de transposição didática no ensino-aprendizagem sobre biodiversidade exige ação interdisciplinar e contextualizada, além da aquisição de conhecimentos científicos específicos e fundamentais sobre Biologia, relações e implicações sociais, econômicas, políticas e culturais e modelos, estratégias e métodos de ensino, isso dada à própria natureza e complexidade que encerram o tema. O conhecimento aqui referido não se restringe ao mero vivenciar, ou a percepções de segmentos de realidades e mundos exteriores, mas sim no cons-

Introdução A biodiversidade tem importância inquestionável tanto pela atualidade do tema e suas implicações nas mais diversas áreas, quanto pelos valores que tem agregado nas últimas décadas na maioria dos países. No entanto, o ensino da biodiversidade em todos os níveis ainda é um desafio. Uma das dificuldades para esse ensino está na extensão e nas controvérsias que encerram o termo biodiversidade, pois ao mesmo tempo em que se constitui em conceito abstrato, e até certo ponto mal definido, ele é de construção complexa nos ambientes educacionais (GAYFORD, 2000; WEELIE, 2002; RANDLER, 2008). Paradoxalmente, quando utilizado para fins educacionais formais ou para o público em geral, a extensão do termo biodiversidade quase sempre experimenta um reducionismo, uma vez que faz referências a pequenos grupos, espécies representantes ou símbolos conservacionistas (RANDLER, 2008) associados a apelos emocionais (WEELIE, 2002) como baleias, golfinhos, ursos panda e micos-leão-dourados, mundialmente conhecidos, ou ainda a referências imprecisas e gerais a biomas como Amazônia ou Mata Atlântica. O termo biodiversidade foi construído em meados da década de 1980, com a junção das palavras “diversidade biológica”, e seu emprego ocorreu de maneira crescente a partir da publicação da BioDiversity, de Wilson, em 1988. O intuito do termo é o de fazer referência ao conjunto de variedades de organismos, embora as ideias sobre a diversidade, a abundância e as diferentes formas de vida na Terra não sejam atuais, são referidas por Aristóteles desde a Grécia Antiga (FAITH, 2007). A amplitude e o dinamismo que têm sido atribuídos e associados à biodiversidade também, inevitavelmente, têm conduzido a uma definição vaga e extremamente vasta na qual se torna difícil excluir qualquer significado. Realmente não existe uma concordância ou consenso sobre o que exatamente significa biodiversidade. Atualmente, o termo é amplamente utilizado, empregado e modelado por cientistas, políticos, economistas, professores, ambientalistas, entre outros, para atender a valores, interesses, modismos e aos mais diversos objetivos. Marandino & Mônaco (2007) discutem questões relacionadas ao emprego do termo biodiversidade nas quais evidenciam a presença de elementos de origem “biológica” e elementos “sócioeconômicos e culturais”. Qualquer que seja a fonte e o emprego, o termo biodiversidade é aceito 312


Biodiversidade na Serra do Itapeti: pesquisa para o ensino

truir conhecimento que, como define Sponholz (2007), implica trabalhar, processar e reestruturar conteúdos relacionados ao que se vivencia e se percebe do mundo exterior às salas de aula. A biodiversidade assume um caráter de entidade que consiste e identifica-se como questão atual e controversa presente na busca de desenvolvimento sustentável, em agendas políticas internacionais, debates, especulações, programas governamentais, manifestações diversas, no cotidiano e insistentemente alardeadas pela mídia, particularmente na última década, nas preocupações com a redução do número de espécies no planeta. O ensino da biodiversidade torna-se, portanto, instrumental para capacitar e possibilitar que o aluno adquira conhecimentos fundamentais conducentes à compreensão do mundo e que possa, criticamente, justificar e argumentar seu posicionamento diante de questões relacionadas à diversidade e ao meio ambiente. Estabelecer ligações entre conteúdos de ensino e a realidade de problemas ou questões sociais presentes no cotidiano dos alunos também contribui ativamente para a construção de conhecimentos no processo de aprendizagem significativa. Para tanto, essas ligações devem ser estabelecidas com a utilização de estratégias de ensino que envolvam atividades experimentais que, por sua vez, promovem a compreensão e a aquisição de conceitos científicos, despertam interesse e motivação, desenvolvem habilidades e competências para a resolução de problemas e familiarizam os alunos com o mundo à sua volta (ESTEVES et al., 2005). Como propõe Weelie (2002), as controvérsias, implicações e complexidades da biodiversidade tornam-se úteis no processo de ensino uma vez que trazem para as discussões diferentes grupos sociais em torno de uma linguagem comum. As discussões estabelecidas sobre o tema envolvem a ciência, a tecnologia e a sociedade, que exige um “fazer-ciência” na concepção prática e analítica. Na esfera educacional, os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2002) e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006) recomendam que problemas ambientais brasileiros podem e devem ser estudados a partir de dados e informações de dada região, como um bairro ou o entorno da escola. Os conteúdos e as estratégias de ensino devem permitir o entendimento da realidade e do contexto particular nos quais o aluno está inserido. As experiências cotidianas, muitas vezes incompatíveis com conceitos científicos, exigem vínculos e demonstrações claras de razões para evoluírem

e para que se possa integrar o novo conhecimento cientificamente organizado com a estrutura cognitiva já presente no aluno. Tais estruturas, muitas vezes enraizadas, constituem, como define Bachelard (1996), obstáculos epistemológicos que dificultam a aquisição e incorporação de novos conhecimentos, que serão possíveis com definições claras de estratégias e métodos de ensino específicos. O ensino de biodiversidade exige, além dos fundamentos e conhecimentos sobre animais, plantas e microrganismos, a história de vida desses organismos como também as relações e as estruturas ecológicas das quais esses organismos participam (RANDLER, 2008). Dessa maneira, o processo de ensino deve conter elementos que subsidiem ao mesmo tempo a compreensão, a identificação e o papel do organismo em estudo em seu ambiente particular. Essa proposição concorda com as recomendações de Russel (2009), nas quais há necessidade de mudanças nas tradições e paradigmas metodológicos de ensino, como no caso da zoologia, no qual a taxonomia descritiva mecanicista deve assumir um processo de compreensão do organismo estudado dentro do ambiente que o integra. Brandão & Oliveira (2002) também indicam que nesses estudos integrativos devam configurar questões sobre a regeneração de ambientes associados às questões de ordem cultural e social. Wals (2001) propõe seis passos ou etapas para o ensino da biodiversidade, sem que seja necessário seguir a ordem. Esses seis passos incluem: a) determinação de perspectivas – que trata da alfabetização ecológica tanto nas questões específicas conceituais como nas implicações sócio-políticas; b) seleção de temas e contextos específicos – são os temas adequados ao processo de aprendizagem, considerando-se as metas e objetivos educacionais; c) análise de significados da biodiversidade – nos diversos âmbitos e interesses como nos contextos políticos, científicos e da mídia, por exemplo; d) ambientes reais para aprendizagem objetiva – compatíveis com os temas a serem estudados considerando as questões de envolvimento emocional, significados pessoais, os conhecimentos sobre interdependências, posicionamentos críticos e desenvolvimento de competências; e) avaliação da biodiversidade – reconhecimento específico da composição e das diferentes formas de biodiversidade e f) contextualização dos conceitos sobre biodiversidade – os diferentes significados da biodiversidade nos diversos contextos. Essa proposta de Wals (2001) oferece caminhos para a construção de uma estratégia de ensino na qual se possa, de maneira multidisciplinar, evitar a 313


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unicidade ou reducionismo no ensino da biodiversidade. Ela interpõe uma questão interessante como a indicada por Weelie (2002) – o estudo da biodiversidade torna-se uma oportunidade, um desafio e não um problema, de fato. Nessas condições, as controvérsias em torno da complexidade, da extensão e das definições do termo biodiversidade também passam a constituir oportunidades para avaliações críticas das fraquezas e dos potenciais que o termo encerra. Embora não recomendada, a fragmentação do conceito de biodiversidade, é possível fazer uma distinção entre uma definição simbolicamente “mais política” e uma definição simbolicamente “mais científica”. O simbolismo sobre a biodiversidade representa um problema relacionado com decréscimo de variedades de formas de vida que exige posicionamento e demanda ações. Sob a ótica científica, há necessidade de se saber exatamente o que está sendo perdido e como e quais ações cabem para se evitar e/ou recuperar essas perdas ou decréscimos de variedades (DREYFFUS et al., 1999). Biodiversidade, portanto, com propósitos de promover e como objeto de construção de conhecimentos, utilizando-se de um processo de aprendizagem conducente à alfabetização científica, constitui um tópico-chave que transcende a Biologia e coloca-se num ambiente cujas ramificações são extensivas às diferentes áreas das Ciências. A proximidade da questão da biodiversidade associada ao valor histórico, cultural e geográfico do Rio Tietê, que constituem ambientes reais de aprendizagem objetiva, permitem o estabelecimento do vínculo motivador para a construção de um projeto de ensino centrado na aprendizagem significativa a partir de um problema. BIODAT – Biodiversidade do Alto Tietê – expressa uma ação científica em torno de um contexto relevante sobre os mais diversos aspectos sóciocientíficos, pela história e importância que encerra o Rio Tietê, pela perda significativa e, ao mesmo tempo, pela exuberância da Mata Atlântica, pelos muitos significados da Serra do Itapeti e pela oportunidade, potencial e possibilidades de alfabetização científica e formação educacional com a integração entre Universidade, Escola e Sociedade.

sala de aula e atividades prático-experienciais realizadas em campo e nos laboratórios do curso de Ciências Biológicas da Universidade de Mogi das Cruzes. As aulas ministradas em “sala de aula” seguem as orientações de ensino estabelecidas no projeto pedagógico da escola, enquanto que as atividades de campo e de laboratório constituem unidades de aprendizagem construídas e voltadas para a formação científica. Nas atividades mais diretamente focadas na aprendizagem científica foram elaboradas estratégias para: 1) aquisição de conhecimentos e aplicação de conceitos específicos para identificação e classificação de organismos; 2) desenvolvimento de habilidades procedimentais para emprego e utilização de equipamentos e 3) análises e reflexões conscientes sobre as atividades realizadas como processo para a aquisição de metaconhecimentos. Os trabalhos com os alunos foram efetuados em ambientes de mata diferenciados, inclusive na Serra do Itapeti, buscando-se com isso que eles passassem a dar maior valor ao remanescente que se localiza no município onde residem. Assim, foram efetuados trabalhos com a fauna e com a flora. Especificamente para a fauna, foram estudados os organismos de serapilheira, que é um segmento importante das áreas de floresta. Para a flora, foram tratados as formações vegetais num contexto regional bem como alguns elementos taxonômicos dos diferentes ambientes.

O trabalho com a flora A Mata Atlântica, chamada comumente dessa forma apesar de ser composta por formações vegetacionais bem distintas, desde os primórdios despertou a atenção e fascinou os primeiros viajantes que aqui colocaram os pés, estupefatos pela imponência e exuberância da floresta. Desde antes de o termo Brasil ser palavra corriqueira, essa vegetação inspirou os recém-chegados a chamarem a nova terra de “terra papagallorum” (terra dos papagaios; TONHASCA JR., 2005). Antes que os alunos tivessem o primeiro contato com a Mata Atlântica, foi proferida uma introdução sobre as fitofisionomias que ocorrem na área geográfica da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, em particular nos arredores do município de Mogi das Cruzes (SP). Discutiram-se os conceitos de biodiversidade, fitofisionomia, floresta, mata e, particularmente, “mato” e “brejo”, as duas últimas designações com cunho antropocêntrico e diretamente relacionado à visão das pessoas leigas às questões ambientais, de modo geral.

Desenvolvimento do projeto e sua implantação O projeto BIODAT teve como objetivo envolver alunos de Ensino Médio na construção e aplicação do conceito de biodiversidade. As estratégias de ensino adotadas no projeto compreenderam atividades em 314


Biodiversidade na Serra do Itapeti: pesquisa para o ensino

Nesse aspecto, se considerações epistemológicas e etimológicas forem observadas, é provável que nem mesmo o termo “mata”, que apresenta origem discutível (do gótico maitan [cortar], ou ainda do latim matta [esteira de junco]), seja adequado (SARAIVA, 2000; STRAUBE, 2005), a despeito de seu amplo emprego mesmo na literatura científica. O objeto de estudo foi, em primeira instância, a floresta ombrófila densa (Serra do Itapeti). Foram realizadas excursões ao campo para o reconhecimento da formação, assim como para a coleta de material botânico para as análises em laboratório. Em campo, questões foram levantadas acerca das características geológicas, topográficas, fisionômicas e florísticas (composição de espécies). O reconhecimento do tipo vegetacional pelos alunos foi ponto clímax durante as excursões ao campo, levando-se em conta que, antes de tudo, é necessário conhecer para poder preservar. Espécimes de plantas (angiospermas e pteridófitas) foram coletados, desde herbáceas, lianas, arbustivas a arbóreas. Os materiais foram levados ao Laboratório de Biologia da Universidade de Mogi das Cruzes para a devida catalogação e herborização, de acordo com o método descrito por Fidalgo & Bonini (1989). Os materiais foram acondicionados em sacos plásticos (100L) e trazidos ao laboratório para a identificação taxonômica. Para tanto, o processo foi realizado por meio de consulta à literatura taxonômica assim como do emprego de chaves dicotômicas. Apesar da preocupação para com a identificação taxonômica, que ocorreu até o nível de família, teve-se como prioridade a compreensão de cada aluno do processo integral: da coleta de cada planta em seu ambiente natural à identificação do táxon e acomodação da amostra botânica em uma coleção biológica de referência (herbário, no caso). Parte das amostras foi depositada no Herbário Mogiense (HUMC) da Universidade de Mogi das Cruzes e disponibilizada no Herbário Virtual HUMC - http://www.umc.br/herbario. A importância das coleções biológicas e o seu papel para o conhecimento da biodiversidade e, consequentemente, para a conservação foram amplamente discutidos. Foram apresentados aos alunos o herbário, sua organização e as diversas fases de preparação e tombamento das amostras. Foram realizadas discussões relacionadas à necessidade das coleções biológicas de maneira geral para se ter esteio à elaboração de estratégias de conservação. Para que possamos elaborar planos de conservação, precisamos antes de qualquer coisa conhecer

as espécies que ocorrem em determinada área geográfica: para tanto, coletas de materiais-testemunho (como amostras de plantas) são necessários para os inventários biológicos. Considerando-se a biodiversidade, o nosso país é megadiverso uma vez que praticamente um quinto das espécies do planeta aqui ocorre. Para as plantas de modo geral, aproximadamente 56.000 espécies são encontradas no Brasil, o que totaliza quase 19% da flora mundial (GIULIETTI et al., 2005). Paradoxalmente, a carência de especialistas (conhecidos por taxonomistas) e estudos de levantamentos de espécies, seja de flora, fauna ou qualquer outro organismo, é estarrecedora. E, ao mesmo tempo, vergonhosa para nós, brasileiros, detentores de toda essa riqueza biológica. Principalmente se levarmos em conta que, otimistamente, conheçamos cerca de 10% das espécies que realmente ocorrem nos ambientes naturais. Durante os trabalhos de campo, assim como nos estudos em laboratório dos materiais coletados, a diversidade foi tema primordial para as discussões. A riqueza taxonômica (número de espécies, gêneros, famílias botânicas), assim com as diversas adaptações morfoanatômicas relacionadas aos diferentes estratos da mata observados foram sempre abordadas. A seguir, um resumo dos procedimentos que foram efetuados no campo e no laboratório para que os alunos pudessem entender um pouco da biodiversidade da Serra do Itapeti.

Coleta, descrição do ambiente e do material vegetal A identificação, herborização e depósito de espécimes vegetais em um herbário são necessários para quaisquer tipos de estudos que requeiram o estabelecimento de material testemunho, de fundamental importância para posterior consulta, comparação ou qualquer outro estudo de flora. Para se coletar o material vegetal em campo, é necessário seguir algumas recomendações para se assegurar a boa qualidade do material. Uma das maneiras de se preservar uma amostra de planta é na forma de exsicata (lat. exsiccare = secar), que nada mais é do que um ramo ou parte qualquer da planta desidratada. A primeira recomendação diz respeito à planta que irá ser coletada. De arbóreas, arbustos e subarbustos coletam-se ramos, de preferência férteis (com flores ou frutos). As herbáceas podem ser coletadas inteiras, inclusive com as raízes. A segunda recomendação é em relação à descrição das características das plantas e do ambiente onde foram coleta315


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das. Essas descrições são importantes para auxiliar a pessoa que posteriormente consultará a exsicata, já que ela não estará vendo a planta viva, muito menos em seu ambiente de origem. É como ler um livro e conseguir imaginar o que o autor descreve. Assim, também deve ser a leitura da etiqueta da exsicata. Por isso a descrição desses itens deve ser de forma mais completa possível.

O material coletado deve ser identificado de acordo com o registro do coletor, em etiquetas ou fitas “crepe”, escritas a lápis, e pode ser acondicionado em sacos plásticos (100L) até sua chegada ao laboratório.

Tratamento do material vegetal Assim que chegar ao laboratório, o material deve ser cuidadosamente acomodado entre folhas de jornal, de modo que suas flores e folhas fiquem posicionadas como se estivessem na exsicata (Figura 1). Esses pacotes são empilhados uns sobre os outros e separados por folhas de papelão ondulado (desses de caixas comuns de papelão, facilmente encontradas em supermercados) para que o ar quente atinja todas as camadas e desidrate uniformemente o material. Para se achatar o material, de maneira a torná-lo mais fácil de empilhar, posicionam-se as duas partes da prensa acima e abaixo da pilha de jornais, as quais são amarradas com duas cordas resistentes (Figura 2).

O que descrever? As plantas, ao chegarem ao herbário, serão desidratadas sob alta temperatura (aproximadamente 60ºC) para garantir sua conservação. Esse tratamento leva geralmente à perda da cor original das flores e das folhas, assim como da textura e do odor. Essas características, muitas vezes, são utilizadas na identificação taxonômica, portanto, devem ser anotadas no ato da coleta. Quanto ao ambiente em que a planta foi encontrada, devem ser destacadas suas condições: se em área alagada, seca, úmida, sobre rocha, sobre árvore (plantas epífitas) e se é área de floresta, campo, várzea, lago, conservada ou antropizada, etc. Além do ambiente, deve-se anotar o local exato da coleta, de preferência com as coordenadas geográficas. Se não for possível, registrar o endereço, além do município, estado e país. Os dados completos de um registro de coleta ainda contam com a data e o número do coletor. Cada coletor possui um registro pessoal, geralmente em cadernos simples, anotado a lápis (para que não apague caso molhe), numerado em sequência e codificado com as iniciais dos seus primeiros nomes, mantendo-se o sobrenome. Por exemplo, a coletora Maria Eugênia da Silva pode utilizar no registro M. E. Silva e a numeração do material coletado (12ª planta coletada, por exemplo). Seu número de coletor ficará M.E. Silva, 12.

Figura 2. Prensa amarrada com cordas resistentes, acondicionando-se o material empilhado.

prensa de madeira papelão jornal com planta coletada papelão jornal com planta coletada

Figura 1. Material vegetal recém-coletado, acomodado entre folhas de jornal e papelão ondulado (desses de caixas comuns de papelão) na prensa.

Figura 3. Estufa de madeira com várias prensas em processo de secagem.

316


Biodiversidade na Serra do Itapeti: pesquisa para o ensino

A prensa é então levada à estufa, na qual ficará sob a luz de lâmpadas incandescentes por dois ou três dias em processo de desidratação (Figura 3). O tempo de secagem depende do material vegetal (folhas carnosas podem levar mais tempo).

Confecção das etiquetas de identificação e tombamento do material As etiquetas devem ser preenchidas com as descrições anotadas no caderno de coleta, em um modelo pronto, disponibilizado pelo herbário (Figura 5). A confecção da exsicata é finalizada com uma capa de papel dobrado em duas partes para proteção (Figura 6). Por fim, é cadastrada no banco de dados do herbário, da mesma maneira como os livros são catalogados em bibliotecas. Cada exsicata terá seu próprio código (independente do código do coletor), que varia de herbário para herbário.

Confecção de exsicatas Após a secagem do material, a amostra será retirada da prensa e costurada a um papel-cartão branco com linha 10 comum (dessas de se empinar pipa) e agulha de costura (Figura 4). Atenção quanto ao posicionamento do ramo no papel-cartão antes de costurar, deixando espaço para a etiqueta (canto direito, inferior) e o código de tombamento (canto esquerdo, superior).

código de tombo

etiqueta

Figura 6. Exsicata pronta para ser depositada no herbário com capa, código de tombo e etiqueta.

Figura 4. Confecção da exsicata. Posicionar o ramo no papel, deixando espaços no canto superior esquerdo para o código de tombamento e canto inferior direito para a etiqueta.

Fauna de serapilheira: um importante componente da floresta da Serra do Itapeti Foram dadas ferramentas teóricas in loco para que o aluno pudesse compreender a fitofisionomia da área estudada e relacioná-la com a camada de serapilheira, que é um estrato rico em matéria orgânica. De posse desses conhecimentos, foi possível refletir e discutir sobre a importância da preservação do ecossistema como um todo, principalmente das áreas de entorno, que na atualidade têm sofrido reduções consideráveis pelo avanço da especulação imobiliária. Nesse caso, a compreensão foi mais além, pois os alunos assimilaram a expansão da cidade de Mogi das Cruzes em direção à Serra do Itapeti e a possível irreversibilidade dos danos ecológicos causados nesses ecossistemas. Dentro desse contexto, foi definido o conceito de biodiversidade resaltada a importância da implementação de estudos que busquem o conhecimento sobre as espécies que vivem nos biomas

Figura 5. Modelo de etiqueta de identificação das exsicatas utilizadas pelo Herbário Mogiense (HUMC).

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brasileiros, especialmente aqueles que compõem a Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, ou seja, a Mata Atlântica. A necessidade de saber quais são essas espécies ficou eminente. Assim, foi explicado na sequência o que vem a ser riqueza de espécies e, no caso da fauna, como ela pode ser quantificada. A utilização de protocolos de coleta padronizados para quantificar a riqueza, e com isso gerar resultados comparáveis com outros biomas, foi discutida. No trabalho, os alunos aplicaram o protocolo desenvolvido por Bestelmeyer et al. (2000) para estudos da fauna de serapilheira, reduzindo-se, porém, o número de amostras, já que os objetivos estavam centrados em ensinar a técnica e aguçar o senso de observação para esse estrato de floresta. Em todas as áreas delimitadas para o trabalho de campo, um transecto foi traçado e a serapilheira foi raspada. A participação nesse processo foi fundamental, pois os alunos puderam verificar in loco o que vem a ser essa camada de matéria orgânica que recobre o solo de uma área de mata. O material foi peneirado, introduzido em pequenos saquinhos de nylon e, em seguida, levado ao Laboratório de Biologia da Universidade de Mogi das Cruzes para ser colocado nos extratores de Winkler, onde permaneceu por 48h. A separação da fauna da serapilheira, obtida por meio de extratores, envolveu a manipulação de lupas, microscópios e pinças. Um fato perceptível foi a admiração dos alunos sobre a quantidade de animais que essa camada do solo possui. Animais esses que não foram visíveis durante o processo de peneiração ou até mesmo durante as observações no campo. Assim, chegaram à conclusão de que a serapilheira é composta por uma grande quantidade de pequenos animais que ajudam a manter a delicada teia ecológica de um ecossistema de floresta. Para saber quais são eles, os alunos basearam-se nos conceitos já adquiridos nas aulas de biologia, em livros pertinentes ao assunto, nas coleções didáticas existentes na Universidade de Mogi das Cruzes e também nas aulas ministradas anteriormente, dentro do próprio projeto BIODAT. Toda a fauna encontrada foi separada e identificada até ordem. Para isso houve a definição de características diagnósticas. Após a identificação, parte do material foi mantida nas coleções didáticas da Universidade de Mogi das Cruzes. Nesse contexto, a finalidade das coleções didáticas e científicas foi explicada aos alunos. Os resultados alcançados possibilitaram o reconhecimento de que os artrópodes são os com-

ponentes da fauna de maior proporção na serapilheira. E, dentre eles, os ácaros e as formigas são os mais diversos e abundantes. O fato surpreendeu pois, para os alunos, esses animais estavam presentes apenas em ambientes urbanos e relacionados a danos ocasionados ao ser humano. Assim, foram ressaltados alguns comportamentos das formigas que são fundamentais em um ambiente de floresta, como, por exemplo, a manipulação de sementes, que ajuda no processo de germinação de espécies típicas da Mata Atlântica. Ou então o ato de carregarem as sementes, dispersando-as para longe do local de origem, mudando com isso a paisagem de uma mata e diminuindo o ataque de herbívoros. Ou ainda, o comportamento de proteção de algumas espécies de formigas em relação a espécies arbóreas. No fim, os alunos compreenderam que a forma exuberante de uma floresta depende de uma imbricada teia de animais que, em parte, está relacionada àqueles que vivem na serapilheira. Caso essa teia seja rompida por motivos naturais ou, na sua grande maioria, pela ação antrópica, o ecossistema entrará em desequilíbrio. A seguir, o material gerado pelo trabalho desenvolvido com auxílio dos alunos.

Estudo dos organismos de serapilheira A Mata Atlântica, também conhecida como Floresta Ombrófila, possui temperaturas sempre altas e chuvas frequentes, com precipitações anuais de pelo menos 1.800mm. O ambiente é caracterizado por árvores de grande porte e acentuada riqueza de lianas e epífitas. A luminosidade no interior da floresta é muito baixa pelos vários estratos de vegetação (TONHASCA Jr, 2005). No início do século 16, a Mata Atlântica ocupava aproximadamente 98% do território leste do Brasil, estendendo-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul e ainda hoje possui as maiores taxas de endemismo do Brasil (JOLY et al., 1991; CÂMARA, 1991; MORELLATO & HADDAD, 2000; OLIVEIRA-FILHO & FONTES, 2000). É reconhecida como um dos biomas mais diversos e ameaçados do mundo, apresentando poucas áreas relativamente extensas e muitos fragmentos em diversos estágios de degradação (FONSECA, 1985; JOLY et al., 1991; ZAÚ, 1998). Atualmente resta no Estado de São Paulo pouco menos de 200Km2 de vegetação intacta, o equivalente a 13% de sua área, como visualizado na Figura 7. 318


Biodiversidade na Serra do Itapeti: pesquisa para o ensino

Figura 7. Remanescentes de Mata Atlântica do Estado de São Paulo. (Revista Pesquisa FAPESP, 2003).

Na região leste de São Paulo, localiza-se o município de Mogi das Cruzes (Figura 8), que possui cerca de 65% de seu território situado em áreas de preservação ambiental, estando inserido na segunda maior reserva de Mata Atlântica do estado (PREFEITURA DE MOGI DAS CRUZES, 2007). O remanescente mais significativo da cidade é a Serra do Itapeti que possui 5.200 hectares e é considerado um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica da Região Metropolitana de São Paulo, possuindo elevado índice de biodiversidade, com algumas espécies endêmicas, ou seja, de ocorrência local. Segundo Raymundo (2002), esta área serve como um grande refúgio para animais silvestres, inclusive alguns ameaçados de extinção, o que pode

Figura 8. Localização da cidade de Mogi das Cruzes (SP). (Prefeitura de Mogi das Cruzes, 2007).

ser considerado um fator importante para sua conservação. Na Serra do Itapeti temos o Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, com 352,3 hectares. As áreas de mata do Parque apresentam-se com árvores que alcançam de 20 a 25m de altura, podendo ser observadas também plantas de hábito arbustivo, além de musgos, líquens, algas e epífitas. Um panorama geral da vegetação do Parque pode ser visualizado na Figura 9.

Figura 9. Estratificação da vegetação no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello.

Figura 10. Camada de serapilheira cobrindo a superfície do solo solo.

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Sobre o solo temos a serapilheira (Figura 10), uma camada de matéria orgânica que abriga uma série de organismos e é considerada o meio mais importante de fornecimento de nutrientes no solo de uma floresta (VITAL et al., 2004). A serapilheira pode influenciar mudanças no ambiente físico, como alterações na temperatura do solo e na quantidade de luz, além de ser um importante fator no entendimento da ciclagem e disponibilidade de nutrientes em ecossistemas florestais (PORTELA & SANTOS, 2007). Para coletarmos os organismos, a serapilheira foi demarcada a partir de uma armação de ferro de 1m2

(Figura 11A), sendo raspada da borda para o centro com a própria mão usando-se luvas (Figura 11B). Esse material foi colocado no saco peneirador (Figura 11C) e agitado em movimentos laterais e verticais. Em seguida, o material foi colocado no saco de amostras (Figuras 11D e E) que foi levado ao Laboratório de Biologia da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). No laboratório, esse material foi transferido para um saco de malha todo perfurado (rede) que compõe parte do extrator de Winkler (Figura 11F). Esse saco foi introduzido no interior do extrator (Figura 12), que teve sua região superior

A

B

C

D

E

F

Figura 11. Procedimentos para coleta dos organismos na serapilheira: (A) Demarcação com armação de ferro; (B) Raspagem da serapilheira; (C) Material sendo peneirado em saco específico; (D e E) Colocação do material no saco de amostras; (F) transferência do material para o saco perfurado.

320


Biodiversidade na Serra do Itapeti: pesquisa para o ensino

fechada com barbante e sua região inferior acoplada a um copo receptor com etanol 70%, para que os organismos pudessem cair passivamente. O extrator ficou suspenso por 48h no Laboratório de Biologia da Universidade de Mogi das Cruzes (Figura 13). Os organismos que foram depositados no copo receptor (Figura 14) são aqueles encontrados na se-

rapilheira. No laboratório, efetuamos a separação e a identificação desses animais (Figura 15), que pertencem, principalmente, aos Arthropoda. Agora, vamos conhecer um pouco de sua diversidade. A maior parte dos artrópodes encontrados na serapilheira das florestas tropicais é constituída por formigas. Elas desempenham interações com outros organismos e participam de forma significativa dos processos funcionais dos ecossistemas, como na regulação da abundância de outros artrópodes, da ciclagem de nutrientes, promovem modificações na estrutura física do solo, no fluxo de energia e de materiais dos ecossistemas.

Figura 12. Colocação do saco perfurado no extrator.

Figura 13. Extratores suspensos no laboratório.

Figura 14. Copo receptor que contém etanol 70%.

Figura 15. Separação e identificação dos organismos no Laboratório de Biologia da Universidade de Mogi das Cruzes.

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Chilopoda

Espécimes

Clivati, D.

Um par de apêndices por segmento

Clivati, D.

Isopoda

Diplopoda

Apêndices semelhantes Dois pares de apêndices por segmento

Clivati, D.

Clivati, D.

Dois pares de apêndices segmento Cabeça fundida aopor tórax

Fases de Desenvolvimento – Insecta LARVAS

Clivati, D.

Clivati, D.

Serra do Itapeti

Clivati, D. Clivati, D. Clivati, D.

NINFAS

Clivati, D.

Clivati, D.

Clivati, D.

322


Biodiversidade na Serra do Itapeti: pesquisa para o ensino

Araneae

1 cm

Clivati, D.

Arachnida

1 cm

Clivati, D.

Cefalotรณrax separado do abdome por pedicelo

Clivati, D.

Opiliones

1 cm

Clivati, D.

Clivati, D.

1 cm

Corpo ovรณide, com longas pernas

Pseudoescorpiones

Arachnida

Presenรงa de pedipalpos, sem ferrรฃo

Acari

323

Clivati, D.

0,5 cm

0,5 cm Clivati, D.

Clivati, D.

Clivati, D.

0,3 cm

Abdome fundido com o cefalotรณrax


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Heteroptera

Clivati, D.

0,6 cm

Asas do tipo hemiélitro

Isoptera

Insecta

Abdome ligado ao tórax

Coleoptera

Asas do tipo élitro

Hymenoptera

Asas membranosas

MAS, O QUE AS FORMIGAS ESTÃO FAZENDO NA SERAPILHEIRA?

324


Biodiversidade na Serra do Itapeti: pesquisa para o ensino

ga as protegem de possíveis predadores ou parasitas. O amplo sucesso desse grupo pode ser atribuído, principalmente, ao fato de possuir comportamento social, ou seja, apresenta divisão de trabalho em um sistema de castas altamente desenvolvido: alguns indivíduos encarregam-se de buscar alimento, outros cuidam da prole, outros são especializados na defesa do ninho e, dessa maneira, a vida em sociedade facilita a luta pela sobrevivência. Veremos na Tabela 1 os hábitos de algumas espécies de formigas encontradas na serapilheira (de acordo com SCHULTZ & MCGLYNN, 2000).

Veremos, por meio de exemplos (Figuras 16 e 17; Tabela 1), algumas das inter-relações que elas podem apresentar na serapilheira. Atuam em vários níveis da cadeia alimentar, ora sendo presas, ora sendo predadoras (Figura 16). Algumas espécies influenciam a distribuição espacial das plantas, pois atuam como dispersoras de sementes, inclusive para áreas degradadas (Figura 17). As formigas também apresentam outras interações que são importantes para um ecossistema de mata, além daquelas correlacionadas com a serapilheira. Vejamos nos exemplos a seguir: Plantas do gênero Cecropia produzem corpúsculos que servem de alimento para formigas do gênero Azteca, além de fornecerem abrigo para estas (Figura 18). As formigas, por sua vez, protegem a planta contra possíveis herbívoros. Os nectários extraflorais, que algumas plantas possuem, produzem uma substância açucarada que serve de alimento para algumas formigas (Figura 19). Com a presença das formigas, as plantas se protegem de seus inimigos herbívoros. Outras espécies apresentam associação com afídeos (Figura 20), alimentando-se da excreção açucarada que estes animais liberam; em troca, a formi-

Formigas

Figura 18. Formigas do gênero Azteca visitando Cecropia sp. (Cecropiaceae).

Nectário extrafloral Larva de Diptera Pheidole sp. Camponotus rufipes Figura 16. Formiga (Pheidole) com larva de Diptera entre as mandíbulas.

Atta sp. Leal, I.

Semente de Euphorbiaceae

Figura 19. Camponotus rufipes visitando nectário extrafloral de Inga (Fabaceae).

Camponotus rufipes

Figura 17. Formiga (Atta sp.) carregando sementes em área de mata.

Figura 20. Camponotus rufipes em associação com afídeos.

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Tabela 1. Espécies encontradas na serapilheira com seus respectivos hábitos alimentares. Táxon

Hábito Alimentar

Preda insetos e pequenos vertebrados

Labidus mars

Preda formigas e outros insetos

Neivamyrmex pilosus

Preda cupim

Acanthostichus quadratus

Heteroponera mayri

Predador

Gnamptogenys continua

Predador

Predador especialista

Strumygenys sp.9

Predador generalista e visitante de nectários extraflorais

Pseudomyrmex gracilis

Generalista

Dolichoderus sp.1

Predador de ovos de artrópodes

Discothyrea sexarticulata

Predadoras, especialmente de pequenos Chilopoda

Prionopelta sp.1

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Biodiversidade na Serra do Itapeti: pesquisa para o ensino

E agora, diante de todas essas informações, você ainda acha que as formigas só servem para atrapalhar, invadir sua cozinha ou destruir as folhas de seu jardim?

nos, constituem um amálgama em que as partes não apenas interagem, mas fundem-se na estrutura integrada de um saber. Saber este que esperamos que possa gerar atitudes e nortear ações no agora e num futuro não distante, nas mais diversas áreas da formação profissional de nossos jovens e no exercício pleno da cidadania. Assim, a Serra do Itapeti, mais que uma paisagem, incorpora conhecimentos científicos sobre a biodiversidade com seus valores e significados.

Considerações finais As descrições resumidamente aqui apresentadas buscaram ilustrar os procedimentos, as estratégias e métodos de ensino com o intuito de promover uma aprendizagem significativa e consistente sobre a biodiversidade. As compreensões, os entendimentos e as construções conceituais sobre a biodiversidade da Serra do Itapeti ocorreram com a participação direta dos alunos no enfrentamento de situações, tomadas de decisões, planejamentos experimentais, análises, registros e muita vivência em ambientes de campo, laboratórios, bibliotecas e com a comunidade científica. Nesse processo, as experiências e realizações efetuadas por todos os envolvidos no projeto BIODAT, em especial os alu-

Agradecimentos Os autores agradecem à FINEP (Convênio n. 01.05.1011.00) pelo auxílio financeiro e à Escola Técnica Estadual Presidente Vargas, especialmente à Diretora Márcia Regina de Oliveira, por proporcionar todo o auxílio administrativo necessário ao projeto, e aos Professores Lúcia Aparecida Rossini de Oliveira Cintra e Renato José Argentino.

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328


O Parque Municipal Nagib Najar: importante área para a preservação da Serra do Itapeti Elisa Esposito

Resumo O capítulo traz a descrição do Parque Municipal Nagib Najar, localizado ao sul da Serra do Itapeti. A área, entre as décadas de 1940 e 1980, servia como depósito de resíduos sólidos da Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes, uma importante indústria para a economia local. A recuperação dessa área degradada, que faz parte da Área de Proteção Ambiental do Rio Tietê, é fundamental para a preservação, principalmente, da mata ciliar local. Com isso, a Serra do Itapeti, estando no seu entorno, poderá ter a sua biodiversidade mais preservada.

Caracterização do local

Histórico do local

O Parque Municipal Nagib Najar (Figura 1) (O 46°13’3”; S 23°31’21”) foi criado pelo Decreto Municipal Nº. 4.792, em 08/07/98 – Cód. CADLOG 022.053-00 – S 012, Q 095, e inaugurado no dia 22 de setembro de 1999. Possui cerca de 50ha e está inserido totalmente dentro dos limites da Área de Proteção Ambiental (APA) Várzea do Rio Tietê, ao sul da Serra do Itapeti e às margens do Rio Tietê, próximo ao bairro Vila Industrial. O local do Parque foi utilizado por mais de 40 anos (de 1944 até meados da década de 1980), como local para depósito de resíduos sólidos (Figuras 2A,B) da Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes (COSIM), especializada na produção de ferro gusa, aço e laminação. Atualmente, na área, ainda são depositados diversos tipos de materiais nocivos, como lixo e entulho, tanto pela população quanto por empresas da cidade. Há também a queima de materiais extremamente poluentes (Figura 2C). O local encontra-se contaminado por resíduos da usina, tendo sido interditado pela CETESB em outubro de 2002.

A construção da Usina de Mogi das Cruzes foi iniciada em setembro de 1942, com a primeira produção de ferro gusa em 1944, de aço em 1945 e de laminação em 1947. Entretanto, a usina entrou em concordata em janeiro de 1965, paralisando suas atividades. Por intermédio do Decreto-Lei Nº. 280 de 28/02/67, o governo federal entregou à Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) a responsabilidade de promover a reabilitação técnica da Usina de Mogi das Cruzes, formular programas de investimentos e criar a comissão organizadora da nova Usina de Mogi das Cruzes, que passaria a ser denominada de Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes (COSIM) (Figura 3). A siderúrgica totalmente reformulada entrou em operação em meados de 1968 e possuía um alto-forno a carvão vegetal, que produzia diariamente 160 toneladas de ferro gusa. O carvão vegetal, que abastecia o alto-forno, era oriundo de madeiras da Serra do Itapeti. A escória resultante do processo era vendida a terceiros que a utilizavam na fabricação de cimento metalúrgico. A produção de aço era bem 329


Elisa Esposito

riais metálicos, fogo colocado por transeuntes, etc.). Invariavelmente, há dois elementos (resíduos da antiga siderúrgica, principalmente moinha de carvão, como combustível; oxigênio atmosférico como comburente) dos três necessários à combustão, faltando apenas uma fonte de calor, o que leva a solicitação, como medida emergencial do isolamento do local. Além disso, a característica de combustibilidade já confere a esses resíduos a classificação II (não inerte), pela norma ABNT-NBR-10004. Assim, análises efetuadas em perfis de solo indicam que o mesmo apresenta valores considerados de alerta pela CETESB para alguns metais pesados: cromo, níquel e cádmio. Essa situação mostra a alteração das propriedades funcionais, que requer investigações detalhadas e monitoramento – trata-se, por definição, de uma área suspeita de contaminação” (SILVA, 2003). No Estado de São Paulo, há um total de 300 áreas contaminadas por metais. A última atualização do inventário destas áreas aponta a existência de 2.514 sítios, dos quais 95 encontram-se em processo de monitoramento para reabilitação e 87 reabilitados (CETESB, 2009). Dentre os diversos contaminantes encontrados nas áreas analisadas no Estado de São Paulo, os metais foram os responsáveis pela contaminação de aproximadamente 217 sítios. Todavia, há a necessidade de estudos mais detalhados sobre 859 das 1.596 áreas contaminadas que ainda não possuem proposta de remediação (OLIVEIRA, 2008). O monitoramento ambiental fornece informações sobre as interferências ocorrentes em diferentes ambientes, sendo a utilização de bioindicadores uma valiosa ferramenta para esse fim, pois podem indicar as condições em que o ambiente se encontra, evidenciando alterações ecológicas ocorrentes, ou até mesmo diagnosticando as causas dessas modificações. Assim, trabalhos de pesquisa como os que estão sendo descritos nos capítulos 23 (Avaliação da contaminação por metais no solo do Parque Municipal Nagib Najar), 24 (Diversidade da fauna de formigas no Parque Municipal Nagib Najar), 25 (Diversidade de bactérias endofíticas no Parque Municipal Nagib Najar), 26 (Angiospermas e metais pesados: estudos em um ecossistema contaminado) e 27 (Avaliação de plantas metalófitas nativas da mata ciliar do Rio Tietê para recuperação de áreas degradadas) são informações importantes para auxiliar nos planos de recuperação de áreas antropizadas. Esses trabalhos foram elaborados com apoio do Programa Biota da FAPESP (Processo Nº. 05/54617-2) por um grupo de pesquisadores,

diversa, o setor era composto por cinco fornos com capacidade de 60 toneladas cada um. No setor de laminação eram produzidos vergalhões, cerca de 35 mil toneladas por ano de tarugos para a fábrica de tubos sem costura e barras quadradas para relaminação na própria COSIM ou em outras usinas de relaminação, nacionais e estrangeiras. No geral, a Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes (COSIM) possuía, até 1980, as seguintes linhas de produção: 1) barras redondas (vergalhões) para construção, CA-24, CA-50-A, conforme norma ABNT EB-3/67, nas bitolas de 6mm (1/4”) até 38mm (1.1/2”); 2) barras quadradas para relaminação SAE 1008/1080, nas bitolas de 50mm (2”), 63mm (1.1/2”), 75mm (3”), 95mm, 115mm, 135mm, 160mm; 3) Lingotes de aço SAE1008/1080 de 230mm x 230mm; 4) tubos de aço sem costura, pretos, nas normas DIN 2440, 2441 e 2448, ASTM A-120 chuedule 40 e 80, nas bitolas de 50mm (2”) até 100mm (4”), e 5) minérios de ferro e de manganês. A indústria siderúrgica foi liquidada entre 1988 e 1993, segundo informações do Ministério do Planejamento. Hoje, o que se observa na área é um histórico de práticas inadequadas por parte da siderúrgica COSIM, que não levou em conta os efeitos deletérios ao ambiente e à saúde da população (SILVA, 2003). Ainda, segundo o mesmo Relatório Técnico Final elaborado por Silva (2003), “há um histórico sobre ocorrência de dispersão aérea de material fino, notadamente moinha de carvão, pelos arredores da COSIM, quando a mesma estava em operação. Este material, consequentemente, disseminou-se pela área da siderúrgica e arredores”. Além disso, foi efetuada a disposição de resíduos diversos no local, onde hoje se situa o Parque Municipal Nagib Najar, destacando-se os alteamentos das estradas locais (resíduos mais resistentes, como escórias de fornos, misturados à moinha e outros resíduos) e locais específicos de descarte. Este é o caso da antiga lagoa, situada na porção oeste da área da COSIM, em um “ângulo” da margem esquerda do Rio Tietê. Do local, foram retiradas mais de 40.000 toneladas de moinha de carvão vegetal entre setembro de 1992 e março de 1994, segundo informações da CETESB (SILVA, 2003). Além disso, “o histórico da área pertencente à COSIM, bem como constatações e investigações de campo indicam que a mesma apresenta sérios problemas com combustão associada à moinha de carvão, normalmente induzida por alguma fonte de calor (luz solar convergida a partir de vidro e mate330


O Parque Municipal Nagib Najar: uma importante área para a preservação da Serra do Itapeti

juntamente com seus alunos de iniciação científica e de Pós-graduação, com o intuito de caracterizar o Parque Municipal Nagib Najar, que está totalmente inserido nos limites da Área de Proteção Ambiental (APA) Várzea do Rio Tietê, no entorno da Serra do Itapeti. Dessa forma, é fundamental reunir esforços e muito conhecimento para a preservação da biodiversidade da Serra, que deve ser devidamen-

te manejada e estruturada para isso. Os resultados apresentados nos capítulos citados devem servir de base para o processo de reabilitação da área.

Agradecimentos À Fapesp (Proc. Nº. 05/54617-2) pelo auxílio financeiro.

Referências CETESB - Companhia de Tecnologia em Saneamento Ambiental. Áreas contaminadas no Estado de São Paulo. 2009. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/Solo/areas_contaminadas/relacao_areas.asp>. Acessado em: 19 mai. 2010. OLIVEIRA, L. P. Tratabilidade de solos tropicais contaminados por Resíduos da indústria de revestimentos cerâmicos. Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 13, n. 1, p. 97-108, 2008. SILVA, A. L. B. S. Levantamento hidrogeoquímico e ambiental na área da antiga siderúrgica Cosim, Mogi das Cruzes. Relatório Final, Prefeitura de Mogi das Cruzes (SP). 2003. 57 p.

Figura 1. Foto aérea da localização do Parque Municipal Nagib Najar (destaque em laranja) em relação à Serra do Itapeti.

331


Elisa Esposito

A

B

C

Figura 2. Aspectos gerais da área. (A e B) Locais com a deposição de moinha de carvão; (C) Local após ter sofrido a queima de pneus. Fotos: M.C.P.Brandt.

Figura 3. Foto demonstrativa da Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes (COSIM), quando se encontrava em funcionamento.

332


Avaliação da contaminação por metais no solo do Parque Municipal Nagib Najar André Fernando de Oliveira Astrea F. de Souza Silva Aline Calixto Eduardo Janine Miriane dos Santos

Resumo A caracterização química da contaminação do solo de uma região impactada é informação fundamental para o gerenciamento da área e de políticas de remediação, pois, tendo em vista os enormes custos e tempo para a remediação, é importante avaliar a real distribuição espacial dos contaminantes, seu comportamento químico, assim como os pontos mais críticos de contaminação. Dessa maneira, foi realizado o estudo do solo do Parque Municipal Nagib Najar, no município de Mogi das Cruzes (SP), visando à determinação espacial dos teores totais de metais nos primeiros 60cm de profundidade (divididos em dois níveis: de 60cm de profundidade até 30cm e de 30cm de profundidade até a superfície). O fracionamento dos metais nos pontos mais contaminados também foi avaliado, com auxílio de procedimentos de extração sequencial BCR. tes e as biodisponíveis), que determinarão maior ou menor bioacumulação na fauna ou na flora. A bioacumulação de metais em plantas é um parâmetro importante não apenas para o estudo da sua fisiologia, mas também para avaliar aspectos ambientais, tais como a fitotoxicidade, contaminação e acumulação por meio da cadeia alimentar (biomagnificação), além da seleção de plantas para a fitorremediação e bioindicação de ambientes contaminados. Assim, avaliar o teor dos elementos químicos biodisponíveis no solo impactado é muito importante para auxiliar nesse estudo, além do fato de que estes podem apresentar alta mobilidade, sendo arrastados pelas águas das chuvas às camadas mais internas do solo, chegando às águas subterrâneas, ou mesmo às fluviais. A caracterização do solo se refere ao estado do ambiente no momento das coletas realizadas na área

Introdução O meio ambiente é constantemente modificado pela ação antrópica. Por muito tempo, a transformação não sustentável de matérias-primas existentes no ambiente, ainda que tenha fornecido muita energia e produtos, também resultou em uma enorme quantidade de resíduos gerados e muitas vezes descartados em local e de maneira inadequados. Embora a tendência atual seja a busca por processos que permitam a obtenção de energia e produtos sem a modificação inadequada do ambiente, com a menor produção de resíduos, restam ainda os passivos ambientais, ou seja, áreas contaminadas que devem ser recuperadas. Para tanto, é necessária a caracterização da área, ou seja, não apenas a determinação dos compostos tóxicos existentes na região, em particular metais, mas sua distribuição, formas químicas (formas iner333


André Fernando de Oliveira; Astrea F. de Souza Silva; Aline Calixto Eduardo e Janine Miriane dos Santos

de estudo, sendo assim, em uma situação análoga a uma fotografia, fixando uma situação em uma posição do tempo bem definida. A obtenção dessa “fotografia” da área, entretanto, não é trivial e exige várias estratégias analíticas para que seja obtida, desde diferentes métodos de extração dos metais nas diferentes formas químicas e vizinhanças (ou fases do solo), até a análise de plantas que crescem naquele ambiente. Além disso, tanto o histórico quanto a caracterização de uma área de estudo permitem distinguir alguns aspectos importantes em estudo de plantas, tais como: influências climáticas, do solo, estágio de desenvolvimento, estágio nutricional, influência da estação do ano e antropogênica (MAIA et al., 2001).

Perkin Elmer 3110, ambos no modo de chama (queimador de 10cm quando utilizada uma chama formada por acetileno-ar e de 5cm quando utiliza acetileno-óxido nitroso). As soluções-padrão foram preparadas no mesmo meio, a partir da diluição de solução de referência cada metal (1.000mg/L, SpecSol – QuimLab). Para determinação de cálcio, ferro, manganês, cromo e alumínio foram adicionados aditivos adequados (RAIJ et al., 2001). A grande heterogeneidade do solo da área de estudo pode ser demonstrada pela foto de algumas amostras de solo coletadas na COSIM ao longo dos transectos (Figura 2). Com o intuito de se observar melhor o perfil de contaminação do solo para o teor total de cada metal, foram calculadas as curvas de nível (wafer graph), com auxílio do software Statsoft Statistica 8.0, que consideram a distribuição espacial dos pontos de coleta. Assim, as regiões com maior contaminação por metais foram associadas tentativamente a sete grupos listados de A a G (Figura 3). A partir das curvas de nível, as regiões de maior contaminação dentro do Parque puderam ser definidas. Os teores mais elevados de metais foram observados principalmente nas regiões A, C, D e F. A Tabela 1 contém os valores de referência de teores de metais em solo, definidos pela CETESB (2005) para solos do Estado de São Paulo (apenas para os metais estudados nesse trabalho são apresentados). Uma vez que alumínio, ferro e manganês estão naturalmente em solos em quantidade elevada, eles não são considerados no relatório da CETESB. Na Figura 3, observa-se que os teores de cromo estão acima dos valores de referência em alguns pontos da região C e D, enquanto zinco apresenta alguns pontos com teores acima do nível de prevenção e até de intervenção nos grupos C e F, o mesmo ocorrendo com cobre nos grupos E, D e A. Os teores de manganês, que não são classificados pela CETESB, foram mais elevados nos grupos C e D, em que os teores de ferro também são elevados, além dos grupos A e E. É importante ressaltar, entretanto, que os valores de referência da CETESB têm aplicação bem definida, que tenta prever prejuízos à saúde pública, portanto, não considera impactos à fauna ou flora da área. Assim, teores menores também podem ser deletérios ao ecossistema da área de estudo (FELLENBERG, 1980; MAIA et al., 2001; EDUARDO, 2010). Na análise dos teores dos metais, observou-se uma correlação nas concentrações dos metais ferro e níquel com o cromo. Em ambos os casos há uma correlação elevada entre esses metais (rcrítico igual a 0,42,

Distribuição de metais A coleta do solo para análise foi realizada em pontos ao longo de quatro transectos de maneira a avaliar todo o terreno (Figura 1). As amostras compostas foram coletadas em sítios distantes cerca de 150m um do outro, utilizando-se seis pontos aleatórios dentro de um raio de 75m e em uma profundidade de 0 a 30cm (SILVA, 1999), totalizando 32 amostras. As amostras compostas foram misturadas e homogeneizadas, formando cada ponto, codificado como SO. Em alguns pontos, foram coletadas amostras a 30-60cm de profundidade (chamadas de P). Os pontos foram geoposicionados com auxílio de um GPS Garmin eTrex (Garmin). O teor total (pseudototal1) de Cd, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni e Zn foi determinado a partir de amostras secas ao ar, que foram trituradas e homogeneizadas. Destas, 0,5g foi pesado diretamente nos módulos de digestão (em forno de microondas em sistema fechado Milestone Ethos Plus). Durante o processo de digestão para eliminar a presença de matéria orgânica, foram adicionados 10mL de HNO3 conc. pA (Merck) e, após a irradiação, 10mL de H2O2 30% (Carlo Erba). As amostras foram diluídas com água Tipo 1 (Master System Gehaka) e armazenadas em recipientes de polietileno previamente descontaminados. A quantificação dos metais totais foi realizada com auxílio de um espectrofotômetro de absorção atômica sequencial Varian 240FS e um espectrofotômetro de absorção atômica de feixe simples 1 O termo pseudototal se refere ao fato do método de mineralização da amostra (solubilização dos metais) não considera aqueles metais incorporados a silicatos, sendo considerados muito inertes (são liberados apenas, por exemplo, em meio de ácido fluorídrico). 334


Avaliação da contaminação por metais no solo do Parque Municipal Nagib Najar

N=35, para 99% de significância) (ANDERSON, 1984). Essa forte correlação está associada à presença de resíduos da indústria siderúrgica anteriormente

instalada no local, uma vez que resíduos dessa natureza são ricos em ferro, principalmente, mas podem conter quantidades significativas de níquel e cromo.

Tabela 1. Valores orientadores das substâncias inorgânicas para solos no Estado de São Paulo, adaptado da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB, 2005). Solo (mg/g de peso seco) Metais

Referência de Qualidade

Prevenção

Agrícola

Residencial

Industrial

Alumínio

-

-

-

-

-

Cádmio

<0,0005

0,0013

0,003

0,008

0,020

Chumbo

0,017

0,072

0,180

0,300

0,900

Intervenção

Cobre

0,035

0,060

0,200

0,400

0,600

Cromo

0,040

0,075

0,150

0,300

0,400

Ferro

-

-

-

-

-

Manganês

-

-

-

-

-

Níquel

0,013

0,030

70

100

130

Zinco

0,060

0,300

0,450

1,00

2,00

Entretanto, visando distinguir os tipos de resíduos da indústria siderúrgica dispersos na área (moinhas, escórias, cinzas, etc.), foi feita a análise de componentes principais, a partir dos dados autoescalonados. Os dois primeiros componentes principais explicam 79,7% da variância total. Entretanto, observa-se apenas uma tênue distinção entre dois grupos de resíduos. Dessa maneira, foi realizada a análise de cluster (Figura 4), visando distinguir os tipos de resíduos encontrados nas diferentes regiões de contaminação. A formação de clusters envolvendo pontos muito distantes indica a grande dispersão dos resíduos industriais presente na área, podendo, inclusive, em cada região, haver a mistura de dois ou mais resíduos em proporções distintas. Dessa maneira, não parece possível descrever a região do Parque em termos de tipos de resíduos da indústria anteriormente instalada, mas apenas de regiões com maior ou menor presença de contaminação por metais (independente dos resíduos responsáveis por essa contaminação, como, por exemplo, moinha de carvão, escória, aciária etc). Há a exceção de alguns pontos, descritos com elevada dissimilaridade, como é o caso do ponto 9, bem distinto dos demais, sendo formado principalmente por moinha de carvão. A fim de compreender a contaminação em horizontes mais profundos do solo, foram realizadas análises de metais em uma profundidade maior do solo (30-60cm). Para a comparação mais simples da diferença de concentração entre as profundidades, foi definida uma função de comparação (FC) (Figura 5). Os valores de FC maiores que zero significam que há

maior contaminação na parte mais profunda, assim como quantas vezes a concentração (cprof) é maior que aquela na superfície (csup). Valores de FC menores que zero significa uma maior concentração do metal na superfície (sendo o mínimo igual a -1). Os pontos 9, 12, 16, 26 e 32 têm maior contaminação em maior profundidade, devido, provavelmente às diferenças na remoção dos resíduos em maiores profundidades. Vale a pena observar também que o chumbo apresentou valores acima dos valores de referência (0,017mg/g) em todos os pontos e maior que o valor de prevenção da CETESB (0,072mg/g) nos pontos 12P, 23P, 26P e 32P.

Avaliação da biodisponilização de metais por extração sequencial (BCR) Os pontos de coleta selecionados correspondem àqueles com teores elevados de metais nas camadas mais profundas e de maior dissimilaridade nas camadas superficiais. A seleção dos pontos de coleta foi associada àqueles com elevado teor de metais para as camadas mais profundas; e pontos de maiores dissimilaridades foram selecionados para as camadas superficiais. Para a avaliação da biodisponibilidade em diferentes frações do solo, foi utilizado o protocolo BCR. Para extração de metais em quatro frações diferentes, foram utilizadas as seguintes soluções extratoras, preparadas de acordo com Eduardo (2010): 335


André Fernando de Oliveira; Astrea F. de Souza Silva; Aline Calixto Eduardo e Janine Miriane dos Santos

• •

F1 – Ácido acético 0,11 mol/L F2 – Hidroxilamina 0,5 mol/L em ác. nítrico 0,01mol/L • F3 – Peróxido de hidrogênio concentrado • F4 – Obtida por diferença entre os teores de metais das frações F1 a F3 e o teor total de metal. A determinação dos metais nos extratos foi realizada de maneira análoga àquela realizada para determinação de metais pesados descrito anteriormente. Para um mesmo resíduo industrial, o ambiente pode determinar biodisponibilidades diferentes, de acordo com a fase do solo em que se encontra. O protocolo BCR (European Comission Standard Measurement and Test Programme) foi escolhido, pois dentre os vários protocolos para extração sequencial (TESSIER et. al., 1979; GLEYZER, 2002; KARTRAL et. al., 2006) ele é preferível por ser considerado mais reprodutível (QUEVAUVILLER et al., 1997; RAURET et al., 1999; GLEYZER, 2002). Os extratores convencionais (LINDSAY & NORVELL, 1972; MEHLICH, 1984; CLAESSEN, 1997) avaliam o solo como um todo apenas. Entretanto, o protocolo BCR apresenta alguns inconvenientes, tais como: uso de volume elevado de extratores, manipulação excessiva da amostra com etapas de centrifugação, lavagem e extração utilizando diferentes recipientes. Para minimizar tais etapas, utilizou-se um funil de Gooch com um anteparo no fundo, para evitar a perda de solução durante a etapa de extração. Com esse sistema, o solo ficou constantemente no funil e foi exposto a diferentes extratores e soluções de lavagem diminuindo, portanto, a manipulação da amostra e consequentemente seu erro experimental. Assim, foram avaliados os teores de metais em diferentes fases do solo. Na Figura 6 são observadas as porcentagens dos metais (Cu, Cd, Ni, Zn e Pb) nas quatro frações analisadas. Os teores de metais na forma trocável (fração F1) foi menor que 10% em todos os pontos coletados (com exceção do zinco), ou seja, existe uma baixa concentração desses metais na forma de íons livres, ou associados a carbonatos, que são extraídos pela solução extratora de ácido acético 0,11 mol/L (SUTHERLAND, 2002). A fração F2, relativa ao teor de metal ligado a óxidos de Fe (III) e óxidos de Mn (IV), também apresentou valores muito baixos para esses mesmo metais, indicando que eles não estão em uma forma insolúvel de óxido ou dispersos em óxido de ferro. Metais nessa fração são disponibilizados durante a solubilização de ferro (III) e manganês (VI) pela hidroxilamina, responsá-

vel pela redução desses metais a Fe (II) e Mn (II), respectivamente, que são espécies mais solúveis. Esses metais parecem estar nas frações F3 e F4 do solo. A fração F3 está associada a metais ligados fortemente à matéria orgânica, como sulfetos ou aqueles no estado de oxidação zero (metálicos). Na área de estudo, pela presença de resíduos siderúrgicos, espera-se que o teor de metais na forma zero seja elevado. A presença do peróxido de hidrogênio concentrado em meio ácido a quente favorece a dissolução dessas espécies por um processo de oxidação. Na fração F4 são utilizadas misturas digestoras mais eficientes e extremas, sendo capazes de dissolver metais em compostos recalcitrantes, como alguns minerais, em alguns tipos de resíduos da indústria siderúrgica etc. Como as maiores porcentagens dos metais estão nas frações F3 e F4, pode-se afirmar que o metal está pouco biodisponível nos pontos estudados. Todavia, outra maneira de interpretar esse resultado é que o processo de contaminação pode estar em uma fase inicial, de maneira que os metais podem tornar-se muito biodisponíveis, pelo seu contínuo processo de oxidação, como também da liberação dos elementos para a solução do solo. Uma tentativa muito interessante de avaliar as condições ambientais que favorecem a biodisponibilização do metal de cada tipo de resíduo foi estudada por Cardeal et al. (2010). Como pode ser observado na Figura 6, o zinco, diferentemente dos outros metais, apresentou porcentagens elevadas em todas as frações, variando de 9% a 74% na fração F1, ou seja, existe grande teor de zinco na forma de íons livres, (Zn2+(aq)), e na forma de carbonatos. Na fração F2, observa-se variação de porcentagens entre 2% a 37%, o que mostra parte do zinco presente, associado a óxidos de ferro e manganês. Nessas duas frações, os pontos 12P e SO32 apresentaram uma disponibilidade bastante elevada em relação aos demais pontos de coleta, sendo que na fração F1 foram disponibilizados entre 60% e 70%. Na fração F3, sua porcentagem está entre 2% e 20%, quantidade que indica parte do metal na forma metálica ou ligado a matéria orgânica e/ou sulfetos. Contudo, a maior concentração do metal está na fração F4, com valores de até 82%, e, portanto, associado a óxidos fortemente cristalinos ou mesmo na forma de ligas metálica mais resistentes. A fim de compreender a influência de uma das variáveis do ambiente sobre a biodisponibilização dos metais, foi realizada a análise de correlação entre o pH do solo e da porcentagem de zinco na fração F1. Observou-se uma correlação negativa 336


Avaliação da contaminação por metais no solo do Parque Municipal Nagib Najar

significativa (95% de significância) igual a - 0,89. Esse resultado está associado tanto à formação do processo de troca-iônica, onde os prótons substituem o zinco na superfície carregada de argilossilicatos, quanto pelo aumento da concentração dos aquo e hidroxocomplexos de zinco em solução e diminuição da quantidade de hidróxido ou carbonato. Os equilíbrios envolvidos são aqueles associados ao comportamento ácido base de Bronsted do zinco e do carbonato, assim como aquele de precipitação para os compostos com zinco (ESSINGTON, 2004; OLIVEIRA, 2009). Os diagramas de distribuição de espécies são apresentados na Figura 7 e refletem a solubilidade dos compostos pouco solúveis de zinco associados a essa situação (Figura 8), sendo que as constantes de equilíbrio foram extraídas de Kortly & Sucha (1985). Assim, observa-se que com a diminuição do pH há um aumento na concentração de zinco na solução aquosa. É interessante ressaltar que não foram observadas correlações significativas com os demais metais e o pH do solo. O estudo da distribuição de metais no Parque Municipal Nagib Najar mostrou a grande dispersão física dos resíduos da antiga COSIM pelo terreno e regiões com maior contaminação. Mesmo com o uso de técnicas estatísticas multivariadas não foi possível distinguir os resíduos da antiga indústria que seriam os formadores da contaminação da área. Isso pode estar associado à operação de remoção de solo realizado pela Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes, que, com a movimentação dos resíduos existentes, levou a essa mistura acentuada, além de explicar as regiões do Parque com menor contaminação que outras. Essa hipótese é corroborada pelo fato de que teores elevados de metais foram encontrados nas camadas mais profundas com relação às camadas mais superiores. Na remoção mecânica, é de se esperar que camadas mais externas do solo sejam removidas, sendo que as fases profundas do solo continuaram contaminadas. Estes contaminantes podem atingir as águas subterrâneas e do Rio Tietê próximo da região, o que corrobora a decisão da CETESB em manter a região interditada. A análise do solo por extração sequencial evidenciou a presença de metais como cádmio, cobre, cromo e níquel pouco biodisponibilizados (baixos teores nas frações F1 e F2), ao contrário do zinco e chumbo que apresentaram maiores disponibilizações nestas frações; sendo, portanto, metais que oferecem maior risco.

O estudo realizado foi importante por descrever melhor a contaminação na região de estudo, além de permitir melhor compreensão sobre o potencial de biodisponibilidade dos metais, auxiliando, assim, os trabalhos de gerenciamento e fitorremediação da área.

Considerações finais O solo da região do Parque Municipal Nagib Najar foi local de despejo de diversos resíduos da antiga Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes (COSIM), já tendo sido realizada a remoção de milhares de toneladas de material da região. A avaliação do solo foi feita por meio de um mapeamento da área, onde foram realizadas análises de metais totais em duas profundidades; além do estudo do fracionamento dos metais naquele solo. Por intermédio desse estudo pode-se observar a presença de sub-regiões com maior contaminação, além de constatar uma contaminação de maneira mais acentuada abaixo da superfície, onde deve ter havido menor remoção de materiais. A grande heterogeneidade da área também ficou explícita com o trabalho. Com auxílio do fracionamento dos metais no solo, observou-se que a maior parte do metal ainda se encontra em uma forma não-biodisponível e, portanto, não acessível para a absorção pelas plantas e animais. Esse resultado, entretanto, deve ser analisado com cuidado, pois as condições ambientais necessárias para a mudança desse cenário ainda não são conhecidas, de maneira que a inundação da área, aumento da temperatura do solo, ou mesmo a presença de matéria orgânica pode levar à biodisponibilização dos metais, tornando-os prejudiciais ao ambiente (CARDEAL et al., 2010). O trabalho ora apresentado reforça a necessidade de uma ação dinâmica em relação à contaminação da área, e deve auxiliar na gestão da sua remediação.

Agradecimentos Os autores agradecem à Fapesp (Proc. Nº. 05/ 54617-2), pelo auxílio financeiro.

337


André Fernando de Oliveira; Astrea F. de Souza Silva; Aline Calixto Eduardo e Janine Miriane dos Santos

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338


Avaliação da contaminação por metais no solo do Parque Municipal Nagib Najar

Figura 1. Regiões de contaminação no Parque Municipal Nagib Najar (adaptado de Google Earth 5.0). As elipses representam regiões de contaminação similar; os quadrados brancos se referem aos pontos de coleta (SO). As linhas horizontais são os transectos imaginários.

Figura 2. Amostras de solo dos pontos de coletas localizados no Parque Municipal Nagib Najar.

339


André Fernando de Oliveira; Astrea F. de Souza Silva; Aline Calixto Eduardo e Janine Miriane dos Santos

Figura 3. Curvas de nível para o teor de metais total no Parque Municipal Nagib Najar (níveis em mg/g).

340


Avaliação da contaminação por metais no solo do Parque Municipal Nagib Najar

Figura 4. Análise de cluster dos teores de metais totais no solo do Parque Municipal Nagib Najar.

Figura 5. Função FC entre o teor de metal na profundidade a 60cm e na superfície de 30-60cm.

341


André Fernando de Oliveira; Astrea F. de Souza Silva; Aline Calixto Eduardo e Janine Miriane dos Santos

Figura 6. Porcentagem de cobre, cádmio, níquel, zinco, chumbo, em relação às frações do solo coletado no Parque Municipal Nagib Najar.

342


Avaliação da contaminação por metais no solo do Parque Municipal Nagib Najar

A

B

Figura 7. Digrama de distribuição de espécies do zinco (A) e do carbonato (B) em solução aquosa.

Figura 8. Diagrama de solubilidade do carbonato de zinco e hidróxido de zinco em solução aquosa.

343



Diversidade da fauna de formigas no Parque Municipal Nagib Najar Marcia M. Tachira Débora R. de Souza Silvia S. Sayuri Catarina de B. Munhae M. Santina de C. Morini

Resumo A atual área destinada ao Parque Municipal Nagib Najar localiza-se na encosta da Serra do Itapeti e, durante 40 anos, foi usada como depósito de resíduos originados de uma indústria siderúrgica. Nesse local, foram efetuadas capturas de formigas com o intuito de se estudar os táxons ali existentes diante do seu histórico de ocupação. Foram coletadas formigas, usando-se como técnica extratores de mini-Winkler. O protocolo de coleta foi padronizado de acordo com o que tem sido usado atualmente para a amostragem de formigas de serapilheira em áreas de Mata Atlântica. Foram obtidas oito subfamílias e 54 espécies, sendo classificadas em 13 guildas. As subfamílias mais ricas são as mesmas encontradas em áreas de floresta, entretanto, a maior parte dos gêneros é generalista, como demonstrado pela rica presença da guilda “Dominantes onívoras de solo”. No geral, o Parque Municipal Nagib Najar possui um mosaico de espécies constituído por táxons de áreas de mata e urbana.

(ROSEMBERG et al., 1986; EEVA et al., 2004; NIEMI & MCDONALD, 2004). As formigas, embora constituam somente 2% da fauna de insetos descrita, podem representar mais de 30% da biomassa de animais das florestas tropicais, savanas, campos e outros hábitats importantes do planeta (AGOSTI et al., 2000; ELLWOOD & FOSTER, 2004). A importância desses insetos também se faz presente nas florestas pluviais tropicais, pois constituem um dos mais representativos grupos de artrópodes, quando se analisam a abundância relativa (DAVIDSON et al., 2003) e o número de espécies (LONGINO & COLWELL, 1997; BRÜHL et al., 1998; LONGINO et al., 2002). Do total de táxons de Formicidae, a maioria está associada à serapilheira e/ou ao solo (DELABIE & FOWLER, 1995; WALL & MOORE, 1999).

Introdução Diversos grupos de insetos têm sido utilizados como indicadores para o monitoramento da diversidade e integridade de paisagens naturais no Brasil e em outras regiões de florestas tropicais. Dentre eles, borboletas e formigas constituem os grupos taxonômicos mais recomendados para avaliação e monitoramento ambiental, principalmente por serem fáceis de se amostrar e de identificar (BROWN, 1997; AGOSTI et al., 2000). A utilização de bioindicadores tem sido proposta como uma das formas de monitoramento ambiental, já que esses organismos ou comunidades reagem a alterações no ambiente, modificando funções vitais e fornecendo assim informações úteis para o manejo e para a recuperação de ecossistemas degradados 345


Marcia M. Tachira; Débora R. de Souza; Silvia S. Sayuri; Catarina de B. Munhae e M. Santina de C. Morini

local onde a amostra de solo havia sido recolhida para a análise de metais. A partir deste ponto central, foram demarcados dois subpontos do lado direito e dois do lado esquerdo, equidistantes 50m (Figura 2), onde a camada superficial do solo que se encontrava em 1m2 foi raspada vigorosamente. O material raspado foi diretamente colocado em extratores de mini-Winkler (BESTELMEYER et al., 2000), onde permaneceu por 48h. As coletas foram efetuadas duas vezes durante o ano, abrangendo as estações seca e chuvosa. As formigas coletadas e triadas foram identificadas após a montagem de três exemplares de cada táxon em pequenos triângulos de papel transpassados por alfinete entomológico. O material foi inicialmente identificado em gêneros e em morfoespécies. A identificação em espécies foi efetuada por comparação com exemplares depositados na coleção de referência do Alto Tietê, devidamente conferidos com exemplares do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e também por intermédio de literatura pertinente. O material foi inicialmente classificado em subfamílias de acordo com a proposta de Bolton (2003), identificado em nível de gêneros e nomeados de acordo Bolton (1994), Baroni-Urbani & De Andrade (2007) e Lapolla et al. (2010). Em seguida, em morfoespécies, comparando-se os espécimes com os da coleção de Formicidae do Alto Tietê. Os vouchers estão depositados na coleção de referência da Mirmecofauna do Alto Tietê. A numeração de cada morfoespécie, que está na lista de espécies apresentada no capítulo, segue a sequência que consta na coleção de referência.

O sucesso ecológico dos Formicidae é devido, em grande parte, à elaborada e altamente desenvolvida estrutura social que permite o trabalho cooperativo e coordenado de milhares ou até milhões de indivíduos (WILSON, 1971). Esses insetos representam um grupo modelo para estudos sobre os impactos que as atividades humanas causam sobre a estrutura e o funcionamento de suas comunidades (LÓPEZ-MORENO et al., 2003). Em geral, o estudo de comunidades locais de formigas tem-se mostrado relevante na avaliação das condições ambientais de áreas degradadas, monitoramento de regeneração de áreas florestais e savanas pós-fogo e também dos diferentes padrões de uso do solo (SILVA & BRANDÃO, 1999). Características como abundância, número de espécies, interações com outros organismos e capacidade de colonizar quase todos os hábitats terrestres tornam as formigas um grupo ideal para estudos de biodiversidade. Pesquisas sobre comunidades de formigas podem embasar programas de avaliação e conservação de ecossistemas (ANDERSEN, 1991; ANDERSEN et al., 2002), e os inventários são ferramentas importantes para a análise inicial da diversidade biológica, bem como para estudo das alterações dos diferentes componentes desta diversidade, seja perante condições ambientais distintas ou em resposta aos impactos dos processos naturais ou resultantes das atividades humanas (LEWINSOHN et al., 2001). No presente capítulo, apresentamos os resultados do trabalho realizado sobre as comunidades de formigas em áreas localizadas dentro do Parque Municipal Nagib Najar para que possam servir de base para estudos de monitoramento sobre o processo de regeneração do local.

Análise dos dados Materiais e Métodos

Os dados foram analisados descritivamente por meio de gráficos e tabelas, além da classificação das espécies em guildas, neste caso, baseando-se em Lacau et al. (2008). O teste de Kruskal-Wallis (SIEGEL, 1975) foi aplicado para se comparar a riqueza entre os diferentes sítios de coleta; a diversidade de espécies foi determinada pelo índice de Shannon-Wiener (THOMAS, 2000); a similaridade das comunidades entre as áreas foi comparada pelo índice de Bray-Curtis (LEGENDRE & LEGENDRE, 1998), usando-se uma matriz de presença e ausência; e a correlação entre o teor de metais biodisponíveis e a riqueza de formigas amostrada em cada sítio de coleta foi calculada por intermédio do teste de correlação por postos de Spearman (SIEGEL, 1975).

Sítios de coleta Os sítios de coleta (Figura 1) foram definidos após análise prévia dos metais encontrados no solo do Parque Nagib Najar, cujos resultados estão descritos no capítulo 23 (Avaliação da contaminação por metais no solo do Parque Municipal Nagib Najar).

Coleta e identificação de Formicídeos Para a coleta das formigas, um transecto de 200m foi traçado e teve como ponto referencial o 346


Diversidade da fauna de formigas no Parque Municipal Nagib Najar

ram presentes nos locais de coleta, apenas as cefalotines, espécies nômades e pseudomirmecines foram, de maneira geral, pouco representadas (Tabela 3). O número de espécies não diferiu em relação aos sítios de coleta (Kruskal - Wallis = 5,4156; df = 7; p = 0,6094), o índice de diversidade de Shannon-Wiener foi semelhante em todos os sítios e os valores de Equabilidade evidenciaram a distribuição homogênea das espécies (Tabela 3). Em relação às comunidades, pôde-se observar maior similaridade entre os sítios 1 e 2, 3 e 4 e 6 e 8 (Figura 3). Não houve correlação significativa (rs = -0,6013; p = 0,1147) entre a riqueza e a concentração de metais biodisponíveis no solo de cada sítio de coleta (Tabela 4).

Resultados Foram coletadas 5.790 formigas distribuídas em 54 espécies/morfoespécies pertencentes a 29 gêneros, oito subfamílias e 13 guildas (Tabelas 1-3). Myrmicinae foi a mais bem representada, com 31 espécies, Formicinae com dez e Ponerinae com seis. Os gêneros Brachymyrmex (Mayr, 1868), Gnamptogenys (Roger, 1863), Hypoponera (Santschi, 1938), Paratrechina (Motschoulsky, 1863), Solenopsis (Westwood, 1840) e Strumigenys (Smith, 1860) ocorreram em todos os sítios de coleta (Tabela 2). A guilda “Dominantes onívoras de solo” foi a mais rica em todos os sítios e todas as guildas estive-

Tabela 1. Riqueza total de acordo com as subfamílias amostradas em cada sítio de coleta e os valores do índice de diversidade Shannon-Winner (H’) e Equitabilidade de Pielou (E). Sítios de coleta

Subfamílias

1

2

3

4

5

6

7

8

Myrmicinae

14

20

11

17

10

17

11

13

Formicinae

4

4

3

4

5

5

5

8

Ponerinae

2

2

2

1

2

2

2

2

Ectatomminae

1

1

1

1

1

1

2

2

Dolichoderinae

-

1

1

1

1

2

2

1

Ecitoninae

-

1

-

1

-

-

-

-

Pseudomyrmecinae

1

-

-

-

1

-

-

-

Heteroponerinae

-

-

-

-

1

-

-

-

Total de espécies

22

29

18

25

21

27

22

26

H’

3,09

3,37

2,89

3,22

3,00

3,30

3,09

3,30

E

1,00

1,00

1,00

1,00

1,00

1,00

1,00

1,00

Tabela 2. Táxons amostrados nos sítios de coleta no Parque Municipal Nagib Najar, de acordo com cada subfamília. Sítios de coleta

Espécies/morfoespécies

1

2

3

4

5

6

7

8

Dolichoderinae

Linepithema neotropicum Wild, 2007

-

X

X

X

X

X

X

X

Ecitoninae Labidus praedator (Fr. Smith, 1858)

-

-

-

X

-

-

-

-

Labidus coecus (Latreille, 1802)

-

X

-

-

-

-

-

-

Ectatomma edentatum Roger 1863

-

-

-

-

-

-

X

X

Gnamptogenys striatula Mayr, 1884

X

X

X

X

X

X

X

X

Brachymyrmex heeri (Forel, 1874)

X

X

X

X

-

X

X

X

Brachymyrmex pictus Mayr, 1887

-

-

-

-

-

-

-

X

Brachymyrmex incisus Forel, 1912

X

X

X

X

X

X

X

X

Camponotus rufipes (Fabricius, 1775)

X

X

-

X

X

X

X

X

Camponotus (Tanaemyrmex) sp.5

-

-

-

-

-

-

-

X

C. (Myrmaphaenus) novogranadensis Mayr, 1870

-

-

-

-

X

-

X

X

Camponotus sp.14

-

-

-

-

-

-

-

X

Ectatomminae

Formicinae

347


Marcia M. Tachira; Débora R. de Souza; Silvia S. Sayuri; Catarina de B. Munhae e M. Santina de C. Morini

Tabela 2. (Continuação) Espécies/morfoespécies

Sítios de coleta

Camponotus sp.16

-

-

-

-

-

X

-

-

Myrmelachista sp.6

-

-

-

-

X

-

-

-

Nylanderia fulva (Mayr, 1862)

X

X

X

X

X

X

X

X

-

-

-

-

X

-

-

-

Heteroponerinae Heteroponera mayri (Kempf, 1962) Myrmicinae Acanthognathus rudis Brown & Kempf, 1969

-

-

-

-

X

-

-

Acromyrmex sp.2

-

-

-

X

-

-

-

-

Apterostigma sp.1

-

X

-

X

-

-

-

-

Atta sexdens (Forel, 1908)

-

X

X

-

X

X

X

-

Cephalotes sp.3

X

-

-

-

-

X

-

X

Crematogaster (Orthocrema) sp.2

-

-

X

-

X

-

-

-

Crematogaster sp.3

-

X

-

X

-

X

X

-

Crematogaster sp.7

-

X

-

X

-

-

X

-

Cyphomyrmex sp.2

X

X

-

-

-

-

-

-

Mycetosoritis sp.1

-

X

X

X

-

X

X

X

Octostruma sp.4

-

-

-

-

-

-

-

X

Oxyepoecus sp.2

X

X

X

X

-

-

-

-

Pheidole fallax arenicola abscuthorax (Mayr, 1870)

X

X

-

-

-

-

-

-

Pheidole aberrans Mayr, 1868

-

-

-

X

-

X

-

X

Pheidole sp.6

X

X

-

-

-

X

-

-

Pheidole sp.7

-

X

-

-

X

-

X

-

Pheidole sp.9

X

X

-

-

-

X

-

-

Pheidole sp.18

-

X

X

X

-

-

-

-

Pheidole sp.19

-

X

-

-

-

-

-

-

Pheidole sp.24

X

-

-

X

X

-

-

Pheidole sp.27

-

-

-

-

-

X

-

-

Pheidole sp.36

-

-

-

-

-

X

-

X

Pheidole sp.39

-

-

-

X

-

-

-

-

Strumigenys louisianae Roger, 1863

X

X

X

X

X

X

X

X

Strumygenys denticulata (Mayr, 1887)

X

X

X

X

X

X

X

X

Pogonomyrmex naegeli Forel

-

-

-

-

X

-

-

-

Solenopsis saevissima (Smith)

X

X

X

X

X

X

X

X

Solenopsis (Diplorhoptrum) sp.1

X

X

X

X

X

X

X

X

Solenopsis wasmannii Emery, 1894

X

X

X

X

-

X

X

X

Solenopsis sp.4

X

X

-

X

X

X

-

X

Wasmannia sp.3

X

X

X

X

-

X

X

X

Ponerinae Hypoponera sp.1

X

X

X

X

X

X

X

X

Hypoponera sp.5

X

-

-

-

-

-

-

-

Pachycondyla striata Smith, 1858

-

-

-

-

-

X

-

X

Pachycondyla harpax (Fabricius, 1804)

-

-

X

-

-

-

-

-

Odontomachus meinerti (Forel, 1905)

-

X

-

-

X

-

-

-

Odontomachus chelifer (Latreille, 1802)

-

-

-

-

-

-

X

-

Pseudomyrmecinae Pseudomyrmex gracilis (Fabricius, 1804)

X

-

-

-

X

-

-

-

Riqueza

22

29

18

25

21

27

22

25

348


Diversidade da fauna de formigas no Parque Municipal Nagib Najar

Tabela 3. Número total de espécies amostradas de acordo com as guildas, em cada sítio de coleta localizado no Parque Municipal Nagib Najar. Sítios

Guildas

1

2

3

4

5

6

7

8

Cortadeiras

-

1

1

1

1

1

1

-

Poneríneas crípticas predadoras epigeicas

2

1

1

1

1

1

1

1

Attini crípticas predadoras especialistas

1

3

1

1

-

1

1

1

Arborícolas pequenas de recrutamento massivo

1

4

3

4

2

3

4

2

Oportunistas de solo e vegetação

3

3

3

3

2

3

2

4

Camponotíneas patrulheiras generalistas

1

1

-

1

2

2

2

4

Cefalotines

1

-

-

-

-

1

-

1

Espécies predadoras epigeicas de grande tamanho

-

1

1

-

1

1

2

2

Predadoras generalistas

1

1

1

1

1

1

1

1

Espécies nômades

-

1

-

1

-

-

-

-

Dominantes onívoras de solo

9

11

5

9

4

10

4

6

Mirmicíneas crípticas predadoras generalistas

2

2

2

2

2

2

2

3

Pseudomirmecíneas ágeis

1

-

-

-

1

-

-

-

Total de guildas por sítio de coleta

10

11

9

10

10

11

10

10

Tabela 4. Riqueza de formigas e concentração de metais biodisponíveis (μmol/g) no solo, de acordo com o sítio de coleta no Parque Municipal Nagib Najar. Sítios de coleta

Riqueza

Concentração de metais biodisponíveis

01

22

0,637

02

29

0,657

03

18

3,406

04

25

0,359

05

21

3,498

06

27

1,766

07

22

2,035

08

26

2,303

tam ampla distribuição. Muitas vezes, seus táxons estão associados a áreas perturbadas. Podem ser arborícolas, como Camponotus e Myrmelachista; habitantes de solo como Paratrechina; e de serapilheira, como Brachymyrmex. Já os Ponerinae são predadores por excelência, porém podem usufruir de fontes ricas em carboidratos como nectários e exsudatos de hemípteros (LATTKE, 2003). É um táxon considerado primitivo, tanto no comportamento como na morfologia (LATTKE, 2003) e, por isso, são mais característicos de locais estruturados e sensíveis às modificações ambientais (DELABIE et al., 2000), o que não condiz com a composição florística e com as características dos sítios estudados. Em todos os sítios de coleta foram amostrados gêneros característicos de Mata Atlântica: Gnamptogenys, Hypoponera, Pyramica e Strumygenys (SUGUITURU, 2007), como também de ambientes urbanizados: Brachymyrmex, Paratrechina e Solenopsis (KAMURA,

Discussão Apesar de a área do Parque Municipal Nagib Najar apresentar um histórico de ocupação relacionado à presença de uma siderúrgica, e ainda possuir rejeitos do processo industrial que ali ocorria, foram amostradas as mesmas subfamílias (Myrmicinae, Formicinae e Ponerinae) que também são as mais ricas em áreas de mata da região neotropical (WARD, 2000). A subfamília Myrmicinae é constituída por formigas que apresentam adaptações ecológicas de todos os tipos e, consequentemente, de ampla distribuição geográfica (HÖLLDOBLER & WILSON, 1990; CAETANO et al., 2002). De acordo com Fernández (2003), há espécies arborícolas, habitantes de solo e serapilheira e algumas que cultivam fungos (Attini); dentre as Attini foram amostrados três gêneros: Acromyrmex, Apterostigma e Atta. Os Formicinae são, em sua grande maioria, generalistas (LONGINO, 1994) e também apresen349


3 lo uà os de as r-

es ão ia na rá as

Marcia M. Tachira; Débora R. de Souza; Silvia S. Sayuri; Catarina de B. Munhae e M. Santina de C. Morini

dades de formigas na área em recuperação aparentemente não estão sendo afetadas pelos metais biodisponíveis. Provavelmente, uma série amostral temporal maior será necessária para se mostrar seguramente a tendência de recomposição da fauna mirmecológica e a depuração química da área do Parque Municipal Nagib Najar. Assim, com novas séries temporais, será possível realizar comparações com outras áreas degradadas, e em recuperação, na região neotropical.

2006). Entretanto, no geral, a maioria dos sítios apresentou espécies que são de ambiente de mata, sendo que algumas (Strumygenys denticulata, S. louisianae, Heteroponera mayri, Labidus praedator e L. coecus) possuem hábitos bem especializados e também migratórios. Neste caso, os últimos táxons. Hypoponera é outro gênero bem característico e abundante em área de florestas tropicais (BRANDÃO, 1999). As espécies pertencentes ao gênero Paratrechina são consideradas características de ambientes antropizados, pois se mostram relativamente abundantes em áreas mais abertas ou até mesmo em locais com construções (TRAGER, 1984). Solenopsis é também tipicamente encontrado em áreas degradadas (DELABIE & FOWLER, 1995) e, como Pheidole, é abundante e diverso em áreas de florestas tropicais. A classificação das espécies em guildas permite o estudo comparativo de comunidades, identificando táxons que compartilham as mesmas síndromes comportamentais e ecológicas, fornecendo uma análise geral das comunidades do ecossistema (BEM-MOSHE et al., 2001). No Parque Municipal Nagib Najar a separação das espécies em guildas não possibilitou a diferenciação dos sítios de coleta, já que foram praticamente as mesmas em todos os locais. A guilda dominante em todos os sítios é aquela representada pelas formigas “Dominantes onívoras de solo”. Essa guilda é composta por táxons que podem utilizar várias fontes de alimento, tais como carboidratos, proteínas e restos de animais mortos, que estão intimamente relacionados ao solo (DELABIE et al., 2000). Entretanto, guildas como “Poneríneas crípticas predadoras epigeicas” e “Attini crípticas predadoras especialistas”, apesar da baixa riqueza, também foram amostradas em praticamente todos os sítios. Comparando-se os agrupamentos formados pela análise de similaridade das comunidades de formigas e o teor de metal biodisponível de cada sítio de coleta, ainda não é possível chegar a nenhuma conclusão definitiva. Porém, as comuni-

Considerações finais O Parque Municipal Nagib Najar está localizado em uma área importante para a proteção ambiental, pois em seus domínios se encontram a mata ciliar do Rio Negro e do Rio Tietê, além de estar nas encostas da Serra do Itapeti. Pelo seu histórico de ocupação e da atual situação em que se encontra, é necessário que medidas relacionadas à recuperação da área sejam tomadas. Dentre estas medidas, a recuperação florística nativa deve ter prioridade. Os resultados obtidos com as comunidades de formigas demonstram que a área ainda possui algumas espécies que são especialistas, o que significa que o local ainda oferece condições bióticas e abióticas para a sua manutenção. Entretanto, para que essas redes sejam mantidas e ampliadas, é fundamental que se busquem alternativas de manejo para a área. Afinal, parques urbanos bem estruturados representam fontes de lazer para a população e importantes locais para a manutenção da biodiversidade. E, especialmente neste caso, por sua proximidade, uma área de conexão biológica com a Serra do Itapeti.

Agradecimentos Os autores agradecem à Fapesp (Proc. Nº. 05/54617-2) pelo auxílio financeiro, ao CNPq pela bolsa de Iniciação Científica para a primeira autora, à Universidade de Mogi das Cruzes e à FAEP (Fundação de Amparo ao Ensino e à Pesquisa).

350


Diversidade da fauna de formigas no Parque Municipal Nagib Najar

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Diversidade da fauna de formigas no Parque Municipal Nagib Najar

Figura 1. Localização dos pontos de coleta no Parque Municipal Nagib Najar, no município de Mogi das Cruzes (SP). Foto: Google Earth, 2009. Legenda Local de coleta de solo para análise química

200 m

Subpontos (amostras) 50 m

Figura 2. Transecto demarcado no Parque Municipal Nagib Najar para as coletas de formigas.

Figura 3. Dendrograma de dissimilaridade (Bray-Curtis) das comunidades por entre os sítios de coleta, localizados no Parque Municipal Nagib Najar.

353



Diversidade de bactérias endofíticas no Parque Municipal Nagib Najar Almir José Ferreira Luciana Francisco Welington Luiz Araújo

Resumo As plantas podem abrigar microrganismos endofíticos, capazes de colonizar o interior da planta hospedeira sem causar danos ou formar estruturas externas visíveis. Esses microrganismos podem produzir metabólitos úteis ao hospedeiro, promovendo o crescimento da planta, controlando patógenos e herbívoros e reduzindo estresses abióticos, como falta de nutrientes e de água. Entretanto, apesar do ambiente mais estável no interior do hospedeiro, variações em características fisiológicas da planta podem resultar na seleção de genótipos microbianos e/ou em um desequilíbrio dessa comunidade endofítica. Dessa forma, tendo em vista que o solo do Parque Municipal Nagib Najar apresentou inconformidade em vários níveis de metais pesados, este trabalho mostra a diversidade de bactérias endofíticas em Tecoma stans (ipê-mirim; Bignoniaceae) e Blechnum brasiliense (samambaia; Blechnaceae), encontradas em quatro pontos (1, 2, 5 e 6) do Parque. Para isolamento da comunidade endofítica, caules e rafes das plantas foram desinfetados superficialmente, macerados e diluições apropriadas foram semeadas sobre meio TSA. A densidade bacteriana variou de 1,89 a 4,03 (Log10 UCF. g caule-1), o método estatístico de comparação entre duas amostras independentes demonstrou que a densidade presente em B. brasiliense foi maior em relação a T. stans. Entretanto, a análise estatística não indicou variação de acordo com o ponto de amostragem para ambas as espécies. O coeficiente de correlação de Pearson indicou não haver relação direta entre a densidade de bactérias endofíticas e os teores de metais biodisponíveis nos locais. Já a análise por meio do gene 16S rRNA de 167 isolados revelou a presença de 27 gêneros de bactérias em T. stans e B. brasiliense. Dentre os gêneros em maior abundância é possível incluir Bacillus, Curtobacterium, Enterobacter, Methylobacterium, Rhizobium e Stenotrophomonas. A análise também revelou que Methylobacterium e Bacillus foram amostrados de T. stans predominantemente do ponto 1 e Rhizobium foi predominantemente isolado de B. brasiliense do ponto 2, indicando interação dessas populações à planta/local de coleta. Gêneros como Hymenobacter, Lysobacter, Massilia, Pandoraea e Prochlorococcus também foram encontrados, sendo descritos pela primeira vez neste trabalho como endófitos.

355


Almir José Ferreira; Luciana Francisco e Welington Luiz Araújo

No entanto, nos anos 1970, a partir de estudos a respeito dos endófitos, ocorreu uma mudança nesse pensamento. Estes estudos confirmaram a interação mutualista entre planta e endófitos, em que o hospedeiro representa proteção e fonte de nutrientes, e, em contrapartida, os endófitos produzem compostos químicos como enzimas, alcaloides e antibióticos que atuam como agentes controladores de microrganismos patogênicos e de insetos pragas, aumentando o valor adaptativo da planta hospedeira. Atualmente, sabe-se que bactérias e fungos podem viver endofiticamente em diferentes partes das plantas como raízes, ramos, folhas, sementes, frutos, tubérculos e mesmo flores, colonizando espaços intercelulares, vasos do xilema ou mesmo apresentando colonização intracelular (DARBYSHIRE & GREAVES, 1971; MUNDT & HINKLE, 1976; HALLMANN et al., 1997; STURZ et al., 1999), e em diversas culturas de importância agronômica como milho, algodão, tomate, batata, citros, videira, dentre outras (BELL et al., 1995; JACOBS et al., 1985; HINTON & BACON, 1995; QUADT-HALLMANN et al., 1997). Com o acúmulo de informações sobre a interação endófitos-planta (AZEVEDO et al., 2000; ARAÚJO et al., 2001) e com a determinação das diferentes funções desses microrganismos no interior da planta, tem-se dado atenção ao estudo de bactérias endofíticas, que podem atuar no controle biológico de inúmeras doenças (HALLMANN et al., 1997; M’PIGA et al., 1997), na promoção de crescimento vegetal (HALLMANN et al., 1997; BENT & CHANWAY, 1998), e na biorremediação de áreas poluídas (NEWMAN & REYNOLDS, 2005). Por apresentarem uma associação íntima com a planta hospedeira, as bactérias endofíticas despertam grande interesse agronômico. Segundo Misaghi & Donndelinger (1990), esses microrganismos estão completamente compatibilizados com o hospedeiro, resultado de milhares de anos de convivência comum, tendo levado à coevolução dos organismos endofíticos com as respectivas espécies hospedeiras, ou a um aprimoramento de relações patogênicas. Atualmente, pouco se conhece a respeito dos aspectos ecológicos, fisiológicos e genéticos envolvidos na interação planta/endófitos. Entretanto, como já descrito, é relevante a importância dos microrganismos endofíticos para a planta. O estudo mais aprofundado dessa interação possibilitará a utilização dos endofíticos em programas de melhoramento de espécies vegetais, pois podem ser manipulados geneticamente e

Introdução Endófitos são microrganismos que habitam o interior das plantas, sendo encontrados em órgãos e tecidos vegetais como folhas, ramos e raízes, sem causar doenças e sem produzir estruturas externas visíveis (AZEVEDO & ARAÚJO, 2007). A comunidade endofítica é constituída principalmente por fungos e bactérias que, ao contrário dos microrganismos patogênicos, não causam prejuízo à planta hospedeira (PEIXOTO NETO et al., 2002). Essa relação endofítica pode ter surgido a partir do aparecimento de vegetais superiores no planeta, ou seja, há centenas de milhões de anos (STROBEL, 2002). Evidências de microrganismos associados às plantas foram detectadas em tecidos de folhas e ramos fossilizados (TAYLOR & TAYLOR, 2000), sugerindo que essa interação é o resultado de um processo de coevolução entre os microrganismos e a planta hospedeira. A grande vantagem que os microrganismos endofíticos têm em colonizar as plantas é que os tecidos internos proporcionam um ambiente protegido das adversidades do meio, tais como raios UV, chuvas e flutuações de temperatura, bem como maior disponibilidade de nutrientes, evitando assim a competição com outros microrganismos que habitam, por exemplo, a superfície da planta e a rizosfera (MCINROY & KLOEPPER, 1995a; MCINROY & KLOEPPER, 1995b). Dessa forma, a habilidade de colonizar os tecidos internos da planta hospedeira seria uma estratégia de sobrevivência desses microrganismos. As fontes mais prováveis de microrganismos endofíticos são sementes (ADAMS & KLOEPPER, 1996), materiais propagativos (DONG et al., 1994), rizosfera (HALLMANN et al., 1997) e o filoplano (BEATTIE & LINDOW, 1995), de onde os microrganismos podem colonizar outros tecidos internos da planta hospedeira. O início do estudo dos microrganismos endofíticos ocorreu recentemente, especialmente por seu potencial na produção de metabólitos de interesse econômico, incluindo novos fármacos. Mas as interações entre microrganismos já são conhecidas há muito tempo, porém a teoria sobre a associação benéfica ou neutra entre bactérias e plantas só teve início com o trabalho de Perotti (1926) citado por Hallmann et al. (1997) e Araújo (2000). Com exceção da associação de plantas com fungos micorrízicos e bactérias diazotróficas da rizosfera, acreditava-se que as demais interações levariam à formação de lesões nos tecidos vegetais, que poderiam causar a morte da planta. 356


Diversidade de bactérias endofíticas no Parque Municipal Nagib Najar

reintroduzidos na planta hospedeira, conferindo a ela novas características como resistência a patógenos e pragas, além de produção de proteínas e vitaminas, etc. Tem sido observado que esses microrganismos são versáteis na produção de metabólitos importantes para a sanidade vegetal, sendo, dessa forma, um componente fundamental da dinâmica ambiental de uma mata. Os endófitos são capazes de melhorar nutricionalmente a planta, mesmo em solos carentes, e reduzir a incidência de patógenos (VOLKSCH et al., 1992; HALLMANN & SIKORA, 1996), levando, na área agrícola, a uma melhora significativa na produção de grãos, diminuindo a severidade de doenças, bem como antecipando a liberação de mudas para o campo (COELHO et al., 2007). O uso dos benefícios trazidos pelos endófitos propicia também a utilização mais racional de fertilizantes e defensivos agrícolas, o que implica a diminuição nos custos de produção. Nesse contexto, segundo Barbosa et al. (2005), o uso excessivo de fertilizantes nitrogenados deixa de promover a multiplicação de bactérias diazotróficas. Estas bactérias interagem com a planta em uma relação simbiótica, em que ela recebe abrigo, nutrientes e um ambiente anaeróbico. Em contrapartida, oferece à sua hospedeira nitrogênio para o seu metabolismo. Gêneros como Burkholderia, Gluconoacetobacter, Azoarcus, Herbaspirillum, dentre outros, são capazes de promover a fixação do nitrogênio atmosférico na planta. Essas bactérias se instalam nos tecidos e, por meio da expressão dos genes nif, produzem enzimas, entre elas a nitrogenase, que fazem a fixação de N2 (DÖBEREINER, 1992; ELBELTAGY et al., 2001; PERIN et al., 2006). Uma das propriedades dos endófitos, por exemplo, é a indução da planta hospedeira a produzir fitoalexinas, substâncias caracterizadas pelo seu baixo peso molecular e ação antimicrobiana. No caso, estas fitoalexinas não atuam sobre os endófitos, mas constituem uma arma biológica da planta contra patógenos, resultando em menor competição para os microrganismos endofíticos (CORDEIRO NETO & DIETRICH, 1992). A produção das fitoalexinas pode ocorrer pela capacidade de resposta da planta a metabólitos secundários sintetizados pelos endófitos. Graças a um conjunto de enzimas específicas, juntamente com sua capacidade de biodegradação, esses microrganismos podem sobreviver mesmo com a ação do sistema de defesa da planta hospedeira (ZIKMUNDOVA et al., 2002).

Os microrganismos endofíticos podem atuar na promoção do crescimento da planta por meio da produção de substâncias, tais como auxinas, giberelinas e citocininas, que podem melhorar a absorção de minerais e o aproveitamento hídrico pela planta (BAZZICALUPO & OKON, 2000; JAMES et al., 2002; OLIVEIRA et al., 2002). Recentemente, Taghavi et al. (2005) avaliaram os efeitos da inoculação da bactéria endofítica Burkholderia cepacia em plantas cultivadas em meio contaminado com tolueno. A conclusão do trabalho sugere que a utilização dos microrganismos beneficiou as plantas, tanto contaminadas com tolueno como na ausência da substância. Esses resultados demonstram que bactérias endofíticas, como Burkholderia cepacia, podem aumentar a atividade de fatores de crescimento em plantas por meio de moléculas envolvidas na regulação do metabolismo, como etileno, ácido deaminase 1-aminociclopropano-1-carboxílico, ácido-indol-acético (AIA) ou citocininas. Foi observado também por ABDOULAYE et al. (2005) que Methylobacterium extorquens, além de estar envolvida na produção de citocininas e AIA, mostra relação na produção de vitamina B12, sendo mais associada ao crescimento e à nutrição do vegetal.

Fatores ambientais que alteram a comunidade microbiana endofítica A função metabólica das comunidades endofíticas pode ser afetada por variações fisiológicas sofridas pela planta hospedeira, o que se dá pelo fato de os endófitos serem dependentes de seu suprimento de energia (YOU et al., 2005). Dessa forma, os estresses ambientais, como baixa umidade, alta temperatura, acidez, baixos teores de nutrientes e carbono, bem como estágios fisiológicos da planta, como crescimento e florescimento, podem prejudicar esses microrganismos e alterar a população endofítica (BASHAN & HOLGUIN, 1997; BALDANI et al., 1999). Um exemplo simples dessa interferência é o que ocorre em plantas durante períodos de iluminação. Há um acúmulo de oxigênio em seus tecidos, o que pode interferir na expressão dos genes nif de endófitos diazotróficos, atuando sobre o complexo enzimático da nitrogenase, que é sensível ao O2 (YOU et al., 2005). Seghers et al. (2004), baseados em estudos anteriores, afirmaram que a comunidade endofítica está intimamente relacionada à comunidade do 357


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contexto realizam atividades metabólicas relevantes para o crescimento das plantas, dentre as quais se destacam a produção de hormônios de crescimento, como auxinas (ASGHAR et al., 2002), solubilizantes de fosfatos minerais (FREITAS et al., 1997), ß-1,3-glicanase – um supressor de microrganismos patogênicos – (FRIDLENDER et al., 1993), antibióticos (RAAIJMAKERS et al., 1997), ácido cianídrico (OWEN & ZDOR, 2001) e sideróforos, uma classe de moléculas capazes de formar quelado a partir de ferro (PIDELLO, 2003). Além disso, outras atividades, como armazenamento de água, decomposição de resíduos orgânicos, reciclagem de nutrientes, sequestro e desintoxicação de substâncias tóxicas, influenciam a planta e, consequentemente, o ecossistema (COSTANZA et al., 1997). Apesar dos inúmeros relatos das propriedades das rizobactérias, sua utilização no campo mostra resultados diferentes comparando-se àqueles observados em meio de cultura. Isso se deve, provavelmente, porque os isolados introduzidos podem ter dificuldade de se estabelecer e sobreviver (ATKINSON & WATSON, 2000). Dessa forma, é de grande importância o estudo dos mecanismos de colonização de raízes, especificidade do hospedeiro, influência de fatores ambientais e interações com outros microrganismos. Uma forma de obter informações acerca da capacidade das bactérias rizosféricas de se estabelecerem nesse ambiente é por meio da avaliação do número de exemplares na rizosfera (COELHO et al., 2007) e o efeito que fatores ambientais têm sobre a diversidade dessas bactérias.

solo, reforçando assim a concepção de que os microrganismos endofíticos da rizosfera seriam provenientes do solo. Os autores analisaram o efeito das diferentes práticas agrícolas sobre a comunidade endofítica e observaram, inclusive no controle, um decréscimo na riqueza de microrganismos do solo para a rizosfera, reduzindo ainda mais no interior das raízes da planta. Da mesma forma, utilizando campos experimentais que receberam diferentes tratamentos (fertilizantes orgânicos e minerais), os autores demonstraram que a utilização de fertilizantes minerais afetou negativamente a comunidade endofítica, visto que certas alterações na composição do solo podem influenciar a diversidade de microrganismos. Rajapaksha et al. (2004) estudaram a influência de altas concentrações de zinco e cobre sobre a atividade de bactérias e fungos no solo e observaram que a taxa de respiração e consumo de leucina e timidina apresentou uma redução de até 90%. Esse declínio se manteve constante ao aumento da concentração de metais no meio. A contaminação resultou em maior acidez, mas a atividade dessas bactérias aumentou lentamente, conforme o aumento do pH do solo. Segundo Melloni et al. (2004), as vantagens oferecidas pelos endófitos, tais como melhora nutricional, crescimento e ação contra patógenos e pragas, podem facilitar a recomposição de solos degradados por atividades extrativistas. No entanto, os resultados desse estudo também mostraram que a quantidade de endófitos se mantém baixa mesmo após anos da recomposição da área contaminada pela extração de bauxita. Os autores também constataram uma profunda importância de bactérias diazotróficas na recuperação dessas áreas, visto que podem fixar nitrogênio e produzir outras substâncias que auxiliam no crescimento da planta hospedeira. Dessa forma, os resultados apresentados na literatura deixam evidente a potencialidade da utilização de microrganismos para a biorremediação de áreas poluídas (NEWMAN & REYNOLDS, 2005).

Características da área de estudo Embora a área esteja nos limites urbanos da cidade de Mogi das Cruzes (veja capítulo 22), no Parque Municipal Nagib Najar é possível encontrar diferentes espécies vegetais nativas ou introduzidas, entre elas Tecoma stans (espécie exótica) e Blechnum brasiliense (espécie nativa) (Figura 1). Nesse contexto, sabe-se que plantas cultivadas em regiões de clima tropical podem apresentar ampla diversidade microbiana associada aos seus tecidos, e essa comunidade pode também estar relacionada a um aumento do valor adaptativo dessas plantas em determinadas condições ambientais. Tendo em vista que o local do parque foi utilizado como área de despejo de resíduos da siderurgia, foi observado que o solo da área é heterogêneo e apresenta inconformidade em relação aos níveis de

Comunidade microbiana e a rizosfera No solo há uma grande diversidade de microrganismos e parte dessa comunidade reside na rizosfera, que compreende a região do solo sob influência das raízes. Provavelmente, esse microambiente tem uma especificidade que favorece rizobactérias promotoras de crescimento de plantas (COELHO et al., 2007). Os microrganismos inseridos nesse 358


Diversidade de bactérias endofíticas no Parque Municipal Nagib Najar

Ferro, Manganês, Chumbo, Cromo, Níquel, Cádmio, Cobre e Zinco. Além disso, foi observada uma variação de pH nos fragmentos amostrados, com pontos 1, 2, 5 e 6 apresentado pH 7,25; 7,5; 5,5 e 7,25, respectivamente. O teor de cálcio nos mesmos locais apresentou variações de 400 mmol.g-1 no ponto 5 até 10.000 mmol.g-1 no local 2 (Figura 2A). A análise do teor total de magnésio mostrou uniformidade nos pontos amostrados (450 μmol/g-1), mas os níveis de ferro variaram, sendo mais elevados nos locais 1 e 2 (450 μmol/g-1). Quanto ao alumínio (Figura 2B), o elemento se mostrou em maiores concentrações nos locais 5 e 6 (44 e 25 μmol/g-1), não sendo detectado no local 2. Os teores de cobre foram altos no local 6 (18 μmol/g-1), e, apesar de ser um metal minoritário, seus níveis são preocupantes, uma vez que possui toxidez, mesmo em baixos teores (de acordo com valores de referência de qualidade de solo da CETESB). Os níveis do metal já ultrapassaram os de prevenção, com exceção ao local 5. Já o local 6 possui teores acima dos níveis de intervenção industrial estabelecidos pela CETESB. Os valores de Zn dos locais 5 e 6 (7,5 e 2,5 μmol/g-1) estão acima do valor de referência para a qualidade, enquanto os níveis de Cd nos locais 1, 2 e 6 são maiores do que os valores de referência em prevenção para todas essas, sendo o ponto 2 (17 μmol/g-1) maior que o valor de intervenção para áreas agrícolas. A análise do teor de metais biodisponíveis mostrou que os níveis de Ca e Mg no solo (Figura 2C), assim como os teores totais, são majoritários. Os teores de Ca chegaram a 9,7 μmol.g-1 no local 2, sendo bem próximos do restante. As análises quanto aos níveis de Mg biodisponível mostraram maiores teores nos pontos 2 e 5 (6,9 e 7,2 μmol/g-1). Enquanto o teor de Al mais alto foi encontrado na amostra retirada do local 5, chegando próximo de 7 μmol.g-1. No ponto 5 também foi encontrada a maior disponibilidade quanto aos teores de Fe. Os valores de biodisponibilização de Mn e Cu foram mais elevados no ponto 6. O Cd foi detectado apenas na amostra do ponto 6 (Figura 2D).

em T. stans (Figura 3). A partir das análises também foi verificado que a densidade bacteriana endofítica de B. brasiliense sofre pequena variação entre os pontos amostrados (Figuras 4 e 5), sugerindo que a comunidade bacteriana nessa espécie sofre variação de acordo com as condições do solo. Nesse contexto, a densidade da comunidade bacteriana endofítica foi menor no ponto 2 tanto para B. brasiliense (Figura 4) como para T. stans (Figura 5), indicando que nesse ponto a comunidade endofítica pode responder à contaminação do ambiente. A redução dessa comunidade endofítica pode sugerir um efeito negativo do ambiente sobre a planta hospedeira e, consequentemente, sobre a comunidade bacteriana (BASHAN & HOLGUIN, 1997; BALDANI et al., 1999), mas esse efeito deve ser melhor estudado para se determinar o impacto sobre as espécies vegetais e sobre a diversidade microbiana da área. Embora tenha sido observada variação na densidade bacteriana entre os pontos amostrados, não foi notada correlação entre os níveis individuais de metais e a densidade bacteriana, sugerindo que os efeitos, se presentes, devem ocorrer pela soma dos impactos individualizados de cada metal, e da interação destes com as bactérias presentes. Voss & Thomas (1998), por meio da inoculação de bactérias do gênero Pseudomonas, observaram uma redução da concentração dos metais pesados cobre e manganês nos tecidos de plântulas estudadas. Essa redução de até 70% em uma das cultivares analisada foi atribuída principalmente à competição das bactérias pelo metal e pela absorção à parede bacteriana. Após algum tempo da contaminação e aumento dos teores de metais no solo é possível que a comunidade sofra uma redução na atividade microbiana seguida de uma recuperação (RAJAPAKSHA et al., 2004), porém, esta recuperação na atividade pode estar relacionada a uma seleção de indivíduos da população, pois os metais presentes exigem tolerância quando presentes acima de determinadas concentrações (BAATH, 1989).

Riqueza de espécies bacteriana associada à T. stans e B. brasiliense

Densidade microbiana endofítica em plantas de Blechnum brasiliense e Tecoma stans

A diversidade genética foi avaliada pelo sequenciamento do fragmento 968-1.401 do gene 16S rRNA de 167 isolados de bactérias endofíticas de T. stans e B. brasiliense. Essa análise mostrou que a comunidade bacteriana endofítica cultivável é composta de pelo menos 27 gêneros (Figura 6; Tabela 1), entre os quais Bacillus, Curtobacterium, Enterobacter,

Nas áreas amostradas do parque, foi observado que a densidade bacteriana no interior do caule das plantas amostradas variou de 1,89 a 4,03 (Log10 UCF. g caule-1), sendo maior em B. brasiliense do que 359


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períodos curtos de tempo, mas em períodos maiores ocorreu uma inversão de tal efeito, sendo Pseudomonas as responsáveis pela maior absorção. Além disso, a análise da absorção relacionada ao pH demonstrou um aumento da sorção em níveis menos ácidos, sendo esses níveis inferiores aos encontrados nos locais avaliados nesse estudo. Nos pontos 1 e 5, onde há predominância de Bacillus e Pseudomonas, respectivamente, há um menor teor destes metais, possivelmente em decorrência de uma interação prejudicial em outros pontos (2 e 6). Uma vez que os teores de manganês e cobre possuem níveis elevados nesses pontos, há possibilidade de seleção relacionada a esses metais pesados. Entretanto, é observado que há necessidade de se aumentar a amostragem, pois a maior parte dos isolados sequenciados pertencem ao ponto 1.

Methylobacterium, Rhizobium e Stenotrophomonas são os grupos dominantes nas comunidades avaliadas. Numericamente, os grupos mais abundantes foram Bacillus, Methylobacterium e Rhizobium que representam 19,6, 11,4 e 13,2%, respectivamente, da comunidade bacteriana total. Ainda, tanto Methylobacterium como Bacillus foram amostrados de T. stans predominantemente no ponto 1, enquanto Rhizobium foi predominantemente isolado de B. brasiliense do ponto 2 (Tabela 1), mostrando que pode haver um efeito sobre a dominância de grupos bacterianos pela interação entre o local/planta amostrada. Em estudo anterior, Voss et al. (2001) analisaram os efeitos de cobre, manganês e pH sobre diferentes gêneros bacterianos isolados da rizosfera de trigo. Os autores constataram que Bacillus sp. absorveu mais cobre e manganês do que Pseudomonas sp. em

Tabela 1. Distribuição dos gêneros de bactérias endofíticas nos diferentes pontos amostrados e em cada planta hospedeira. Gênero

B. brasiliense 1

2

T. stans

5

6

1

NO*

1

NO*

Agrobacterium

NO*

Ancylobacter

NO*

Bacillus

NO*

1

NO*

Bartonella

NO*

1

NO*

Citrobacter

NO*

NO*

Curtobacterium

NO*

NO*

Enterobacter

NO*

NO*

Geodermatophilus

NO*

Halomonas

NO*

NO*

Hymenobacter

NO*

NO*

1

1

5

2

32

1

1

1 5

2

1

4

1

1

1

1 1

NO*

NO*

NO*

NO*

1 13

Methylobacterium

NO*

3

NO*

NO*

2

NO*

Novosphingobium

NO*

NO*

Pandoraea

NO*

NO*

Plantibacter

NO*

Prochlorococcus

NO*

Pseudomonas

NO*

Pseudoxanthomonas

NO*

Rhizobium

NO*

Rhodococcus Sphingomonas Stenotrophomonas

NO*

Staphylococcus

NO*

Variovorax

NO*

1

Xanthomonas

NO*

4

1

NO*

Total * planta não observada neste ponto

35

8

2 1

NO*

1

2

NO*

3

1

NO*

1 1

2

NO*

NO*

1

NO*

NO* 2

NO*

2

19

2

9

3

2 2

2

3

3

6

4

4

16

1 8

NO*

1

1

10

1

1

1

22

1

2

1 1

NO*

1

1 1

2

1

8 1

NO*

360

3 1

NO* 18

12

1

NO*

Microbacterium

Total

1 29

Lysobacter

1

6

1

Massilia

3

2

1 4 57

26

23

3

12

18

167


Diversidade de bactérias endofíticas no Parque Municipal Nagib Najar

Alguns gêneros, tais como Hymenobacter, Lysobacter, Massilia, Pandoraea e Prochlorococcus, também foram observados, sendo este o primeiro relato das bactérias em associação endofítica. Entretanto, a maior parte das espécies bacterianas observadas até o presente momento pertence a gêneros comumente associados endofiticamente a espécies vegetais de interesse agrícola. Dessa forma, o estudo da frequência das bactérias endofíticas em diferentes plantas e áreas amostradas poderá permitir inferências sobre os efeitos da contaminação do solo sobre a capacidade de regeneração vegetal da área, visto que os isolados podem ter sido selecionados pela presença de metais pesados na área de estudo. A Mata Atlântica é uma área de ampla diversidade biológica que está sendo degradada de forma intensa. Juntamente com a diversidade de plantas e animais, a qual já foi quase que completamente descrita, existe a diversidade microbiológica. Essa diversidade biológica é ainda pouco conhecida, e com a eliminação das espécies vegetais que hospedam bactérias e fungos, muitos genótipos microbianos também deverão se perder. Assim sendo, tendo em vista a grande diversidade que é sugerida haver em regiões de clima tropical, a manutenção desta diversidade microbiana permitiria a exploração sustentável desses ambientes, e a busca por novos compostos (moléculas, enzimas e proteínas) de interesse biotecnológico.

Considerações finais Apesar de observada variação na densidade bacteriana entre os pontos amostrados, as análises indicam que não há uma correlação entre os níveis individuais de metais e a densidade bacteriana. Entretanto, as perturbações causadas pelos metais podem ter afetado a diversidade da comunidade bacteriana, visto que a densidade fisiológica de grupos bacterianos apresentou uma distribuição diferente e distintos pontos amostrados. Esta mesma comunidade pode fornecer importantes informações sobre a contaminação no solo, permitindo inferir sobre a capacidade de regeneração vegetal da área, pois estes isolados podem ter sido selecionados pela presença de metais pesados, entre outros contaminantes. Foi observado também que a comunidade bacteriana associada a T. stans e B. brasiliense da área de Mata Atlântica apresenta uma grande diversidade com genótipos divergentes. A informação sugere que essa comunidade bacteriana pode ser utilizada para a prospecção de isolados capazes de produzir metabólitos de interesse biotecnológico e, assim, permitir a exploração sustentável dessa área de importância ambiental.

Agradecimentos À Fapesp (Proc. Nº. 05/54617-2), pelo auxílio financeiro.

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A

B

Figura 1. Aspecto geral das plantas avaliadas no Parque Municipal Nagib Najar. (A) Tecoma stans e (B) Blechnum brasiliense.

364


Diversidade de bactérias endofíticas no Parque Municipal Nagib Najar

A

B

C

D

Figura 2. Níveis de metais nos locais de coleta do Parque Municipal Nagib Najar. (A) Teor de metais totais de Ca, Mg, Fe e Mn; (B) Teor de metais totais de Al, Mn, Cu, Zn e Cd; (C) Teor de metais biodisponíveis de Ca, Mg, Al, Fe e Zn; (D) Teor de metais biodiponíveis de Mn, Cu e Cd.

Figura 3. Densidade de bactérias endofíticas no caule de Blechnum brasiliense e Tecoma stans presentes em área de proteção ambiental na região de Mogi das Cruzes.

Figura 4. Densidade de bactérias endofíticas no caule de Blechnum brasiliense em dois locais de amostragem. As médias referem-se à análise de pelo menos 6 plantas por local.

365


Almir José Ferreira; Luciana Francisco e Welington Luiz Araújo

Figura 5. Densidade de bactérias endofíticas no caule de Tecoma stans em três locais de amostragem. As médias referem-se à análise de pelo menos 6 plantas por local.

Figura 6. Árvore fenética exibindo os gêneros das bactérias endofíticas encontradas em Tecoma stans e Blechnum brasiliense, destacando-se sua origem em barras coloridas de acordo com o local.

366


Angiospermas e metais pesados: estudos em um ecossistema contaminado Humberto Alves da Silva Júnior Aurélio Lourenço Cordeiro Vitor Fernandes Oliveira de Miranda

Resumo A Mata Atlântica está distribuída na costa atlântica do Brasil, abrangendo também áreas da Argentina e do Paraguai. O bioma já cobriu aproximadamente 1.300km2 do território brasileiro, estando hoje reduzido a pouco mais de 102 mil km2, e é considerado um dos ecossistemas mais ameaçados do planeta. Essa formação é considerada um dos hot spots em biodiversidade, comportando cerca de 20 mil espécies de flora, das quais aproximadamente 8.000 (em torno de 40%) são endêmicas, além de abrigar e manter mananciais hídricos responsáveis pelo abastecimento de cerca de 70% da população brasileira. Este capítulo apresenta o estudo da riqueza de espécies de angiospermas no local, altamente antropizado, que possui elevada concentração de metais pesados no solo, como evidenciado por estudos prévios. Pretende-se com este capítulo apresentar a riqueza de espécies de flora de angiospermas de área de Mata Atlântica contaminada, bem como testar as correlações entre a distribuição espacial das espécies, por meio do estudo de correlação com a concentração de diversos metais pesados (valores totais e biodisponíveis de Al, Ca, Cd, Cu, Fe, Mg, Mn e Zn). Foram encontradas na área 213 espécies de angiospermas em 38 famílias. Não houve associação significativa entre os índices de contaminação (IC), tanto para valores de metais totais quanto para biodisponíveis, e os valores de riqueza de cada parcela. Apesar da evidente variação dos níveis de metais totais nas parcelas amostradas, a variação nos níveis de metais biodisponíveis foi relativamente baixa, fator que pode ser também responsável pela ausência de correlação entre a riqueza de espécies de plantas e os níveis de metais. Uma amostragem maior de parcelas, bem como a ampliação da área total estudada, poderia trazer mais luz para as questões apresentadas. alguns com o intuito de se observar o comportamento das diversas espécies para a possível identificação e seleção de táxons para o emprego à biorremediação. Entretanto, estudos com esse foco em ambientes de Mata Atlântica são praticamente inexistentes. A Mata Atlântica está distribuída na costa atlântica do Brasil, abrangendo também áreas da Argentina e do Paraguai. O bioma já cobriu por volta de 1.300.000 km2 do território brasileiro, estando hoje reduzido a menos de 8% de sua área original, o que

Introdução Os solos são os principais ambientes de poluição química terrestre. É de se esperar que os organismos que vivam ou dependam de alguma forma desse meio – principalmente diretamente – tenham sua dinâmica afetada pela presença de poluentes, em particular elementos tóxicos e persistentes como os metais pesados (ADRIANO, 2001). Diversos estudos têm relatado a influência de metais pesados sobre a flora (e.g. FREITAS et al., 2004; RASHID et al., 2007), 367


Humberto Alves da Silva Júnior; Aurélio Lourenço Cordeiro e Vítor Fernandes Oliveira de Miranda

corresponde a pouco mais de 102.000 km2, sendo considerado um dos ecossistemas mais ameaçados do planeta (Fundação SOS Mata Atlântica, 2009). Essa formação é considerada pela The Conservation International como um dos hot spots em biodiversidade (MYERS et al., 2000), comportando cerca de 20 mil espécies de flora, das quais aproximadamente 8.000 (em torno de 40%) são endêmicas, além de abrigar e manter mananciais hídricos responsáveis pelo abastecimento de cerca de 70% da população brasileira. O bioma Mata Atlântica é representado por um complexo de ecossistemas pertencentes ao Domínio Atlântico, dentre eles a fitofisionomia Floresta Ombrófila Densa (JOLY et al., 1999). No Estado de São Paulo, a Floresta Ombrófila pode ser dividida em três formações: as matas de planície litorânea, as matas de encosta e as matas de altitude (JOLY et al., 1992). Apesar do relevante aumento de estudos florísticos e fitossociológicos envolvendo essas formações (e.g. CESAR & MONTEIRO, 1995; SANCHEZ et al., 1999; TOMASULO & CORDEIRO, 2000), os estudos de flora ainda são escassos. Pretende-se com este trabalho apresentar a riqueza de espécies de flora de angiospermas de trecho contaminado de Mata Atlântica, bem como buscar possíveis relações entre a distribuição espacial das espécies por meio do estudo de parcelas, com a concentração de diversos metais pesados (valores totais e biodisponíveis).

A identificação das espécies foi feita por comparação de materiais depositados em herbário, baseada em literatura taxonômica específica, assim como consulta a especialistas. Os materiais-testemunho foram herborizados de acordo com procedimentos padronizados (FIDALGO & BONONI, 1984) e depositados no Herbário Mogiense (HUMC) da Universidade de Mogi das Cruzes. As exsicatas serão fotografadas e os registros estão disponíveis no Herbário Virtual do HUMC (http://www.umc.br/herbario/).

Análise de dados Similaridade florística entre parcelas. Para se estabelecer as relações de similaridade e dissimilaridade florística entre as parcelas, foi elaborado dendrograma baseado nas distâncias euclidianas. A análise foi realizada com o aplicativo BioEstat versão 5.0 (AYRES et al., 2007). Relação entre metais pesados e riqueza de flora. Para cada parcela estudada, foram calculados os índices de contaminação (IC) dos metais totais e biodisponíveis (Al, Ca, Cd, Cu, Fe, Mg, Mn e Zn), obtidos de acordo com os procedimentos descritos no capítulo 23 (Avaliação da contaminação por metais no solo do Parque Municipal Nagib Najar) como uma forma de quantificar empiricamente a contaminação em cada área estudada. Os ICs foram calculados de acordo com Feris et al. (2003). Foram calculadas as correlações de Spearman com a finalidade de determinar se havia ou não associação entre as concentrações de cada metal pesado (total e biodisponível) e a riqueza de flora de cada parcela, assim como entre os ICs (metais totais e biodisponíveis) e a riqueza de flora de cada parcela. As análises estatísticas foram realizadas com o emprego do aplicativo BioEstat versão 5.0 (AYRES et al., 2007).

Materiais e métodos Delimitação de parcelas e material botânico Materiais férteis e estéreis de espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas de angiospermas foram coletados quinzenalmente durante o período de abril/2007 a maio/2008. Foram demarcadas oito parcelas (PARC) com 100m de lado (10.000m2), com o objetivo de se verificar possível correlação entre as riquezas de espécies e a presença/ concentração de metais pesados em cada área delimitada (PARC1: 46o12’49,6”O/ 23o31’03,6”S; PARC2: 46o12’49,0”O/ 23o31’08,1”S; PARC3: 46o12’48,0”O/ 23o31’08,5”S; PARC4: 46o12’44,2”O/ 23o31’09,9”S; PARC5: 46o12’39,6”O/ 23o31’18,6”S; PARC6: 46o12’39,5”O/ 23o31’19,1”S; PARC7: 46o12’55,7”O/ 23o31’25,0”S; PARC8: 46o12’52,0”O/ 23o31’26,5”S). Essas parcelas foram delimitadas nos pontos 1 ao 8, demarcados para a coleta de solo (ver capítulos 23 e 24).

Resultados e discussão Aspectos florísticos e ecológicos O Parque Municipal Nagib Najar apresenta como vegetação típica a Floresta Ombrófila Densa (JOLY et al., 1999). É evidente a ação antrópica na área, resultante da pressão urbanística e rodoviária no entorno do parque, assim como da costumeira visita por moradores dos arredores. A intensa visitação do local se dá pelo depósito e coleta de lixo, pela coleta de resquícios de metais (provenientes das pretéritas atividades da Companhia Siderúrgica de Mogi das 368


Angiospermas e metais pesados: estudos em um ecossistema contaminado

apresentaram maior riqueza foram Asteraceae (48 spp.; Figura 1C), Fabaceae (11 spp.), Verbenaceae (10 spp.), Convolvulaceae, Euphorbiaceae, Rubiaceae, Solanaceae e Tiliaceae (7 spp. cada; Tabela 1). A maior riqueza dos referidos táxons em comparação aos demais, bem como o predomínio de espécies de hábito arbustivo, indicam o estágio de sucessão inicial de grande parte da área, colonizada principalmente por espécies pioneiras, sendo algumas invasoras (Figura 1). A parcela 1 foi a que apresentou maior riqueza de angiospermas (84 spp.), sendo que a riqueza mais baixa foi encontrada nas parcelas 3 e 7 (23 spp.; Tabela 1; Figura 3). Tomasulo & Cordeiro (2000), em levantamento florístico no Parque Natural Municipal Francisco Affonso de Mello, que dista aproximadamente 6km em sentido nordeste da área estudada, encontraram para a Mata Atlântica 70 famílias e 214 espécies de angiospermas. Foram levantadas nesse estudo 38 famílias e 213 espécies (Tabela 1; Figura 1). É provável que ocorram alterações, possivelmente pouco significativas, uma vez que diversos espécimes estão ainda sendo identificados por especialistas.

Cruzes - COSIM), assim como pela coleta de plantas para uso medicinal. O local é também comumente utilizado como área de pastagem para equinos e, por esse motivo, podem também ser explicadas as queimadas ocorridas periodicamente. A área apresenta trechos em diversos estágios sucessionais, desde campos antropizados, dominados por Poaceae e Cyperaceae, até trechos em estágio pouco avançado dominados por arbóreas de aproximadamente 8m (Figura 1A). Dentre as arbóreas, foram encontrados espécimes nativos de Alchornea sidifolia (Figura 1D) e Croton sp. (Euphorbiaceae), Cestrum lanceolatum e Solanum sp. (Solanaceae), assim como representantes exóticos e invasores de Morus alba (Moraceae), Psidium guajava (Myrtaceae), Ricinus communis (Euphorbiaceae; Figura 1F), Spathodea campanulata (Bignoniaceae) e agregações de Tecoma stans (Bignoniaceae; Tabela 1). A presença comum de espécies exóticas é indicativa também da ação antrópica na área. Nos campos antropizados, são comuns espécies de Asteraceae (Figura 1C), Cyperaceae, Poaceae, Tiliaceae e Verbenaceae (Tabela 1). As famílias que

Tabela 1. Lista das espécies de angiospermas encontradas em trecho do Parque Municipal Nagib Najar, Município de Mogi das Cruzes (SP). Táxon1 Acanthaceae

Forma biológica

Áreas de coleta 1

2

3

4

5

6

7

8

Materialtestemunho2

Thunbergia alata Bojer ex Sims

arbusto

X

1, 105, 123, 185, 226, 229

Indet.1

arbusto

X

Agavaceae Cordyline terminalis Kunth Amaranthaceae

X

X

X

X X

263, 264, 268, 290

arbórea

X

99

Pfaffia sp.1

arbusto

Pfaffia sp.2

arbusto

X

X

33, 191, 202, 261

X

Araceae Indet. Apocynaceae Asclepias curassavica L. Asteraceae

erva

X

344

erva

X

X

X

X

10, 91, 189, 220

Achyrocline satureoides Gardner

X

7

Baccharis dracunculifolia DC.

arbusto

X

Baccharis sp.

arbusto

X

Bidens pilosa L.

arbusto

X

Emilia sonchifolia DC.

erva

X

Emilia sp.1

erva

X

369

X

251 X

X X

X X

250, 320 2, 3, 29b, 38, 98, 178, 204, 247, 250 3b, 34, 54, 118, 139, X 195, 288, 291, 322, 323b, 357 X

X

39, 125


Humberto Alves da Silva Júnior; Aurélio Lourenço Cordeiro e Vítor Fernandes Oliveira de Miranda

Tabela 1. (Continuação) Táxon1

Forma biológica

Emilia sp.2

erva

Gnaphalium sp.

erva

Mikania cordifolia Willd.

liana

Áreas de coleta 1

2

3

4

5

6

7

8

X

355

X

Mikania sp.1 Mikania sp.2 Orthopappus angustifolius Gleason Solidago sp. Taraxacum officinale L. (Weber) Tithonia diversifolia A. Gray

liana liana arbusto arbusto erva arbusto

X

Vernonia sp.

arbusto

Wedelia paludosa (Berhaut) Isawumi

arbusto

X

Indet. 1

arbusto

X

Indet. 2

arbusto

Materialtestemunho2

205 X

134

X

75, 198 358 30, 60 10b 312 109, 217, 230, 349

X X

X X X X

X

X

X

127

X

11, 337 X

X 197, 304, 326, 330b

X

X

Indet. 3

liana

X

172

Indet. 4

arbusto

X

177

Indet. 5

arbusto

X

Indet. 6

arbusto

X

X

307, 313 315

Indet. 7

arbusto

X

21

Indet. 8

arbusto

X

26

Indet. 9

arbusto

X

49

Indet. 10

arbusto

X

53

Indet. 11

arbusto

X

265

Indet. 12

arbusto

X

267

Indet. 13

arbusto

X

270

Indet. 14

arbusto

X

88

Indet. 15

arbusto

X

95

Indet. 16

arbusto

Indet. 17

arbusto

Indet. 18

arbusto

Indet. 19

arbusto

Indet. 20

arbusto

Indet. 21

arbusto

X

109 X

144 X

X

305 47

X

78 X

154

Indet. 22

arbusto

Indet. 23

arbusto

Indet. 24

arbusto

Indet. 25

arbusto

X

335

Indet. 26

arbusto

X

348

Indet. 27

arbusto

X

156

Indet. 28

arbusto

X

163

Indet. 29

arbusto

X

Indet. 30

arbusto

Indet. 31

arbusto

Balsaminaceae Impatiens walleriana Hook.

X

73 X

331

X

356

181 X X

erva

370

317

X

X

X

X

X

X

X

309 6, 29, 83, 104, 115, 122, 141, 167, 190, 213, 232, 243, 260, 318, 339


Angiospermas e metais pesados: estudos em um ecossistema contaminado

Tabela 1. (Continuação) Táxon1 Indet. 1 Bignoniaceae

Forma biológica erva

Tabebuia sp.

arbórea

Lobelia fistulosa Vell. Caryophyllaceae

3

4

5

6

7

8

X

Materialtestemunho2 273, 275, 280

arbórea

Campanulaceae

2

Spathodea campanulata P.Beauv.

Tecoma stans Griseb.

Áreas de coleta 1

arbórea

X

40, 64

X

X

X

259

X

147, 166, 187, 212, 245, 351

X

arbusto

X

295

Indet. 1

erva

Indet. 2

arbusto

X

19, 22, 27, 44 X

107

Chenopodiaceae Chenopodium sp.

arbusto

Commelinaceae

X

X

Commelina sp.1

erva

Commelina sp.2

erva

X

Setcreasea purpurea Boom

erva

X

Convolvulaceae

314b, 316

X

X

X

45, 101, 283 327

X

87, 284

Ipomea sp.1

liana

15, 37, 82, 119, 170, 207, 223, 324

Ipomea sp.2

liana

Ipomea sp.3

liana

Ipomea sp.4

liana

Ipomea sp.5

liana

Ipomea sp.6

liana

Indet. 1

liana

Cucurbitaceae

X

X

X X

X

328 X

X

240, 296 323, 325

X

352 X

340

X

350

liana

Melothria scabra Naudin

liana

X

X

111, 256 X

314

Indet. 1

erva

Indet. 2

erva

Euphorbiaceae

X

Momordica charantia L. Cyperaceae

X

X

X

X

100, 136, 236, 282

X

345

Alchornea sidifolia Müll. Arg.

arbórea

X

Croton sp.

arbórea

X

203

Euphorbia splendens Boj. ex Hook.

arbusto

X

191

Manihot esculenta Crantz

arbusto

X

16 12, 142, 169, 244, 292, 321, 341, 353

Ricinus communis L.

arbórea

X

Indet. 1

arbusto

X

Indet. 2

arbusto

Fabaceae

X

X

137, 343, 1497

X

X

X

X

61 X

Cassia sp.1

arbusto

Cassia sp.2

arbórea

X

Crotalaria anagyroides H.B. & K.

arbusto

X

Crotalaria mucronata Desv.

arbusto

Crotalaria sp.

arbusto

371

X

94

X

228 14 4

X

106 X

X

303, 311a, 311b


Humberto Alves da Silva Júnior; Aurélio Lourenço Cordeiro e Vítor Fernandes Oliveira de Miranda

Tabela 1. (Continuação) Táxon1 Desmodium sp.

Forma biológica

arbórea

Indet. 1

arbusto

Indet. 2

liana

Indet. 3

arbusto

Indet. 4

liana

Heliconia rostrata Ruiz & Pav.

2

3

4

5

6

arbusto

Erythrina speciosa Tod.

Heliconiaceae

Áreas de coleta 1

7

8 X

X

X

X

Materialtestemunho2 308 124, 165, 188, 241, 257

X X

X

294 90

X

43 X

294

X

164

Coleus barbatus Benth.

arbusto

X

X

52, 57, 174, 186, 248, 285

Indet. 1

arbusto

X

Lamiaceae

Lauraceae Indet. 1 Loganiaceae Indet. 1 Malvaceae Sida sp. Melastomataceae

erva

arbórea

129

X

X

46, 183, 249

X X

X

X

X

310, 347 18, 121, 210, 242

arbusto

Phytolacca sp.2

arbusto

X

130, 334

X

67

arbusto

X

278

Coix lacryma-jobi L.

erva

Rhynchelytrum repens (Willd.).C.E.Hubb.

erva

Indet. 1

erva

Polygonaceae

Polygonum sp.

erva

Indet. 1

X

Phytolacca thyrsiflora Fenzl ex J.A.Schmidt

Rosaceae

28, 293

arbórea

Anemone x hybrida (Hort. ex L.H.Bailey) Makino

X

arbórea

Ranunculaceae

X

Psidium guajava L.

Poaceae

194

Eucalyptus sp.

Indet. 1

X

arbusto

Piperaceae

138

arbusto

Phytolaccaceae

X

arbusto

Moraceae Myrtaceae

192

arbórea

Ossaea sp. Morus alba L.

X

X

102 X

357

X

25

X

X

32, 97

arbusto

X

X

13

erva

X

289

Rubus rosifolius Sm.

arbusto

X

Rubus urticifolius Poir.

arbusto

X

372

X

X

X

X

X

89, 108, 110, 117, 120, 159, 171, 209, 218 208


Angiospermas e metais pesados: estudos em um ecossistema contaminado

Tabela 1. (Continuação) Táxon1

Forma biológica

Rubus sp.

arbusto

Indet. 1

arbusto

Rubiaceae

Borreria sp.

arbusto

Indet. 1

arbusto

Indet. 2

arbusto

Indet. 3

arbusto

Indet. 4

arbusto arbusto

Indet. 6

arbusto

Indet. 1 Solanaceae

3

4

5

6

7

8

X X

Materialtestemunho2 359

X

152, 219, 276

X

126

X

76

X

202b X

222

X

48 X

332 X

179

arbusto

X

30

Cestrum cf. lanceolatum Miers

arbórea

Cestrum sp.

arbórea

Lycopersicon esculentum Mill.

arbusto

Physalis sp.

2

Indet. 5 Scrophulariaceae

Áreas de coleta 1

X

X

3, 173, 211, 238, 258

X

X

343 X

286

erva

X

1493

Solanum americanum Mill.

arbusto

X

1494

Solanum sp.

arbórea

Indet. 1

arbusto

X

X

X

216, 221, 227, 231

X

274, 281

Corchorus sp.

arbusto

X

17, 20, 23, 24, 53, 56, 68, 81

Triumfetta sp.

arbusto

X

Indet. 1

arbusto

X

Indet. 2

arbórea

X

1496

Indet. 3

arbórea

X

1495

Indet. 4

arbusto

X

128

Indet. 5

arbusto

X

140

Tiliaceae

Verbenaceae

X

9, 31, 59, 180, 254 X 42, 58, 69, 199, 301

Lantana camara L.

arbusto

X

Indet. 1

arbusto

X

Indet. 2

arbusto

Indet. 3

arbusto

Indet. 4

arbusto

Indet. 5

arbusto

Indet. 6

arbusto

Indet. 7

arbusto

Indet. 8

arbusto

Indet. 9

arbusto

Vitaceae

X

X

X

X

X

66, 78, 96, 107, 114, X 133, 168, 215, 224, 237, 300, 302, 306

X

199 X

79 X

184 X

X

X

1327

X

182

X

5, 8, 35, 41, 51, 86, 253 X

312 X

X

297 61

Cissus sp.1

liana

Cissus sp.2

liana

373

X X

175, 176 113


Humberto Alves da Silva Júnior; Aurélio Lourenço Cordeiro e Vítor Fernandes Oliveira de Miranda

Tabela 1. (Continuação) Táxon1 Zingiberaceae Hedychium coronarium J. Koenig Indet.

Forma biológica

Áreas de coleta 1

2

3

4

5

6

7

8

Materialtestemunho2

erva

X

319

Indet. 1

X

Indet. 2

X

214 14

Indet. 3

X

36

Indet. 4

X

50

Indet. 5

X

55

Indet. 6

X

62

Indet. 7

X

63

Indet. 8

X

65

Indet. 9

X

70

Indet. 10

X

196

Indet. 11

X

206

Indet. 12

X

266

Indet. 13

X

269

Indet. 14

X

271

Indet. 15

X

272

Indet. 16

X

277

Indet. 17

X

279

Indet. 18

X

71

Indet. 19

X

72

Indet. 20

X

74

Indet. 21

X

77

Indet. 22

X

80

Indet. 23

X

84

Indet. 24

X

85

Indet. 25

X

92

Indet. 26

X

93

Indet. 27

X

103

Indet. 28

X

225

Indet. 29

X

230

Indet. 30

X

233

Indet. 31

X

234

Indet. 32

X

Indet. 33

X

112 116

Indet. 34

X

120

Indet. 35

X

131

Indet. 36

X

132

Indet. 37

X

135

Indet. 38

X

143

Indet. 39

X

145

Indet. 40

X

148

Indet. 41

X

149

374


Angiospermas e metais pesados: estudos em um ecossistema contaminado

Tabela 1. (Continuação) Táxon1

Forma biológica

Áreas de coleta 1

2

3

4

5

6

7

8

Materialtestemunho2

Indet. 42

X

150

Indet. 43

X

151

Indet. 44

X

153

Indet. 45

X

157

Indet. 46

X

158

Indet. 47

X

160

Indet. 48

X

161

Indet. 49

X

162

Indet. 50

X

262

Indet. 51

X

246

Indet. 52

X

252

Indet. 53

X

255

Indet. 54

X

287

Indet. 55

X

298

Indet. 56

X

299

Indet. 57

X

Indet. 58

348 X

Total de espécies

330

84 41 23 39 35 29 23 28

1

Os nomes científicos e dos autores foram baseados no The International Plant Names Index (2004). Números referentes aos coletores: números < 1.500 dos coletores H. A. da Silva Jr. & A. L. Cordeiro; números > 1.500 do coletor V.F.O. de Miranda; exsicatas tombadas no Herbário HUMC. 2

cilitar a identificação de supostas plantas tolerantes a níveis tipicamente tóxicos de metais pesados. O reconhecimento de espécies tolerantes ou mesmo acumuladoras dessas substâncias pode ser de grande valia para a seleção de táxons para o emprego em propostas de fitorremediação, o que tem despertado maior interesse e aceitação nos últimos anos. Geralmente, o método não apresenta custos elevados, podendo ser utilizado como alternativa, ou mesmo um complemento, a outros métodos de remediação (PILON-SMITS, 2005). O estudo das variações da diversidade é realizado tipicamente por meio do emprego de diversos índices (como o Índice de Shannon). Entretanto, detectar se certas espécies estão presentes ou ausentes em determinada área pode trazer informações importantes para a melhor compreensão dos efeitos de stresse dos poluentes sobre a biota (HERNÁNDEZ & PASTOR, 2008). Nesse aspecto, não foi encontrada correlação significativa entre as concentrações de cada metal pesado (valores totais e biodisponíveis para Al, Ca, Cd, Cu, Fe, Mg, Mn e Zn); e o número de espécies de angiospermas de cada parcela (α=0,05). Com o intuito de se estabelecer um parâmetro empírico que refletisse de forma generalizada o ní-

Relações de similaridade/dissimilaridade florística As relações de similaridade florística entre as parcelas estão representadas na Figura 2. A parcela 1 foi a que mais distou das demais. Isso pode ser explicado pela alta antropização dessa área, que inclui antigas edificações. As parcelas 7 e 8 apresentaram alta similaridade, resultado esperado, uma vez que ambas estão localizadas próximas uma da outra (distância aproximada de 300m) e apresentam similar fitofisionomia. De forma geral, entretanto, não fica evidente a correlação entre as distâncias geográficas e os padrões florísticos entre as áreas estudadas. A falta de relação pode ser explicada pela heterogeneidade de fisionomias da área, representada por mosaicos de campos antrópicos e floresta em estágios iniciais de regeneração (Figura 1A).

Metais pesados e riqueza de flora O presente estudo procurou verificar a possível relação entre a contaminação de metais pesados em diferentes áreas de Mata Atlântica e a riqueza de angiospermas. Deve ser ressaltada a importância exploratória desse trabalho, uma vez que pode fa375


Humberto Alves da Silva Júnior; Aurélio Lourenço Cordeiro e Vítor Fernandes Oliveira de Miranda

vel de contaminação (considerando todos os metais avaliados) de cada parcela, foi calculado o índice de contaminação (IC) de acordo com Feris et al. (2003). Esse índice foi empregado como forma de se mensurar a contaminação relativa do metal no solo em relação à área com menor concentração incluída no estudo (MC). O IC assim pode ser calculado pela fórmula: IC = Σ((log Men/ log Men no MC)/ número de metais incluídos no estudo), em que Me representa Al, Ca, Cd, Cu, Fe, Mg, Mn e Zn. Não houve associação significativa entre os ICs – tanto para valores de metais totais quanto para biodisponíveis – e os valores de riqueza de cada parcela (α=0,05). Entretanto, quando são observados os ICs de metais totais, parece haver um padrão inversamente proporcional aos valores de riqueza de flora (Figura 3). Todavia, não houve suporte estatístico para essa conclusão e também deve ser considerado que apenas uma amostra de solo foi tomada para cada parcela estudada.

e entulho. Toda essa atividade é também a causa da depauperada flora que ocorre na área. A riqueza encontrada, comparada a estudos prévios de áreas próximas, não pode ser considerada baixa. Entretanto, apesar de toda antropização e o predomínio de áreas abertas de campos, trechos de mata em regeneração podem ser encontrados, resistindo à pressão humana. Apesar da evidente variação dos níveis de metais totais nas parcelas amostradas, a variação nos níveis de metais biodisponíveis foi relativamente baixa, o que pode descaracterizar o ambiente como propriamente contaminado. A riqueza de flora encontrada para a área não se apresenta tão díspar daquelas de áreas geográficas próximas (como a estudada por Tomasulo & Cordeiro, 2000), o que suporta a hipótese de ausência de associação entre os níveis de metais pesados e riqueza para a localidade pesquisada. Apesar da evidente heterogeneidade paisagística, representada por campos abertos e trechos de mata em fases variadas de regeneração (predominantemente em fase inicial), é possível afirmar que a área encontra-se em processo de regeneração. Apesar de lenta, dada às pressões antrópicas presentes e sistemáticas, é possível acreditar que a mata poderá se recompor. Nesse aspecto, decisões seguidas de atitudes resultantes do poder público serão necessárias para que o processo de regeneração da área venha de fato se concretizar.

Considerações finais Os trechos de campo e de mata estudados estão localizados em área preteritamente ocupada pelas instalações da Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes – COSIM. O local apresenta indícios evidentes de alta atividade antrópica, não apenas resultante da antiga companhia siderúrgica, mas também da intensa visitação de moradores locais. A presença de metais remanescentes, simplesmente descartados pela antiga empresa, tornou o local muito atrativo para a coleta e revenda desses materiais. A área é também muito usada como pastagens e para depósito clandestino de lixo

Agradecimentos Os autores agradecem à Fapesp (Proc. Nº. 05/54617-2), pelo auxílio financeiro, à Universidade de Mogi das Cruzes e à FAEP (Fundação de Amparo ao Ensino e à Pesquisa).

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Angiospermas e metais pesados: estudos em um ecossistema contaminado

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377


Humberto Alves da Silva Júnior; Aurélio Lourenço Cordeiro e Vítor Fernandes Oliveira de Miranda

A

B

C

D

E

F

Figura 1. (A) Área antropizada dominada por espécies arbustivas e herbáceas (primeiro plano) com mata em processo de regeneração ao fundo; (B) Thunbergia alata Bojer ex Sims (Acanthaceae); (C) Bidens pilosa L. (Asteraceae). Foto em detalhe com flores e aquênios; (D) Ramo de Alchornea sidifolia Müll. Arg. (Euphorbiaceae); (E) Inflorescências de Asclepias curassavica L. (Apocynaceae); (F) Inflorescência com frutos imaturos de Ricinus communis L. (Euphorbiaceae).

378


Angiospermas e metais pesados: estudos em um ecossistema contaminado

Figura 2. Dendrograma das relações de similaridade e dissimilaridade florística (distância euclidiana) entre as oito parcelas de Mata Atlântica no Parque Municipal Nagib Najar, Município de Mogi das Cruzes (SP).

), Índice de Contaminação de metais totais ( ) e Índice de Contaminação dos Figura 3. Relação entre a riqueza ( metais biodisponíveis ( ) nas oito parcelas. Os metais analisados foram Al, Ca, Cd, Cu, Fe, Mg, Mn e Zn. Os Índices de Contaminação foram calculados de acordo com Feris et al. (2003).

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Avaliação de plantas metalófitas nativas da mata ciliar do Rio Tietê para recuperação de áreas degradadas Fernando Claret Clarissa N. Irie Elisa Esposito

Resumo Este estudo mostra uma avaliação de algumas espécies metalófitas nativas na biorremediação de solo extraído da área contaminada por metais (Parque Municipal Nagib Najar) com o intuito de recompor a mata ciliar impactada há mais de 60 anos. A fitorremediação, considerada um método de biorremediação, utiliza plantas e microrganismos rizosféricos associados para remoção, imobilização ou transformação de metais presentes no solo. Foram plantadas 17 espécies arbóreas nativas da Mata Atlântica em calhas de 3,00 x 0,21 x 0,065m de autocompensação de água, das quais foram selecionadas: Inga sp., Mimosa sepiaria, Erythrina falcata, Citharexylum myrianthum, Enterolobium contortisiliquum, Croton urucurana, com base no desenvolvimento radicular em solo constituído por moinha de carvão, escória de fornos, refratários e “carepas” óxido de ferro. O delineamento estatístico adotado foi o de blocos ao acaso, com dois tratamentos e quatro repetições, em esquema fatorial 17x2, sendo 17 espécies vegetais e duas características de solo (solo 1 e solo 2). O solo 1 (constituído por moinha de carvão, escória de fornos, refratários e “carepas” óxido de ferro), porção de solo retirado da extinta Companhia Siderúrgica de Mogi das Cruzes (COSIM) – atual Parque Municipal Nagib Najar –, apresentou um pH 7,26, pela provável quantidade de escória presente no solo e cujos componentes neutralizantes são semelhantes aos calcários. Nessas condições de pH, as formas tóxicas dos metais pesados apresentam baixa mobilidade no solo. O solo 2, constituído por terra de subsolo, misturado na proporção de 1:1 (v/v) com rejeito de composto de cogumelo Agaricus bisporus, fonte de matéria orgânica, apresentou pH 6,04. Nas condições experimentais, as mudas plantadas foram avaliadas quanto à bioacumulação de metais e massa seca após 123 dias de crescimento. As plantas cresceram em solo contaminado, proporcionalmente menos do que em solo comercial, exceto Inga communis, que apresentou um crescimento cerca de 50 % superior em solo contaminado. Todas as espécies avaliadas extraíram preferencialmente Cd e Cr e podem ser utilizadas no processo de fitorremediação da área de estudo. Considerando-se a composição do solo impactado da área, seria recomendada a adição de solo fértil para otimizar o processo de crescimento das espécies nativas, dinamizando a recuperação da biodiversidade.

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de triptofano, aminoácido precursor do ácido indol acético (AIA), hormônio vegetal de crescimento. Está envolvido no metabolismo do nitrogênio e é necessário para a manutenção da integridade das biomembranas (MALAVOLTA, 2006). O Cu, assim como o Fe, está associado a enzimas envolvidas em reações de redox, de forma reversível de Cu+ a Cu+2 (TAIZ et al., 2009). Por exemplo, a enzima plastocianina está envolvida no transporte de elétrons durante as reações dependentes de luz da fotossíntese (HAEHNEL, 1984). Os metabolismos de carboidratos, nitrogênio, síntese de lignina e clorofila, mais a constituição de proteínas das plantas, são realizados com a participação do cobre (FILHO, 2005). A exposição de plantas ao elemento provoca alteração na atividade da enzima nitrato redutase presente em bactérias diazotróficas, diminuindo o nitrogênio total e o tamanho da planta por meio de produção reduzida de clorofila (LUNA et al., 1997). Algumas plantas possuem a habilidade de acumular metais como Cd, Pb e Cr, cujas funções biológicas não são conhecidas e que são tóxicos aos seres vivos em geral. Existem espécies que são tolerantes e acumulam altas concentrações de metais, como é o caso da Spartina argentinensis, uma gramínea capaz de acumular Cr, descoberta recentemente na Região do Chaco, na Argentina (REDONDO-GÓMEZ et al., 2011). Porém, o excessivo acúmulo desses elementos pode ser tóxico para muitas plantas. Cerca de 400 espécies são descritas como hiperacumuladoras de metais, sendo definidas como plantas que podem acumular mais de 0,1% do seu peso seco em Ni, Co ou Pb, mais de 1% em Zn, e 0,01% do seu peso seco em Cd (BAKER & BROOKS, 1989). Segundo Monteiro (2008), o sistema vegetal, por meio de seu metabolismo (fotossíntese, processos de absorção, transpiração, metabolismo secundário, excreção de substâncias, simbioses e mecanismos de sobrevivência), pode promover a recuperação de matrizes contaminadas. A utilização de plantas associadas à microbiota vem sendo investigada como uma técnica promissora de remediação, uma vez que, se comparada aos métodos tradicionais de remediação físicos e químicos, apresenta a vantagem do baixo custo de implantação e grande eficiência de descontaminação (GRATÃO et al., 2005; PILONSMITS, 2005). A fitorremediação é baseada na seletividade, natural ou desenvolvida, que algumas espécies exibem a determinados tipos de compostos ou mecanismos de ação. Esse fato é de ocorrência comum em espécies agrícolas e daninhas. A seletividade deve-se ao

Introdução Os metais são constituintes naturais da litosfera, cujos ciclos biogeoquímicos foram drasticamente alterados pela atividade humana (SEBASTIANI et al., 2004). A contaminação por metais é responsável por vários problemas, uma vez que altera a biodiversidade e o ecossistema como um todo. Estudos em locais próximos a complexos industriais e de refino de minério indicam que concentrações elevadas de metais no solo afetam a funcionalidade, a biodiversidade e a sustentabilidade dos ecossistemas, causando danos, às vezes irreversíveis, às suas propriedades químicas, físicas e biológicas (SOARES et al., 2002). A toxicidade de metais é atribuída à sua habilidade de se ligar a enzimas, provocando sua inativação ou mesmo aumentando a atividade de algumas, resultando em alterações na sua função catalítica (VAN ASSCHE & CLIJSTERS, 1990). As plantas possuem o mecanismo de acumular alguns metais que são necessários para seu desenvolvimento, por exemplo, ferro (Fe), manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), molibdênio (Mo) e níquel (Ni) (BROOKS, 1998). A função do Fe na planta está associada a componentes de enzimas envolvidas na transferência de elétrons (reações de redox), como citocromos. Ele é oxidado de Fe+2 para Fe+3 durante a transferência de elétrons (TAIZ et al., 2009) e está envolvido em processos fundamentais como fotossíntese, respiração, metabolismo de nitrogênio, síntese de DNA e hormônios (BECANA et al., 1998). Conforme Taiz et al. (2009), entre as várias enzimas ativadas nas células vegetais, as descarboxilases e deidrogenases envolvidas no ciclo dos ácidos tricarboxílicos (ciclo de Krebs) são ativadas por íons manganês (Mn+2). Mn é necessário para a formação do cloroplasto e a sua função mais específica na planta é a de reação fotossintética, como transportador de elétrons pela qual o oxigênio (O2) é produzido a partir da água (MARSCHNER, 1995). Está presente na forma trocável, na solução do solo como quelatos, porém facilmente removível. É absorvido principalmente como Mn+2 e translocado, predominantemente, como cátion bivalente livre no xilema, a partir da raiz (MALAVOLTA, 1980). A atividade do Zn é efetiva para determinados processos relevantes na homeostase fisiológica e nutricional da planta, atuando como ativador ou componente estrutural de enzimas. É elemento participante da fotossíntese, necessário para a produção 382


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fato de que os metais podem ser translocados para outros tecidos da planta e, em alguns casos, passar por volatilização, como no caso do mercúrio. Podem ainda sofrer parcial ou completa degradação, ou serem transformados em compostos menos tóxicos, especialmente menos fitotóxicos, combinados e/ou ligados a tecidos das plantas (ACCIOLY & SIQUEIRA, 2000; SCRAMIN et al., 2001). Os metais absorvidos sofrem um transporte radial na raiz, fundamentalmente apoplástico, encontrando um primeiro filtro de difusão e de regulação na endoderme. Já no estelo, os metais seguem essencialmente via xilema e, em suas relações com as células vizinhas, podem induzir alterações na diferenciação do próprio sistema vascular. Em concentrações menores, alcançam as folhas, podendo alterar a estrutura e a funcionalidade das células fotossintéticas (BARCELÓ & POSCHENRIEDER, 1992). Para Schutzendübel & Polle (2002), citados por Chaves (2008), existem três mecanismos moleculares distintos de absorção de metais tóxicos, ou não, pelas plantas: I) Produção de oxigênio reativo: ocorre pela auto-oxidação, processo influenciado por metais como ferro e cobre; II) Bloqueio de grupos funcionais: essenciais para as biomoléculas vegetais, que ocorre na presença de cádmio e mercúrio; III) Remoção de íons metálicos: essenciais das biomoléculas, que podem ocorrer com diversos tipos de metais. A regulação, a absorção de metais na rizosfera, o acúmulo nas raízes (preservando sua integridade e funções primárias) e a baixa translocação para a parte aérea são considerados mecanismos pelos quais os sistemas radiculares podem contribuir para a tolerância de espécies arbóreas a esses contaminantes (VERKLEIJ & PRAST, 1989). Deve-se considerar também que espécies ou variedades de uma mesma espécie vegetal, quando expostas às concentrações similares de metais, podem diferir na absorção e/ou distribuição interna desses elementos na planta (SOARES, 2001). Alguns requisitos para a implantação de programas de fitorremediação devem ser levados em consideração, principalmente as características físico-químicas do solo e do contaminante, como também a sua distribuição na área. Qualquer fator que venha a interferir negativamente no desempenho das plantas deve ser controlado ou minimizado, para favorecer sua ação descontaminante (NEWMAN, 2004). Naturalmente, torna-se difícil reunir todas essas características numa só planta. Estudos estão sendo realizados com o intuito de selecionar as plantas que reúnem o maior número dessas características.

Outro aspecto a ser observado é que, embora a maioria dos testes avalie plantas isoladas, várias delas podem ser usadas em um mesmo local, ao mesmo tempo ou subsequentemente, para remover mais de um contaminante (MILLER, 1996). As plantas podem remediar os solos contaminados por meio dos seguintes mecanismos: I) Fitoextração: Segundo Jiang et al. (2003), a fitoextração pode ser conduzida de duas formas: a primeira, utilizando-se espécies de plantas hiperacumuladoras pela alta capacidade de acumulação de metais, porém com baixa produção de biomassa (fitoextração natural); a segunda, por meio do uso de plantas que possuam características de alta produção de biomassa e que possam absorver quantidade relativamente alta de metais, em solos moderadamente poluídos por metais com auxílio de quelantes (fitoextração quimicamente induzida). O uso de plantas não acumuladoras em comparação com hiperacumuladoras é compensado pela produção de biomassa, embora essas não suportem altos teores de metais (LASAT, 2000). A adição de agentes quelantes ao solo, para aumentar a biodisponibilidade de contaminantes, pode, algumas vezes, induzir a hiperacumulação em plantas normais. Contudo, são poucos os exemplos de sua exequibilidade de utilização no campo e tem como principal desvantagem o uso de quelantes sintéticos, especialmente EDTA. II) Fitoestimulação: as raízes em crescimento (extremidades e ramificações laterais) promovem a proliferação de microrganismos degradativos na rizosfera, que usam os metabólitos da planta como fonte de carbono e energia. Além disso, as plantas podem secretar enzimas biodegradativas por si próprias. A aplicação da fitoestimulação se limita aos contaminantes orgânicos. Embora a fitoestimulação seja mais adequada para contaminantes orgânicos ou organometálicos, também podem promover a transformação de metais (ANDRADE et al., 2007). III) Fitoestabilização: consiste no uso plantas e agentes amenizantes do solo, como calcário (ACCIOLY, 2001), para remover, imobilizar ou tornar os contaminantes menos nocivos ao ecossistema. Os processos, como a precipitação do poluente na rizosfera por meio de humificação ou ligações covalentes irreversíveis, são realizados, promovendo-se a conversão do poluente para forma menos biodisponível. IV) Rizofiltração: utilizam-se sistemas vegetais com o objetivo de se promover a remoção dos contaminantes de um meio aquoso. Nesse processo é utilizado um sistema hidropônico, no qual as raízes dos vegetais permanecem em contato com o efluente, através das quais os contaminantes são absorvidos e concentrados. Plantas com grande biomassa radicular (hiperacumuladoras aquáticas), como 383


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Helianthus annus e Brassica juncea, apresentam potencial aplicabilidade para essa tecnologia. O sistema radicular funciona como um filtro mecânico e retém material particulado (orgânico e mineral) existente na água (GLASS, 1998). V) Fitovolatização: as plantas e/ou os microrganismos a elas associados ajudam a remover os poluentes do meio pela volatilização, que pode ocorrer pela biodegradação na rizosfera ou após a passagem na própria planta. No caso da absorção do poluente, a substância pode passar por diversos processos metabólicos internos, sendo liberada a partir da superfície das folhas. Assim, dependendo da atuação ou dos processos metabólicos, a liberação do contaminante para a atmosfera pode ocorrer de forma original ou transformada (ANDRADE et al., 2007). Alguns íons de elementos dos subgrupos II, V e VI da tabela periódica, mais especificamente mercúrio, selênio e arsênio, são absorvidos pelas raízes, convertidos em formas não-tóxicas e depois liberados na atmosfera. Esse mecanismo é empregado também para compostos orgânicos (BROOKS, 1998). Num segundo momento, a tecnologia propicia uma maior estabilidade do solo por contribuir com a diminuição de erosões em função da cobertura vegetal que se estabelece (BENNETT et al., 2003). Conforme Andrade et al. (2007), a vantagem importante da fitorremediação é que, por empregar os mesmos equipamentos e insumos utilizados na agricultura e silvicultura convencionais, proporcionam menor custo em relação às técnicas tradicionalmente utilizadas que envolvem a remoção do solo para tratamento ex situ (CUNNINGHAM et al., 1996). As plantas podem apresentar diferentes mecanismos de tolerância em resposta ao excesso de metais, incluindo a redução do transporte através da membrana, exclusão, formação de peptídeos ricos em grupos tiólicos (fitoquelatinas e metalotioneínas), quelação por ácidos orgânicos e aminoácidos e compartimentalização de metal em estruturas subcelulares (HALL, 2002; COBBETT & GOLDSBROUGH, 2002; PATRA et al., 2004). A tolerância das plantas aos metais pode ser resultado de uma série de mecanismos de assimilação. Por exemplo, a translocação dos compostos para outros tecidos do vegetal por meio da fitoquelatina (PC), formada por três aminoácidos: glutamato (Glu), cisteína (Cys) e glicina (Gly). As PCs formam complexos com os metais (RAUSER, 1995). Outro exemplo é observado com as metalotioneínas (MT), que são proteínas de baixa massa molar, não enzimáticas, ricas em cisteína e eficientes na complexa-

ção de metais pela afinidade com enxofre presente na Cys (HAMER, 1986). Os ácidos orgânicos e aminoácidos, como citrato, malato e oxalato, têm sido aplicados em vários processos de transporte de metal por meio do xilema e do sequestro vacuolar, incluindo tolerância a metais (RAUSER, 1999). O ácido cítrico é considerado o maior ligante de Cd2+ e, quando em baixas concentrações (WAGNER, 1993), forma complexos com Ni2+ em plantas hiperacumuladoras e contribui na acumulação e tolerância ao Zn2+ (GODBOLD et al., 1984). Mathys (1977) destaca a importância do malato como quelante de Zn citossólico em plantas tolerantes a esse elemento. A histidina, um aminoácido produzido pelas plantas em resposta à presença de metais, está envolvida em um mecanismo de tolerância ao Ni e, em baixas concentrações ao Co, e em altas taxas de transporte de Ni no xilema (KRÄMER et al., 1996) para a hiperacumulação na parte aérea em Alyssum lesbiacum. A capacidade dessas plantas de acumular os elementos de maneira a evitar sua toxicidade tem levantado muitas questões, pois, além da possível utilização ecológica, apresentam grande valor biotecnológico, tendo em vista a sua aplicação como medida de remediação de áreas contaminadas por metais (BERAZAIN et. al, 2007). Plantas hiperacumuladoras de metais foi um conceito primeiramente utilizado por Brooks et al. (1977) para indicar plantas que se desenvolviam em solos ricos em metais e que eram capazes de acumular altos niveis de metais, cerca de 100 vezes mais do que plantas sem a característica. Para a implantação de plantas hiperacumuladoras em área contaminada por metais, é necessário conhecer a fitotoxidade dos elementos contaminantes nas espécies com potencial de uso (SANITÀ DI TOPPI & GABBRIELLI, 1999), sendo ainda raros os estudos da fitotoxidade de metais no crescimento e absorção mineral de espécies vegetais tropicais. Variedades de uma mesma espécie vegetal, expostas a uma concentração similar de metais, podem diferir na absorção e/ou distribuição interna dessas substâncias na planta. Isso pode resultar em diferenças na capacidade de retenção do elemento absorvido nas raízes, e/ou variação na carga no xilema (SHAW, 1989). Este trabalho teve por objetivo avaliar a capacidade de plantas nativas da mata ciliar do Rio Tietê com potencial em fitorremediação e/ou como coadjuvante na recuperação de áreas contaminadas por metais. 384


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da amostra homogeneizada, colocou-se a porção no módulo de digestão, adicionaram-se 10mL de ácido nítrico concentrado e procedeu-se à digestão em sistema fechado no forno de microondas (Milestone Ethos Plus). As amostras digeridas foram diluídas com água deionizada, em balões volumétricos de 25mL. Para os metais Ca, Cd, Cu, Mg e Zn, foram utilizados 10mL de amostra sem aditivo. Para a determinação de Al, foram utilizados 5mL de amostra com adição de KCl 25% (m/v) na proporção de 20μL de aditivo para 1mL de amostra diluída. O volume de 5mL das amostras diluídas foi tratado com Ca(NO3)2 a 3,75% (m/v), na proporção de 10μL de aditivo para cada 1mL de amostra diluída, para determinação de Fe e Mn totais.

Método Coleta de amostras de solo 1) Amostras de solo 1: área da antiga indústria Uma área de 10.000m² foi delimitada em torno do ponto 8 (ver capítulo 23). Dentro dos seus limites, retirou-se uma camada de 20cm de profundidade do substrato em 15 pontos aleatórios, conforme mostra a Figura 1. O procedimento foi efetuado até o acúmulo de um volume de 120 litros, formando uma amostra simples em cada um dos pontos e posterior mistura, que totalizou 1,8m³ de uma amostra composta, representativa da área. A essa mistura denominou-se solo 1.

4.3) Preparo das amostras para determinação dos metais biodisponíveis no solo

2) Amostra de solo 2 Para se estabelecer parâmetros de desenvolvimento entre as plantas cultivadas no solo 1, utilizou-se um segundo tipo de solo composto comercial constituído por terra de subsolo. Esse substrato estava isento de sementes de ervas daninhas, misturado na proporção de 1:1 (v/v) com rejeito de composto de cogumelo Agaricus bisporus, fonte de matéria orgânica fartamente encontrada na região de Mogi das Cruzes. O composto foi denominado como solo 2.

A determinação dos metais biodispóníveis no solo foi realizada com o agente extrator DTPA-TEA (ácido dietilenotriamino pentaacético – trietanolamina) conforme o método de Raij et al. (2001). 4.4) Quantificação de metais Concluídas as etapas de preparo, as amostras foram submetidas ao processo espectrofotométrico de absorção atômica, modelo Perkin Elmer 3110 com chama C2H2/air e queimador de 10cm para os elementos Cd, Mn, Fe, Zn, Ni, Cu e Cr, com exceção de Ca, Mg e Al, que foram analisados em chama C2H2/N2O e queimador de 5cm. Utilizaram-se curvas analíticas obtidas com padrões para cada metal quantificado na mesma acidez e aditivos das amostras para a determinação das concentrações do analito, considerando-se a diluição e sua massa. Para as amostras que necessitaram de diluição, foi utilizado DTPA como diluente e como branco das amostras.

3) Amostra de solo controle Os parâmetros observados no ponto 4 foram considerados padrão para área (ver capítulo 23). Portanto, os resultados foram utilizados como de solo controle. 4) Análises de solo 4.1) Caracterização físico-química do solo A determinação das características físico-químicas do solo foi realizada no Laboratório de Pesquisas Químicas (LAPEQ) da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), segundo metodologia de Van Raij et al. (2001).

5) Plantio das espécies em estufa de vegetação 5.1) Critério de seleção das espécies Os critérios para seleção das espécies arbóreas foram embasados em estudos desenvolvidos para espécies vegetais em área contaminada por metais e respectivo grau de sensibilidade à contaminação (GRAZZIOTTI, 1999; SOARES, 1999; MARQUES et al., 2000; CARNEIRO et al., 2002). Comparadas às incidências de espécies descritas por Tomasulo et al.,

4.2) Preparo das amostras para determinação dos metais totais As amostras representativas dos dois tipos de solo foram secas em estufa a 105ºC com posterior trituração e homogeneização. Em seguida, pesou-se 0,5g 385


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Tabela 1. Espécies selecionadas para plantio em calhas, em solo 1 (área contaminada) e solo 2 (solo comercial). FAMÍLIA

ESPÉCIE

NOME POPULAR

Lauraceae

Nectandra lanceolata

canela-amarela

Myrsinaceae

Rapanea guianensis

capororoca-branca

Leguminoseae-Mimosoideae

Inga sp.

ingá-comum

Bignoninaceae

Tabebuia impetiginosa

ipê-roxo

Leguminoseae-Caesalpinoideae Hymenaea courbaril

jatobá

Boraginaceae

Cordia sp.

louro-preto

Araliaceae

Dendropanax cuneatus

maria-mole

Leguminoseae-Mimosoideae

Mimosa sepiaria

maricá

Leguminoseae-Papilionoideae

Erythrina falcata

mulungu

Sterculiaceae

Guazuma ulmifolia

mutambo

Euphorbiaceae

Sapium glandulatum

pau-de-leite

Verbenaceae

Citharexylum myrianthum

pau-viola

Leguminoseae-Mimosoideae

Enterolobium contortisiliquum

tamboril

Euphorbiaceae

Alchornea iricurana

taipeira

Leguminoseae-Caesalpinoideae Bauhinia forficata

unha-de-vaca

Euphorbiaceae

Croton urucurana

sangra-d’água

Bombacaceae

Pseudobombax longiflorum

imbiruçu

2000, em programas de recomposição florísticas de áreas degradadas e seleção de espécies nativas para recomposição de áreas degradadas por Lorenzi (1999). Para o desenvolvimento do estudo de comportamento em dois tipos de solo (1 e 2), foram plantadas 17 espécies de arbóreas nativas pertencentes ao grupo ecológico das pioneiras do extrato arbóreo da Mata Atlântica (Sudeste brasileiro), adquiridas no viveiro das Centrais Elétricas do Estado de São Paulo CESP (Tabela 1).

O delineamento estatístico adotado foi o de blocos ao acaso, com dois tratamentos e quatro repetições (4 Lotes), em esquema fatorial 17x2, sendo 17 espécies vegetais, plantadas em duas calhas e duas características de solo (solo 1 e solo 2). 5.4) Sistema de plantio em estufa plástica O experimento foi desenvolvido em estufa de 5,5m de largura por 9m de comprimento nas dependências do Centro Esportivo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), por meio do plantio das mudas de arbóreas em calhas de 3 x 0,21 x 0,065m (Figura 8) de autocompensação de água.

5.2) Preparo de solo e plantio As porções de solo 1 e 2 foram secas ao ar e, após a secagem, foram peneiradas em peneira de malha 5mm e dispostas em calhas de cultivo (Figura 2). Nessas circunstâncias, foram retiradas amostras dos dois tipos solo para análises químicas e determinação dos teores de metais de cada amostra. A quantidade de solo distribuído por calha foi de 60 litros. Considerando-se a necessidade de se estabelecer o parâmetro de densidade real, foi utilizado o valor igual a 2,65g/cm3 (KIEHL, 1979). Plantou-se, a cada duas calhas, nove espécies de mudas de arbóreas nativas na primeira e oito na segunda, formando um conjunto de 17 espécies distintas. O procedimento para formação do conjunto foi adotado para ambos os tipos de solo.

5.5) Monitoramento pós-plantio O acompanhamento pós-plantio foi efetuado por meio do registro de desenvolvimento das plantas, sendo mensurada a variação do crescimento de caule e área de copa. Foram cinco medições a cada 15 dias, sendo a primeira no dia do plantio e a última aos 123 dias pós-plantio. 5.6) Determinação de metais na raiz, caule e folha Passados 123 dias do plantio, as plantas foram colhidas por inteiro (raiz e caule) para se dar início ao preparo das amostras. A primeira etapa consistiu na lavagem das amostras com água corrente, seguida de uma segunda lavagem com água deionizada e poste-

5.3) Delineamento experimental

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rior secagem ao ar. Após a secagem, com o auxílio de tesoura de poda, as plantas foram separadas em raízes, caules e folhas. Procedeu-se à pesagem de cada uma das partes para determinação da massa úmida. Na etapa seguinte, o material foi seco em estufa, a 105ºC durante 24h e deixado no dissecador por 2h. As amostras secas foram pesadas para determinação da massa seca e foram reduzidas a pó por meio de moagem. Entre as moagens das partes de cada espécie, todo o material utilizado no processo passou por uma lavagem com detergente Extran e tratamento com ácido nítrico a 10% por 1h e posterior lavagem com água deionizada. Esse procedimento foi aplicado para raiz, caule e folhas de todas as 17 espécies estudadas. Foi pesado 0,5g de amostra homogeneizada e colocada a porção no módulo de digestão. Adicionaram-se 10mL de ácido nítrico concentrado e procedeu-se a digestão em sistema fechado no forno de microondas (Milestone Ethos Plus). Após a digestão e resfriamento dos módulos, fez-se a abertura de cada um, em capela de gases. As amostras digeridas foram diluídas com água deionizada, em balões volumétricos de 25mL. Na etapa seguinte, foram separadas alíquotas das amostras em frascos de polietileno e foram acrescentados aditivos para determinação dos metais por meio de espectrofotometria de absorção atômica pelo LAPEQ. A partir dos resultados obtidos com as respectivas massas secas das partes das plantas, foi possível se chegar às quantidades dos metais acumulados na raiz, caule e folhas. Foram calculadas as percentagens de acúmulo de metais para cada parte da planta em relação ao acúmulo total na espécie, bem como o índice de translocação (IT) dos metais, conforme a fórmula proposta por Abichequer & Bohnem (1998).

Resultados e discussão Caracterizações físico-químicas do solo e plantas Solo da área de estudo Na superfície da área foram encontrados resíduos diversos como, por exemplo, moinha de carvão, escórias de fornos, refratários, “carepa”, entre outros, além de lixo doméstico, entulho de construção e demais resíduos como areia de fundição. Parte desses materiais, notadamente os mais finos como moinha de carvão, é proveniente de emissões aéreas efetuadas durante a época de operação da siderúrgica, encontrando-se disseminados por praticamente toda a área estudada (GEO INF 2003). Os parâmetros de caracterização e fertilidade do solo, tais como pH, capacidade de troca iônica (CTC), acidez, alumínio trocável e potássio, foram determinados de acordo com o resultado das análises desses e outros itens, conforme a Tabela 2. O solo 2 apresentou um pH levemente ácido, 6,04, se comparado ao solo 1, que foi de pH 7,26, levemente alcalino. Esta alteração pode ocorrer pela quantidade de escória presente no solo, cujos componentes neutralizantes, por exemplo os silicatos de cálcio e magnésio contidos no material, são semelhantes aos calcários (WUTKE & GARGANTINI, 1962; CAMARGO, 1972). Entende-se por acidez trocável a presença de íons de hidrogênio adsorvidos no complexo coloidal do solo. Por outro lado, a acidez ativa é aquela cuja concentração dos íons hidrogênio está presente na solução do solo, indicando-se assim o pH (COELHO & VERLENGIA, 1973). Segundo Lopes &

Tabela 2. Valores dos elementos para os solos 1 e 2 – Modificado de Kavamura (2008).

Solo

Acidez trocável

Acidez total

Matéria orgânica total

pH CaCl2

mmol.Kg-1 1 2

%

1,74 0,67 Carbono orgânico

5,8 22,25 Fosfato Merlich

N Kjeldahl

%

mgP.g-1

gN.kg-1

1

0,50

0,3110

1,83

ND

8,28

ND

ND

2

0,24

0,1487

0,65

ND

3,31

ND

ND

Solo

7,26 6,04 Nitrogênio amoniacal

7,86 6,09 Nitrato

Nitrito

mgN.g-1

Sulfato mgSO2.g-1

1 Solo retirado da área contaminada por metais; 2 Solo comercial de jardinagem com substrato de cogumelo. ND – Não Detectado.

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Para valores de referência no solo, a CETESB estabelece limites de prevenção e intervenção. Os limites de prevenção estão relacionados com a concentração de determinada substância, acima da qual podem ocorrer alterações prejudiciais à qualidade do solo capaz de sustentar as suas funções primárias. E, quando tais valores forem ultrapassados, a atividade será submetida à nova avaliação e os responsáveis devem proceder ao monitoramento dos impactos decorrentes. Os de intervenção são valores que estão relacionados com possíveis danos à saúde humana e consideram as vias de absorção (ingestão do solo e inalação) e a contaminação de leitos d’água. Os valores de intervenção propostos pela CETESB (2005) são apresentados na Tabela 3, comparando-se os resultados das análises das amostras de solo para metais (controle, solo 1 e 2). Os teores de metais determinados nas amostras de solo retirados da área em estudo situam-se abaixo dos valores de prevenção e intervenção industrial, exceto para Cd, Ni, determinados no solo 1, cujos valores superam os índices de prevenção. Na mesma tabela, os elementos cálcio (Ca) e magnésio (Mg) em solo 2 acusaram valores duas vezes maiores se comparados ao solo 1, fato que pode estar relacionado com as suas origens, resíduo de substrato para cultivo de cogumelo Agaricus bisporus. Peil et al. (1995) citam que para cada 1.000kg de formulação de composto, aproximadamente 5% são constituídos de sulfato de cálcio (gesso) e calcário, fontes dos elementos em questão. Para os valores orientadores de Mn total foram utilizados os índices críticos para Mn, 20 a 60mg.kg-1, praticados na Alemanha e outros países europeus, citado por Ducié & Polle (2005), em que o valor determinado para este metal no solo 1 foi de 725,5mg.kg-1, portanto, 12 vezes maior que os índices citados. En-

Guilherme (1992), a acidez trocável pode ser também considerada para o alumínio. Portanto, como o solo 1 apresenta maior acidez trocável, então tem mais íons hidrogênio e alumínio adsorvidos ao complexo coloidal (Tabela 2). Entretanto, pelas condições de elevado pH do solo 1, as formas tóxicas dos metais apresentam baixa mobilidade no solo (PIERANGELI et al., 2001). Chaney (1973) considerou como fatores mais importantes para a disponibilidade de metais no solo o pH, a capacidade de troca catiônica e o teor de matéria orgânica. O pH influencia a solubilidade dos nutrientes solo e, como consequência, a sua disponibilidade para as plantas. Em pH igual a 7, todos os macronutrientes estão disponíveis para as plantas. A importância da elevação do pH por meio da calagem na redução da disponibilidade de metais, como cádmio (Cd), cobre (Cu), níquel (Ni), zinco (Zn), ferro (Fe) e manganês (Mn), tem sido demonstrada por diversos autores (SOON et al., 1980; BERTON et al., 1997; KREBS et al., 1998). No solo 1, o teor de matéria orgânica foi 7,86%, notadamente mais elevado do que no solo 2 . Embora a matéria orgânica (MO) participe somente com uma pequena parcela da massa total dos solos minerais, ela é o componente essencial nos diversos processos químicos, físicos e biológicos de ecossistemas terrestres (PICCOLO, 1996; CARTER, 2001). Diversos trabalhos apontam suas funções na manutenção da qualidade do solo (CHRISTENSEN & JOHNSTON, 1997; JANZEN et al., 1997), na sustentabilidade dos sistemas naturais e agrícolas (CARTER, 2001; SWIFT & WOOMER, 1993) e no balanço de gases responsáveis pelo efeito estufa (WIGLEY & SCHIMEL, 2000; LAL et al., 1997; SCHLESINGER, 1997).

Tabela 3. Comparação dos teores de metais em solo estabelecidos pela lista de valores da CETESB (2005) e solos avaliados 1, 2 e controle.

Metal

Valores orientadores Cetesb 2005 (mg.Kg-1) Valores de intervenção Prevenção industrial

Amostras dos solos avaliados (mg.Kg-1) Controle

Solo 1

Solo 2

Ca

---

----

----

13.266,6

30.027,1

Mg

---

----

----

1.488,3

2.553,7

Cd

1,3

20

1,0

1,94

ND

Mn

---

----

41,50

725,5

85,7

Fe

---

----

19.320,00

38.120,4

29.871,7

Zn

300

2.000

15,40

196,9

9,6

Ni

30

130

8,30

31,6

13,8

Cu

60

600

14,00

26,3

16,4

Cr

75

400

10,00

6,2

12,6

388


Avaliação de plantas metalófitas nativas da mata ciliar do Rio Tietê para recuperação de áreas degradadas

Tabela 4. Análise de micronutrientes (mg/Kg) dos solos controle, 1 e 2. Metal

Controle

1

2

CaB

-----

2.775,00

8.836,50

CaT

-----

13.266,60

30.027,10

MgB

-----

176,60

258,60

T

-----

1.488,30

2.553,70

CdB

-----

0,81

0,06

T

1,00

1,94

ND

Mg Cd

Mn

B

MnT

-----

5,90

13,80

41,50

725,50

85,70

FeB

-----

39,60

126,60

FeT

19.320,00

38.120,40

29.871,70

ZnB

-----

14,10

6,80

ZnT

15,40

196,90

9,60

B

-----

0,80

0,40

NiT

8,30

31,60

13,80

CuB

-----

10,80

1,00

CuT

14,00

26,30

16,40

Ni

CrB

-----

ND

ND

CrT

10,00

6,20

12,60

Valores em vermelho, maior concentração. B= Biodisponível; T= Total; ND - Não Detectado

tretanto, segundo Who (1981), a toxicidade do Mn para as plantas pode expressar-se em solos que contêm níveis de metal acima de 1000 mg.kg-1 quando as condições atestarem alta acidez do meio, uma vez que as plantas absorvem o Mn no estado bivalente, com maior concentração em solos com pH reduzido. O teor de Ferro (Fe) total é elevado em todos os tipos de solo analisados. Por a essa alteração, o elemento pode provocar danos caso ocorram absorção e acúmulo excessivo em plantas, além de prejudicar a absorção de outros nutrientes como o fósforo (P), potássio (K) e zinco (Zn) (PEREIRA, 2006). O Fe é um elemento que aumenta sua biodisponibilidade em pH ácido, da mesma forma que o Mn. Como o pH para o solo 1 foi de 7,26, os referidos metais apresentaram disponibilidade, conforme demonstrado na Tabela 4.

Plantio, desenvolvimento, coleta e determinação de metais nas plantas O monitoramento do crescimento das mudas está demonstrado na Tabela 5. Com base nos critérios já descritos anteriormente, as seis espécies: Inga sp. (ingá comum), Mimosa sepiaria (maricá), Erythrina falcata (mulungu), Citharexylum myrianthum (pau-viola), Enterolobium contortisiliquum (tamboril), Croton urucurana (sangra-d’água) foram selecionadas para as análises de determinação de metais. De acordo com a Tabela 6, foi possível verificar a variação de crescimento relativo entre as diferentes espécies analisadas. O coeficiente de crescimento de cada espécie foi comparado entre o solo 1 e o solo 2, por meio de análise não-paramétrica pareada de Pearson, o que evidenciou (p = 0,002) diferença no padrão de crescimento entre as diferentes espécies de plantas em cada um dos solos examinados. Observou-se que houve ocorrência de uma coloração verde intensa para os dois tipos de solo, mas o desenvolvimento das plantas cultivadas em solo 1 foi afetado significativamente, implicando diminuição de área foliar, pouco desenvolvimento do caule e pouca conformação radicular, quando comparadas com as plantas cultivadas em solo 2.

Seleção das espécies A partir dos resultados obtidos foram selecionadas seis espécies: Inga sp., Mimosa sepiaria, Erythrina falcata, Citharexylum myrianthum, Enterolobium contortisiliquum, Croton urucurana, tendo como parâmetro de escolha a média de crescimento do caule e raiz, pela precocidade de crescimento das plantas e o desenvolvimento do sistema radicular em condições de contaminação (Figuras 3 e 4). 389


Fernando Claret; Clarissa N. Irie e Elisa Esposito

Tabela 5. Média de alturas para mudas de arbóreas no tempo zero e após 123 dias de crescimento. T0 plantio, t1 coleta após 123 dias; Δ= t1-t0 Solo 1

Espécies Inga sp.

t0

t1

Solo 2 Δt

t0

t1

Δt

41

97

56

37

68,5

31,5

Mimosa sepiaria

39,5

65

25,5

34,5

81

46,5

Erythrina falcata

39

88,5

49,5

38,5

124

85,5

Citharexylum myrianthum

32,5

48,5

16

33

128,5

95,5

Enterolobium contortisiliquum

32

55,5

23,5

31,5

72,5

41

Croton urucurana

38

81

43

36,5

121,5

85

Tabela 6. Variação de crescimento absoluto (Δt ) e relativo (f) entre seis espécies vegetais no solo 1 e 2. Espécies Inga sp.

t0

t1

Δt

f

t0

t1

Δt

f

41

97

56

1,366

37

68,5

31,5

0,851

Mimosa sepiaria

39,5

65

25,5

0,646

34,5

81

46,5

1,348

Erythrina falcata

39

88,5

49,5

1,269

38,5

124

85,5

2,221

32,5

48,5

16

0,492

33

128,5

95,5

2,894

Enterolobium contortisiliquum

32

55,5

23,5

0,734

31,5

72,5

41

1,302

Croton urucurana

38

81

43

1,132

36,5

121,5

85

2,329

Citharexylum myrianthum

T0 plantio, t1 coleta após 123 dias; Δ= t1-t0

O resultado pode estar relacionado com a adaptação da planta ao sistema de cultivo em calha, em que o suprimento de água é constante. O crescimento foi significativo em solo contaminado com metais. O resultado das análises de fertilidade de solo no ponto 8, junto com a densidade da massa verde e intensidade de cores vegetal do local, pode estar relacionado com a maior produção de massa seca. O teor de umidade das espécies avaliadas foi significativamente maior no solo 2 do que no solo 1. Este último apresenta uma grande quantidade de elementos como moinha de carvão, “carepa” e areia de fundição, o que o descaracteriza, pois, em sua forma original, sua composição constituía-se principalmente de turfa e argila. O substrato se caracteriza por ter uma textura arenosa e, em consequência desse fato, retém pouca água, o que dificulta o crescimento de plantas, altera a fertilidade do solo pela alta lixiviação e baixa retenção de nutrientes. Apesar das condições, as plantas avaliadas cresceram, e, dentre elas, destaca-se a espécie Inga sp., podendo ser indicadas tanto para biorremediação quanto para recomposição da área. Para a implantação de um plano de recuperação das áreas, há a necessidade da substituição do solo na fase de preparo das covas

Por meio da análise não-paramétrica da variância (Wilcoxon) foi possível verificar que as espécies de plantas examinadas no solo 2 apresentaram um nível de variância significativamente maior (Tabela 7) do que no solo 1. Isso pode indicar que houve maior homogeneidade no padrão de crescimento das plantas no solo 1, o que pode estar relacionado com a sensibilidade das plantas à concentração de metais no solo 1. Visualmente foi observada alteração quanto ao desenvolvimento da espécie Inga sp. quando comparada às plantas cultivadas em dois tipos de solo. O tamanho final foi de 56cm em solo 1, 43,75% a mais em relação à mesma espécie em solo 2, com conformação foliar, caule e sistema radicular mais desenvolvidos, se comparados ao solo 2, onde Inga sp. atingiu apenas 31,5cm após 123 dias. Conforme Lorenzi (1992), a espécie ocorre desde o Estado de São Paulo até o Rio Grande do Sul, principalmente na floresta pluvial atlântica. A planta pertence ao grupo das pioneiras, seletiva higrófita, encontrada em planícies aluviais e beira de rios da floresta pluvial atlântica. Aparenta nítida preferência por solos bastante úmidos e brejosos.

Tabela 7. Análise da variância (ANOVA) para a média de crescimento as seis espécies de plantas no solo 1 e 2. Nível de significância p > 0,05; s = desvio padrão. Solo 1 Solo 2

Média (s)

Nível de variância média (s2)

Probabilidade

0,940 ± ,330 1,824 ± 0,250

0,109 0,500

0,00120

390


Avaliação de plantas metalófitas nativas da mata ciliar do Rio Tietê para recuperação de áreas degradadas

Tabela 8. Teor de metais nas plantas, comparado às concentrações normais e tóxicas e concentração de metais em solo 1. Média de concentração de Metais em Plantas por Espécie* mg/kg

Teores normais

Metais

1*

2*

3*

4*

5*

6*

Cu

6,72

12,94

5,63

14,83

5,80

7,19

5 - 20

Cd

2,82

2,88

2,70

2,55

2,92

2,79

Cr

9,00

9,00

9,00

9,00

9,00

9,00

Teores tóxicos

mg/kg

Concentração de metais em solo 1 - mg/kg Biodisp

Total

20 - 100

10,80

26,3

0,1 - 2,4

5 - 30

0,81

1,94

----

20 - 25

ND

6,2

Ni

3,06

2,95

3,00

3,10

3,16

3,76

0,02 - 5

10 - 100

0,80

31,6

Zn

27,20

30,43

21,85

40,26

18,82

30,82

1 - 400

100 - 400

14,10

196,9

* 1 - Inga sp.; 2 - Mimosa sepiaria; 3 - Erythrina falcata; 4 - Citharexylon myrianthum; 5 - Enterolobium contortisiliquum; 6 - Croton urucurana. Fonte : Modificado de Santos (2005).

por solo comercial, cuja composição é constituída de solo de barranco, misturado com resíduo de composto de cogumelo numa proporção de 1:1 (v/v) para posterior plantio das mudas nativas.

Determinação de metais Os teores de metais para as amostras selecionadas, comparados com os dados que demonstram os níveis de metais em plantas citados por Santos (2005) (Tabela 8), indicam que a sua concentração está dentro dos parâmetros normais, exceto para Cd, que apresentou valores pouco mais elevados do que o maior índice descrito como teor normal da tabela. Assim sendo, as espécies não podem ser consideradas como hiperacumuladoras. Entretanto, pelo fato de a concentração total de Cd na plantas apresentar-se mais elevada que a forma biodisponível em solo 1, as espécies 1, 2, 3, 4, 5 e 6 demonstraram características de plantas tolerantes para o metal. Resultado semelhante ocorre para o Cr, que é considerado fototóxico e pode resultar na inibição da germinação de sementes, alterar o equilíbrio na assimilação de nutrientes e enzimas antioxidantes e induzir estresse oxidativo em plantas (BARCELO & POSCHENRIEDER, 1997; PANDA et al., 2003).

Considerações finais Com base nos resultados obtidos é possível concluir que: • As espécies avaliadas podem ser utilizadas no processo de fitorremediação da área de estudo, uma vez que todas cresceram em solo 1 (substrato contaminado) sem nenhum tratamento prévio. Entretanto, seria recomendada a substituição de solo na fase de preparo das covas por solo comercial, composto por terra de barranco, misturado com resíduo de

composto de cogumelo numa proporção de 1:1 (v/v) para posterior plantio das mudas nativas. A composição do solo comercial para plantio tende a favorecer a retenção de água e nutrientes e assim obter um crescimento mais favorável das espécies nativas, facilitando a recuperação da biodiversidade. Dentre as espécies avaliadas, os níveis de metais em solo 1 (contaminado) não afetaram negativamente o crescimento de Inga sp., que apresentou um crescimento superior a 50% com relação ao solo 2 (solo comercial). Todas as espécies avaliadas removeram os metais Cd, Cr, Ni, e Zn, ultrapassando os teores biodisponíveis em solo 1, o que lhes confere as características de plantas metalófitas. Portanto, podem ser utilizadas em programa de recuperação da área dentro dos princípios da fitoestabilização, pelo fato de as espécies terem demonstrado tolerância aos metais citados. Recomenda-se que sejam realizados novos estudos na área para se investigar o potencial da fitoestabilização das espécies selecionadas em conjunto com a aplicação de agentes inertizantes no substrato, para avaliar o seu potencial em mitigar a toxicidade vegetal e a redução da fração disponível/móvel de metais no substrato, de forma a minimizar a sua lixiviação para as águas subterrâneas e/ou translocação para os tecidos aéreos vegetais. Além disso, a recomposição com essas espécies pode estabilizar o solo contra erosão, incrementar os níveis de fertilidade pela adição de carbono orgânico e aumentar a retenção de metais na região da rizosfera, o que pode contribuir para reduzir a mobilidade desses poluentes no perfil do solo.

Agradecimentos Os autores agradecem à Fapesp (Proc. Nº. 05/54617-2) pelo auxílio financeiro. 391


Fernando Claret; Clarissa N. Irie e Elisa Esposito

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Avaliação de plantas metalófitas nativas da mata ciliar do Rio Tietê para recuperação de áreas degradadas

Figura 1. Modificado Google Earth (2009). Ponto 8 da Área Contaminada (COSIM), selecionada para o experimento – coordenadas O 46º 2’ 52” e S 23º 31’26,5”.

Figura 2. Experimento com mudas nativas.

Figura 3. Valores da média de crescimento de caule das espécies, em Solo 1 e 2 (n=2).

Figura 4. Valores da média de crescimento de raízes em cm das espécies, em Solo 1 e 2 (n=2). 1- Nectandra lanceolata, 2- Rapanea guianensis, 3- Inga sp., 4- Tabebuia impetiginosa, 5- Hymenaea courbaril, 6- Cordia sp., 7- Dendropanax cuneatus, 8- Mimosa sepiaria, 9- Erythrina falcata, 10- Guazuma ulmifolia, 11- Sapium glandulatum, 12- Citharexylum myrianthum, 13- Enterolobium contortisiliquum, 14- Alchornea iricurana, 15- Bauhinia forficata, 16Croton urucurana, 17- Pseudobombax longiflorum.

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Sobre o livro Formato 21 x 29,7 cm Tipologia ITC Berkeley Oldstyle Std (texto) Helvetica Neue LT Std (títulos) Papel Papel Couché Fosco 115g/m2 (miolo) Papel Couhé 150g/m2 (capa) Projeto Gráfico Canal 6 Editora www.canal6.com.br Revisão Maria Dolores Machado Vivian Codogno Diagramação Daniel Castilho Razabone


Em razão de sua importância econômica e social para o município de Mogi das Cruzes e do alto grau de degradação que a Serra apresenta, vários profissionais ao longo dos últimos dez anos, trabalharam de forma sistemática para a produção de conhecimentos sobre a sua ocupação, seus aspectos sociais e biológicos. Assim, os capítulos contidos nesse livro representam a compilação de todas as informações com embasamento científico, de forma a levar o leitor a entender um pouco sobre o passado e o presente da Serra do Itapeti e o seu entorno.

Serra do

Itapeti

Serra do

MARIA SANTINA DE CASTRO MORINI

VITOR FERNANDES OLIVEIRA DE MIRANDA

Itapeti Aspectos Históricos, Sociais e Naturalísticos MARIA SANTINA DE CASTRO MORINI VITOR FERNANDES OLIVEIRA DE MIRANDA


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